O outono chegou em Konoha num estalar de dedos, e as noites calorosas de verão deram lugar aos climas mais frios no período noturno, que anunciavam que o inverno estava chegando, e com ele, o trigésimo aniversário de Nathaniel. A chuva caia no céu, o que fazia com que as pessoas se recolhessem em suas casas e nos estabelecimentos, porém Nate e Kiara, a kumorineko, mantinham a sua caminhada e ignorando a chuva quase fina sobre as suas cabeças. Movido pela curiosidade acerca das histórias que tinha ouvido de alguns ninjas, o Yondaime Hokage se dirigia para o bairro residencial da vila, onde as pessoas de condições mais simples viviam. Aquilo servia como uma distração para os vários problemas que tinha na sua cabeça, desde as movimentações sombrias dos seus inimigos, até mesmo o não retorno de seus amigos River e Kimiko de uma missão encomendada por ele mesmo. Ele tentava de todas as formas transparecer tranquilidade, mas no fundo, temia que os seus amigos tivessem sofrido algum tipo de emboscada.

Em poucos minutos, Nathaniel chegou em uma das casas, notando que as luzes da sala estavam acesas, olhando para Kiara e abrindo o portão de madeira simples do local, dando alguns passos para dentro da porta e caminhando, batendo em sua porta. O elfo lembrou-se da história que tinha ouvido sobre um rapaz adulto, que sofria de algumas deficiências mentais e físicas que eram consideradas irreversíveis. Pela descrição que era dada, Ken era um rapaz de 2,10m e que tinha o desenvolvimento mental atrasado, fato que o tornava instável, além da personalidade abobalhada. Ele vivia com os seus avós, um casal de idosos, e a sua irmã mais nova, uma pré-adolescente, e escapava constantemente de casa para brincar, o que gerava vários tipos de problemas, pois ele não possuia noção da sua força. Muitos pediam que ele fosse internado, preso, até mesmo morto, o que colocava o elfo numa posição muito complicada. “Um grande líder é aquele que sabe tomar boas decisões em momentos difíceis”, disse Erasmus quando o Arauto da Fênix clamou por conselho.

