"Primavera de 3 d.G a inverno de 4 d.G”
[Tens de ter uma conta e sessão iniciada para poderes visualizar esta imagem]Para Allannys Grey de Silvermoon, servir não se resumia somente a acatar ordens e reconhecer superioridade. “Pode-se advogar em defesa dos valores e da honra, e representar os interesses individuais de outrem, assumindo ser o suficiente para definir a palavra. Mas, se fosse assim tão simples, todos seriam subservientes a algo desde o nascimento até o fim de seus dias. Traições seriam anomalias da natureza, e os defeituosos devidamente privados da existência. Contudo, abjurantes ascendem gloriosos antes de ruir na mais pura desgraça advinda de seus atos. Alguns, observam a história se moldar ao redor de seus interesses e descartam quaisquer versões negativas de suas trajetórias. Outros, simplesmente buscam uma posição merecida num mundo hipócrita. Existir nunca é o bastante.”, ela proclamava pelas ruas da terra natal, propagando seus pensamentos extremistas e subversivos com o intuito de disseminar uma falsa perspectiva de justiça. Para os que observavam de fora, ela era somente uma adolescente idealista, contudo, era uma mera farsa para justificar seus atos. A herdeira queria somente provocar fúria, dor e revolta. O suficiente para ouvir do próprio pai que ele não a amava, e afirmou tampouco considerar um tamanho ultraje como ela uma de suas filhas.
Ela era uma jovem egoísta e arrogante, dominada por um narcisismo descomunal que fluía de seus lábios, corpo e alma como uma tinta oleosa esparramando pela mesa, manchando tudo que toca. Havia algumas poucas qualidades nela para serem admiradas, venha a ser por rejeição dos defeitos ou em busca de compatibilidade, num esforço de passar um pano suave em seus erros. Mas se havia fingimento nisso, ela não precisava fazê-lo quando questionavam a sua beleza, sendo considerada uma das donzelas mais atraentes de toda Silvermoon em semblante e curvas. A cobiça varria quaisquer sentimentos genuínos do sexo oposto, e a inveja envenenava suas amigas, mesmo as tão formosas quanto ela. Era como se olhos, bocas e ouvidos pertencessem à loura, roubando o coração até mesmo do mais concorrido pretendente dentro das fronteiras. Mais certo que o pôr do sol, era o casamento dela com alguém de alto calibre, recebendo ofertas dos nobres herdeiros mais ricos e famosos do reino. E ela poderia se dar o luxo de escolher, caso quisesse. Nem homens casados atrever-se-iam recusá-la, uma rosa como ela foi destinada a ser colhida, quer seja para adornar um vaso por toda vida, quer apenas por uma noite.
Rosas, contudo, possuem seus espinhos, e os dela eram ainda mais afiados do que espadas. Raramente saía em público, e ministrava somente festas de chá para os convidados, servindo de companhia para noites solitárias e um desfrute fantasioso da vista áurea proporcionada por ela. Allannys reconhecia o próprio valor, e tratou de se aproveitar disso para galgar prestígio através da luxúria em tenra idade, contrapondo os desejos do próprio pai. Em algum determinado momento, tornou a recomeçar os discursos excêntricos e utilizar de seus atributos para espalhar seus fundamentos na totalidade da monarquia prateada, passando a atrair o desprezo não apenas familiar como também da própria coroa. Seu valor era inestimável, e seria impossível interromper os seus planos sem receber como represália a fúria dos inúmeros admirados reféns do menor dos favores e deslumbres, numa esperança fantasiosa do deleite sem fim. A realeza estava prestes a fazer cair sob toda a linhagem antiga desta uma fúria tirânica arrebatadora, convocando de imediato o patriarca para tirar satisfações do ocorrido. O palco estava montado, e sangue prestes a ser derramado...
Mas tudo o que precisavam era roubar dela o vermelho de sua rosa, e lembrá-la para sempre do tom branco de suas promessas.
