O salão estava mergulhado em uma penumbra serena, iluminado apenas por uma vela no centro. As sombras das paredes oscilavam com o movimento da chama, dançando como se refletissem a turbulência em minha mente. Sentei-me em silêncio diante do ancião, um homem cujo rosto era um mosaico de rugas profundas, moldadas por décadas de sabedoria e sofrimento. Ele era uma figura respeitada em Sunagakure, um conselheiro daqueles que buscavam clareza em tempos de escuridão. No fundo, eu não sabia se estava ali por escolha própria ou porque precisava ouvir algo que eu não conseguiria dizer a mim mesmo. "Aizen," ele começou, sua voz grave mas gentil, ecoando na sala. "Você carrega um peso em seus ombros. Um fardo que, se não for confrontado, irá consumir sua alma. A força que você exibe agora é uma armadura, mas mesmo o aço mais resistente se enfraquece quando negligenciado." Não respondi imediatamente. Minhas mãos estavam cruzadas, os olhos fixos na vela. Pensei em tudo o que havia acontecido: meu irmão, os momentos finais dele, seu olhar de acusação e dor. O passado parecia um espectro, sempre à espreita, impedindo-me de avançar. Não importava o quão lógica fosse a justificativa para aquele ato, a verdade era que o fardo do que ocorreu ainda pesava em minha consciência. "O que você sugere, então?" perguntei finalmente, minha voz fria e controlada, apesar do turbilhão interno. O ancião inclinou-se ligeiramente para frente, o brilho da vela iluminando seus olhos. "O deserto é implacável, mas ele também é um professor. Ele revela verdades que escondemos até de nós mesmos. Você precisa sair da vila, Aizen. Precisa se exilar, enfrentar sua dor em um lugar onde nada pode distraí-lo. Esse é o caminho para sua redenção e um modo de transformar o que sente em força." "Redenção?" repeti, minha voz carregada de desdém. "Eu não busco redenção. O que aconteceu foi uma consequência lógica das circunstâncias. Foi necessário." Ele não parecia perturbado pela minha resistência. [color:52cd=ff6600]"Você não precisa admitir fraqueza, Aizen. Mas deve aceitar que a dor está lá. Não há vergonha em buscar superá-la. No deserto, você enfrentará seus demônios... ou será consumido por eles. Sua escolha define seu destino." Fiquei em silêncio por um momento, refletindo. O deserto sempre fora um símbolo de desafio e sobrevivência, mas agora se tornava uma arena onde eu lutaria contra algo muito mais insidioso: minha própria mente. Finalmente, levantei-me, meus olhos fixos nos dele. "Eu partirei ao amanhecer. Mas saiba disto, ancião: não é por arrependimento. É para transcender isso." Ele sorriu levemente, como se esperasse exatamente essa resposta. "Boa sorte, Aizen. O deserto sempre responde àqueles que ousam escutá-lo."

Antes de partir, decidi dedicar a última noite na vila ao aprimoramento físico, pois o deserto exigiria muito mais do meu corpo do que qualquer treino dentro dos muros da vila. O campo de treinamento estava deserto àquela hora, envolto em uma tranquilidade quase intimidadora. Movi-me em direção ao centro, mentalizando que este seria o primeiro passo para algo maior. Iniciei o treinamento com exercícios de resistência. Corri ao redor do campo em alta velocidade, alterando o ritmo para incluir sprints curtos que simulavam a intensidade de um combate. Cada respiração era controlada, cada passo calculado. Sentia meu corpo se aquecer rapidamente, mas continuei, desafiando meus próprios limites. Depois, foquei nos golpes básicos, mas fundamentais. Com os punhos cerrados, comecei uma sequência de socos rápidos e precisos contra um tronco de madeira. A cada impacto, visualizava a eficiência que precisaria alcançar em uma luta real. Não se tratava apenas de força, mas também de precisão. Alternei entre socos e chutes, trabalhando também minha postura para maximizar o equilíbrio e a fluidez nos movimentos. Por fim, pratiquei movimentos evasivos, simulando ataques vindos de várias direções. Usei obstáculos improvisados para criar cenários que exigissem agilidade e respostas rápidas. Saltar, rolar e esquivar tornaram-se uma dança controlada, uma preparação essencial para o que o deserto poderia oferecer em desafios.