— Hokage-sama! É uma honra tê-lo em nossa humilde residência. — a avó do garoto abriu a porta para ele e o saudou, curvando lentamente o corpo, e sua neta veio logo atrás. A senhora era baixinha e enrugada, e sua neta era um pouco mais alta do que ela.
— O senhor recebeu mais reclamações do nosso irmão, Hokage-sama? — a menina perguntou, deixando a senhora apreensiva.
— Eu vim resolver essa questão de maneira definitiva. Por favor, me permitam entrar em sua casa. — sua escolha de palavras causou estranhamento até mesmo em Kiara. As duas moradoras não tiveram escolha a não ser permitir a passagem da kumorineko e do Mensageiro do Caos, que tirou as suas sandálias e entrou na residência simplória, observando um senhor sentado numa poltrona até perceber a sua presença.
— Hokage-sama! Bem-vindo a minha casa. Deseja comer alguma coisa? — o senhor, não muito mais alto que sua esposa, se levantou e se curvou na sua frente. Nathaniel olhou para o mesmo e depois olhou para o garoto grandalhão e gorducho olhando hipnotizado para a televisão, assistindo um programa infantil. — É o meu neto, ele adora assistir esse programa. Ele é inofensivo, na maioria das vezes, mas tem horas que ele fica agitado. Nós solicitamos uma equipe de Gennins para escoltá-lo, mas nem sempre temos dinheiro para pagar por esse serviço.
— É uma pena, senhor. Eu poderia designar uma equipe para ajudá-los a cuidar dele, e vocês teriam menos trabalho. — os rostos daquela família ficaram animados, os olhos brilhavam levemente. — Mas isso não diminuiria o sofrimento de vocês, nem mesmo o dele. Ele ainda seria um perigo para as pessoas, e até mesmo para ele mesmo. — sua voz saiu um pouco mais fraca, observando o garoto. De repente, o programa acabava, indo para os comerciais, deixando o rapaz nervoso, sua respiração ofegante.
— Cadê o Bebê Tubarão? EU QUERO O BEBÊ TUBARÃO! — ele pulava no sofá, então os seus avós tentavam acalmá-lo, mas ele acabou se levantando e correu até a televisão, balançando-a constantemente. — EU QUERO VER O BEBÊ TUBARÃO! — o garoto tentou sair de casa, correndo pela sala e chegando perto de atropelar a sua irmã, que era muito menor, mas Nathaniel era mais rápido, avançando contra ele e o pressionando na parede com o braço direito, usando a mão esquerda para apertar um ponto do seu pescoço, fato que ocasionou em seu desmaio imediato, espantando seus familiares.
— Ele não está ferido, e acordará em uma hora, mais ou menos. Vocês tem passado por isso durante longos anos, e o quadro desse rapaz é caótico, por assim dizer. Seu gigantismo acarretou em problemas respiratórios e sua imunidade é muito baixa, além do baixo desenvolvimento mental. Pelos exames que eu li, ele não viverá mais do que cinco anos, isso se algum pai de algum menino que ele machucou não matá-lo antes. Eu sinto muito em dizer isso, mas Ken se tornou um grande problema para vocês, e nem toda ajuda do mundo poderá salvá-lo. — sua sinceridade pegava todos ali de surpresa.
— O que quer que façamos? Quer que o abandonemos!? Ele é nosso neto, e juramos a mãe dele que cuidaríamos dele e de sua irmã. — o avô do rapaz olhou para Nate enfurecido, mas ele não se abalou.
— Senhor… O tempo de sua expiação acabou. O senhor ainda tem uma neta para cuidar, e viver com esse garoto está trazendo muita dor para o senhor e sua esposa. Ambos são idosos, e não possuem a mesma força da juventude, e sua neta ainda é nova demais para carregar esse fardo. Não pensem que eu desprezo o seu neto ou tenho qualquer preconceito com ele, mas a realidade é que colocá-lo em um internato ou em uma prisão seria tornar a vida dele vazia, carente de um verdadeiro propósito. Acredito que a mãe desse rapaz iria preferir que ele tivesse uma vida diferente… E isso, eu posso oferecer a ele. — suas palavras soaram firmes, e o seu olhar passava seriedade. — Quanto mais ele viver aqui, mais ele lhes tirará as suas forças, e sua filha crescerá desprezando-o, odiando-o e desejando que ele se vá. Acreditem em mim que crescer odiando o seu irmão é uma coisa venenosa para o coração.
— Você quer levar o nosso neto com você? E o que fará com ele!? — a senhora perguntou.
— Eu irei transformá-lo, e das suas cinzas, um novo ser nascerá. E vocês poderão focar em criar a sua neta pelo tempo que lhes resta. — propôs.

[...] Carregar aquele garoto gigante e desmaiado pelas ruas de Konoha, passando por poças de água e a chuva torrencial que caia, se tornava uma tarefa ingrata, mas em trinta minutos, Nathaniel chegava ao Templo da Fênix com o garoto Ken, deixando-o cuidadosamente no chão, colocando a Seigi no Hanma em cima do seu peitoral, o impedindo de se mover. Respirava profundamente, ciente do que estava prestes a fazer, e o porquê de estar fazendo tal coisa. “Nathaniel, tem algo acontecendo em Silvermoon. Existem pessoas lá dentro que desejam tomar o Templo da Fênix e impedir que use a oferta de Edwin. Se isso for verdade, eles podem atacar a qualquer momento”. Lembrou-se das palavras de Erasmus, unindo as suas mãos em um único selo, o Gassho, liberando uma grande quantidade de chakra ao redor do seu corpo e fazendo com que o seu corpo sofresse uma grande mutação, ficando com uma aura flamejante com olhos distorcidos cobrindo seu corpo, cabelos longos, pele pálida, presas, garras e olhos vermelhos brilhantes, assustando até mesmo Kiara, que já o tinha visto daquela maneira algumas vezes.

