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[Ato] O monge cego
[Ato] O monge cego

Zero

Jōnin

Ethan

Hesitation is Defeat

A curiosidade o levou até a frente daquela cabana no topo das montanhas. Percorreu o caminho em silêncio, concentrado nos perigos que a estrada íngreme apresentava. Tudo isso com o propósito de encontrar o monge Yon das histórias. O clima, como sempre, não era favorável, mas estava longe de ser um obstáculo intransponível.

— Olá… — com o punho fechado, o garoto castigava a porta com as batidas incessantes que almejavam alcançar uma lenda, um boato. Apesar da quietude e descrença, o aroma do incenso queimando indicava a presença de alguém. Uma badalada e, enfim, a porta abriu. De lá de dentro, saiu um homem velho, corcunda, careca, que trajava uma túnica com tons de laranja e amarelo. Ele mirou a cabeça na direção do intruso, movendo-a como se olhasse o loiro de cima a baixo, julgando-o. Porém, cego desde nascença, para ele o mundo não passava de um borrão cinza com contornos. Ainda assim, olhava o Ronin como se conseguisse julgar seu caráter. Aparentava conhecer os caminhos mais escuros até a essência daqueles que se postavam à sua frente, como um mago. Era sábio, mas, ao mesmo tempo, desagradável para a maioria das pessoas. Nunca errava ao julgar os outros, por isso, às vezes era requisitado pelos desesperados e sem rumo.

— Um samurai cego? Que intrigante… — No que Ethan deu um passo para trás, deixando que o som das bainhas se chocando alcançarem os ouvidos do velho, Yon não conteve a curiosidade, quase como se nunca houvesse ficado diante de um espécime como aquele.

— Não sou um Samurai! — ofendido, Ethan foi firme quanto a sua posição. — Também se enganou quanto à minha condição. Não sou cego.

— Sabe o que vejo? Um demônio que foge desesperadamente da luz. Está envolto em sombras que obscurecem seu coração e julgamento, contudo, você não as domina, não é íntimo delas. Bom, gostando ou não, existe uma diferença gritante entre ver e enxergar.

— Não faço a menor ideia sobre o que está falando, mas, de todo modo, não foi por isso que vim até aqui. — Subitamente, antes que pudesse externalizar seus desejos, foi interrompido.

— Palavras, palavras e mais palavras. Vocês falam como se isso significasse algo. É engraçado como pode usar e abusar das palavras, exercitando vários de seus dons, como se as palavras fossem o suficiente para poder dizer algo de fato. — Por último, Yon arremessou um pó amarelo que tinha em mãos na direção do rosto do outro, acertando-o em cheio. Isso havia sido o suficiente para desativar o Yome, o olho que o guiou até ali, forçadamente e deixá-lo completamente cego. Não importava os esforços, Ethan não conseguia ver mais nada.

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Zero

Jōnin

Sáb 14 Set - 19:50

Ethan

"Hesitation is Defeat"

Com a visão debilitada, balançou os braços de um lado para o outro, ofegante. Tinha perguntas que precisavam ser feitas, mas estava assustado demais. E, no fim, as tentativas de alcançar o monge também falharam. — Que merda você fez? — o tom carregado entregava o desespero. Como um animal prestes a ser abatido, debatia-se.

— Todo homem desiludido que chega até aqui está à procura de algo, crentes de que sou sua última esperança. São homens munidos com perguntas intermináveis, algo que acreditam ser a chave para aquilo que trará significado para suas vidas. Samurai, você não é o primeiro e também não será o último. Já que é assim, apenas te dei o que procurava. Não faço a mínima ideia do que seu coração deseja, muito menos faço questão disso. Tudo o que ofereço é um caminho; trilhe-o se quiser. De todo jeito, o que irá ou não encontrar só depende de você.

Ofensas e xingamentos por parte do loiro não faltaram, enquanto tentava pôr as mãos no monge. A bainha da espada era usada como uma bengala improvisada durante a busca, sendo balançada incessantemente para os lados, mapeando os obstáculos pelo caminho. No entanto, quando finalmente conseguiu adentrar a casa que viu anteriormente, percebeu que já era tarde demais, não havia ninguém lá. Gritou com todas as forças, exigindo que o ancião aparecesse. Quando nada mudou, berrou com mais força, mas mesmo assim não houve respostas.

