—  A vaidade sempre esteve acima de quaisquer outras preocupações durante a primeira parte de meu dia. Estava a frente de um espelho que acabara de comprar, penteando os cabelos negros para que se mantivessem impecáveis, como sempre. Na sequência, aproveitei a brisa diurna enquanto passava o batom de tonalidade tão escura quanto os cachos em meus lábios, alheia ao mundo que parecia desmoronar ao meu redor. Eu estava pensando em muitas coisas nos últimos dias - E nenhuma delas sequer chegava perto de uma confusão. Havia dado um tempo para me dedicar ao meu relacionamento com Ryo, e me esquecer dos horrores de minhas últimas missões.

— Será que ele vai gostar desse colar? Parece brega... — Disse a mim mesmo em tom divertido, fantasiando o jantar que logo mais teria com o outro. — Um encontro, huh? Que raro da parte dele. Não sabia que ele era do tipo romântico... Ou talvez esteja só tentando ser. Ah, que idiota! — Dei uma leve gargalhada.

Então, de repente, algo sorpou entre as brisas da janela entreaberta. Virei a minha cabeça em direção ao objeto desconhecido: Uma folha que se contorcia em meio ao ar, e que lentamente fez seu caminho até a mesa central do cômodo, quase como se houvesse sido enviada por uma força maior. Naquele instante, meus olhos se arregalaram: Era um cartaz de procurado com o meu rosto, e uma recompensa incalculável pela minha cabeça. Levei a palma sestra até a mesa e tomei o panfleto em mãos, observando-o mais de perto como se buscasse por algo além do que estava óbvio aos meus olhos. Inicialmente, pensei que se tratasse apenas de alguma piada de Ryo e levei como um susto momentâneo. Até que eu comecei a ouvir passos e vozes distantes, como se aglomaressem ao meu entorno em um cerco medieval. Uma caças as bruxas? Um engano? Eu não entendia nada, mas o meu coração pulsou e meu colocou em modo de alerta de forma quase instantânea.

— Que merda é essa? Não é possível... Será que é uma represália a morte de Shinji? Aquele maldito tinha ligação com a resistência, eu acho... — Sussurrei a mim mesma, me afastando da janela entreaberta e me posicionando rente a uma das paredes agora pouco confiáveis de minha residência. — Isso não é real. Um pesadelo, um maldito pesadelo! Porra, PORRA!!! — Gritei em minha própria mente, em negação.

Pouco tempo se passou, e o entorno de minha residência agora se assemelhava a um verdadeiro cerco militar. Joguei olhares distantes de onde estava, percebendo que haviam pessoas de todos os lados. Eles gritavam, pediam minha rendição em nome do Tsuchikage. Ishi? Deveria ser um engano. Eu o conheci pessoalmente. Era impossível que ele determinasse uma ordem tão absurda. Aquilo era um engano.

"Você se afundará na escuridão..."

As palavras de Shinji retornaram a mim como uma facada no coração. Segurei o meu peito com a mão destra, e a minha feição confusa e temerosa tornou-se uma expressão de raiva genuína. A maldição deu suas caras por mais uma vez. Meu estado de alerta logo evoluiu para uma prontidão de combate imediato. Enquanto clamavam pela minha rendição do lado de fora, pensei em uma resolução rápida. Dialogar estava fora de questão - Aqueles malditos me atacariam no momento em que me vissem. Eu também não queria atacá-los, então me restava achar uma forma de escapar daquele cerco miserável. Eu tinha uma ideia, no entanto. Realizei selos manuais em alta velocidade.

— Bunshin Daibakuha. —

A refração de luz agiu sobre meu corpo, tornando-o invisível ao olho nu na tentativa de me tornar de difícil detecção aos possíveis agressores. Na sequência, uma réplica de aparência perfeita surgiu ao meu lado, mas, ao contrário do Kage Bunshin, aquela era uma armadilha estratégica. Eu tentaria sair da situação desantajosa da forma mais rápida que pudesse encontrar. Também removi os pesos de minhas pernas, a fim de aumentar a minha velocidade de locomoção. Então, veio o ato final.

Removendo a Kusanagi de sua bainha, me desloquei até os fundos da casa, onde tentaria utilizar da afiação prístina da lâmina para tentar criar um corte que fragilizasse a estrutura da casa o suficiente para que fosse derrubada com um empurrão. Ao mesmo tempo, o clone explosivo se deslocaria até a porta, abrindo-a. Nesse mesmo instante, caso conseguisse cortar a parede, utilizara o Shunshin no Jutsu para empurrá-la em um hipotético momento de distração dos shinobis do lado de fora e tentar escapar enquanto a atenção seria direcionada ao clone. Nesse tempo, o clone abriria sua boca para dizer algumas palavras.

