1

Allannia Grey

HP:2725/2725
CH:6750/6750
ST:01/07
CN:000/400
Palavras:1282

Sua presença era uma mera questão burocrática. Mesmo que não fosse de seu feitio estar envolvida em eventos sociais expressivos, desde que assumiu uma posição de relevância em seu vilarejo, tais compromissos eram inevitáveis. O primeiro grande festival artístico do País da Terra em sua história recente marcaria um passo rumo ao futuro de seu povo. Mas não gostava. A verdadeira arte para Allannia era introspectiva, pessoal e de cunho exclusivamente emotivo. Era um entretenimento para a plateia, mas todas as nuances de uma vida para seu percursor.

Trajava um de seus melhores vestidos, e estava mais perfumada e arrumada que o habitual para a ocasião. Embora entediada de seu assento central no camarote, mesmo que não se considerasse a mais bela da noite, fez questão de surgir deslumbrante. Seus pensamentos divagavam entre o diálogo filosófico ocorrido em Kirigakure, esquecendo de prestigiar a Banda Horizon. Não conseguia parar de pensar em Yohma, tampouco em suas palavras melancólicas. Queria lamentar inúmeras questões, mas prometeu evitar as lágrimas de uma vez por todas.

Bebericou uma dose de sua champanhe, mas o sabor era amargo aos lábios. E num dos contatos, jurou estar provando de sangue. Não era estranho, pois frequentemente mordia os lábios quando estava nervosa, ansiosa ou frustrada. A situação, parcialmente benéfica, salvou-lhe a reputação quando as pálpebras ameaçaram enclausurar as safiras do rosto. Alguns magnatas pertencentes à elite do vilarejo partilhavam da noite consigo, mas não dava atenção às suas palavras. Mas, a questão mudaria de figura numa ironia do destino.

— Tsuchikage-sama, o indivíduo carrega seu sobrenome. É algum parente seu? — o obeso asqueroso indagou, levando os dedos ao seu ombro. Estavam úmidos, e a gordura do pernil escorria indiscriminadamente.

— Ele é? — indagou, contendo as palavras ácidas que jamais deveriam ser sobressaltadas — Bem, parece ser — estreitou os olhos, e então, pôde ver.

As orelhas pontudas eram indiscutíveis. Vestes negras, sombrias. Os olhos, mesmo daquela distância, inquestionáveis. O punho estilhaçou sua taça entre os dedos, tamanha a força inferida neste. Não havia nada mais sobrenatural que sua repulsa. Como se duas forças antagônicas estivessem tentando sobrepôr a outra. Mesmo que não o conhecesse. Não precisava de motivos. Nem de palavras. Nenhum argumento seria plausível o bastante para justificar suas ações.

— Ele não devia estar aqui — foram as suas últimas palavras, antes de decidir descer.

Enquanto trilhava um lento e árduo caminho na direção do rival, pôde ouvir sua música. Por um instante um sorriso doce estampou sua face, seguinte ao refrão, mas durou breves segundos. “Do que adianta ser talentoso, quando se é uma aberração?”, refletiu, decidida em seguir conforme planejado.

Ordenou que os subordinados preparassem sua “arma”, e os guardas estivessem preparados para a possibilidade do indivíduo maligno sair do controle. Não eram confiáveis, sua mãe dizia. Traiçoeiros, cruéis e arteiros. Preparada para qualquer situação controversa no que seria seu primeiro contato com a sua antítese, ela esteve frente com o rapaz. Seus olhos estavam centrados no homem ovacionado pelo público, reverenciado injustamente, em sua concepção. A presença feminina que esteve perto deste afastou-se, não tendo oportunidade de coletar traços do diálogo. Era fácil supor o que teria ocorrido, dada a imagem negativa dos Greys das Trevas, mas guardou as suposições para si. Somente o moreno era de seu interesse.

— Que desprazer conhecer você. Até rimou — forçou uma gargalhada sarcástica, mesmo ciente do quão estúpida era a sentença — Mesmo esse tipo de merda é melhor que sua música. Você canta mal, e é... — desejou ser capaz de enfatizar defeitos no aspecto físico na constituição do rapaz, mas não era de seu feitio mentir descaradamente — Não sei. Um péssimo artista. Não sei ofender, mas vá se lascar — ela corou. Falava rápido, assim como numa tonalidade baixa, dificultando o entendimento. Tímida, sua comunicação era debilitada mesmo naquelas circunstâncias — Não importa. Eu vou mostrar a você o que é música de verdade!