Após aceitar que já não havia mais ninguém consigo, suspirou, aceitando suas limitações e buscando uma forma de voltar pelo caminho pouco convidativo que percorrera anteriormente. O empenho que dedicaria na meia hora seguinte, no entanto, não serviria de nada. O medo da queda nublava seus pensamentos, fazia com que cada passo despertasse sentimentos conflitantes, medo e raiva andavam lado a lado. Quando se postou na beira da montanha, uma pedra rolou e o Ronin confrontou a realidade: enquanto não recuperasse a visão, estava preso. Percorrer o caminho pelas montanhas significava morte.

O caminho de volta para o casebre foi igualmente estressante, e ao chegar lá Ethan se viu sem um propósito. Não sabia o que pensar. Começava até mesmo a desconfiar da raiva que queimava sua pele, como se tudo não passasse de um joguete do monge. Aquela poderia ser a mais cruel das ilusões, pensava. Mas em meio ao vazio, viu-se como um refém dos sentidos. Naquele momento, não poderia protestar caso fosse chamado de samurai cego. Diante deste cenário, viu-se diante de correntes que precisava romper, de limitações que tinham que ser ultrapassadas. Portanto, aproximou-se da porta e se colocou de joelhos, deixando as bainhas diante de si, cruzando-as. Então, abaixou a cabeça e juntou as mãos em uma prece, onde relembrava cada momento marcante em sua vida. Mais do que nunca, ele precisava se lembrar dos caminhos que o levaram até ali, da motivação que lhe dava forças para levantar da cama dia após dia para continuar preso em uma existência miserável. Acima de qualquer coisa, tentava achar o componente que faltava em sua essência.

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Zero

Jōnin

Dom 15 Set - 1:04

Ethan

"Hesitation is Defeat"

Enquanto Ethan tentava derrotar seu maior inimigo, o tempo, impiedoso, correu sem olhar para trás. O garoto sentia as mudanças o alcançarem, desfrutando de um conforto indescritível sempre que o sol debandava e as temperaturas amenas tomavam conta daquele país esquecido por Deus. Mesmo assim, não se fazia alheio às próprias necessidades, sentia fome, frio, calor e, principalmente os odores que indicavam que estava apodrecendo lentamente, preso consigo mesmo.

A meditação, entretanto, não estava sendo capaz de fornecer a revelação que o Jounin tanto procurava. E com a falta aparente de resultados, ele passava cada vez mais a usar o tempo disponível para encontrar uma saída para a debilidade à própria maneira. Para isso, depositava todas as esperanças na habilidade ocular que detinha. Acreditava que ela devolveria as cores para o mundo. Porém, ainda que imaginasse uma forma improvável de quebrar a artimanha do monge, sábia que isto era apenas o começo. Afinal, todas as tentativas de utilizar o Yome acabavam com a falha e a frustração, uma combinação familiar e dilacerante. Via, então, que a única solução possível exigia que cruzasse as fronteiras da perfeição, onde a salvação exigia que amadurecesse forçadamente. Ethan não sabia o que encontraria no final da jornada, mas estava disposto a tentar; ele não tinha outra escolha.

Seu primeiro passo foi recordar como adquiriu a habilidade, o momento em que manifestou o poder pela primeira vez, focando unicamente naquela sensação. Lembrava de como havia sido intuitivo a ideia de dilatar as pupilas para aumentar seu alcance de visão. Era como se pudesse sentir novamente a irritação nos olhos. Mas, ao deixar a parte afetiva da memória de lado, focou em cada detalhe que conseguia se lembrar, pormenor que fosse. Ele tentava replicar incontáveis vezes o mesmo processo na mente, como se precisasse reaprender a habilidade do zero para suprir os erros que cometeu na primeira vez. Assim, confrontou um detalhe que havia negligenciado. A partir daquele instante, começava a ver a dilatação das pupilas como algo imperfeito, que era o mesmo que abrir sua guarda para o inimigo. Entendia, principalmente, que se precipitou ao superestimar a dilatação das pupilas.