— O que é isso? — Ele diria. — Estão loucos...? Eu não fiz nada! Sou inocente! — O clone berraria, para chamar a atenção para si e tentar desviar os olhares de meu verdadeiro eu.

Caso tentassem atacar o clone, ele imediatamente detonaria em um raio de cinco metros, na tentativa de ferir - Ou até mesmo eliminar possíveis perseguidores. Eu tentaria me deslocar um total de 30 metros com o Shunshin no Jutsu, a fim de me posicionar em uma rua paralela ou possível beco que pudesse dar uma vantagem estratégica, mesmo que momentânea. Não havia tempo para refletir - Apenas agir, e eu precisava agir rápido.

— Perdão, Ryo... Vou ter que adiar nosso encontro! —

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—  Recostei meu corpo nas paredes gélidas do beco suspeito. A escuridão, por um único instante, me proporcionou um senso de alívio após escutar a explosão flamejante vinda do clone explosivo. Assim como eu havia pensado, era uma ordem de execução sumária. Aquele lugar estava perigoso demais, e eu não possuía outra escolha se não apenas continuar fugindo. Rapidamente corri até o outro lado do beco, jogando olhares para ambos os lados antes de tomar qualquer ação - Quase como uma criança com medo de atravessar a rua. Alguns instantes depois, instintivamente voltei para as sombras do beco, me agachando e observando a passagem apressada de dois civis que pareciam conversar algo entre si. Um deles cita a provável aparição de um membro da resistência um bar decrépito entre as vielas repulsivas do vilarejo. Por um momento, pensei em ir até lá. "Ele era o culpado!" eu gostaria de gritar e anunciar a todo o mundo, mas eu bem sabia que as coisas já haviam fugido do controle e qualquer prospecto de diálogo ou civilidade já haviam ido para outro mundo.

— Foda-se a resistência... — Sussurrei a mim mesma, me lembrando da situação em que estava.

Joguei olhares para a direita, observando a imponente estrutura que servia como o quartel general da vila, e também residência do Tsuchikage Ishi. Nuvens sobre nuvens de insetos surgiram d'entre as frestas e janelas do local, e pareciam buscar por alguma coisa. Naquele momento, eu percebi o quão tola eu havia sido. De fato, o próprio líder havia declarado aquela caçada maldita, e agora ele também estava querendo participar da brincadeira? Se não ele, talvez seu guarda-costas. Pouco importava a essa altura. Eu sabia que aquelas coisas me encontrariam rápido se eu não fizesse nada e apenas rezasse para que tudo fosse apenas um sonho ruim, então imediatamente segui o meu instinto.

Com um clique automático no cérebro, as pupilas de meus olhos diminuíram de tamanho. A luz parecia refletir de forma menos expressiva em sua córnea, que agora assumia uma coloração vermelho-sangue. Ao redor, três tomoes giraram rapidamente até se estacionarem ao redor das pupilas, demarcando a ativação do sharingan. Virei a cabeça para a esquerda, observando os portões. Eu sabia exatamente o que deveria fazer, e não deixaria que nada me atrapalhasse. Assim como há alguns momentos atrás, me disassociei de mim mesma por alguns instantes. Não havia tempo para olhar para trás: Apenas seguir em frente. Com o selo do confronto, desapareci como um flash diante de meus próprios olhos.

Utilizaria o Shunshin no Jutsu para tentar cobrir uma distância de cinquenta metros em direção aos portões da vila, sempre buscando me deslocar entre vielas os rente a paredes as quais buscaria chamar o mínimo de atenção possível. Caso obtivesse sucesso em me aproximar dos portões do vilarejo, realizaria o selo da cabra para criar um segundo clone explosivo, que ali seria deixado. O clone saltaria em direção ao portão, a fim de se sentar na estrutura, fitando o vilarejo e a aproximação da nuvem de insetos. Quanto a mim, apenas me manteria correndo - Em direção ao nada, talvez em direção a minha própria ruína, na tentativa de escapar daquele inferno.

[...]

Caso conseguisse me afastar, o clone deixaria mensagens para trás. Tanto para os shinobis quanto para o próprio Tsuchikage.

— Eu não fiz nada. Vocês estão doentes, insanos! — O clone esbravejaria, apontando em direção às vileas. — Há um membro da resistência no 'Bar do Takeshi'. Se forem shinobis de verdade, escutem as minhas palavras. O verdadeiro inimigo está dentro da vila, porra! O que está pensando, Ishi?! Você enlouqueceu? Eu nunca viraria minhas costas para a vila que eu cresci, amei e sempre protegi, porra!!! — Terminaria.

Então, o clone explodiria nas mesmas dimensões (5m), sendo atacado ou não, na tentativa de derrubar os portões e potencialmente atrasar uma possível perseguição.

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