A sua última frase era audível, tanto para este, quanto a parte da plateia. O silêncio tomou conta do local, e logo os subordinados trouxeram seu piano. Agradeceu gentilmente aos responsáveis, sentando graciosamente em seu assento. O homem era um cantor, e ela, uma pianista. Ambos eram opostos em todos os sentidos. Seja na vida ou na arte, os dois nasceram para serem inimigos.



Os dedos começaram lentos, tímidos. Seus movimentos eram como passos vagarosos numa noite chuvosa, traçando uma trilha com dificuldades. As mãos não concordavam em nada com o que estava sendo transposto na peça, pois uma queria tocar o que estava em seu coração, enquanto a outra desejava provar ao outro Grey quão superior sua música era. Mesmo separadas, e tão diferentes, juntas elas encontraram uma solução comum nas teclas.

Sua canhota, mais coerente, realizava movimentos mais simples caso comparada à destra. Mas a harmonia não estava na forma como diferentes combinações eram atingidas para a execução da música, mas no modo como o tempo preciso fazia cada tecla soar diferente, mesmo que repetida diversas vezes num ciclo vicioso quase imperceptível.

Ocasionalmente, suas mãos se uniam, mas vagarosamente se afastavam, pois possuíam caminhos diferentes. Mesmo que quisessem trilhar a mesma jornada juntas, jamais conseguiriam. Era parte da música. Mentalizada a partitura de um grande artista, recaía na própria Allannia a dura tarefa de recitar para os ouvidos mundanos a canção da solidão. O instrumento de cordas oferecia um tributo para um ídolo distante, que incapaz de ouvir seu piano chorando, guardava como recordação algumas palavras e momentos banais, quase triviais, que para ela eram mais do que simbólicos.

A destra queria permanecer consistente, mesmo quando achou que fosse chorar, ou empolgar as emoções ao fazer a canhota dançar. Para o público a música lenta e melancólica poderia soar entediante, quase estática, um pouco repetitiva, mas não poderia ser mais do que ilusão. Não havia batalha mais frenética e animada do que a que acontecia, entre sua mente e o coração, seguindo a risca a partitura de algo que poderia facilmente substituir por algo novo. Mas assim como não eram capazes de fazer as regras do jogo, tampouco modificar os aspectos sombrios de suas vidas, entregou-se às faces zombeteiras ou tristonhas que surgissem nas arquibancadas. Não importava. Nem se o seu piano fosse quente como um sol, ela pararia.

Mas uma hora teria de parar. Toda vida possuía fim, mesmo a mais solitária. E mesmo que quisesse encerrar ela numa data que fosse mais adequada, somente poderia ir até o ponto em que a composição indicasse. Lentamente o toque perdeu a intensidade, e o contato com as teclas se tornou cada vez mais escasso. Chegou ao ponto em que apenas a canhota queria tocar, e dançou numa valsa, sozinha, quase que esperneando, na esperança de convencê-la a continuar. Não teria sucesso. Uma última vez as mãos se uniram em prol do mesmo propósito, e após divagar sobre em qual posição deveriam repousar, escolheram o lado esquerdo como recanto. Pressionadas, as teclas sufocaram um lamento. E quando cessaram, soube que acabou. Mas se questionada, não saberia responder sobre o começo.

Levantou do assento, baqueada. A emoção acumulada provocou tamanha êxtase que sequer soube discernir se ouvia vaias ou aplausos. Não importava. Seus olhos azuis, vazios e tristes, desferiram um olhar para o moreno. Mesmo com sua pose de durona, e ansiosa por parecer cada vez mais capaz, ainda era uma garotinha. Suas feições eram delicadas, e as formas, de mulher. Mesmo que quisesse ser forte como deveria ser, era tão frágil quanto o cálice que destruiu.

— Não acha irônico? Mesmo sem conhecê-lo, eu sei que odeio você. E é desse mesmo tipo de ódio, que todas as desgraças do mundo nascem. Diga-me, Grey de Trevas. Por que há o ódio espontâneo, mas jamais o amor?

