A areia soprava suavemente com o vento frio da noite. A vastidão do deserto parecia infinita, cada grão de areia se movendo como se fosse parte de um grande organismo vivo. Eu estava na fronteira de Sunagakure, cumprindo uma missão simples: vigiar, observar, reportar. Sem grandes riscos, sem batalhas eminentes, apenas o silêncio opressor do deserto. Para muitos, essa seria uma missão entediante, mas para mim, era uma oportunidade de reflexão e análise. Avancei por entre as dunas, mantendo-me sempre fora de vista. Minha presença deveria ser um segredo, invisível como uma sombra na noite. O céu estrelado iluminava o deserto, mas eu confiava mais em meus sentidos do que em meus olhos. Cada ruído sutil, cada movimento do vento contra as pedras, tudo era analisado como um possível sinal de algo maior. O deserto tinha seu próprio jeito de pregar peças na mente. As sombras projetadas pelas formações rochosas pareciam se mover, e o silêncio era tão profundo que qualquer som inesperado se tornava um alarme. Caminhando pela areia fria, minha mente divagava. Missões como esta não eram o que eu almejava. Meu objetivo ia além de proteger fronteiras ou seguir ordens. No entanto, sabia que, para alcançar o poder que buscava, precisava cumprir meu papel no momento. Por volta da meia-noite, detectei algo incomum. Uma luz tênue piscou ao longe, mal visível entre as dunas. Estreitei os olhos, concentrando-me. Era possível que fosse apenas uma miragem ou o reflexo de uma pedra. Ainda assim, decidi investigar. Minha movimentação foi calculada, passos leves e silenciosos. Quando me aproximei, percebi que a luz vinha de uma fogueira mal apagada. Pegadas ao redor sugeriam que havia sido usada recentemente. Curioso, toquei as cinzas, ainda mornas. A pessoa ou grupo que esteve ali não deveria estar muito longe. Analisei as pegadas — leves e dispersas, provavelmente duas ou três pessoas, tentando disfarçar sua presença. Poderia ser apenas um grupo de mercadores ou viajantes, mas no deserto, confiar na sorte era um erro fatal. Continuei seguindo as marcas com cautela, mantendo minha posição elevada em relação às dunas. Meus dedos instintivamente pousaram na empunhadura da minha kunai. O instinto me dizia que algo estava errado, mas não havia sinais claros de ameaça imediata. Após uma hora de perseguição, as pegadas desapareciam em uma formação rochosa. Era o local perfeito para uma emboscada. Decidi recuar por ora e relatar a descoberta. Não porque temia o confronto, mas porque informação era mais valiosa que ação precipitada. Essa missão, embora aparentemente simples, reacendeu algo em mim: o deserto não era apenas uma extensão vazia de areia. Ele era um campo de possibilidades, e eu estava no centro disso, moldando meu destino com cada decisão que tomava.


A manhã em Sunagakure era diferente da noite fria e misteriosa do deserto. O sol já queimava com intensidade, e as ruas da vila estavam mais movimentadas do que eu gostaria. Após uma longa vigília na fronteira, recebi uma nova missão: localizar um animal de estimação desaparecido. Sim, eu, um ninja habilidoso e com um propósito maior, agora estava em busca de uma criatura perdida. Era uma tarefa simples, quase insultante para alguém como eu. Contudo, cumprir o que me é dado é apenas mais um passo no meu caminho. A dona do animal era uma senhora idosa que mal conseguia descrever a criatura. Segundo ela, o bicho — um suricato chamado Goro — era pequeno, ágil e gostava de fugir sempre que tinha a oportunidade. O detalhe que mais chamou minha atenção foi o fato de que Goro carregava uma pequena coleira dourada, algo que poderia facilitar minha busca. Comecei pelos arredores da casa da mulher, analisando os pequenos rastros deixados na areia. Marcas de patas minúsculas seguiam até o mercado da vila, onde as pistas se misturavam ao caos da movimentação diária. Suspirei, ciente de que encontrar Goro exigiria paciência. Conversei com alguns comerciantes. A maioria era inútil, mas uma criança afirmou ter visto algo pequeno e rápido correndo em direção a um beco próximo. Segui a pista, encontrando mais marcas de patas e um pequeno pedaço de tecido dourado preso em uma grade. Goro era mais astuto do que imaginei. O beco levava a um depósito de areia, onde ouvi um som fraco — algo entre um guincho e um arranhão. Com cuidado, aproximei-me, movendo-me de forma silenciosa para não assustar o animal. Lá estava ele, empoleirado em uma pilha de caixas, olhando para mim com olhos atentos e brilhantes. Decidi que a abordagem direta não funcionaria. Goro parecia desconfiado e pronto para fugir ao menor sinal de perigo. Então, resolvi usar uma técnica mais eficiente: meu Sakki. Concentrando minha presença assassina, deixei que uma onda de pura intimidação emanasse de mim, direcionando-a ao pequeno suricato. Seus movimentos congelaram imediatamente. Ele ficou paralisado, os olhos arregalados, como se pressentisse que qualquer tentativa de fuga seria inútil. Aproveitei o momento para avançar com calma. Com um movimento rápido e preciso, capturei o animal, agora imóvel e incapaz de reagir. “Você devia escolher melhor seus esconderijos, pequeno”, murmurei, ajustando meu aperto para evitar que ele se debatesse enquanto recuperava o controle sobre si mesmo. Segurei-o firmemente, mas sem machucá-lo. A pequena criatura olhou para mim com o que parecia ser indignação. “Você é mais problema do que vale, pequeno”, murmurei antes de levá-lo de volta à dona e ao devolver Goro, a velha senhora me agradeceu profusamente, oferecendo um pequeno pagamento e uma tigela de chá. Recusei ambos. Não foi por bondade, mas porque essa missão, embora simples, não merecia mais do que o necessário para completá-la. Enquanto me afastava, pensei na ironia da situação. Mesmo em tarefas triviais, um ninja como eu precisava mostrar sua eficiência. Cada missão, por mais insignificante que parecesse, era um lembrete de que até os menores passos poderiam levar ao objetivo maior que eu perseguia.