— O-Onde eu to? Quem é você!? — o garoto ficou em pânico e tentou fugir, mas por causa do martelo, não conseguia se mover. — SOCORROOOOOOOOOO!
— Você está no Templo da Fênix, Ken. Você pode não entender agora, mas eu estou salvando a sua existência e lhe dando um novo propósito, mesmo que esse propósito seja o meu, mas a outra alternativa seria matá-lo… O que também ocorrerá, de fato. Meus inimigos desejam o meu fim, pois represento uma ameaça aos seus planos, mas eles não têm ideia dos meus… — Nathaniel bateu as duas mãos uma na outra, buscando uma grande quantidade de chakra em sua reserva, concentrando-a na palma da sua mão, encostando na sua cabeça. — Eu entendo você, Ken. Você foi julgado a vida inteira, tratado como um ser inferior, um estorvo para a sua família. Mas agora eu estou libertando você, e lhe dando uma nova vida, e mesmo que ela dure menos… Ela terá uma razão de existir. — o chakra de Nathaniel invadia o corpo de Ken, e a técnica conhecida como Jinsei Henka tinha início.

Os gritos do rapaz chamou a atenção de algumas pessoas de dentro do Templo da Fênix, algo que o próprio Nathaniel não poderia impedir. De repente, Elleanor, Rachel, Ravenna, Ezekiel, Erasmus, Masako, Anastasia e Azrael sairam de casa, entendendo rapidamente o que estava acontecendo ali. A mãe de Nate tentou intervir, mas Erasmus segurou-a, e ao olhar para eles, o Yondaime pode ler os lábios do mentor, que dizia que era tarde demais para interromper o processo, o que deixou todos curiosos e até mesmo preocupados. O corpo do jovem Ken foi tomado por uma grande luz, e essa luz se tornou extremamente intensa a partir do momento em que o chakra de Nathaniel tomou-o completamente. Seu corpo então sumiu em uma fração de segundo, concluindo assim a técnica Jinsei Henka.

— Zlatan… Erga-se. — em um piscar de olhos, uma criatura humanóide apareceu na frente de Nathaniel. A maioria dos seus traços eram humanos, mas ele tinha olhos avermelhados, chifres, escamas e unhas bem afiadas, além de três espinhos destacados em cada braço. O Meikai Modo era desfeito imediatamente, e Nathaniel retornava a sua forma normal. “Sem mais doenças…”. Nate então ouviu um barulho vindo de trás de uma árvore, como se estivesse sendo observado, fazendo um sinal para Kiara, que avançou contra a escuridão, enquanto Nathaniel pegava o seu martelo. De lá, uma menina saiu correndo, caindo de joelhos no chão, o rosto abaixado. — Você é bem corajosa em vir aqui, no meio da noite. Eu entendo que queria ver o que eu faria com o seu irmão, porém acredito que o seu desejo trouxe consequências bem traumáticas. — o Arauto da Fênix ouvia as lágrimas da menina.
— Ho-Hokage-sama… Muito obrigada por salvar a vida da minha família! — ela levantou o rosto e, mesmo chorando, agradecia o elfo, que nada entendeu. — O senhor tinha razão, meu irmão acabaria morrendo ou fazendo meus avós morrerem. Eu o odiaria por se tornar um fardo para mim, mas o senhor deu a ele uma nova identidade, e eu agora posso me tornar uma kunoichi. Eu irei cuidar de todas as crianças órfãs e especiais desse mundo, assim como o senhor.
— Qual o seu nome?
— Mi-Mikasa, senhor. — ela então se levantou, curvando-se na frente do Hokage. — Por favor, me deixe falar com o meu irmão. Existem coisas que eu preciso dizer a ele. Eu… Eu preciso me desculpar por tudo o que fiz a ele, tudo o que pensei sobre ele e desejei que lhe acontecesse.
— Seu pedido é muito nobre, Mikasa, porém, o seu irmão já não existe mais. Quando eu utilizei a técnica Jinsen Henka, toda a sua existência foi destruída, e da sua matéria, um novo ser nasceu. Esse ser na sua frente não compartilha nenhuma memória de Ken, nem mesmo quaisquer sentimentos dele. Mas se quer saber de algo… Ele não tem mais as mesmas deficiências. — tal informação chocou a garota.
— Não pode ser… — ela olhou chocada para o ser que um dia foi seu irmão.
— Menina, está muito tarde para estar aqui, e não deveria estar numa chuva dessas. Venha, iremos pegar roupas secas para você. — Elleanor chamou a menina, que era observada por Zlatan, fato que não passou despercebido por Nate.