Concluído o treinamento físico, dirigi-me a um canto mais isolado do campo, onde pudesse me concentrar nos selos de mão. Apesar de ser um exercício de aparente tranquilidade, ele exigia mais de minha mente do que de meu corpo. Sabia que, no deserto, a precisão e rapidez nesses movimentos poderiam significar a diferença entre a vida e a morte. Comecei devagar, revisando os selos básicos: Tigre, Cobra, Javali, Dragão. A cada repetição, aumentava a velocidade, mas mantinha a concentração em cada movimento, garantindo que o chakra fluísse corretamente. Os selos não eram apenas gestos; eram a fundação de técnicas que exigiam alinhamento entre intenção e execução. Depois, passei a praticar combinações mais complexas. Minhas mãos formavam os selos enquanto minha mente visualizava as técnicas associadas. Testei pequenas liberações de chakra para garantir que a energia seguia o caminho correto. Isso me ajudava a sentir o fluxo interno e a aprimorar a conexão com os selos. Por fim, desafiei-me a realizar os selos com uma mão, uma técnica avançada que demandava ainda mais controle e precisão. A lentidão inicial deu lugar a movimentos mais confiantes conforme repetia, absorvendo o ritmo em meu subconsciente. Com a lua como testemunha, finalizei o treino certo de que havia dado um passo essencial para minha preparação.

O sol já despontava no horizonte quando comecei a reunir os suprimentos para minha jornada. Não seria um caminho fácil, mas eu já havia aceitado o desafio. Três dias seriam suficientes para encontrar um oásis onde pudesse permanecer isolado, enfrentando o peso que carregava em meu interior. Precisaria de tudo para sobreviver: água, comida e ferramentas que garantissem minha subsistência em um ambiente tão implacável. Abri minha bolsa ninja e comecei a empacotar com precisão. Carreguei dois cantis cheios de água, pois sabia que a hidratação seria uma prioridade no calor abrasador do deserto. Peguei rações leves e duradouras, o suficiente para três dias: pedaços de carne seca, bolinhos de arroz e frutas secas. Incluí também uma faca de lâmina curta, cordas, pederneiras e um cobertor compacto que me ajudaria a suportar as noites geladas. Antes de partir, passei pelo mercado para adquirir algumas ervas que poderiam servir de remédio em caso de imprevistos. O vendedor, um homem de idade avançada, me olhou com curiosidade. "Indo para o deserto sozinho, garoto? Apenas guerreiros loucos ou sábios fazem isso." Não respondi. Apenas deixei o dinheiro na bancada e me virei. Talvez eu fosse uma mistura dos dois. Com tudo preparado, ajustei a bolsa nos ombros e saí pelos portões da vila. O calor já começava a se manifestar enquanto caminhava pela areia que se estendia até o infinito. Cada passo parecia mais pesado do que o último, não pela dificuldade física, mas pelo peso invisível que me acompanhava: o olhar do meu irmão. Pensei em sua expressão naquele momento fatídico, no ódio confuso que misturava-se com tristeza. “Você matou ela! Traidor!” Suas palavras ecoavam em minha mente, e mesmo agora, eu me perguntava se poderia ter feito algo diferente. Talvez houvesse um caminho que não resultasse em sangue. Ou talvez não houvesse nada que pudesse ser feito. A lógica me dizia que meu ato foi inevitável, mas meu coração recusava-se a aceitar essa justificativa. A paisagem era desoladora, apenas areia e mais areia, interrompida ocasionalmente por formações rochosas que projetavam sombras tímidas. À medida que o calor aumentava, comecei a buscar sinais de um oásis: palmeiras à distância, reflexos de água. Mas tudo parecia um engano dos olhos, miragens provocadas pela fadiga e pelo calor. Enquanto caminhava, os pensamentos voltavam ao meu irmão. Eu me perguntava se ele realmente acreditava que eu havia matado nossa mestra. Ele sempre foi impulsivo, guiado mais pela emoção do que pela razão. Mas por que não confiou em mim? Por que seu primeiro instinto foi me culpar? Essas perguntas ficavam sem resposta, provocando uma inquietação crescente dentro de mim. Parei para descansar em uma sombra formada por um conjunto de rochas. Tirei um dos cantis e bebi pequenos goles de água, tomando cuidado para racionar o suficiente para o restante do dia. Enquanto descansava, fechei os olhos e respirei profundamente. O som do vento soprando a areia era a única companhia. O deserto parecia morto, mas havia algo reconfortante nessa solidão. Era como se o vazio ao meu redor refletisse o vazio que eu sentia por dentro. O sol começou a se inclinar no céu quando avistei um sinal promissor: uma linha de árvores ao longe. Não era uma miragem. Minha determinação aumentou, e voltei a caminhar com passos mais firmes. Um oásis seria o lugar ideal para estabelecer meu retiro. Com água e sombra, poderia sobreviver e enfrentar o propósito real desta jornada: confrontar os fantasmas que ainda me assombravam. Cheguei ao local pouco antes do anoitecer. O oásis era pequeno, mas suficiente. Havia uma lagoa de água clara cercada por palmeiras e arbustos. Era um pequeno pedaço de vida em meio ao vasto deserto, e por um momento, senti uma tranquilidade incomum. Preparei meu acampamento sob as árvores, utilizando o cobertor para improvisar um abrigo. Enquanto o céu começava a escurecer, deitei-me e observei as estrelas surgirem lentamente. Elas eram tão numerosas, tão distantes, e me fizeram perceber o quão insignificante parecia tudo aquilo em comparação com a imensidão do universo. No entanto, a dor ainda estava lá, tão real e presente como sempre. Fechei os olhos, sabendo que o verdadeiro desafio começaria no dia seguinte. A noite havia caído sobre o oásis, e a tranquilidade que o cercava era quase esmagadora. Sob o brilho das estrelas e a luz pálida da lua, o local parecia uma pintura viva, uma antítese perfeita ao caos que carregava em minha mente. O silêncio era profundo, mas eu sabia que dormir não seria fácil. As lembranças do meu irmão, as dúvidas e o peso da culpa não me deixariam descansar. Se o corpo estivesse exausto, porém, talvez a mente encontrasse um breve alívio. Decidi usar a energia restante para treinar, aproveitando a solidão para refinar minhas habilidades.

