Era um dia livre na agenda do jovem Kaito, que caminhava tranquilamente pelas ruas de Konoha. Apesar de andar tranquilo, as ruas estavam bem movimentadas devido ao horário e aquilo incomodava o garoto, locais cheios demais, gente em demasiado, eram coisas que o incomodavam em certo ponto. O Genin então usou suas habilidades para subir em um local relativamente alto e ficou ali observando, estava com seu gibi favorito no bolso e pretendia terminar de lê-lo. "Daqui a uns dias vai sair a nova edição, espero que eu consiga a grana pra comprar a edição limitada. Que saco, dias livres são chatos, não tem nada pra fazer afinal." O garoto estava imerso em seus pensamentos, sentado na laje de um ponto comercial que ficava perto do Hospital de Konoha. Ele se preparava pra ler seu gibi favorito quando ouviu uma pequena discussão na porta do hospital, viu uma mulher segurando a mão de uma criança que aparentemente tentava fugir. Aquilo despertou a atenção de Kaito, e um pequeno grupo de pessoas curiosas paravam para observar a cena. O Genin então desceu do local que estava, colocou o gibi enrolado no bolso de trás e começou a andar na direção da porta do Hospital de Konoha, porém de onde ele estava já podia ouvir perfeitamente o que estava acontecendo.

(Garoto) -- Me larga mãe, eu não quero mais ficar aqui! Dizia o garoto que aparentemente tinha a mesma idade de Kaito, por volta de 8 anos de idade.
(Mãe do Garoto) -- Filho, por favor se acalme!

O garoto conseguiu se soltar da mão da sua mãe e correr o mais rápido possível pra longe dali. Ele corria cabeça baixa  sem rumo, apenas na tentativa desesperada de se afastar do local, enquanto sua mãe gritava por ele com os olhos cheios de lágrima. Itsuki, por favor volte! Gritou a mulher desesperada, que nada poderia fazer já que não conseguiria alcançá-lo.

"Que saco..."
"Vai ficar ai parado olhando? Inútil mesmo, humph!"

Um fato curioso para você, caro leitor, Hatake Kaito vive em uma constante luta contra seus pensamentos, os quais muitas vezes o depreciam. Ele não chega a ter uma dupla personalidade, é mais como pensamentos altamente críticos. Assim no momento em que Kaito se autocriticou sobre finar apenas observando o garoto correr, ele decidiu agir. O Genin então saiu em disparada correndo atrás do outro menino, e o garoto não corria devagar afinal mas ele tentaria alcançá-lo a todo custo. Caso contrário, ele não ficaria em paz consigo mesmo e remoeria aquela situação por dias e dias.

-- Ei... espera! Espera ai pô.
(Itsuki) -- Me deixa em paz!

"Fala sério que garoto genioso".

Os dois correram até chegar em uma praça, mais afastada do Hospital e do Centro, na hora em questão não havia ninguém e Itsuki, o garoto fugitivo, chegou no local se encostou em um local e começou a chorar. Foi ai que o Genin de cabelos brancos se viu surpreendido, ele não esperava por aquilo. Kaito colocou as mãos nos bolsos e olhou pra baixo em silêncio, não sabia o que dizer, não sabia o que fazer. Era uma situação desconfortável pra ele e isso o fez ficar momentaneamente sem reação.

(Itsuki) -- O que... o que você quer comigo? Disse o garoto ao se virar para Kaito, enquanto enxugava um pouco as lágrimas já se colocando com uma expressão de raiva.

-- Eu, ahn... Eu me chamo Hatake Kaito.

Um silêncio constrangedor se formou naquele local. Alguns passarinhos voando quebrando o silêncio, uma brisa agradável soprou e de alguma forma o clima ficou um pouco mais leve entre os dois garotos. Itsuki, disse o garoto que se sentava no banco da praça aparentando estar mais calmo. Kaito então se aproximou lentamente em silêncio e se sentou ao lado de Itsuki. Um ar amigável se formou, era como se dois amigos estivessem sentados lado-a-lado, apesar de os dois terem literalmente acabado de se conhecer.

-- Você... você não deveria gritar com a sua mãe daquele jeito.

-- O que você sabe sobre mim ham, quer me dar lição de moral é?! Disse Itsuki, levantando-se do banco e olhando ferozmente para Kaito.

Uma pausa aconteceu, o ritmo do garoto de cabelos brancos e olhos azuis era diferente, ele tomava algumas pausas antes de falar e isso era totalmente diferente de seu mais novo colega, o qual era muito mais explosivo e reativo.

-- É... não sei nada sobre você Itsuki-kun, mas... se eu pudesse ver a minha mãe de novo eu...

Itsuki percebeu a tristeza no olhar de Kaito, ele então se sentou no banco mais uma vez. Era visível que o Genin havia ficado triste com aquele assunto, parecia e era algo dramático pra ele.

-- Foi mal... o que aconteceu com a sua mãe, ela está doente?

Kaito olhou pra baixo, suspirou e depois olhou pro céu azul limpo e sem nuvens. Ela se foi

-- Me desculpa eu sou um idiota. Disse Itsuki, se segurando pra não chorar novamente enquanto se sentava novamente ao lado de Kaito.

