O ar não deveria ser daquele jeito. Havia algo errado, algo que fazia o fôlego de vida pesar como chumbo, uma anomalia que se manifestava no toque sutil da natureza. Mesmo em sua forma sábia, onde a energia natural corria como um rio sereno, conferindo-lhe um poder que poucos podiam compreender, talvez sentisse a hesitação, o desconforto que pulsava sob a superfície daquele campo de batalha. O cenário ao seu redor começou a se remodelar, como se a própria natureza respondesse à presença de algo que não pertencia àquele lugar. A poeira que ele erguera triunfante, símbolo da força que acreditava ser suficiente para encerrar aquele confronto, rodopiava agora em espirais caóticas, acompanhada por folhas e gotas de chuva que dançavam em uma coreografia macabra, convergindo para o ponto de impacto do
torii. A realidade estava em desacordo com suas expectativas. No centro do turbilhão, o que antes era apenas um borrão de movimento começou a tomar forma, a ganhar substância. Não era mais um vulto indistinto; era uma jovem mulher, sua presença tão concreta quanto o peso que carregava o ar. Seus cabelos, cortados com aparente precisão, balançavam ao vento, um contraste perturbador com o poder que espiralava em seu entorno. Dentro de si, o Senju talvez fosse capaz de sentir Kurama reagir, uma inquietação primitiva que raramente se manifestava. O poder que havia confinado na forma do portão carmesim, acreditando ser o suficiente para esmagar qualquer oponente, fora desfeito com uma facilidade alarmante. A besta que compartilhava sua consciência, normalmente um poço de confiança impenetrável, agora estaria em alerta, seus pelos alaranjados eriçados.
— Maeda! — A ligação entre ele e a criatura conformadamente confinada em seu interior não era apenas uma conexão; era um
elo espiritual, selado pelo destino e enraizado nas profundezas de suas almas. Não haveria espaço para dúvidas, não poderia haver margem para falhas — ambos saberiam que aquele chamado deveria ser atendido com a gravidade de um juramento antigo, tão solene quanto o próprio peso da coexistência que compartilhavam. Mesmo que a expressão permanecesse uma máscara de impassibilidade, a fúria da Raposa de Nove-Caudas reverberaria dentro dele com uma intensidade que faria o ar ao seu redor vibrar. Uma ira primordial, uma força que remontava às lendas mais antigas, onde os deuses caminhavam entre os homens e as criaturas mitológicas eram tanto guias quanto destruidores. Kurama, o
Kitsune de Nove-Caudas, uma divindade da vingança e do poder bruto, não era apenas uma fera confinada; era uma entidade que carregava a fúria dos céus em suas veias. Essa fúria, agora, começaria a se derramar sobre Maeda, envolvendo-o em um manto de poder [
Kurama Mōdo]. O chakra de
Bakegitsune começaria a se manifestar, desenhando-se sobre a pele do
Empalador como marcas vivas, de um amarelo vibrante, que pulsariam com uma energia formidável. Essas marcas traçariam padrões negros intrincados, reminiscentes dos símbolos sagrados esculpidos nos antigos templos, suas linhas uma reminiscência da lenda viva que Kurama representava. Sua cápsula mortal estaria agora envolta em uma aura flamejante, um casulo de chakra que assumia a forma de uma armadura etérea, translúcida, mas imponente. Teria deixado de ser um mero shinobi. Ainda mais com a informação antes passada por Harikēn acerca de seu achismo quanto a ligação daquela habilidade que a oponente esbanjava com o tal
Mukyū Shunkō.