[...] A madrugada tornou-se dia, e depois de um curto descanso, a família Grey compartilhou de uma refeição farta, como sempre acontecia no Templo da Fênix. Zlatan ficava do lado de fora, estático, olhando para o Sol, assim como Nathaniel ordenava. Ele conseguia pronunciar algumas palavras, mas ainda parecia carente de informações e de ordens precisas. Enquanto isso, Mikasa comia com a família Grey, parecendo que estava um pouco deslocada por estar em meio aos elfos, porém sorrindo mais do que quando Nathaniel a conheceu. No centro da mesa, o Yondaime observava tudo, enquanto o seu mestre, ao seu lado direito, o encarava. Os dois comiam em silêncio, com o Yondaime terminando de comer um pão com peito de peru, presunto e queijo, bebendo um café extra-forte. Cansado de esperar por uma palavra de seu mestre, o Yondaime resolveu puxar assunto.

— Ainda está impressionado com o que eu fiz?
— Transformá-lo usando as técnicas do Meikai Modo, extinguindo a sua vida, mas ao mesmo tempo lhe dando uma outra… Ainda não consigo acreditar como você conseguiu resolver essa situação de forma tão simples e ao mesmo tempo tão complexa. Isso é o que chamamos de dualidade.
— Quando você se torna Hokage, as pessoas esperam que você consiga resolver as questões mais complexas com rapidez e simplicidade. No fim das contas, foi o ideal ter dito a verdade para a menina, pois será essa a verdade que ela contará aos seus avós, e eles contarão aos vizinhos. No fim, haverá paz.
— E perguntas também, camarada. — Azrael, sentado ao seu lado esquerdo, chamou a sua atenção. — Você expõe um tipo de poder que nenhum deles ouviu falar antes, isso faz com que eles façam perguntas. “Que poder é esse? Será que ele pode fazer mais do que isso? Ele fará isso conosco, se não o obedecermos?” Não se esqueça de que você é um elfo vivendo entre humanos, alguém que mostra capacidades além da compreensão, e histórias que serão lembradas daqui a 1000 anos. Elas admirarão você, mas também terão medo.
— Eu não posso fazer nada se a humanidade teme o desconhecido.
— Ahn… Você é teimoso como o seu pai, Nathaniel! — esbravejou Azrael.

[...] Era um pouco mais de 10 horas da manhã, e o clima estava bastante ameno. Naquela tarde, as ruas estavam nubladas, pelo menos naquela região, com muitas nuvens cobrindo o céu, coisa que Nathaniel particularmente gostava muito. Optava por trabalhar de casa, despachando missões e comandos para os ninjas da Folha de seu próprio escritório, deixando Shiori no Gabinete para resolver pendências que pudessem ser mais urgentes. Depois de uma curta caminhada, diante dos olhos dos curiosos da casa, o que incluia Mikasa, o Hokage levou Zlatan para dentro de uma parte do Templo da Fênix, um local estratégico, onde havia muitas árvores e algumas frutas maduras ao redor. Era um local de contemplação, pacífico e revigorante. Ordenava então que o mesmo permanecesse ali, olhando as nuvens passando no céu, e também as estrelas que surgiram quando a noite chegasse, recolhendo-se somente em dias chuvosos, onde poderia permanecer no Templo, caso o dia viesse a chegar.

