—  Já haviam se passado dois dias desde o confronto com os mercenários, e, desde então, um mal-estar vinha crescendo dentro de mim. Algo sombrio se aproximava, e eu sabia que a calmaria não duraria por muito tempo. Estava apenas esperando o momento certo para agir. E ele finalmente chegou. Naquela manhã, ouvi os rumores. Um assassinato brutal havia abalado a vila. Um shinobi veterano, encontrado morto nos arredores do portão leste, seu corpo desfigurado e deixado como um aviso. Algo sobre aquela morte parecia diferente, como se fosse um chamado—não só para a vila, mas para mim.

Quando fui convocada ao Quartel-General, meu coração acelerou. Sabia que era o início do próximo capítulo. Não estava surpresa ao ver Ryo já me esperando do lado de fora, os braços cruzados e um olhar sombrio no rosto.

— Eu sei o que está acontecendo. — disse ele, sem rodeios, seus olhos fixos nos meus. — Alguém está querendo chamar a atenção, não só da vila, mas de nós dois. —

Franzi o cenho. O peso daquelas palavras caiu sobre mim como uma pedra. A verdade era clara. O selo do santuário havia sido rompido. Aquele lugar que os mercenários mencionaram... Eles finalmente fizeram seu movimento.

— O selo foi rompido, não foi? — perguntei, embora já soubesse a resposta. Ryo assentiu lentamente, seus olhos refletindo a mesma tensão que eu sentia.

Minha mão apertou o cabo da Kokuto por instinto. O momento que eu tanto esperava havia chegado. Não havia mais volta.

— Você vai me acompanhar. — disse a ele, minha voz firme. Ele me conhecia o suficiente para não questionar. O santuário nos esperava, e eu já podia sentir o peso das sombras se aproximando.

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— O ar ao redor de nós estava denso, quase palpável. Caminhávamos em silêncio pelas ruas de Iwagakure, com o sol se escondendo no horizonte. Eu sentia o olhar de Ryo sobre mim, atento, como se estivesse esperando por uma resposta, uma explicação que eu não estava disposta a dar.

— Você mudou, Lil. — ele quebrou o silêncio, a voz baixa, mas firme. — Desde aquele último confronto, você está mais... fechada. O que está acontecendo? —

Eu continuei andando, os passos pesados, tentando ignorar a pergunta. Não era algo que eu queria falar, não agora. Havia algo se agitando dentro de mim desde o combate com os mercenários. A pressão, o calor nos meus olhos quando meu Sharingan evoluiu... Era como se algo estivesse prestes a explodir.

— Não é nada. — respondi, fria, sem olhar para ele. Não era mentira. Eu só não sabia como explicar o que estava acontecendo comigo. O peso do que estava por vir, a maldição que parecia me perseguir, tudo isso estava me afastando cada vez mais da normalidade, se é que um dia tive algo parecido com isso.

Ryo suspirou ao meu lado, sem pressionar. Mas o silêncio dele era tão pesado quanto suas palavras. Sabia que ele não ia aceitar aquilo como resposta, mas ao menos estava disposto a deixar o assunto de lado por enquanto.

Chegamos ao ponto de encontro no limite da vila, um pequeno posto avançado onde a inteligência de Iwagakure havia montado um perímetro. Um grupo de jounins aguardava, trocando informações rapidamente enquanto apontavam para um mapa da região.

— Então, o que vocês descobriram? — perguntei, cortando a conversa. Eu não estava ali para perder tempo com formalidades.