Ela recusou-se a oferecer o nome, como se o véu do anonimato pudesse ocultar a ameaça latente que se manifestava em cada movimento seu. Uma recusa que era, em essência, um ato de desdém, uma provocação velada que ignorava as convenções e minava o respeito entre guerreiros. As palavras carregadas de um veneno sutil, destilado em cada sílaba, incitariam uma reação imediata no receptáculo da raposa. Seu corpo se moveria, assumindo uma postura que acreditava lhe conferir a capacidade de se adaptar à mudança repentina no campo de batalha. Cada fibra de seus músculos se tensionaria, seus pés deslizariam sobre o solo com a elegância de um dançarino que conhecia intimamente cada passo. A postura que adotaria seria quase uma encarnação da harmonia entre força e flexibilidade, onde suas pernas, firmemente plantadas, ofereceriam tanto estabilidade quanto prontidão para um salto súbito se necessário. Seus braços, teriam se erguido com delicada intenção, parecendo traçar arcos invisíveis no ar. O olhar do shinobi permaneceria fixo na adversária, acompanhando seus movimentos [
Acuidade – 46 m/s]. Em caso de obter êxito em sua observação, talvez percebesse, ao que seus olhos captassem o fenômeno, que a figura à sua frente parecia se dissipar. Como uma miragem ao vento, a mulher se tornaria como múltiplas cópias de si mesma, cada uma tão real quanto a outra, borrando as fronteiras entre o verdadeiro e o falso. Aquilo o faria lembrar da familiar técnica de clones das sombras. A dedução anterior de Harikēn não seria mais tomada como uma suposição, mas como uma precaução que se cristalizaria em certeza nas profundezas da mente do Senju. A observação da pseudo-armadura, que envolvia a oponente e suas cópias em um espiral eólico, traria consigo a conclusão de que enfrentá-la diretamente com as mãos nuas seria um convite à ruína [
Inteligência Avançada]. O perigo que emanava daquela espiral, como uma serpente enroscada, alertaria contra qualquer contato imprudente. Mas ele teria o
manto. Agora, com o campo de batalha redistribuído, cada membro da Kinkotsu no Mori encontraria-se frente a frente com duas adversárias, como peças dispostas cuidadosamente em um tabuleiro onde um erro podia custar caro. A ofensiva das oponentes daria-se então de forma feroz, um avanço que parecia desafiar o próprio ar, cortando-o com o velocidade. No entanto, sob a proteção do manto bestial, seus atributos teriam sido ampliados, e o
Prodígio Senju deveria ser capaz de enxergar a ameaça com clareza. As linhas de movimento das adversárias, antes borrões indistintos, agora supostamente se revelariam como um fluxo contínuo, se até ali tivesse tido êxito. Apesar dessa grata capacitação, a realidade permaneceria inalterada: sua velocidade física não se equipararia à delas [
42 m/s]. A besta que o teria envolvido não seria suficiente para sobrepujar essa disparidade.
Os desejos do coração são traidores implacáveis, serpentes enredadas que não se curvam à tirania da razão — ao menos na maioria dos casos. Maeda era possuidor de uma mente afiada e do vasto repertório de habilidades que o tornavam uma promessa rara dentro do clã Senju, quase como se estivesse imune às armadilhas que o coração insiste em armar. Seu espírito, normalmente sereno, e seu intelecto, quase sempre inflexível diante da emoção, faziam dele uma
promessa [
Calmaria]. Mas a palavra
“prodígio” é uma coroa pesada, forjada não apenas de talento, mas de expectativas que transcendem o ordinário. Se tivesse tido êxito em alcançar a transformação proporcionada pela fera acomodada em seu ser, teria adentrado um novo domínio, onde a lógica e a emoção se entrelaçam de maneiras que poucos poderiam compreender. A habilidade de sentir as intenções maliciosas, de captar as vibrações mais sutis do ódio e da hostilidade como feixes avermelhados, teria se tornado uma segunda natureza, quase como respirar [
Akui Kanchi, passivamente em virtude do Kurama Mōdo]. E seria através dessa sensibilidade que buscaria perceber um detalhe crucial em meio ao turbilhão da batalha e, em caso de ser bem-sucedido, entenderia que entre as duas cópias que avançavam contra ele, apenas uma carregava a verdadeira intenção de causar dano. O coração dos menos mansos, traiçoeiro como é, revelaria a verdade. E seria esse reconhecimento que, embora pudesse gerar dúvidas, traria consigo uma estranha forma de conforto. Saber que a ameaça verdadeira emanava de uma única fonte seria, em sua peculiar lógica, tranquilizante. A mente do
Capitão da Anbu da Areia, sempre buscando a ordem no caos, teria encontrado um fio de racionalidade ao qual se agarrar.