— Quem sou eu? O senhor é o meu criador? — Zlatan queria saber.
— Eu transmutei o seu corpo, mas não me considero como o seu criador. E é exatamente o motivo pelo qual você ficará aqui: para que possa responder a sua primeira pergunta. Fique aqui, admire a natureza e formule os seus próprios pensamentos, e quando obtiver as respostas, retorne até mim e me conte. — suas palavras fizeram com que Erasmus entendesse o objetivo oculto por trás do ato de Nate.
— Você parece querer saber mais do Jinsen Henka através desse jovem.
— Se eu não estou errado, eu só usei essa técnica duas vezes, uma com Orion e outra com Mifune, e os seus destinos não me trouxeram nenhuma capacidade de realmente analisar o verdadeiro potencial dessa técnica. Sabe se lá o que podemos fazer com ela.
— Nathaniel-sama! — de repente, River chegou no local, mantendo um sorriso animado em seu rosto. — Eu retornar de missão, e trazer notícias. Infelizmente, nós não conseguir encontrar Edwin Grey. Eu sentir muito por isso. — relatou, curvando-se levemente na frente do homem, fazendo com que Nate ficasse a cinco metros de distância dele.
— Onde a Kimiko está!? — perguntou em tom sério.
— Ah, ela ficar doente com uma febre. Não se preocupar, ela ficará bem, Nathaniel-sama. — ele deu um sorriso, ficando com o rosto ereto, escondendo a mão esquerda atrás das costas e fazendo selos manuais, carregando o seu chakra em formato de relâmpago roxo em nela e avançando contra o loiro com um Shinden que atingia o lado direito do seu peito, deixando todos ao seu redor chocados, arrancando o braço de seu corpo e chutando o seu peito, lançando-o contra uma árvore. — Seu merdinha do caralho. Você vem até a minha casa e acha que pode me enganar!?

Como um shinobi experiente, treinado para lidar com vários tipos de situações, o Arauto da Fênix tinha a mente treinada para identificar padrões e até mesmo aquilo que estava fora do padrão. Isso se transformava em um instinto, que lhe dizia para onde ir e o que fazer em momentos como aqueles, onde algo suspeito ocorria diante dos seus olhos, buscando o melhor momento para realizar a ofensiva contra o loiro na sua frente. Dentro do Templo da Fênix, Nathaniel observava o loiro ferido na sua frente, pisando firme em seu pé e o fazendo gritar de dor, para espanto de todas as pessoas presentes. Até mesmo a Matatabi despertava na mente do elfo, ficando curiosa sobre a reação tempestiva do Grey, mas ao ler a sua mente, ela conseguiu compreender as suas razões, diferente de quem estava ao seu redor.

— Nate, o que está fazendo!? Por que está atacando o River!? — Rachel questionou.
— Porque ele não é o River. — respondeu, observando o rapaz. — Sua técnica de transformação é uma das piores que eu já vi. Além de não saber imitar o sotaque dele direito, ainda pecou em diversos detalhes. Pensem bem: em mais de dez anos, quando que vocês viram o River me chamando de Nathaniel-sama? Até onde eu sei, só tem um nome pelo qual ele me chama desde que nos tornamos amigos. E principalmente… River nunca ficaria com um sorriso na cara sabendo que a sua esposa está doente. Agora você vai falar quem é, ou então irei matá-lo aqui mesmo.

Sem opções, aquele que se disfarçava de River desfazia o Henge no Jutsu, voltando a sua forma normal e revelando ser um elfo de cabelo vermelho e um sorriso sombrio em seu rosto, chocando a todos os presentes. Ele pressionou a mão em sua ferida, enquanto Nate encarava-o sem nenhum sentimento, mantendo a sua postura por tempo o suficiente para que ele percebesse que sua vida estava por um fio. ”Uma armadilha?” Perguntas começavam a ser verbalizadas ao seu redor, e Nathaniel tentava controlar o ambiente, fazendo um sinal para que todos ficarem em silêncio. O invasor permanecia rindo, mas o Yondaime olhou sério para ele, liberando toda a sua intenção assassina e amedrontando o elfo.

— Eu imaginei quanto tempo demoraria até você perceber. Realmente, você está a altura da lenda. — ele deu uma risada.
— Onde estão River e Kimiko? — Nate puxou o martelo, pronto para marretar a cabeça do homem ferido no chão.
— 10km dos muros de Konoha, a Oeste da Vila, na Caverna Kyojin. Eles estão bem cuidados, por enquanto. Apareça lá em uma hora, sozinho, ou então eles serão mortos.
— Acha que eles estão falando a verdade? — B.A parou ao lado do Hokage.
— Só tem uma forma de descobrir. Amarrem esse merda em algum lugar e curem a sua ferida, depois enfiem a porrada nele até ele falar alguma coisa Eu vou atrás do casal.
— Hahahahaha, não tenho nada a esconder de vocês. Uma nova geração de elfos está surgindo em Silvermoon, com a missão de resgatar os valores tradicionais dos Greys. Nós somos muitos, e somos fortes, e nós não deixaremos vocês fazerem o que bem en- — antes que pudesse terminar a sua frase, Nate deu um chute em seu queixo, o desmaiando no ato.
— Zlatan, fique aqui e proteja esse local. Não deixe ninguém entrar aqui sem permissão, mate todos aqueles que ficarem no seu caminho.