Em seguida, após mais um salto significativo de tempo, esse sendo necessário para que o Ronin entendesse o processo que precisava respeitar para aprimorar o dojutsu, o segundo passo foi focado exclusivamente na lacuna de conhecimento apresentada pelo loiro. Ao encarar o dilatar das pupilas como um processo que compunha um todo, as perspectivas se abriram diante de seus olhos. As possibilidades dançavam diante da imaginação fértil do mesmo. No entanto, tudo o que podia fazer àquela altura era imaginar. E foi o que fez. Imaginava-se sendo capaz de enxergar novamente e dilatar as pupilas, dessa vez focado em aperfeiçoar a forma como seu corpo reagia. Intensificava a sensação imaginaria de ativar o Yome, forçando os olhos como se tentasse romper forçadamente uma corda. A tentativa, por sua vez, seria acompanhada de um lagrimejar. E o mesmo processo se repetiu tentativa após tentativa, fracasso após fracasso. No fim, enquanto sonhava com a liberdade, a sensação de ter o corpo definhando lentamente era mais aparente do que nunca, como se estivesse sendo passando por um treino físico e mental rigoroso.

Logo que as primeiras peças foram se alinhando, foi preciso mais meio-dia até que a grande mudança acontecesse. Ethan estava pior do que nunca, quase caía inconsciente no chão; porém, todo o esforço havia sido recompensado repentinamente. Talvez o efeito do pó tivesse uma duração pré-determinada, talvez Ethan havia adquirido um poder que ultrapassava o senso comum. Independentemente da resposta, enquanto exercitava a imaginação, deparou-se com uma visão familiar, o céu sorria em tons dourados. Não esboçou reação, tampouco comemorou o ocorrido. Àquela altura, só conseguia pensar em sair dali. Em seguida, levantou-se com certa dificuldade e colocou as espadas do lado direito do quadril mais uma vez. Segurou no marco da porta para não perder a compostura e, enfim, deu o primeiro passo em direção ao caminho que o libertaria de seu exílio.

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Jōnin

Dom 15 Set - 19:15

Ethan

"Hesitation is Defeat"

Durante a descida que começou sem que nenhuma interrupção acontecesse, Ethan estava mais apreensivo e arrisco que o normal. Sem recorrer à habilidade ocular recém-desperta, estava constantemente fitando os arredores. Atentava-se aonde pisava, tentando encontrar qualquer alteração que indicasse problemas. Da mesma forma, esporadicamente, olhava para cima antes de retomar a visão ampla dos arredores, crente de que algo poderia despencar sobre a sua cabeça. O excesso de preocupação era motivado pelo seu estado precário. A fadiga acumulada durante aqueles dias se revelava a cada passo em falso, a cada respiração carregada e penosa. Como resultado, seus esforços careciam de precisão, de um foco que a mente em frangalhos do Ronin não possuía. Banhado em desconfiança, esse foi o panorama da primeira hora pacata de viagem, onde uma quietude e normalidade assustadora vinham em resposta aos anseios do loiro. Para ele não existia nada pior do que a calma antes da tempestade.

Próximo a uma curva estreita na metade do caminho, entretanto, a paranoia do Jounin deixou de ser infundada. De lá, três homens viajando juntos apareciam, uma dupla de irmãos ruivos andava na frente de um homem gordo, com aproximadamente dois metros de altura, que carregava uma lança imensa nas costas. Eles contavam histórias e gargalhavam entre um gole e outro da bebida que alegrava a peregrinação até o topo. Isso, no entanto, mudou quando pareceram surpresos ao verem o Ronin trilhar a direção contrária. Estavam curiosos e não viam a hora de saber se as histórias sobre o monge cego eram verídicas. Por isso, antes que Ethan passasse por eles, um dos irmãos levantou a mão, pedindo para o garoto interromper seus passos.

— Ei! Está vindo lá de cima? — O homem perguntou, direcionando um olhar de canto para o irmão.

— E de onde mais eu viria? — sem paciência, Ethan respondeu. Não via a hora de voltar para casa, por isso, continuou a andar mesmo sem a liberação do trio.

— Não se faça de desentendido. Por acaso encontrou o homem das histórias? — O outro irmão disse com a mesma irritabilidade do outro. No entanto, esse também não obteria a resposta que buscava.

Com o descaso do loiro, onde o mesmo tentava forçar sua passagem a todo custo, a dupla de irmãos não viu outra opção. Eles tinham o dever de ensinar boas maneiras para o garoto maltrapilho. Então, no momento em que o Ronin ficou lado a lado com eles, o irmão à esquerda agarrou seu ombro e o pressionou com força. Já o outro, igualmente irritadiço, cerrou os punhos e se moveu de modo a tentar acertar o menor no rosto. O golpe seria o bastante para derrubá-lo no chão.