Emme

”Aparência”:

”Trajes:

”Allannia e Rauros”:

”Clã e Kekkei Genkai”:

”Equipamentos”:

”Qualidades e Defeitos”:

”Jutsus Utilizados/Ativos”:

”Databook”:

”considerações”:

”Links Comprobatórios”:

2

Allannia Grey

HP:2725/2725
CH:6750/6750
ST:00/07
CN:000/400
Palavras:460

Sentiu vontade de rir, mas sua elegância não lhe concedeu a permissão. As amarras sociais eram como correntes, e sua essência era marcada por influências externas ou internas. Allannia Grey, apesar de sua posição hierárquica, era uma escrava. Sufocada por valores e a forte bagagem genética de seu sangue, estava condenada a sempre fazer o que não queria, ou agir de forma vergonhosa.

Jamais concordaria com o Grey de Trevas, por mais convenientes que suas sentenças fossem. O amor genuíno era desconhecido para sua persona, mas tampouco desacreditaria neste. Se assim o fizesse, deveria renunciar tudo que acredita. Todos os seus atos, até mesmos os mais banais, são feitos na esperança de desfrutar do amor um dia. Mesmo se não for capaz de mergulhar numa paixão por outrém, aguardava pelo dia em que iria se redimir por todos os pecados cometidos em vida. Deste modo, poderia nutrir um amor próprio espontâneo. Estava farta de sobreviver em prol de frágeis esperanças.

— Claro que você não acredita no amor. Seu sangue é podre. Se o amor fosse realmente uma mentira, deveria ser uma invenção de vocês, já que nunca foram capazes de dizer a verdade um dia — as palavras ácidas eram inevitáveis. O desejo recôndito em seu âmago incitava a agressividade, mas caso assim o fizesse, na frente de seu povo, poderia provocar algazarra desnecessária — Não sei se é possível amar e odiar alguém ao mesmo tempo, pois geralmente batalho até a morte com aqueles que odeio. Mas se um dia isso acontecesse, eu iria preferir estar morta. Qual a graça de sentir algo tão bonito por alguém desprezível? — inclinou a cabeça, num tom sarcástico — No final das contas, não somos tão diferentes. Buscamos significado em nossas origens, e as respostas levam sempre para os mesmos caminhos. Não há espaço no mundo para duas raças hipócritas, então sempre estaremos em guerra. Até nossa extinção — não era difícil de imaginar sua linhagem desaparecendo, tão poucos de seu Clã eram vistos que por vezes esquecia que não era a única — Seja grande, Grey. Não envergonhe nosso nome, e talvez um dia seja digno de respeito — retirou-se em seguida, orgulhosa.

No fundo, Allannia esteve satisfeita com o diálogo. Afinal, a solidão era corriqueira em sua rotina. Ver os mesmos olhos peculiares, as orelhas pontiagudas e a postura orgulhosa de seus parentes era reconfortante. Algumas vezes precisava lembrar que não era a única, e não era a pior. Haviam indivíduos indignos e asquerosos partilhando de seu sangue. A sensação era a mesma de encontrar um artigo de valor, e em seguida, ter de se desfazer dele. Seus “primos” sombrios eram raros e poderosos, mas do mesmo modo, não queria nenhum deles por perto. Era uma força que atraía e afastava, numa miscelânea de concepções. Greys.

Emme

”Aparência”:

”Trajes:

”Allannia e Rauros”:

”Clã e Kekkei Genkai”:

”Equipamentos”:

”Qualidades e Defeitos”:

”Jutsus Utilizados/Ativos”:

”Databook”:

”considerações”:

”Links Comprobatórios”:

3

Allannia Grey

HP:2725/2725
CH:6750/6750
ST:00/07
CN:000/400
Palavras:634

Surpreendeu-se quando o moreno, num ato impulsivo, impediu sua saída. Mantendo os olhos fixos no rapaz, ignorou momentaneamente a pressão exercida em seu pulso. Furioso e tomado pela emoção, o Grey fez exatamente o que ela queria: comprovou a bestialidade de seu ramo. Era corajoso em desafiar uma Kage dentro de seu próprio vilarejo, mas era o destino inevitável que entrelaçava ambas vidas. Estavam condenados a trocar juras de ódio, e isso não a incomodava. Gesticulou para que os guardas abaixassem as armas, curiosa para saber o que o indivíduo diria.

