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O brilho dos monitores incomodava o olho do andarilho. Os rostos que se revelavam nos pixels incomodavam ainda mais. Por mais que tivessem aceitado a trégua e a criação da União Shinobi, Karma sabia que tudo ainda era muito frágil. Até o menor deslize, a palavra errada no momento errado, poderia fazer tudo ruir. Por isso, embora a maioria estivesse na tela, com exceção da conexão do Vento, o andarilho permaneceu calado. Evitando assim que tivessem motivos para acusá-lo.

— Não podemos adiantar isso? Ele não virá. Mandará o assessor como de costume — resmungou o Senhor da Água. Karma concordava com ele. Mesmo depois de tantos meses o Senhor Feudal do Vento ainda não havia aparecido para nada. — Até a mocinha nova já está presente…
— Tenho um nome e quero ser chamada por ele… ou pelo meu título, Mizu Daimyo-sama — Ayaka, a nova Senhora Feudal do Relâmpago, falou com a voz firme de uma guerreira, mas as vestes mostradas na tela eram de uma mulher vinda da nobreza como qualquer outro daqueles homens.
— Não faz mal esperarmos um pouco — pontuou o Senhor da Terra, visivelmente desconfortável com a tensão. Ele era um dos homens mais medrosos que Karma já conhecera; e ele havia visto muitos ricos se borrando de medo na vida. — Tenho certeza de que se Karma-san nos chamou é porque temos que conversar sobre algo importante.
— Além do mais — cortou o Senhor do Fogo. — Uns minutos a mais ou a menos não vai nos afetar tanto assim — e baforou uma pipeta dourada.

O andarilho de tapa-olho manteve-se calado. As pernas cruzadas, o rosto apoiado nos dedos e o cotovelo fincado no braço da poltrona. De repente, a iluminação do monitor estremeceu e o rosto do assessor surgiu. O Senhor da Água revirou os olhos.

— Muito bem, senhores, podemos começar, então — Karma anunciou se erguendo de forma majestosa, a capa dançando no ar. — Após muitas investigações encontrei uma ligação entre o culto que vem atormentando o País do Vento e a invasão ao Castelo da Lua no passado. Parece haver pessoas envolvidas em ambos os incidentes. Isso significa que podemos estar presenciando não apenas uma religião, seita ou coisa do tipo, mas um possível retorno de Soramaru.

Aquele nome fez todos ficarem em silêncio. A batalha contra aquele cientista havia derrubado nomes importantes. Konoha perdeu um líder e agora a burguesia precisava ficar de olho nos passos de Nathaniel Grey, um elfo que deixava claras as preferências políticas. Suna havia ficado com uma enorme cicatriz que se tornara material para o tráfico. A confusão havia dado mais motivação a Resistência dentro do País da Terra. Kiri perdeu não apenas uma líder, mas também uma antiga sombra lendária.

— Ele não está morto? Mortos não retornam a vida — cuspiu o Senhor da Água.
— Não podemos ter certeza dessa afirmação. Soramaru era um cientista, porém, também era um experimento. O limite de seus poderes é um mistério. Tenho certeza de que, no momento, ele se encontra morto porque o selo marcado pelo seu chakra desapareceu de meu corpo, no entanto, isso não significa necessariamente que ele nunca voltará — não tinha como fazer explicações melhores, pois, ainda era apenas uma teoria. Aqueles não eram homens com conhecimentos do chakra. Ayaka talvez entendesse e por isso mantinha-se concordando em silêncio. — Indiferente a isto, é um resquício daquele incidente, o que significa que a Bōryokudan está envolvida.

Outra vez um silêncio sepulcral.

— Qual sua proposta? — indagou Ayaka.
— Uma missão de invasão e neutralização. Enviaremos ninjas em nome da União Shinobi para as instalações do culto, encontraremos quem lidera e assassinaremos e resgataremos as pessoas que foram e nunca mais voltaram, se ainda estiverem vivas. — O andarilho voltou a se sentar, desta vez colocando ambos os cotovelos na cadeira, apoiando o queixo nos dedos entrelaçados e enluvados.
— Parece-me razoável — disse o Senhor do Fogo.

Todos os demais concordaram, exceto o Senhor da Água.

— Kiri não precisa se preocupar com essa organização. Estamos simplesmente ajudando vocês. Tenho certeza de que basta Uchiha Yohma para resolver essa confusão — disse o Senhor da Água, trincando os dentes, tentando manter-se soberano.
— Então o envie nesta missão — Karma disse com um sorriso cínico. Detestaria lembrá-lo de que Yohma esteve presente na falha da missão de confronto a Soramaru. — Melhor, envie seus melhores ninjas. Emiya, Mei, Yohma, a tríade Uchiha de seu vilarejo. Eles serão muito importantes para a missão, com toda a certeza, Mizu Daimyo-sama.

Os olhos do homem se encheram de cólera ao notar um tom jocoso na voz do andarilho. Resmungando, ele desligou o monitor, encerrando sua participação na sessão. Karma aliviou os ombros, feliz por ter provocado aquele incômodo. Adorava vê-los reagirem de formas atípicas.

— Conversem com seus Kages e determinem seus ninjas. A missão acontecerá em breve, enviarei os detalhes.

Todos concordaram e desligaram. Karma se levantou e saiu da sala de comunicação. Entrou em um quarto em tons dourados e brancos. A mulher de cabelos verdes estava deitada a cama com shorts e top branco mostrando a palidez da sua pele, assim como parte de uma cicatriz que parecia descer a partir do seio esquerdo.

— Como foi a reunião, querido? — ela indagou e Karma fez careta.
— Pare de me chamar assim — ele disse e se sentou na beira da cama. Quase no mesmo instante a mulher abraçou-o por trás, as mãos chegando próximas do ventre do ninja. — Eles aceitaram enviar os ninjas para a missão. Você tem certeza do paradeiro da espada?
— Se não for a espada, é algo ainda mais interessante. A natureza está muito agitada naquela região, Karma — a forma como ela pronunciou o nome soou como um deboche. O andarilho fechou os olhos, respirou fundo, já se acostumara com a personalidade dela. — Também pude senti-la. Aquele chakra ancestral não é fácil de esconder para alguém como eu.

Karma olhou para a mulher. Os cabelos verdes estavam cobrindo as orelhas pontudas típicas de uma elfa. Suspirou, desviou o rosto, a mão dela começava a buscar outra coisa nele. Os lábios dela encostaram em seu pescoço, a respiração quente provocou um arrepio. Ele sabia como aquilo terminava, portanto, não lutou contra. Apenas deixou-se ser enlaçado pelas vontades malditas daquela elfa.