A brisa noturna soprava suavemente pelo oásis enquanto eu me preparava para o treino de taijutsu. Retirei meu manto, deixando o vento refrescar minha pele aquecida pelo calor do dia. O ambiente ao meu redor era silencioso, com apenas o som ocasional da água da lagoa e o farfalhar das folhas. A solidão oferecia a oportunidade perfeita para focar. Comecei com exercícios básicos de aquecimento, alongando braços, pernas e tronco. A areia sob meus pés dificultava a estabilidade, mas isso só tornava o treino mais eficaz. Meus punhos cortavam o ar em uma sequência precisa de socos diretos, cruzados e uppercuts. Após cada série, reposicionava meus pés para evitar desequilíbrios e garantir uma base firme. Gradualmente, incorporei chutes em combinação com os socos, simulando ataques rápidos e coordenados. Após repetir os movimentos básicos, imaginei um oponente invisível. Ataques vinham em minha direção, e eu os bloqueava com esquivas ágeis e movimentos defensivos. Girava em torno da "ameaça", golpeando com intensidade, buscando uma fluidez que tornasse minhas ações instintivas. Ao final, simulei situações de combate mais intensas, como desarmes e contra-ataques, ajustando minha postura para o máximo de eficiência. Finalizei com sprints curtos ao redor do oásis, alternando entre corrida e golpes no ar. Cada passo, cada golpe, era um esforço deliberado para fortalecer meu corpo e superar os limites da exaustão. O suor escorria livremente, mas a sensação de controle crescia a cada segundo.

Sentado próximo à lagoa, fechei os olhos e respirei fundo, acalmando a mente enquanto começava o treino de selos de mão. Conectar-me ao meu chakra era o primeiro passo; senti-o fluindo como uma corrente por todo o meu corpo. A prática não era apenas física, mas mental. Iniciei com sequências simples, revisando selos básicos em ritmo lento. Cada movimento de meus dedos era meticuloso, quase cerimonial. Queria perfeição em cada transição. Quando senti que minha precisão estava sólida, aumentei a velocidade, exigindo mais controle sobre o fluxo de chakra. Não bastava rapidez; era necessário que cada técnica fosse funcional e precisa. Testei combinações mais complexas, desafiando-me a não apenas executar os selos rapidamente, mas também a mantê-los sincronizados com o meu controle de chakra. Trabalhei com sequências para técnicas de Raiton, visualizando relâmpagos dançando no ar ao meu comando. Esse tipo de visualização ajudava a criar uma conexão mais clara entre mente, corpo e energia. Por fim, desafiei-me com selos de uma mão. Essa técnica exigia um nível de controle extremo, e mesmo que não fosse perfeito, percebi progresso. O esforço e a concentração me esgotavam, mas também traziam satisfação. O vento noturno parecia mais fresco quando terminei, enquanto eu me permitia relaxar, observando as estrelas. O treino havia esgotado meu corpo, mas meu espírito sentia-se um pouco mais leve.