Um dos jounins olhou para mim com um olhar cansado, mas direto. — O selo foi rompido, como você já sabe. O santuário foi violado, mas o que não esperávamos era que mais de um grupo estivesse envolvido. Estamos lidando com mais do que apenas os mercenários que você enfrentou. Parece que outras facções foram atraídas para a área... e não temos informações suficientes sobre elas ainda. —

Ryo cruzou os braços ao meu lado, pensativo. — Isso significa que estamos indo às cegas. Não sabemos quem está envolvido, nem quantos são. Só sabemos que o santuário está no centro de tudo isso. —

— Exato. — o jounin respondeu. — Mas uma coisa é certa: eles estão esperando por vocês dois. Aquela emboscada no último confronto foi só o começo. Parece que essa caçada é mais pessoal do que imaginávamos. —

Senti um frio na espinha. Eles estavam nos esperando, tanto a mim quanto a Ryo. Os mercenários, os inimigos escondidos, todos faziam parte de algo maior, algo que eu ainda não compreendia completamente. Mas uma coisa era certa: eu não podia recuar agora.

— Certo. — Eu disse, com uma voz fria, cortando a tensão do momento. — Vamos terminar isso. —

Ryo me olhou de canto de olho, e por um momento, pude ver a preocupação em seu rosto. Eu estava diferente, e ele sabia disso. Mas, assim como eu, ele sabia que não havia mais volta.

A escuridão do santuário nos aguardava, e algo me dizia que aquilo era só o começo.

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— O clima parecia mais pesado conforme nos aproximávamos do caminho que levaria até o santuário. Um silêncio incômodo pairava entre mim e Ryo. Eu sabia que ele estava me observando, estudando cada movimento, cada hesitação. Não era novidade que eu estava diferente, mas ele não precisava entender o porquê.

— Temos que pensar nisso com calma. — Ryo disse, quebrando o silêncio mais uma vez. — Se realmente estamos lidando com múltiplas facções, ir de cabeça nesse santuário sem informações pode ser suicídio. Precisamos de um plano. —

Eu fechei os olhos por um breve instante, deixando o cansaço mental me consumir. Ele tinha razão, claro. Mas a cada segundo que passava, sentia que o tempo estava se esgotando, que havia algo além de simples estratégia nos esperando. Não podia perder mais tempo.

— Não temos tempo para planos elaborados. — Minha voz saiu mais fria do que eu pretendia. — Se eles estão lá, esperando por nós, então vamos dar a eles o que querem. Eu já sei o suficiente. —

Ryo franziu o cenho, claramente incomodado com a minha resposta. — Sabe o suficiente? Não, Lil. Isso não é só mais um jogo de caça e captura. Há algo maior por trás disso. Você está agindo de forma imprudente.

— Se você quer ficar para trás, faça isso. — Dei um passo à frente, sem me importar com a reação dele. — Eu vou lidar com isso agora. —

Comecei a andar, sentindo a tensão entre nós aumentar, mas não me importei. Eu sabia que ele não entenderia, e naquele momento, não me importava se ele concordava ou não. O santuário estava à frente, e eu precisava confrontar o que me aguardava.

De repente, senti uma mão firme segurando meu braço, puxando-me de volta. Ryo. Ele me virou, os olhos dele cheios de frustração e... preocupação?

— O que está acontecendo com você? — ele perguntou, apertando meu braço com mais força do que o necessário. — Você não está agindo como você mesma. Está se jogando nisso de uma forma que eu nunca vi. Por quê? —

Uma onda de irritação percorreu meu corpo. Balancei o braço, libertando-me do aperto dele com um movimento brusco.

— Isso não é problema seu, Ryo. — Eu disse, ríspida, minha voz carregada de um veneno que eu não sabia que estava guardando.

Ele me olhou por um momento, sem dizer nada, apenas levando a mão à testa em um gesto de frustração. Ele sabia que algo estava errado, mas não sabia o que. Eu podia sentir a confusão dele, o quanto estava perdido tentando entender por que eu estava tão distante.

Ryo abaixou a mão e olhou para os papéis que segurava, documentos da inteligência que ele havia pego antes de sairmos. As informações pareciam pesar mais do que antes, como se ele estivesse começando a duvidar se isso realmente iria acabar bem.

— O que aconteceu com você...? — ele murmurou, mais para si mesmo do que para mim.