Ethan olhou a dupla de cima uma última vez antes de agir, reafirmando uma superioridade que julgava ter. Esse mesmo olhar de canto alcançou o irmão que intentava o soco e antecedeu seus movimentos. Ao ver o golpe, agarrou o punho daquele que insistia em pressionar seu ombro e o puxou pelo braço, imprimido uma força sem igual no momento em que o agarrou pelo pulso e cotovelo. Com isso, colocou-o na trajetória do soco que vinha em sua direção. Irmão alvejou irmão, e Ethan terminou o movimento saltando para trás, ainda com o olhar de tédio no rosto.

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Jōnin

Seg 16 Set - 6:44

Ethan

"Hesitation is Defeat"

Enquanto os poucos movimentos realizados conseguiam incapacitar a dupla momentaneamente, o lanceiro não se deu ao trabalho de interferir. Observava o desenrolar da cena, alheio ao combate, bebendo o saquê que carregava em uma cabaça de madeira. Um sorriso imperceptível, então, formou-se em seu rosto. Achava graça em como os companheiros eram ridicularizados pelo desconhecido. Por um momento, perguntou-se se não era ele que as histórias referenciavam, porém, o fato de o loiro não ser cego eliminava a impressão errônea.

Com os irmãos sendo incapacitados por uma simples criança, o impasse estava longe de acabar. Logo que os sujeitos se levantaram, limparam a poeira das roupas e cuspiram no chão. O olhar em seus rostos estava diferente, quase como se tivessem se transformado em outra pessoa. Por último, viraram os rostos na direção do suposto líder do grupo, e quando o mesmo não se pronunciou, os dois entenderam que tinham liberdade para agir. Assim, o primeiro avançou e tentou repetir a mesma artimanha de antes: almejava acertar o Ronin no rosto, com um soco. O outro fazia alguns selos de mão nesse meio tempo, preparando algo grandioso.

No que dizia respeito ao primeiro avanço, Ethan cruzou os braços, dilatando as pupilas, e absorveu o impacto do golpe, sendo arrastado vários metros para trás. Não obstante, o inimigo continuou com a sequência de socos ao ter o primeiro bloqueado, seguindo o loiro enquanto este se afastava conforme inclinava a cabeça e o corpo para os lados. Isso durou até que o ninja encontrou uma abertura, onde levou ambas as mãos até o chão e acertou o adversário no peito com os dois pés. Na sequência, aproveitando a desorientação infligida, moveu as mãos e o acertou com dois chutes giratórios consecutivos nas costelas, que se complementaram durante o giro que o restante do corpo fazia. Por fim, o ruivo foi arremessado para o lado e Ethan saltou para trás mais uma vez.

Quando os pés pousaram no chão novamente, o irmão que seguia fazendo selos de mão interrompeu os movimentos com as mãos para auxiliar a sua contraparte. Assim que ele pegou um pedregulho enorme do seu lado e o arremessou, Ethan sacou a kusanagi e, em um corte limpo, partiu a rocha ao meio. Então, sem que deixasse uma brecha para o ruivo, saltou em sua direção e cravou a lâmina do lado esquerdo de seu pescoço, fazendo com que muito sangue vertesse pela ferida. Seu rosto ficou sujo com os respingos, assim como o manto bege, que mais uma vez era tingido de vermelho.

Mas, ainda que parte dos inimigos recém-descobertos tivessem sido neutralizados, Ethan não baixou a guarda e, no menor intervalo de tempo possível, virou-se na direção do lanceiro que assistia ao confronto. Foi nesse momento em que o homem corpulento deu mais um gole na cabaça e retirou a lança gigantesca das costas. Na sequência, ele cuspiu o líquido esverdeado na ponta da lança e fez com que chamas se manifestassem na extremidade da arma. Não só isso, pois, nesse momento, ele usou uma artimanha semelhante ao que o Ronin conseguia reproduzir, cobrindo a ponta da lança com faíscas negras que transmitiam a intenção assassina de seu usuário.

Com um balançar da lança, uma rajada de vento devastou os arredores, empurrando Ethan para trás e o fazendo ficar de joelhos, devido à sensação opressora vinda dos confins do inferno. Porém, ele não poderia se dar esse luxo, uma vez que o homem havia saltado e pretendia esmagá-lo com um ataque que reproduziria o movimento de uma guilhotina, realizado em um arco decrescente expressivo.