[...] Cinco minutos depois, Nathaniel saiu do Templo da Fênix e, por conseguinte, ultrapassou os muros da vila, sem dar nenhuma explicação ou deixar algum rastro. O sentimento de incerteza e desconfiança tomavam conta do inconsciente do elfo, que não sabia exatamente o que encontrar e o que acontecia ao seu redor. Com o Byakugan ativado, ele corria pela floresta em alta velocidade, pulando de árvore em árvore e encurtando a sua distância da caverna indicada por seu refém. Assim que chegou, percebeu que a caverna estava localizada entre um rio que corria em direção ao Sul, separando duas áreas verdes. Assim que diminuiu completamente a sua velocidade, Nathaniel ficou a 20 metros da caverna, percebendo que Edwin Grey aguardava por ele. O olhar de ira do Yondaime era visível, rangendo os dentes.

— O que estamos fazendo aqui, Edwin? Isso tudo é por causa do que eu fiz? Não deveria estar mexendo com os meus amigos. — ele olhou nos olhos do inimigo.
— Não deveria mandar espiões atrás de mim. Mas eu entendo… Alguém se movendo constantemente para tomar algo que é seu, deve ser algo difícil de deixar para lá, só que você tem que entender, Nathaniel, que o que está em jogo é muito maior do que eu e você. A realidade é que você passou de todos os limites no vilarejo que escolheu para viver, agora os monstros sairam de suas jaulas, e eles querem a sua cabeça.
— Monstros? Do que você está falando!? — ficou confuso com tais palavras, e o seu rosto demonstrava isso, coisa que parecia que Edwin notava, tanto que ele sorriu.
— Nathaniel, você desafiou a alta sociedade do País do Fogo, e antes disso, você acabou com as famílias tradicionais que governava Otogakure, e mesmo sendo Hokage, você insiste em desfilar com os conspiracionistas que envenenam Silvermoon com filosofias estúpidas, ideologias inspiradas na sua. A oligarquia de Silvermoon se sente desonrada com a sua atitude. Você desafia a ordem natural do mundo, introduz o caos e a anarquia na sociedade e espera andar pelas ruas tranquilamente?
— Pelo menos agora eu sei que não precisarei me preocupar, pois tem muitas pessoas para tomar conta dos meus passos. — falou com ironia. — Elfos como você não tem nenhum tipo de honra. Vivem por um código ultrapassado que nos divide. Lutar contra isso é a minha razão de existir nesse mundo.
— Você anda muito confiante para quem não conhece os seus verdadeiros inimigos. Acho que você esqueceu do que houve com o seu amigo Goji. — ele deu uma risada sarcástica, então Nathaniel encurtou a distância entre eles, ficando na sua frente, sacando a Tanto e passando ela por sua barriga, cortando-a. Nathaniel pode ver os olhos arregalados do inimigo, mas o mesmo sorriu e explodiu numa cortina de fumaça.
— Clone de sombra? Filho da puta. — ele xingou, mas logo entrou na caverna, percebendo que River e Kimiko estavam presos por uma barreira de selamento, removendo-as imediatamente, correndo até os mesmos e reparando que ambos, apesar de exaustos e com alguns ferimentos e cortes, pareciam bem.
— Petite Nate, você non deverr estarr aqui. Deverr voltarr para Templo da Fênix. — o loiro dizia rápido, de forma ofegante, olhando preocupado para o elfo, que se ajoelhou na frente dos dois.
— Vocês estão bem? O que aconteceu?
— Non, non se preocuparr. Agora precisamos irr pra Templo da Fênix.
— Por que essa pressa toda? — Nathaniel perguntou, até que Kimiko segurou na mão do Grey e apontou para o chão, onde ela escrevia uma palavra na terra, fazendo Nate arregalar os olhos. A palavra era “Invasão”. — O filho da puta tava ganhando tempo.
— Eles eston em grande número, e quererr invadirr Templo da Fênix para resgatar a carta.
— Tudo isso por causa de uma porra de uma carta?