Existiria ainda, em meio ao caos daquele confronto, um cenário onde a acuidade visual [
46 m/s] emergiria como sua única aliada, uma lâmina fina e precisa, capaz de cortar através do véu das incertezas. E, claro, haveria também o intelecto afiado [
Inteligência Avançada], que tinha sido cultivado para jamais se permitir ceder ao engano de meras aparências. Seria evidente que, num relance superficial, não houvesse como discernir que uma das duas inimigas que o atacavam simultaneamente não passava de uma
pós-imagem, um resquício fugaz de movimento, um espectro desprovido de substância. Mas as forças da natureza — apresentadas naquela missão como aliados do sábio — não pareceriam querer permitir que seus olhos fossem facilmente enganados. As gotas de chuva, persistentes em sua queda, tornariam-se cúmplices sutis, revelando com sua dança incessante o que os olhos desatentos poderiam não captar à primeira vista. Logrando êxito em sua observação atenta aos detalhes da ofensiva inimiga, em virtude de ser inegavelmente um alvo, o Senju supostamente não deixaria escapar um ponto crucial: enquanto uma das figuras estava envolta naquela força espiral que repelia cada gota de chuva que se atrevia a tentar tocá-la, a outra figura atravessava as gotas como se fosse uma mera ilusão de ótica, uma sombra refletida na superfície de um lago turbulento. Não deveria demandar um grande esforço mental para concluir que aquilo era uma armadilha [
5 de Inteligência – Até 3 Armadilhas descobertas a cada 2 Turnos]. Mas, ao mesmo tempo, a simplicidade da conclusão, se efetiva, não reduziria a complexidade do desafio. Confiaria em sua análise e decidiria concentrar sua atenção naquela que, inegavelmente, era real.
Não obstante a qual meio teria sido mais eficaz para a descoberta que lhe serviria de apoio, sabia que o luxo de movimentos refinados havia de ser negado a ele. Ah, mas como é caprichosa a aranha que tece os fios do destino, manipulando o tear invisível onde se desenrolam as vidas dos homens. Talvez, em sua infinita sabedoria, ela soubesse que cada provação, cada dor, cada sombra enfrentada pelo jovem Senju, havia sido meticulosamente planejada para que ele pudesse sobreviver àquele instante. Como se todos os caminhos percorridos até então tivessem sido desenhados para culminar nesse confronto singular. Talvez, em sua teia intricada, a aranha tivesse decidido que ele precisaria enfrentar os horrores do passado, dos [j]quatro[/i] que se interpuseram em seu caminho. Talvez, fosse por essa razão que o fardo da
Nove-Caudas lhe havia sido imposto — não como uma maldição, mas como uma aliança forjada no calor da batalha. Hospedeiro e besta, antes inimigos amargos disputando cada fragmento de espaço em um único corpo, agora se uniam por laços mais profundos que qualquer vínculo de sangue.
Tudo parecia convergir para aquele instante, como se cada fio do destino tivesse sido puxado para este nó crucial. O manto flamejante que estaria envolvendo-o, tomando a forma de um haori aberto, não deveria ser tomado apenas como uma manifestação de poder; seria também um escudo forjado pelo sofrimento, pela perseverança, e, acima de tudo, pela aceitação de sua sina. Maeda, caso de fato ciente do que o esperava [
Conhecimento Teórico do Mukyū Shunkō], saberia bem — pelo conhecimento transmitido a ele por Harikēn — que um único golpe de
daquela habilidade poderia reduzir seus ossos a fragmentos insignificantes. Mas ele teria o
manto. No menor intervalo de tempo que lhe fosse possível, manteria ambas as mãos erguidas à sua frente [
42 m/s], o corpo assumiria uma postura que pareceria mais um ritual do que uma defesa. Seu braço direito, inclinaria-se em um ângulo que visaria proteger o rosto, enquanto o esquerdo, estenderia-se horizontalmente à altura do peito, visando moldar-se numa barreira para proteger o centro vital de seu ser. O tempo talvez parecesse hesitar, estendendo em um instante que se expandia até o limite. As decisões do
