A luz da lua iluminava as ruas de Iwa, uma coloração prateada que transformava o chão em um tapete gracioso. O frio se tornava cada vez mais intenso, com as horas se passando. As pessoas eram afugentadas, levadas a retornar para suas casas o mais rápido possível. A névoa que começava a cobrir cada viela, dificultava o funcionamento das luminárias. Um ar sombrio tomava a vila, algo que não era tão esperado. Estava em minha cama, olhando para o teto do quarto, em uma tentativa falha de adormecer. Algo estava me incomodando, me tirando o sono, e não era o tanto de café que havia tomado. Me sentia inquieto, desconfortável, como se algo estivesse acontecendo de errado.

Não havia nada que pudesse fazer, que me ajudaria a dormir naquele momento. Mesmo de madrugada, decidi sair de casa. Levantei-me da cama, sentindo o ar gelado subindo pelo chão, calçando as sandálias antes de colocar um casaco grosso. Os passos lentos me levaram até a porta, ao qual a abri com calma enquanto olhava para o interior da casa por cima do ombro. —‌ Já volto. ‌—‌ Não havia ninguém ali para realmente me ouvir, mas por algum motivo o fiz. Era como se minha mãe ainda estivesse ali, olhando para mim, me vendo sair no meio da madrugada.

O assobio dos ventos tornava o vazio das ruas ainda mais incômodo, uma sensação desconfortável de que havia alguém à espreita, em cada esquina pela qual passava. A cada passo que dava, a sensação me perseguia, quase como uma companheira de muito tempo. O silêncio das ruas só era quebrado pelo uivo dos ventos, tornando a cena algo estranho. Naquele horário, sem uma pobre alma perambulando pela rua além de mim, parecia ter chegado em um vilarejo fantasma. Bom, sabia bem o que motivava a população a fugir da rua.

Os pesos que carregava nas pernas era o que me impedia de andar mais rápido. Estava me acostumando, é claro, mas a cada minuto eles me lembravam que estavam comigo. Pelas ruas, caminhei tão calmamente que nem mesmo me importava quando alguma presença aparecia. Parecia estar andando sem rumo, mas tinha um destino em mente. Estava com saudades, isso era um fato inegável, e por isso decidi ir até a lápide de minha mãe. Talvez esse fosse o motivo da minha insônia, talvez esse fosse o motivo de estar andando pelas ruas sem vida de Iwa.


O cemitério estava tão sombrio quanto o restante da vila. A escuridão era quase plena, quebrada pelas luzes trêmulas escondidas pela névoa. O frio era intenso, quase que insuportável, evitada somente pelo casaco grosso que me cobria. Caminhei por entre as lápides, observando quantas vidas foram perdidas ao longo do tempo pelo bem da vila. Minha mãe tinha mesmo sido uma das melhores ninjas da pedra, mas seu fim foi iminente.

Diante de sua lápide, senti gotas de lágrima escorrer pelo rosto. Um ato involuntário do corpo, gerado pelo sentimento contido no fundo do meu peito. Os olhos se encheram rapidamente, enquanto meu coração gritava em um breve desespero. Imaginei que havia superado, mas apenas me enganava conforme o tempo passava. Estava só, cercado por algumas pessoas que me viam como uma ameaça. Estava um pouco perdido, onde de um lado havia o meu senso de dever e vontade de proteger Iwa, enquanto do outro estava a desconfiança e a raiva daqueles que me queriam mal.

Meus joelhos tocaram o chão, sentindo a terra molhada umedecendo o tecido da vestimenta. Minhas lágrimas se misturavam a névoa do local, criando uma conexão nunca vista antes. Sentia a presença da mais velha naquele momento, algo tão intenso que não me permitia parar de chorar. As pontas dos dedos tocaram a pedra rígida, como se fizesse um carinho em minha mãe. —‌ Queria que estivesse aqui, só mais um pouco. Queria ouvir seus conselhos, e a maneira como me chamava a atenção quando fazia algo errado. Me sinto um pouco perdido, mãe. Sinto sua falta. ‌—‌

As horas passaram, e nem ao menos percebi. Me sentia melhor a cada minuto, como se a única coisa que precisasse fosse daquele desabafo. Era como se ela realmente me escutasse, me aconselhasse a continuar e a superar o que sentia. como se me dissesse para ignorar o que os outros diziam, e acreditasse na minha capacidade. Ela havia me ensinado o que era o certo, e o que era errado, então eu só precisava confiar em seus ensinamentos.



Estava sobre um dos prédios da vila, de pé e atento à movimentação que começava. Me sentia melhor depois de todo aquele desabafo, mas ainda estava sem sono. Fiquei ali, aquecido pelo casaco que carregava enquanto analisava cada pessoa que caminhava pelas ruas. Estava atento, tão atento que observava os portões da vila. Era como se fosse um vigia, alguém à espreita, preparado para intervir. Não era como se esperasse por alguém, ou por algum tipo de problema, mas mesmo assim estava por ali.

Meus olhos vasculharam todo o local, penetrando em meio a névoa e vencendo sua densidade. Meu corpo não se incomodava com todo aquele frio, justamente pela ajuda que tinha com a vestimenta que me cobria. Permaneci por ali durante algumas horas, observando e analisando cada passo dado. Até mesmo os ninjas que saiam de suas casas para ir para o quartel general não escapavam da minha visão. Alguns deles eu conhecia, outros não. Parte desses ninjas faziam parte do grupo que não gostava de mim, outros só tinham medo por ouviram esses primeiros. A raiva que sentia por eles, aos poucos, se esvaia e tudo o que restava era pena. Apesar de não gostarem de mim, meu trabalho era justamente cuidar de todos os integrantes daquela vila.

Mesmo não sendo fácil, era meu dever como shinobi de Iwa. A partir do momento que comecei aceitar isso, tudo ficou melhor. Minha mãe havia dado sua vida por aquele lugar, seria uma afronta e falta de respeito a sua memória, tentar fazer o contrário. Respirei fundo, pois já não tinha mais o que fazer por ali. Dessa maneira, desci do prédio e retornei para casa, com o sol abrindo espaço entre a névoa e o frio.

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