Eu não respondi. Não havia nada a dizer.

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— O caminho adiante era um labirinto de pedras e trilhas esculpidas pelo tempo, cada curva escondendo sombras que pareciam se arrastar nas bordas da nossa visão. As ruas de Iwagakure ficavam para trás enquanto nos dirigíamos para a periferia da vila, onde os traços da civilização se dissolviam em penhascos irregulares e trilhas pouco marcadas. O vento assobiava entre as rochas, frio e carregado de algo que eu não conseguia nomear. O sol já começava a se pôr, tingindo o céu de um laranja sanguíneo, como se refletisse a iminente violência que aguardava.

Ryo, como sempre, se mantinha um passo atrás de mim, silencioso, mas atento a cada movimento que eu fazia. Seu olhar, apesar de não me encarar diretamente, era uma presença constante. Eu sabia que ele estava preocupado, mas preferia ignorar. Não havia espaço para distrações naquele momento. O santuário era o nosso destino, e não podíamos nos dar ao luxo de hesitar.

O terreno começou a ficar mais irregular, o solo transformando-se em rochas irregulares e declives perigosos. Optamos por uma rota alternativa, uma trilha pouco usada que serpenteava por entre as montanhas e daria acesso à parte traseira do santuário. Menos guardada, menos exposta. Nossa única vantagem era a surpresa. Cada passo soava abafado pela terra seca e pelas pedras soltas. O silêncio entre nós dois era quase tão pesado quanto o cenário ao redor. A rota era apertada e perigosa, com desníveis que exigiam cuidado em cada movimento. As paredes de rocha fechavam-se sobre nós, criando uma sensação de confinamento. Era como se o próprio caminho estivesse nos conduzindo para algo inescapável. Eu podia sentir a energia estranha e antiga que permeava o ar conforme nos aproximávamos do santuário. O peso das sombras crescia, quase sufocante.

Eu sabia que Ryo continuava a me observar. Seus passos eram calculados, mas ele mantinha uma distância cuidadosa, como se estivesse esperando que eu explodisse a qualquer momento. Suspirei, sentindo a irritação crescer novamente. Sabia que ele estava desconfiado, e, de certa forma, ele tinha razão. Algo dentro de mim havia mudado desde o último confronto, algo que eu ainda não conseguia controlar.

Apesar disso, continuei caminhando, ignorando sua presença o máximo que podia. Não era hora de lidar com ele, com suas perguntas ou preocupações. Eu sabia que isso poderia se tornar um problema mais tarde, mas no momento, havia coisas maiores em jogo. O selo do santuário estava rompido, e algo muito mais sinistro nos aguardava. Não podíamos nos permitir distrações. Não agora. O santuário já estava à vista, sua silhueta antiga se destacando contra o céu escurecido. Estávamos quase lá, e o ar ao nosso redor ficava mais pesado, como se o próprio ambiente tentasse nos repelir. A tensão era quase palpável, e por um breve momento, perguntei-me se estávamos realmente prontos para o que estava por vir.

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— A paisagem desértica ao nosso redor parecia cada vez mais inóspita à medida que avançávamos. As montanhas, outrora imponentes, agora se fechavam em torno de nós como gigantes adormecidos. Seus picos irregulares cortavam o horizonte, e o vento, que antes assobiava suave, agora rugia através das fendas rochosas, carregando consigo a poeira do solo árido. O terreno seco e cruel estalava sob nossos pés, cada passo ecoando no vasto silêncio que se espalhava por quilômetros.

À frente, o santuário se aproximava, uma estrutura antiga e desgastada pelo tempo, emergindo das sombras que o sol poente projetava nas encostas das montanhas. Eu mantinha o foco no caminho, cada músculo em meu corpo preparado para o que viesse a seguir. Mas a tensão que permeava o ar estava ficando densa demais para ser ignorada.