Prodígio Senju estariam suspensas no ar, pesando como o próprio tear do destino que ele desafiava. Se tivesse êxito na execução de sua linha de raciocínio, e consequentemente em suas ações, o chute direto — uma farsa que talvez tivesse de fato desvelado — atravessaria seu corpo sem deixar um traço de impacto, como uma sombra que se dissolve na luz. Porém, ao mesmo tempo, ele saberia, com uma certeza fria que só o desespero pode forjar [
Calmaria], que o verdadeiro perigo residia na força bruta que seguiria. E então, aconteceria. O soco da mulher, carregado com o peso de uma montanha, se até ali o Senju tivesse logrado êxito, colidiria com a sua defesa rústica, encontrando a manifestação máxima do poder que Kurama, a divindade da fúria e destruição, havia concedido ao
Empalador. O impacto reverberaria através de seu corpo como um trovão em um céu sem nuvens, uma força avassaladora que faria o ar ao seu redor vibrar em ondas de energia. O manto de chakra, antes uma armadura flamejante de proteção absoluta, seria parcialmente destroçado pela potência do golpe, espalhando-se pelo ar como faíscas de um incêndio que se extingue. Mesmo com toda a resistência que o manto possuía [
3500 de Resistência], o lado esquerdo do corpo de Maeda — seu rosto, seu tronco — ficaria exposto, despido da energia que o protegia. Seus pés, embora enraizados no solo, não teriam tido como resistir totalmente à força, deslizando para trás em um recuo inevitável que rasgou a terra abaixo deles. Ainda assim, ele teria permanecido de pé. Seus olhos, agora destituídos de qualquer hesitação, perfurariam a distância que a inimiga havia estabelecido entre eles novamente, queimando com uma intensidade que refletia a indomável vontade de sobreviver e vencer.
Se o tear do destino, com seus fios delicados, tivesse suportado a tensão esmagadora daquele momento, então o Senju saberia que não poderia haver mais espaço para passividade. A distância, caso de fato tivesse sido imposta pela adversária, seria enxergada como a última oportunidade que ele teria de manifestar o poder que residia em sua linhagem. As mãos dele se uniriam, os dedos entrelaçando-se, enquanto ele conjurava o sinal da cobra [
6 s/s]. Seria nesse instante que o solo abaixo dele pulsaria, como se respondendo ao chamado de uma força primordial. Das profundezas da terra, raízes antigas e poderosas começariam a emergir, retorcendo-se como serpentes titânicas que respondiam ao comando de seu mestre. Essas raízes, impregnadas com energia natural [
200 CN], entrelaçariam-se em uma dança estrondosa, subindo e se unindo em uma única forma colossal [
Mokuton: Mokujin no Jutsu]. O
Golem de Madeira surgiria, uma criatura esculpida pelo próprio mundo, seus traços gravados com a fúria e a majestade das florestas ancestrais. O corpo da criatura seria vasto, seus membros poderosos e sua presença monumental, como uma montanha viva que teria se erguido para proteger seu criador. No topo daquela criação titânica, Maeda se manteria firme, seus pés descansando sobre a vasta narina do monstro, enquanto o vento ao redor rugiria em harmonia com a criatura. De lá, ele observaria o campo de batalha abaixo, seus olhos cravados, se possível, na adversária que, àquela altura, pareceria diminuta diante da manifestação de sua vontade. O
Daibutsu, obedecendo ao comando silencioso do
Empalador, lançaria um rugido que reverberaria através das montanhas e florestas, um som que carregaria a fúria dos espíritos da madeira e a força indomável da natureza. Com um movimento decisivo, o braço direito do humanoide se ergueria, o punho de madeira cerrando-se com a intenção de esmagar qualquer obstáculo em seu caminho. O soco seria desferido com velocidade e potência [
22 m/s], a madeira rangendo e estalando com o esforço de canalizar toda a energia. Enquanto assistiria a cena desenrolar-se a diante, o
Prodígio Senju sentiria uma onda de poder já conhecida invadir seu corpo. Kurama lhe teria concedido mais um punhado de seu chakra [
450KRM], uma dádiva que restauraria o que havia sido perdido do manto protetor. A energia fervilharia em suas veias, uma força bruta que se misturaria à serenidade adquirida da natureza. Ao mesmo tempo, ele não poderia deixar de perceber a energia natural sendo atraída para o ponto do transplante, fluindo para ele com uma intensidade maior, bonificada pela transformação que ele havia alcançado.