Sabaku no Azir

Era uma manhã como todas as outras na Vila Oculta da Areia... Eu havia acordado cedo, e já arrumado, encontrava-me na varanda de meu quarto com os olhos fixados no horizonte. Magnífica... Debrucei-me no corrimão, retirando alguns momentos do meu dia para descansar, ainda que mais mentalmente do que fisicamente. A rotina de um shinobi era corrida, e a minha então... era o dobro. Era fácil sentir-me sufocado nos milhões de objetivos que eu mesmo estabelecia para alcançar, e nos prazos que me dava para fazê-los. Haviam pontos positivos em viver uma vida 'regrada', não se engane, mas era muito fácil acabar sufocado por suas próprias expectativas. Independentemente, quando enfim me sentia disposto, afastei meu corpo do corrimão com um empurrão; caminhando casa-a-dentro. Meus passos eram contados e precisos, eu caminhava de canto em canto 'catando' e vestindo minhas roupas e utensílios preparando-me para uma óbvia saída; a precisão metrônomica de meus movimentos só era quebrada quando, a alguns metros da porta, minha mãe me chamava. — Você já vai? — Dizia, com um semblante um pouco preocupado. Como eu havia dito, era realmente cedo. A ocasião me fazia dar um leve sorriso, enquanto eu retraçava meus passos na direção da mulher; repousando meu braço em seu ombro. — Sim... Mas eu devo estar de volta pro almoço, tenho que treinar um pouco antes de ir na missão de mais tarde. — Concluí, com um beijo na bochecha da mesma.


Alguns minutos se passavam até que enfim eu chegava em um terreno vazio do vilarejo; fora das delimitações da cidade, mas ainda dentro de seus protegidos muros. O recinto era uma vista praticamente abandonada, mas que ainda sim demonstrava-se 'tocada' pelo homem. Enormes pilares de pedra erguiam-se por todo o lugar, lutando todos os dias para manterem-se em pé contra a erosão do vento em conjuto da areia; embora um ou outro parecesse prestes a sucumbir contra uma força além, demonstrando arranhões ou crateras de impacto não-naturais; um sítio de treinamentos. Entretanto, desta vez, eu não ''desperdiçava'' muito tempo admirando a vista antes de enfim ir direto ao motivo que me trazia ali; eu caminhava, sem muita pressa, até um destes pilares enquanto concentrava meu chakra sob meus pés. (Kabe Hashiri no Jutsu) Com auxílio da energia, e enfim frente a frente com o pilar, meu próximo passo era conectado diretamente contra a estrutura agindo quase como uma ventosa de polvo, efetivamente prendendo-me á mesma. O próximo ato que de fato tornava-se sobrenatural, quando utilizando deste mesmo pé para dar 'apoio', continuei com um segundo contra a estrutura; efetivamente lutando contra a gravidade para manter-me grudado na parede. Embora o feito fosse, no fundo de sua profundidade, extremamente mundano. Eu continuei a caminhar, um passo de cada vez, até alcançar o topo e enfim ver como desnecessário a utilização da técnica, efetivamente 'retomando' o chakra para seu fluxo natural. O 'topo' não era assim tão alto, provavelmente não mais do que cinco metros de altura, mas o suficiente para que as forças do vento fossem consideravelmente mais fortes do que ao nível do chão. "Escute, Azir. O Chakra é uma junção tanto de seu espírito, quanto de seu corpo. Não existe conhecimento, nem jeito certo, de aprimorá-lo — todos devem encontrar sua própria maneira. Existem aqueles que devem focar em 'construir' seu chakra, efetivamente aumentando suas reservas; estas pessoas procuram aprimorá-lo através de treinamentos físicos, e até mesmo mentais. E existem aqueles que possuem as reservas necessárias, mas são incapazes de sintonizar corpo e mente — possuindo, assim, uma quantidade final menor de energia. Sintonize seu corpo e sua mente, e apenas quando estiver no ápice de seu auto-controle, busque por uma forma de aumenta-lo." Eu relembrava as palavras de meu tio e mentor nos momentos em que desperdiçava encarando a 'queda' que colocava-se em minha frente; a partir dali, eu não poderia errar... Ao menos não se desejasse continuar andando. Eu respirava fundo e, enfim, sentava-me sob o rochedo. Minhas pernas cruzavam-se em posição de borboleta e minhas mãos repousavam acima de meus joelhos, com a palma delas apontada para o céu. Meu anterior respiro fundo, agora, tornava-se cada vez mais um suspiro medido e controlado — eu assumia a pose de meditação. A pegadinha estava no lugar em que eu fazia aquilo... Os ventos arrebatadores de um país nomeado por causa deles, e a areia que permeava cada esquina do vilarejo, agora, uniam-se em uma dança infernal dedicada única e exclusivamente a tirar-me do sério, ou pelo menos, de minha concentração plena. Se 'se desligar' do mundo externo para uma meditação comum já era dificil o suficiente, desligar-se daquele pandemônio seria mais difícil ainda. Mas aí estava — um desafio que exigia a sintonia de corpo, para que passasse a ignorar 'sinais' desnecessário, e mente, para emergir em um estado de concentração plena.

Entretanto, falar era mais fácil do que fazer. O mero ato de ficar parado era difícil, afinal, as rajadas e lufadas de vento podiam não machucar mas eram poderosas; e os grãos de areia, na velocidade em que estavam, eram irritantes. E para completar, da mesma forma que chegavam, se alojavam, então cada instante ali era suficiente para que uma quantidade continuamente maior de areia se juntasse sob meu colo, roupas e sabe-se deus aonde; aquilo me dava um prazo, não poderia ficar ali pra sempre. Me dava um senso de urgência; oque em outras instâncias poderia ser bom, mas naquele momento, apenas adicionava em mais uma das infinitas preocupações mundana para me livrar. Então não restava muito além de me focar; cada respiro acelerado era controlado no mesmo momento; cada preocupação, cortado desde a raiz. Pouco a pouco o ‘inferno’ dos ventos amenizavam-se a uma brisa. Uma brisa não exatamente calma, mas uma brisa mesmo assim. E este... Era o máximo que eu conseguia naquele momento.

Eu não esperava ‘controlar-me’ tão facilmente, então aceitava aquele progresso como isto, apenas um progresso. Já havia gastado uma quantidade significativa de tempo ali, e pra completar, sequer havia tomado café da manhã; era hora de, ironicamente, voltar a me preocupar com as temidas “preocupações mundanas”.