Foi então que Ryo parou subitamente. Seus olhos se estreitaram, e ele virou o rosto para a direita, fixando-se em um ponto entre as montanhas ao longe. O silêncio foi quebrado por sua voz firme, e o peso de suas palavras deixou claro que algo estava errado.

— Estamos sendo observados. — Ele disse, seus olhos ainda fixos no caminho estreito entre os montes traiçoeiros. — Há alguém nos seguindo há algum tempo. —

Meu coração acelerou, mas mantive a calma. Sem hesitar, saquei minha Kokuto, sentindo o peso familiar da lâmina em minhas mãos. O aço negro brilhou brevemente sob o último raio de sol que restava no céu, mas permaneci em silêncio. A situação exigia paciência, e qualquer passo em falso poderia nos expor ainda mais. Por um momento, o vento foi a única coisa que ouvimos. Então, uma risada distante ecoou através da estrada de terra batida, um som seco e sombrio que fez a espinha se arrepiar. A risada reverberou nas paredes das montanhas ao nosso redor, criando uma sensação de que estávamos cercados, mesmo que não víssemos ninguém.

— Impressionante... — disse uma voz distante, carregada de ironia. — A percepção de vocês é afiada. Mas de nada vai adiantar. —

Olhei para Ryo, que agora apertava os punhos, preparando-se para o confronto que parecia iminente. A voz continuou, desta vez mais próxima, mas ainda sem uma origem definida, como se o próprio vento carregasse as palavras.

— Eu preciso dos olhos dela! —

Aquela frase cortou o silêncio como uma lâmina, e um frio percorreu meu corpo. Ele estava falando de mim.

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— Das sombras que se estendiam pelas montanhas, uma figura começou a se materializar, como se o próprio crepúsculo o tivesse gerado. Era um homem alto, esguio, com uma postura relaxada, quase arrogante. Seus cabelos desordenados caíam sobre um rosto pálido e doentio, com olhos fundos que exalavam uma inquietação perturbadora. Não portava nenhuma arma visível, o que só acentuava sua aura de superioridade, como se não precisasse de um instrumento mortal para impor o caos. A expressão dele era de alguém que já tinha visto o fim de tudo e sobrevivido ao abismo.

Atrás dele, saindo das fendas escuras entre as rochas, surgiram outros. Capuzes brancos escondiam suas identidades, tornando-os sombras vivas que se moviam em uníssono, sem emitir um som sequer. Três, quatro... talvez mais, era difícil dizer ao certo. Eles cercaram a nós dois com precisão quase mecânica, formando um círculo que bloqueava qualquer rota de fuga. O vento que antes soprava forte agora parecia estagnado, como se o mundo ao nosso redor aguardasse o desenrolar de algo inevitável.

Ryo, sempre cauteloso, assumiu uma postura defensiva, os músculos tensionados, pronto para qualquer movimento. Mas era claro que Sein, o homem à nossa frente, não o via como uma ameaça. Seu olhar frio e desdenhoso estava cravado em mim desde o momento em que apareceu.

— Que desperdício... — ele começou, sua voz era baixa, carregada de um desprezo quase teatral. — Esse garoto, Ryo, sempre tão diligente. Tentando proteger aquilo que ele mal entende. A propósito, meu nome é Sein. —

Sein deu um passo à frente, os capachos ao redor se moveram sutilmente com ele, apertando o cerco.

— Mas você... — Seus olhos doentios se fixaram nos meus, e um sorriso lento, cruel, deformou sua boca. — Seus olhos. Eles são simplesmente lindos. Raros. Uma dádiva. —

Pude sentir o olhar de Ryo sobre mim, mas não desviei a atenção de Sein. Havia algo errado na forma como ele falava, uma obsessão latente que rastejava por entre suas palavras.

— É realmente uma pena que eu tenha que matá-la para tê-los. — O sorriso dele se alargou, e o brilho insano em seus olhos apenas intensificou o calafrio que percorreu minha espinha.

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