Não perdi muito do meu tempo questionando possibilidades ou alternativas, meu objetivo atual seria o de continuar me destacando como uma kunoichi do vilarejo ao completar as missões recebidas. Como de costume, com o auxílio de Hibiki, me dirigi ao local indicado pela correspondência recebida em casa, desviando da multidão que movimentava as ruas principais da vila da pedra.

O grande fluxo de pessoas indicava que provavelmente o grande festival de Iwagakure estava sendo um sucesso, mesmo em tempos conturbados como os de agora, enfrentando a resistência que tanto infernizava nosso povo. Os ossos reverberaram de raiva ao simples pensamento envolvendo aquela maldita organização, mas precisava me fortalecer para enfrentá-los quando a hora chegasse, para garantir que não seria apenas massacrada ou me tornaria um estorvo para os demais.

Chegando ao Ninmu Uketsuke, fui capaz de ouvir os protestos dos atuais estudantes, descontentes com as instruções de seu professor, antes que o mesmo se irritasse e as repreendesse aos berros. — Pelos Deuses… — Tampei suavemente os ouvidos, questionando se era necessário um grito tão alto assim. Com certa pressa, me dirigi aos anciões responsáveis pela atribuição de missões, recebendo então minhas orientações.

Uma bomba? — Indaguei, para garantir que estava ouvindo direito. — Tem certeza de que sou qualificada para isso? — Questionei outra vez, sem entender bem como alguém de meu nível poderia ser útil em algo tão perigoso. Mas, de forma resumida, o festival de Iwagakure estava correndo sérios perigos e restava a mim impedir o pior.

Veja bem, garota… Não estamos pedindo a você que enfrente o terrorista, apenas que use suas capacidades de rastreamento para identificá-lo no meio da multidão. Temos ninjas de alta patente para capturá-lo assim que você o fizer, não se preocupe… — Explicou a senhora responsável naquele dia, educadamente me servindo um copo de chá verde conforme falava. Agarrando o recipiente com ambas as mãos, soprei o líquido quente antes de direcioná-lo para o interior do corpo. — Entendo. — Fiz uma pausa, bebericando do copo e suspirando em seguida. — Esse chá tá um pouco diferente do… Perdão! — Arrumei a postura, colocando-me de forma mais ereta sobre o assento e assumindo uma aura mais responsável. — Considere feito. Hibiki e eu acharemos o seu terrorista. — Conclui, retornando a consumir o líquido. — Hmm, mas antes vou terminar isso aqui.

Hibiki poderia sentir todos os múltiplos odores da multidão, desde pó de arroz utilizado para clarear a face, até o cheiro desagradável de suor ocasionado pela temperatura elevada daquela tarde. — Sinto pena por você, companheira… — Mentalizei, apenas imersa na imensidão de vozes e sons advindos de tantas pessoas reunidas em um só lugar, interagindo despreocupadamente, com música, gargalhadas e o som das apresentações ao ar livre. — Que inveja… — Senti em meu âmago aquele sentimento desagradável, a vontade de poder estar no lugar de algum deles, de poder estar despreocupadamente aproveitando uma vida normal.

Pensei que poderia aproveitar tudo isso também, em algum momento, mas a confirmação da serpente me trouxe de volta para a realidade. — Sinto cheiro de pólvora. E está perto, muito perto! — Informou, transformando a paz em ansiedade.

Para a serpente, era inútil olhar em volta, seu sentido mais importante estava no faro. A língua capta as partículas de odor e as leva para o órgão vomeronasal, percebendo o ambiente de uma maneira diferente da qual estamos acostumados como seres humanos. Envolta em uma multidão, não confiei em minha audição para ser guiada por Hibiki, mas apoiei seu corpo sobre o braço destro, deixando que seus movimentos me indicassem quando virar ou quando seguir em frente por meio do toque.

Sua agitação era literalmente palpável, pela velocidade com que a albina se movia, até que, em um súbito movimento, ela saltou. Não fui capaz de enxergar o que ocorreu, mas provavelmente o sinal foi dado para os ninjas responsáveis por capturar nosso terrorista, marcando-o com o próprio corpo. Pouco tempo foi necessário para que sentisse seu corpo escamoso escalando o meu, retornando para seu lugar de sempre. — Tudo feito. — Indicou.

O que acabou de acontecer? — Indaguei a ela, esperando que uma boa explicação fosse me fazer entender o que havia acabado de se desenrolar. — Eu me amarrei ao pescoço do homem e ergui o torso o máximo possível, para que pudessem me enxergar. Por sorte, nosso terrorista preferiu não usar a bomba para se explodir junto e acabou sendo levado rapidamente pelos Jonin. — Ela se ajeitou, mais tranquila, deixando o peso ceder por completo. — Eles o levaram antes que qualquer um da multidão fosse capaz de ver, foi incrível. Mas o estranho é… — Ela permaneceu em silêncio por alguns segundos, perdurando o suspense que uma frase inacabada cria a uma ansiosa. — O que é estranho, Hibiki? — Cansei de esperar, exigindo uma resposta. — O cheiro de pólvora continua… Ele não era nosso único alvo. — Ela então alega, voltando-se em direção ao novo alvo.

O ofídio havia se esgotado de imediato, desacostumada a usar tanto de si, permaneceu com o dever de apenas me guiar até o novo alvo, atravessando a multidão que começava a correr para longe, assustados ao ver o que Hibiki descreveu como uma grande esfera vermelha, repleta de kibaku fuda. As palavras de minha avó imergiram em minha cabeça como se emergissem da mais profunda escuridão, trazendo um sentimento de impotência mais uma vez. Meu dever, o de proteger os outros, não seria esquecido facilmente, pois eu faria o possível para garantir a segurança de todos.

Os selos se teceram e a marca mais uma vez me incomodou, agindo como costuma agir ao utilizar meu chakra. — Se não vai me ajudar, não me atrapalhe agora, maldição! — Com a técnica pronta, uma dupla de serpentes albinas saiu das mangas negras, enrolando o homem antes que tivesse sucesso em sua incursão. Pensei que havia feito bem e salvo o dia, como sempre desejei ter feito, mas o som seguinte serviu de alerta. — Está acesa! Rápido, para frente! — Vociferou a serpente, se jogando contra o orbe ao nos aproximarmos, permitindo que, ao se enrolar em meu pulso, pudesse ser rodopiada com o explosivo em sua boca.

Vai! Solta! — A serpente o fez, lançando a bomba aos céus, antes que, com mais selos, uma rajada feroz de vento fosse disparada aos céus, levando o explosivo ainda mais alto, antes que detonasse em uma linda explosão, que embora não fosse capaz de ver, foi aplaudida pelos presentes, enganados em achar que aquilo era apenas uma apresentação temática do grande evento. O selo amaldiçoado reagiu outra vez ao uso de chakra, mas de forma distinta de até então, como se houvesse aprendido a se tornar ainda mais desagradável.

Os Jonin agradeceram pela captura do segundo terrorista, desculpando-se pela incapacidade de detê-lo. — Não se preocupem, provavelmente eles já sabiam que vocês pegariam o outro, por isso havia um reserva. — Concluí, me sentindo a garota mais inteligente do mundo ao constatar o óbvio, algo que provavelmente todos eles já sabiam. Sem qualquer pretensão de disfarçar sua pena, preferiram apenas me parabenizar e deixar o local. Com Hibiki, cansada após uma aventura como aquela, talvez pudesse comprar algo para comer ali mesmo e voltar para casa, realizada.