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HP: 4000/4175 | CH: 7675/9075 | CM: 000/300 | ST: 03/07 | Sakki: 41/50

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Seg 16 Set - 19:15

Ethan

"Hesitation is Defeat"

Apesar daquela sensação sufocante, que fazia com que um arrepio percorresse todo o seu corpo, Ethan não podia dizer que estava verdadeiramente com medo. O corpo reagia como o esperado, mas sua mente não encarava o cenário de forma convencional. O medo apenas trazia memórias dolorosas à tona, funcionando com um combustível que queimava e consumia tudo em volta, tão implacável quanto uma força da natureza. Atrelado a fracassos anteriores, o medo da morte o lembrava das promessas que fizera, do homem que precisava matar. A demonstração de fraqueza, portanto, não era devido à intenção assassina manifestada na extremidade ardente da lança; na verdade, era a dor que fazia com que o Ronin hesitasse por um instante. Em resposta à situação estressante que já perdurava dias e mais dias, marcas negras da maldição rastejaram das profundezas do inferno e tomaram a sua mente, transformando a sua realidade em um amontoado de dor, nada mais passou a importar após o choque.

No entanto, nada no mundo faria Ethan parar de lutar, dor alguma seria capaz de mudar a sua programação. No momento em que perdeu os pés do adversário de vista, entendia que precisava voltar a lutar. Simplesmente, não aceitaria a vergonha de morrer de joelhos, remoendo o medo e a fraqueza exposta pela dor. Em um surto de adrenalina, forçou cada parte milimétrica do corpo, rejeitando cada pensamento intrusivo que o influenciava negativamente. Lembrou-se de quem era, viu o quão patético era o gesto de abaixar a cabeça diante de qualquer pessoa, independentemente da justificativa. Assim, no último instante, saltou mais uma vez para trás e ouviu o estrondo da lança perfurando o chão. O ataque havia tido o poder de causar alterações na direção dos ventos, assim como fez com que detritos voassem para todas as direções, revelando uma destruição sem precedentes.

Ciente do que precisava fazer, mesmo sabendo que seu corpo não estava apto para uma liberação de poder daquela magnitude, Ethan arriscaria tudo para passar por aquela muralha de carne. Gritando com todas as forças, daria início ao processo onde acumularia quantidades abundantes de oxigênio nos pulmões para se beneficiar de um aumento repentino e temporário de poder. Os olhos ficariam brancos, e começaria a emanar uma aura amarela. Na sequência, com toda a sua inconsequência, forçaria ainda mais o corpo, provocando uma expansão significativa dos músculos, tornando-os mais robustos. Por último, levantou a espada, apontando-a para o lanceiro, e se colocou em guarda.

Não esboçaria reação alguma ao ver o inimigo assumir uma postura incomum, que surgiria após girar a lança freneticamente. Também não se precipitou ao vê-lo avançar em sua direção com uma intenção clara de acertá-lo com uma estocada no peito. Em vez disso, permaneceu inerte até o último segundo, onde só então giraria o corpo no sentido anti-horário e pisaria sobre a haste da lança, cravando-a no chão. Após isso, completando o movimento de giro, acertou o sujeito com um chute no pescoço. Mas, quando percebeu que isto não havia sido o suficiente nem ao menos para arrastá-lo pelo chão, saltou para trás. Dessa vez, seria perseguido pela lança em riste, contudo, fagulhas se acenderam quando o movimento foi aparado pela Kusanagi.

Eles ficaram cara a cara uma última vez, separados por trinta metros. Esses mesmo trinta metros, portanto, seriam os últimos que algum dos dois iria percorrer em vida. Ambos estavam cientes de que aquela seria a investida final para um dos dois. Ethan controlava a respiração, limpando a mente de qualquer pensamento e se concentrando como nunca fez antes; o homem parrudo, por sua vez, deu um último gole na bebida e sorriu, jogando a cabaça de madeira para o lado. Então, como dois guerreiros orgulhosos, eles correram sem se importar com o que aconteceria no final daqueles trinta metros, e o desfecho da batalha entre egos aconteceu em um milésimo. Agora, estavam de costas um para o outro; o tempo parou por um instante. Isso durou até que a lança flamejante se partiu em duas e o sangue verteu por um corte profundo que ia do peito até o pescoço do lanceiro, sujando ainda mais o manto bege do Ronin. Ethan havia conseguido abrir caminho pela estrada, enquanto os homens encontraram uma morte sem sentido e desnecessária.

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