Ninguém possuía o conhecimento de como chegaram nesta conclusão, e das circunstâncias do ocorrido, pois mesmo as supostas testemunhas contam diferentes versões dos fatos. Allannys em pessoa nunca contestou nenhuma delas, e se não fosse pela mácula em sua face parcialmente cauterizada, roubando tamanha beleza e pureza de uma só vez, jamais teriam dela uma palavra sequer. Mas o seu valor estava diminuído a zero naquele momento, com o pecado crescente em seu ventre no decorrer das estações. O esforço de uma vida interrompido aos seus catorze, punindo tantas faltas e corrupções que muitos se atreviam a erguer no palavreado cânticos sobre a justiça dos Deuses. Incapaz de suportar tamanho ostracismo, e condenada inevitavelmente por seus antecedentes, tomou para si o exílio antes mesmo de ser sentenciada, indo para terras longínquas na esperança de ao menos ser capaz de dar à luz a duas crianças saudável.
Sim, eram duas.
Allannia nasceu numa tormenta, enquanto velejavam rumo ao País da Água. Era noite de inverno, e o parto feito apressadamente quase fracassou após vários esforços de Fumiko Ito, a parteira responsável pelo dia de seu nome. A mulher era uma amiga de data de sua mãe, e acusam as más línguas o envolvimento dela no dia fatídico em que fora concebida. Ambas as gêmeas nasceram juntas, uma atrás da outra, sendo a prateada tida como caçula por uma diferença ínfima. Apesar de unidas por laços de sangue e alma, não ficariam juntas por muito tempo, contemplando berços separados e destinos opostos. Fumiko teria recitado sobre quão desagradável seria para a figura materna conviver com uma filha tão parecida com o pai, e mais ainda se irmãs estivessem juntas em uma busca futura por resposta. A Nascida na Tormenta era a mais parecida com a mãe, e portanto, para prosseguir com seu legado e manter acesa sua chama, decidiram que seria melhor ser a única educada entre as duas.
E o destino da mais velha permanece coberto por uma névoa desde então.
Após uma viagem marítima turbulenta, chegaram juntas em Kirigakure, um dos vilarejos mais remotos do mundo dos shinobi. Fumiko era uma ninja, e apesar de admirar as capacidades dela e de seu marido, Allannys preferia não envolver a sua cria em atividades do gênero. Eventualmente, seus esforços se mostrariam infrutíferos, mas no começo parecia-lhe a melhor alternativa. Passou um tempo nas propriedades da amiga, e quando finalmente pôde criar a filha em um local apropriado, partiram juntas para uma jornada que acompanharia toda dor e sofrimento em um uníssono. Afinal, ela era somente uma herdeira, e sem nada para herdar e uma família dando suporte, restavam poucas alternativas para manter uma fonte de renda. Sem alternativas, o corpo dela teria de trabalhar por ela. E a partir desse ponto, os conflitos começam.
"Primavera de 4.dG a Inverno de 10 d.G”
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Conforto nas Cinco Grandes Nações sempre se mostrou ser um recurso dispendioso, afinal, por consenso geral os indivíduos sãos preferem se distanciar da miséria. Allannys era extremamente habilidosa para uma Grey, o suficiente para obter graduações como ninja tão rapidamente quanto surgiu no País da Água. Enquanto a filha passava seus dias nas muralhas de sua morada, a matriarca buscava fontes alternativas de renda para proporcionar algum sustento à sua herdeira. Educada intimamente pelos Ito, uma família tradicional do vilarejo, Allannia passou maior parte da sua infância distanciada da mãe. Durante as noites, quando sobrava-lhe tempo, recebia educação da figura materna sobre a cultura do povo responsável por condena-la ao exílio. Ela alegava ser neutra na medida do possível, garantindo a oportunidade desta de discernir por conta própria qualquer coisa que fosse possível para sua mente infantil. Embora fosse verdade, o intelecto da jovem Grey era surpreendente, o suficiente para se permitir deslumbrar por qualquer coisa dita pela mãe mesmo consciente do viés ideológico.