[...] Nathaniel, River e Kimiko corriam pela floresta em passos largos, cada um com a sua técnica devidamente ativada. Nate ficava com o seu Byakugan exposto, River e Kimiko ficavam com as suas habilidades sensoriais ativadas. Eles informaram, cada um a sua própria maneira, que havia um grupo de inimigos cercando o ambiente, e que pouco a pouco, assinaturas de chakras de elfos iam desaparecendo. Isso gerava preocupação no Yondaime, uma vez que seus familiares estavam presentes lá, podendo inclusive estar entre as vítimas. Cada segundo que passava, o coração do elfo apertava, até que chegou finalmente no Templo da Fênix, podendo ver um dos pontos pegando fogo, arregalando os olhos. ”Não… Não pode ser.” Ele adentrou no território, até chegar no ponto onde viu Zlatan, aquele a quem deu uma nova vida, atacando selvagemente os elfos invasores, enquanto haviam outros oito Greys caídos no solo. ”Não acredito… Foi que quem fez isso tudo? Que tipo de monstro eu criei?” aquilo não era uma confissão de culpa, mas a contemplação do que poderia dizer que era a sua evolução.

Porém sua criação durava pouco, pois Edwin e outros três elfos perfuravam o seu corpo com lanças, o fazendo soltar um rugido de dor.

Nathaniel pode observar como a vida do homem que regenerou a partir da técnica do clã Grey foi ceifada em um piscar de olhos. Nos últimos segundos de sua vida, Zlatan virou o seu rosto na direção do Yondaime, e os seus olhares se cruzaram. Naquele precioso instante, o elfo pode ver o sorriso mínimo estampado no rosto do seu criador, até que o seu coração parasse de bater. “Zlatan… No fim, você cumpriu com o seu propósito.” disse enquanto olhava firme para ele, respirando profundamente. As lanças eram retiradas do seu corpo, e ele caia de joelhos no chão, enquanto Edwin mantinha um sorriso vitorioso no rosto. Em questão de segundos, Erasmus, Azrael, Anastasia, B.A e Hanzo se juntavam a ele, formando um círculo ao redor do Yondaime, ao mesmo tempo em que elfos armados com arcos os cercavam, ficando todos a 35 metros de distância.

— Você chegou tarde demais, Nathaniel. Nós já temos o que queríamos. — ele puxou o envelope que tinha entregado a ele.
— Isso tudo por causa de um maldito pedaço de papel!? — Nathaniel sacou o martelo com a mão canhota imediatamente.
— Esse envelope sinalizava uma trégua, um gesto de boa vontade com você, mas suas atitudes mostram que você é incorrigível. Nós tomaremos tudo o que é seu, Arauto da Fênix, E ENTÃO ALCANÇAREMOS O NOSSO DESTINO INEVITÁVEL! — ele largou a lança e bateu as mãos uma na outra, atingindo o ápice do poder dos Greys, o Meikai Modo, ficando com uma aparência monstruosa, cheia de detalhes horrendos. Em alta velocidade, ele avançou contra Nathaniel, sacando uma espada e buscando atacá-lo, porém o Hokage fazia o mesmo, jogando  o martelo para a mão direita, e suas armas se chocavam uma contra a outra, batendo de frente com ele. — VOCÊ CONSEGUE VER? CONSEGUE VER O DESEJO FLAMEJANTE EM MEUS OLHOS?
— A única coisa que eu consigo ver… — em sua mão esquerda, Nathaniel concentrou chakra e o rotacionou em ambas as direções, gerando uma esfera espiral do tamanho da palma da sua mão. — É um lacaio de merda. — e num único golpe, ele atingiu o peito do inimigo, gerando uma grande e audível dor nele, lançando para trás, observando suas costas arrastando no chão e caindo diante do pé dos aliados, causando espanto nos olhos dos invasores, que comentavam entre si o fato de Nate conjurar uma técnica sem nem ao menos fazer selos manuais. — Por que você não volta para o buraco que você veio e envia uma mensagem aos seus mestres? Diga a eles que não existe um futuro onde eles terão o que desejam. — observou o inimigo se levantar com dificuldade, respirando profundamente.
— Eu e você ainda teremos a nossa batalha, Nathaniel Grey. — ele fez um sinal com a mão, e então os elfos começaram a recuar, desistindo de uma batalha que poderia levar todos a morte.
— Covardes de merda. — disse o Hokage, enquanto observava uma parte do templo em chamas, não demorando muito para descobrir que era o seu bar.
— É mais fácil enfrentar você quando você não está aqui. — Erasmus olhou ao seu redor, observando alguns shinobis da vila se aproximando, chamando pelo Yondaime.

