A manhã começou como qualquer outra, com o Sol tímido iluminando o horizonte e a névoa de Kirigakure espalhando-se suavemente pela vila. Estava revisando alguns genomas em meu laboratório quando ouvi um leve bater à porta. Não era comum receber visitas tão cedo, ainda mais de alguém desconhecido — conforme posso ver com os orbes celestiais, então me aproximaria com curiosidade. Ao abrir a porta, um mensageiro da vila estava ali, segurando um pequeno pergaminho com o selo oficial de Kirigakure. Agradeci com um aceno, e ele se foi rapidamente. Ao desenrolar o pergaminho, meus olhos se fixaram na missão descrita. — Eu sou um cientista, não veterinário. — Murmuraria, reagindo quanto ao conteúdo presente no pergaminho que me fora entregue.

Há uma fera gigante, uma criatura que ninguém conseguiu identificar com precisão, causando estragos nos arredores da vila. Relatos falam de aldeões assustados, campos devastados e um medo crescente entre os civis. E dito isso, a missão é clara: Rastrear e neutralizar tal fera. — Então tá, vou me indo logo antes que as coisas se compliquem ainda mais. Vai ser divertido, eu acho. — Finalizaria, levemente empolgado com a missão digamos que... fora do comum. Não é do meu feitio ir atrás de bichos por aí. No entanto, por ser uma missão de Rank-S, então o "bicho" não deve ser pouca coisa.

Por fim, caminharia em direção ao último local conhecido da besta para fazer uma varredura. Deixaria o Laboratório e seus limites aos cuidados de Kirara.

Alcançando os Arredores de Kirigakure, distante de qualquer presença humana, removeria a venda por ora, amarrando-a no meu braço esquerdo. Ao passo em que fizesse isso, as cores e formas familiares do ambiente deram lugar a uma infinidade de detalhes ao meu alcance, longe do preto e branco de quando estou vendado. A visão de longo alcance oferecida pelos orbes celestes me permite ver através de florestas densas, montanhas distantes e até camadas subterrâneas. Mas, mais importante que isso, é a habilidade de detectar assinaturas de calor e fluxos de Chakra que se escondem à primeira vista. E com essas capacidades visuais buscaria pela fera. Concentrei-me então nessa tarefa, varrendo a paisagem em busca de qualquer coisa fora do comum ou uma criatura muito grande. Deslizaria minha visão através das árvores altas, das pequenas vilas, dos rios que serpenteiam pela terra e das montanhas imponentes.

— E aí, cadê você...? — Indagaria para mim mesmo, pouco a pouco ajustando o foco, buscando algo que não se misturasse com a normalidade ao redor. Busquei pelas assinaturas de calor, procurando qualquer sinal que indicasse um ser vivo com tamanho anormal ou com uma temperatura corporal diferente do usual. Percebi pequenas criaturas se escondendo nas sombras, animais correndo em suas rotinas diárias, e o ocasional brilho de um pássaro alçando voo. Nada fora do comum, até que... No epicentro do meu campo de visão, em meio a uma densa floresta, um padrão de calor muito maior e mais concentrado que o de qualquer outro animal selvagem começou a se destacar. É enorme, quase bestial. A assinatura de calor irradia com intensidade, e quando foquei ainda mais, notei o fluxo de Chakra denso e agressivo, assim como poderia ver sua fisionomia com perfeição e detalhes, mesmo bem distante.

— Aí está você! — Com certa empolgação e sentimento de felicidade por tê-lo encontrado, até a besta buscaria me dirigir o mais rápido possível, tentando não perdê-lo de vista — o que é bem difícil, quase impossível. Mas piadas à parte.

Caminharia em direção à localização da fera de forma rápida, sentindo o ar ao meu redor ficar mais pesado à medida que me aproximo. A floresta parece inquieta, como se todos os seres vivos ao redor estivessem cientes da presença da criatura. Não demorou muito para que eu a visse: Uma massa gigantesca de músculos e escamas, se destacando no cenário como uma montanha viva. Ela está de costas para mim, mas parece sentir minha presença. De repente, a fera se virou e soltou um rugido ensurdecedor, tão poderoso que fez o ar vibrar e levantou uma nuvem de poeira ao nosso redor. O som reverberou em meus ossos, e um Instinto Assassino avassalador se abateu sobre mim. Meu corpo congelou por um momento, os músculos rígidos como se fossem de pedra, como se o próprio ar tivesse se tornado uma prisão.

A fera, porém, não avançou. Em vez disso, virou-se e correu para a floresta, cada um de seus passos fazendo a terra tremer como se um pequeno terremoto estivesse em curso. A poeira levantada pelo seu rugido ainda pairava no ar, dificultando a visão enquanto a criatura se distanciava. Se a fera quisesse realmente me atacar, eu provavelmente estaria morto agora; enfim. Fecharia os olhos e me concentraria, reunindo minha força de vontade. Sei que, para quebrar a paralisia, preciso confrontar o "medo" que me mantém preso. Senti meu Chakra fluindo, aquecendo meu corpo e, lentamente, comecei a recuperar o controle. Abriria os olhos e, com um movimento brusco, expulsaria o domínio do Sakki sobre mim, como se estivesse dissipando uma sombra que me envolve. O peso começou a se dissolver, e meu corpo respondeu, primeiro com um leve tremor nos dedos, depois com um relaxamento gradual dos músculos. — Tá... isso foi intenso. — Murmuraria, degustando um chocolate para manter meus índices glicêmicos em dia enquanto refletiria sobre algo que havia visto na boca da fera quando esta rugiu.