Mesmo vigiada e bem acompanhada, Allannys nunca foi capaz de afastar os olhos de seus familiares na direção da filha. O sangue nobre era forte nela, o suficiente para torná-la uma prometida cobiçada em sua comunidade. Muitos tentavam um contato mais íntimo, frequentando os mesmos espaços após longas e dispendiosas viagens, ou oferecendo propostas indecentes, com a esperança de obter como ganho a mão de mãe ou filha, com uma preferência notória na comercialização direta da última. Discrição era impossível até mesmo entre conterrâneos, pois a matriarca chamava a atenção generalizada do público em suas feições e atos, adquirindo popularidade a cada nova conquista.
Quando pensavam em Allannia, o raciocínio era óbvio: se a mãe era brilhante, a filha há de ser. Para evitar tanto assédio moral, a única alternativa encontrada pela mãe foi blindar a garota do mundo externo, direcionando sua educação e no controlando com rigidez as suas companhias. Contudo, o elo era frágil, pois a chegada da tia provocava um contraste nos relatos, vivências e personalidades demonstrados como exemplo para a jovem Grey. Allannia era o tipo de criança que precisava de uma modelo, alguém capaz de servir de inspiração e se tornar um guia perfeito para o próprio sucesso. As irmãs juntas possuíam muitas qualidades e coisas em comum, mas destoava individualmente num tom difícil de associar de outro modo. Allannys jamais permitiria que a filha percorresse os caminhos tortuosos de seu Clã, enquanto Allegra insistia que era esse o destino dela, gravado nas estrelas. Independentemente das profecias ou superstições de ambas, o desentendimento era factível, ao ponto de ruir aos poucos todo relacionamento construído no decorrer de anos pelo trio feminino.
Uma ruptura era inevitável.
"Primavera de 10 d.G a Verão de 14 d.G”
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“Olhamos as montanhas e dizemos que são eternas, e é o que parecem ser... Mas, no correr do tempo, montanhas erguem-se e ruem, rios mudam de curso, estrelas caem do céu, e grandes vilarejos afundam-se no mar. Pensamos que até os deuses morrem. Tudo muda.”, Allannia teria ouvido dizer da tia, mas não saberia dizer quando ou o porquê. Nem quando ela viu homens sendo abatidos em seu nome, ou diante da eminência da condenação dela, encontrou uma resposta para a questão. Não sobre a origem, mas em razão dos termos. Haveria de ser certa a destruição de sua família? Humanos eram bons ou maus? Jamais encontrou uma resposta definitiva, e naquele ponto de sua trajetória, precisava dela caso quisesse prosseguir viva. Na primavera de 10 d.G ela teria sido alvejada, por irresponsabilidade própria, e quase vítima da crueldade dos homens, decidiu que no próximo dia de seu nome, seria uma kunoichi a serviço da Névoa.
A decisão não veio por puro capricho. Após receber mais um complemento ao ferimento infame de semblante, agravado ao ponto de precisar ocultá-lo por uma máscara parcial, Allannys teve de se ausentar das suas atividades indefinidamente. Suas capacidades já não eram mais tão requisitadas quanto outrora, e a curva de crescimento dela estava limitada por suas filosofias de vida persistentes, tal como o receio de condenar a vida da filha a partir de suas escolhas. “Somos do sangue do diabo.”; Allannia ouvia ela dizer, “Mas não quer dizer que devemos ser como eles.”, finalizava quase como um mantra, tornando a repetir quantas vezes fosse preciso. Mas os ensinamentos de uma mãe nem sempre serviam para outra coisa além de suprimir a desonra de sua cria, pois a hipocrisia varria quaisquer traços de civilidade outrora pertencentes em sua essência. Em pouco tempo, a matriarca passou a pertencer à noite. Jovem demais para compreender o significado da decisão, com o intuito de somente aprisionar para sempre as risadas desferidas contra a única família remanescente para ela, aceitou o próprio destino.
