A chuva caía raramente em Sunagakure, mas naquela noite parecia que o deserto chorava junto comigo. Por anos, eu vivi atormentado pelo peso do que fizera. A imagem de meu irmão, caído no chão, ainda era viva em minha mente, assim como o brilho de sua espada que tantas vezes me desafiou nos treinos. A dor de sua perda era insuportável, mas o que mais me consumia era a culpa. Como poderia carregar o nome do meu clã ou empunhar uma lâmina, sabendo que fui responsável por tirar a vida do único laço verdadeiro que tive? A princípio, afastei-me de tudo e todos. Tornei-me um nômade, vagando por cada viela e terras áridas daquela vila, arredores, e além. Meu objetivo parecia claro: encontrar o verdadeiro assassino de minha mestra e obter respostas. Contudo, em cada trilha que percorria, sentia o vazio aumentar. Não era apenas a vingança que me motivava, mas também a necessidade de encontrar um propósito maior. Apesar de minha busca incessante, não consegui desvendar quem estava por trás daquele ataque. A ausência de respostas me deixou à deriva, enfrentando um inimigo que não estava lá fora, mas dentro de mim. Foi durante uma de minhas jornadas que encontrei um monge em um pequeno templo perdido no deserto. Ele era velho, curvado pelo tempo, mas seus olhos brilhavam com uma calma que eu jamais conhecera. Ele me convidou para ficar, oferecendo-me abrigo e alimento. Relutei no início, mas a exaustão venceu. O monge, sem pedir explicações, começou a me ensinar sobre a arte da introspecção. Ele dizia que, assim como o deserto enfrentava tempestades de areia para se renovar, nós também deveríamos enfrentar nossas próprias tempestades internas.

Minha primeira lição foi meditar. Sentar em silêncio parecia um castigo, uma perda de tempo. Mas, aos poucos, comecei a compreender a profundidade daquele exercício. Durante as sessões, memórias de meu irmão e minha mestra voltavam à tona. Eu não as rejeitava; ao contrário, aprendi a observá-las. Era doloroso, mas necessário. Com o tempo, percebi que não era apenas culpa que eu sentia, mas também amor e saudade. Meu irmão fora minha âncora, e sua perda deixou um vazio que eu tentava preencher com ódio e vingança. O monge também me ensinou sobre aceitação. Ele dizia: "O passado é como a areia ao vento. Não podemos segurá-la, mas podemos aprender com o que ela nos deixou." Foi nesse momento que compreendi algo essencial: meu irmão não me odiava. Sua raiva no momento de sua morte era uma reação ao luto pela perda de nossa mestra e ao que ele acreditava ser uma traição. No entanto, seu amor por mim sempre fora verdadeiro. Com isso em mente, decidi honrá-lo de outra maneira. Superar o luto não significou esquecer. Eu nunca deixarei de sentir falta de meu irmão ou de nossa mestra. Mas, ao aceitar a dor como parte de mim, consegui transformá-la em algo maior. Hoje, a chuva em Sunagakure não traz mais apenas lembranças sombrias. Ela também me lembra de que, assim como o deserto precisa de água para florescer, nós precisamos enfrentar nossas tempestades para crescer. Deixei o templo dias depois, focado em um único objetivo: moldar o mundo à minha maneira. Não havia espaço para distrações ou alianças desnecessárias. Cada passo era calculado, cada treinamento voltado para aumentar meu poder. Minhas missões pessoais se tornaram ferramentas para testar meus limites e expandir minhas habilidades. A lâmina que eu empunhava, antes um peso de arrependimento, agora era um instrumento da minha vontade. Não era o ciclo de dor que eu queria destruir, mas sim usá-lo como combustível para construir o mundo que imaginei — um onde ninguém pudesse se opor a mim.