[...] Um dia havia se passado, e o Yondaime conseguiu abafar o caso ocorrido no Templo da Fênix, evitando que notícias sobre aquela luta vazassem na empresa. Ken, ou melhor, Zlatan, acabou sendo enterrado no pequeno bosque do local, para que não houvesse maior repercussão dos atos de Nathaniel sobre a sua vida. Nem mesmo os avós do garoto ficavam sabendo do que ocorria. Mikasa, sua irmã, ficava em frente a sua lápide, lamentando a perda do rapaz e rezando por sua alma, enquanto uma chuva fina caia no local, tendo jurado que nunca contaria nada para os seus avós. Nathaniel se aproximou com Kiara, mantendo o cigarro aceso em sua boca, olhando de longe. Ela acabou notando a presença do elfo ali, mas não teve nenhuma reação negativa, apenas abaixando a cabeça e continuando a olhar para a lápide.

— Eu me sinto mal de esconder um segredo tão grande dos meus avós, é tão estranho. Sabe, sem querer ofender, mas acho que o senhor seria o tipo de pessoa que a minha mãe mandaria ficar bem longe. O senhor parece ser alguém muito perigoso, e acho que muitas coisas acontecem ao seu redor. Mas mesmo assim… Eu te acho o cara mais legal do mundo, Nathaniel-sama! — ela colocou um sorriso no rosto.
— Eu fico lisonjeado por achar isso. Parte de ser um ninja é saber que existem coisas que devem permanecer nas sombras. Eu não me sinto confortável em colocar esse peso sobre os seus ombros, mas acredite, tudo isso é para um bem maior. — fumou o seu cigarro, observando ela acenar com a cabeça.
— Eu comecei na Academia Ninja faz pouco tempo, e um dia serei uma kunoichi incrível, aquela que será como o senhor, viajando o mundo como carteira para proteger as pessoas e trazer a paz. — sua voz saiu com empolgação, algo que deixou o Grey surpreso.
— Bom, tecnicamente, o trabalho de um carteiro é somente enviar cartas e evitar ao máximo conflitos pelo caminho, porém eu não sou a melhor pessoa para dizer isso a você. — sussurrou, virando o rosto para o lado, enquanto a menina ria.
— Eu preciso voltar para casa. Meus avós já estão fazendo perguntas sobre eu vir para cá todos os dias. — ela virou de costas e começou a correr, acenando para o elfo e saindo do templo.
— O senhor moldou a vida de mais uma pessoa, mestre. No final das contas, iluminar o caminho da Mikasa foi a razão de existir de Zlatan. — Kiara disse.
— Pois a minha razão de existir está ligada as pessoas dessa vila, mas também a de Silvermoon. Não é sobre ser Hokage, apesar das inúmeras vantagens que possuo com esse cargo. Está sobre ser o símbolo de uma grande revolução, uma que não acontecerá num piscar de olhos, mas que se desenvolverá lentamente. Existirão pedras a serem removidas do caminho, mas no fim, devemos triunfar. — minutos depois, ele retornava para a sua casa, e repetia para a sua família as mesmas palavras ditas para Kiara na sala de reunião. — Os elfos que nos atacaram fazem parte de um grupo mais radical, o que mostra que não importa quantos movimentos façamos para trazer a união do clã, sempre haverão aqueles que serão contra, e farão de tudo para nos impedir. Então, eu cheguei a conclusão de que a única solução possível é se mudarmos a liderança.
— O que quer dizer com isso? — Azrael olhou para ele.
— Quer dizer que eu devo me tornar o líder do Clã Grey.