O relato intrigante a fez repensar suas atitudes anteriores, embora desconfiasse da veracidade dos fatos. “Seria mesmo possível construir uma família de ramos opostos? Isso não faz nenhum sentido. Apenas loucos se arriscam a colocar uma cobra dentro do Ninho dos Passarinhos. É certo que uma hora ela visará os ovos”, pensou, refletindo sobre o ambiente tóxico que provavelmente seria instaurado caso tivesse vivenciado isso em sua própria vida.

Hipocrisia. Preconceito. Conservadorismo. Allannia questionava atos e palavras selecionados em sua trajetória, entretanto, os últimos termos estavam longe de seu vocabulário na maior parte do tempo. Não se considerava preconceituosa, tampouco conservadora, mas haviam hábitos enraizados em sua psiquê, e algumas ressalvas ao entrar em contato com outros povos. Sendo Grey e mulher, o cuidado em suas relações era sempre redobrado, principalmente no que condizia homens.

A linhagem quase foi maculada pelas ações da mãe, capaz de vender sua pureza em troca de conforto e luxo. Refletindo acerca da matriarca, responsável por moldar maior parte do seu comportamento vigente, conservadorismo e preconceito pareciam afirmações falaciosas. Mas ele não tinha como saber. E dificilmente saberia. Não era o único a vivenciar uma infância marcada por repressão familiar, mesmo que de forma indireta. Abandonada na adolescência, Allannia no final das contas teve de concluir a obra inacabada em seu âmago, alimentando sua essência dos resquícios de uma educação doentia.

— Sua irmã deveria ser fã de Angell Hyūga ou Mei Ogosho, heroínas mundiais. Sou apenas uma das malditas descendentes de Silvermoon. Mas diga a ela que eu agradeço... — ser inspiração para crianças era no mínimo questionável, jamais indicaria para as futuras gerações que se espalhassem em seus atos. “Caso façam, o futuro estará perdido”, concluiu mentalmente antes de finalizar sua linha de raciocínio — Ela pode enviar quantas cartas desejar. Mas se isso for um plano para você, um pervertido, tentar alguma intimidade comigo, não funcionará. Sou uma donzela, e de família. Antes de pôr a mão em mim novamente, lembre disso — afastou-se do homem, cuspindo em seus pés — Tarado!

Virou-se, carregando consigo o que havia restado de sua dignidade. Não possuía respostas consistentes para as ressalvas do rival, tampouco nutria empatia o suficiente por ele capaz de sintetizar de maneira convincente palavras doces. No fundo, Allannia começou toda a discussão atoa e era incapaz de admitir estar errada. Lembrou do “Atumsushi-kun”, infame em suas memórias por prometer cartas. Nunca chegaram. E se tivesse sorte, aconteceria o mesmo em relação à sua inimizade. “Nathaniel, huh. Nome horrível, para uma pessoa horrível. E o rosto dele é tenebroso de feio. Ah, e a voz dele, detestável. Não esquecerei esse pedaço de bosta, preciso lembrar de quanto ele é inferior a mim. Só assim terei paz”, alimentou a repulsa irracional dentro de si, justificando as afirmações tão contraditórias quanto suas próprias ações. Traçou o caminho rumo a seu Palácio, solitária e pensativa, enquanto via este partir acompanhado. No fundo, a Tsuchikage era uma mulher solitária, e o rapaz que devia ser odioso e renegado, aparentemente um galã popular. Aquilo despertou uma profunda inveja, e motivou uma incessante busca por novas amizades. Caso assim não fizesse, logo ficaria para trás. Foi então quando percebeu: ele já estava em sua mente.

E ela a odiava por isso.

Emme

”Aparência”:

”Trajes:

”Allannia e Rauros”:

”Clã e Kekkei Genkai”:

”Equipamentos”:

”Qualidades e Defeitos”:

”Jutsus Utilizados/Ativos”:

”Databook”:

”considerações”:

”Links Comprobatórios”:

Status: aprovado
Recompensa: 100 de status