— Vamos lá de novo então. — Finalizaria, localizando a fera mais uma vez à longa distância enquanto correria atrás dela pela segunda vez.

Passado um pouco tempo de busca, encontraria a fera novamente. Posso vê-la de costas para mim, focada em arrancar frutas de uma árvore com suas poderosas mandíbulas. O som de seus dentes triturando os galhos ecoa pela clareira. Ela parecia calma, mas, quando dei um passo à frente, sua cabeça se virou rapidamente, os olhos selvagens fixos em mim. — Todo dia é uma oportunidade nova de me matar, então vamos lá. — Murmuraria, mentalizando o que faria a seguir. Pois bem, sem hesitar muito, invocaria um golem gigante por intermédio do Doton: Gōremu no Jutsu. O chão tremeu de leve enquanto o golem emergia. E, através de um comando silencioso, o golem avançou, seus passos pesados ecoando pelo solo enquanto tenta agarrar a fera.

A fera rugiu em desafio, tentando se soltar, mas o golem a segurou firme, seus braços de pedra envoltos ao redor do corpo gigantesco do animal. Aproveitando a abertura, corri em direção à fera e, com um salto ágil, aterrissaria em suas costas. Imediatamente, ela começou a se agitar, balançando-se violentamente de um lado para o outro, o golem lutando para mantê-la sob controle. Mantive meu equilíbrio o máximo que pude, agarrando-me ao pelo grosso e resistente, enquanto a fera se debate com fúria. — Por que eu fui inventar de fazer isso, hein? — Indagaria para mim mesmo com um pouco de "Arrependimento". Após isso, finalmente, com um movimento brusco, a fera conseguiu me lançar para cima. Senti o vento chicotear meu rosto enquanto subia, e em um instante, vi a enorme boca da criatura aberta, pronta para me engolir. Em vez de resistir, relaxei meu corpo, permitindo que ela me engolisse de uma vez.

Dentro da criatura, uma escuridão quente e úmida me envolveu. Mas ao contrário do que qualquer um esperaria, um sorriso surgiu em meus lábios. — Agora ao invés de Hakari, O Cientista, agora vou ser Hakari, O Dentista. — Brincaria, me mantendo no ar dentro da criatura com a flutuação do Tenseigan agradecendo à natureza pelo fato da fera não ser maior do que o limite de altura que posso levitar, fitando seus dentes com intenção enquanto o golem prossegue a segurá-la.

Pronto para o procedimento estético, acionaria o Kongōken, sentindo o fluxo de Chakra constante percorrendo meus músculos braçais. E, com a força aprimorada, tocaria algo rígido e áspero encravado na gengiva da fera. É um pedaço de madeira, grande e profundamente enterrado na carne cujo qual eu teria visto durante seu rugido de antes. Posso imaginar a dor que isso está causando à criatura. Sem perder tempo, agarraria o pedaço de madeira com ambas as mãos e puxeariacom toda a minha força. A fera soltou um rugido gutural, que reverberou por todo o seu corpo, fazendo-a se contorcer de dor. Eu mantive o foco, ignorando a turbulência ao meu redor, e continuei a puxar. A madeira começou a ceder, e com um esforço final, arranquei-a completamente da gengiva da fera. O som que ela emitira fora grotesco, um estalo de carne se rasgando, seguido por um gotejamento constante de saliva e sangue.

No mesmo instante, o golem lá fora, ainda segurando a fera, fez um movimento para abrir a boca da criatura. Aos poucos, as mandíbulas da fera começaram a se abrir. Aproveitei a abertura e, com o pedaço de madeira em mãos, fui cuspido para fora, caindo de pé com leveza no chão úmido da clareira. Ao ser liberada da dor, a fera começou a se acalmar. Seus movimentos se tornaram menos frenéticos, e o brilho feroz em seus olhos foi substituído por algo mais próximo de alívio. O golem então teria o comando de soltá-la, e, ao passo em que o fizesse, a criatura aproximaria seu rosto de mim, me dando uma grande lambida. — Ei, isso não vale! — Repreenderia a fera, arremessando o pedaço de madeira pra algum lugar distante e desativando o fluxo de Chakra constante do Kongōken. — Deita. — Ordenaria. A criatura obedeceria, se deitando e causando um pequeno tremor haja vista seu peso e tamanho colossais, fitando-me com um olhar fofo. Em seguida, tocaria suavemente sua boca para que entendesse que quero que abra-a. E assim o pedido foi atendido. — Desculpa por ter feito doer. — Me desculparia com a besta, curando a sua gengiva rasgada pelo meu movimento por intermédio do Shōsen Jutsu.

Quando finalizasse o processo de cura, desfaria o golem de terra, me afastando levemente do animal gigante para fazê-lo compreender que terminei o que estava fazendo, e ele logo se levantou. — E aí, garotão. Consegue me deixar perto da vila? — Indagaria, sendo respondido com um movimento de cabeça da fera, que a abaixou para que eu pudesse subir nas suas costas — e assim o fiz. Quando estivesse adequadamente montado em suas costas, a fera começaria a caminhar em direção à Kirigakure no Sato. No meio do caminho, apreciaria a paisagem e a natureza com meus olhos expostos, vendo o mundo com suas cores reais, longe do preto e branco.

[...]

Chegando próximo de Kirigakure, eu desceria da fera, agradecendo a ela por ter me dado uma carona e dando um último cafuné antes de vê-la correndo livre para a natureza. Em seguida, com um sorriso genuíno estampado na minha face, cobriria novamente meus olhos com meus Hōtai, rumando até a minha vila natal para reportar a missão bem sucedida.

— Até que levo jeito com animais. — Ponderaria.