-- Tudo bem, não se preocupa. Mas, o que aconteceu pra você sair correndo daquele jeito?

-- Meu pai está muito doente... e pode ser que ele não sobreviva. Quando eu vi ele naquele lugar, com todos aqueles fios e tubos, eu... eu...

Itsuki começa a chorar novamente. No entanto, aquela descrição, aquela situação se assemelhava muito ao que o jovem Hatake havia passado com seu próprio pai. Era quase como se ele estivesse revivendo aquilo e tudo veio à tona. Todas as lembranças e sentimentos, as noites no hospital vendo seu pai desacordado, vendo médicos entrando e saindo, vendo as pessoas cochichando e olhando pra ele com olhar de pena, ver as expressões tristes. Kaito ainda vivia o luto, e agora via seu recém conhecido colega passando por situação bem parecida. Aquilo por um momento causou muita ansiedade no jovem Genin, que sentiu as mãos suar e a garganta secar. Mas ele precisava ser forte, não podia transparecer, sentiu que precisava dar algum apoio à Itsuki.

-- Eu te entendo. Disse Kaito, pausadamente. Eu não sei o que te dizer, mas eu te entendo.
-- Obrigado. Falou o Itsuki, enquanto surpreendentemente esboçava um pequeno e tímido sorriso
-- O que seu pai faz?
-- Meu pai? Ah meu pai é escritor e também desenhista. Caaara, você devia ver os desenhos do meu pai, são incríveis. Quando eu crescer quero ser desenhista também. Além disso, ele também gosta de escrever livros sabe? Livros de histórias de ficcão e coisas assim.
-- Eu gosto de livros.

Os dois garotos começaram a ter uma profunda conversa. Kaito sem perceber havia acionado o gatilho para fazer com que Itsuki falasse à respeito do pai, contando sobre os desenhos e obras que ele fazia. Aos poucos o garoto começou a se soltar e falar com empolgação e orgulho sobre o próprio pai, e sem perceber Kaito estava ajudando-o grandemente sendo um apoio moral.

Kaito acabou contando um pouco de sua história também, falando sobre seu pai, sua mãe, sobre o irmão o qual ele teve mas não lembrava e só conhecia por fotos. Ele não percebeu mas falava orgulhosamente sobre sua família, sobre o fato de seu pai e irmão terem sido Shinobis e sobre como sua mãe era bonita e amável mas como infelizmente ela faleceu de uma doença, provavelmente câncer. Falar sobre aquilo o ajudou com o luto, com os sentimentos e pensamentos tristes que sentia. Serviu para desabafar e colocar pra fora coisas as quais ele não comentava com ninguém, demonstrando que apesar de ser um garoto tão jovem, já lidava com questões muito adultas. Entretanto, falar sobre aquilo estava servindo como uma terapia e lembrando-o de ter orgulho do seu pai. Os dois conversaram por horas afinco e nem perceberam, falaram sobre vários temas, desde jogos até gibis, livros, animes, etc. Aquilo era algo que Kaito nunca havia feito com ninguém até então, conversar tanto, falar sobre temas pessoais, conversar abertamente

Após longas horas conversando Itsuki decidiu que era melhor voltar, e convidou Kaito para voltar com ele. Ambos retornaram ao hospital e Itsuki encontrou sua mãe no corredor, os dois se abraçaram chorando emocionados. Kaito permaneceu um pouco distante, com as mãos nos bolsos olhando aquela cena com um sutil sorriso em seu rosto, bem sutil mesmo. Itsuki o convidou para que fossem até o quarto onde seu pai estava internado, Kaito subiu e chegando lá se deparou com uma cena que parecia a repetição do que aconteceu com seu pai. Viu ali naquele homem deitado, a imagem de seu próprio pai. Mas, o garoto de cabelos brancos já não estava mais tão ansioso como antes. Ele já conseguia encarar aquilo, e isso era uma grande evolução, uma vez que, antes ele sequer cogitaria entrar no Hospital de Konoha e ver alguém naquele estado pois seria um forte gatilho para lembrar do seu pai. Mas agora a situação era diferente, ele estava ali conseguindo suportar a situação e dar apoio ao seu amigo ao mesmo tempo em que superava um medo e trauma.

"Pai, Mãe, irmão... eu vou dar orgulho a vocês. Vou me tornar um Shinobi cada vez melhor e dar o máximo de mim sendo útil à Vila que vocês se dedicaram."

Aquele dia marcante serviu como uma virada de chave, uma mudança de perspectiva. Kaito havia viajado internamente e aberto uma porta a qual ele mantivera trancada por muito tempo, bloqueando suas emoções e acumulando pensamentos ruins. Mas depois de passar por aquilo, depois de ouvir e falar, ele conseguiu aceitar o luto e acontecimentos trágicos em sua vida, usando aquilo como uma certa motivação para ser alguém melhor como pessoa e como shinobi. Ele sentia que de agora em diante daria sempre o máximo de si em tuas as atividades ou missões, sempre buscando ser melhor, exigindo o máximo de si fisicamente e sendo mentalmente eficiente. Ele havia achado uma nova razão, isto é, ser um orgulho para seus familiares falecidos e continuar o legado.

~Fim.

HP: 200/200
ST: 200/200
ST: 00/02