Após uma discussão calorosa entre mãe e filha, elas se separaram numa noite fria de inverno, mudando para sempre a sua percepção da realidade. Allannia se tornou uma kunoichi, como desejava, sob a tutela da ex-amiga de sua mãe, Fumiko Ito, disposta a substituir a lacuna deixada pela outrora matriarca em sua vida. O destaque da Grey era notório, possuindo atributos invejáveis para maioria das concorrentes similares. A patrona exibia com orgulho sua “filha” adotiva, tomando para si todas as glórias e assistindo com deleite toda a ascensão meteórica desta. Apesar do temperamento excêntrico da mais velha, nutria enorme simpatia pela filha, Sarah Ito, uma kunoichi obstinada e de temperamento forte, mas confiável ao seu modo. Contrastando como fogo e água, partilharam e alimentaram uma admiração mútua por muito tempo, sendo a presença mais marcante do fim de sua infância até o início da adolescência.
Após o falecimento de um dos integrantes do Time Chūnin liderado pelo namorado da Sarah naquela época, ambos propuseram diretamente que Allannia fosse a substituta, algo reconfortante para a Grey. O único empecilho estava em sua graduação, pois na condição de uma Genin, dificilmente teria nível para acompanhar o casal em missões de patamar mais elevado, mesmo sob a supervisão do Sensei, Isao Ito, um dos tios da amiga. Ciente da necessidade intrínseca de obter uma graduação através de um método rápido, buscou a alternativa numa convocação inusitada dos noticiários. A ascensão dos Jashinistas, fanáticos religiosos cruéis capazes de matar para satisfazer o apetite cruel de sua divindade, preocupava todas as nações. Os indivíduos mais poderosos daquela época seriam mobilizados para deter a ameaça liderada pelo homem titulado como “O Pastor”.
Era a chance perfeita.
"Outono de 14 d.G a Outono de 25 d.G ”
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O sucesso de Allannia em Amegakure surpreendeu até mesmo o mais cético dos partidários, considerando todas as inseguranças e problemas de personalidade que a Grey apresentava em momentos de pressão. Apesar do pouco interesse em relacionamentos amorosos, houveram alguns contatos com o sexo oposto responsáveis por sua progressão pessoal, dentre os quais o início da amizade entre a mesma e Yohma Uchiha, cujo nome nunca saiu de seus lábios desde então, sendo o responsável por pincelar a aquarela de sua vida com novas cores. Suas ações começaram a ser pautadas em obter mais prestígio, sob a justificativa de estar em busca da aprovação do responsável pelo fulgor em seu coração. Esse período de sua vida, consideravelmente extenso, foi marcado por uma rápida ascensão e melhoria em suas capacidades individuais, participando de diversas missões envolvendo o palco mundial naquele período. Dentre os quais, destaca-se a sua participação em uma das missões mais cruciais da Liberty, adquirindo apreço por Mei Ogosho nesta, e ambas performances notórias no Templo Ōtsutsuki no País do Vento e o golpe final desferido contra Kenpachi, um oponente formidável derrotado em Eichenwalde. Inclusive, no último mencionado obteve o chakra da Nanabi, embora tenha permanecido diversos anos com a essência intrusa ainda em seus estágios iniciais de desenvolvimento.
Os cinco anos de passagem temporal marcando as grandes conclusões dos conflitos iniciados foram apáticos e ociosos, sendo maior parte uma responsabilidade direta de sua rejeição quanto a própria origem e fundamentos do mundo shinobi, regredindo parcialmente toda a sua jornada e caindo num fluxo interminável de frustração e dor. O vício por bebidas alcoólicas se tornou mais marcante, carregando consigo desde a adolescência até o início vigente de sua vida adulta, prejudicando suas relações pessoais e performance como kunoichi. Considerada por muitos um caso perdido, persistente sendo somente reconhecida pelo passado glorioso, aclamada, portanto, como uma heroína apesar dos pesares.