Os dois meses de puro treinamento tiveram um efeito inexplicável. Claro que ainda não entendia direito o porque os humanos faziam muitas coisas, mas algo em mim estava diferente. Estava mais calmo, mais conectado comigo mesmo, e isso fazia uma grande diferença. As decisões que eu tomava era mais pensadas, sempre vendo o que era melhor para o meu bem estar. Não havia preocupação para com os outros, embora não os fizesse mal também.

Minha chegada na vila veio junto ao anúncio de que algo estava errado por ali. Ao meu ver, não tinha se passado tanto tempo assim para que Kumo estivesse naquele estado. Não havia motivo o suficiente para ela parecer largada daquela forma, mas eu não sabia de tudo.

"O que Toru fez para que tudo ficasse assim?" Ainda desconhecia o que havia acontecido com o raikage recém eleito, não fazia ideia de que ele tinha sumido após uma viajem. Também não estava atualizado sobre as ocorrências dentro do vilarejo, não mesmo.

Tudo aquilo me fez questionar se realmente eu fiquei fora por apenas dois meses. O estado em que ela se encontrava não batia com esse período, mas não podia fazer nada. Como um mero gennin, que força eu tinha para mudar algo naquele lugar?

Saber, no dia seguinte, pelas bocas dos aldeões e de alguns ninjas, que Toru havia sumido deu uma pequena clareada na mente. Boa parte do que estava acontecendo passou a fazer sentido com aquela notícia, mas também tornou tudo ainda pior.


Depois de tudo, minhas decisões passaram a ser tomadas com mais cautela. Fiquei alguns dias andando pela vila, observando e ouvindo o que os demais tinham a falar. Até mesmo os ninjas, eles geralmente falavam bastante uns com os outros.

No jornal, havia as notícias referente a parte do que estava ocorrendo. Havia uma tensão instaurada no vilarejo, um medo que o raikage ajudou a colocar ao meu ver, sobre os aldeões. Comecei a ouvir que alguns estavam pensando em ir embora, preocupados com o que podia acontecer. E realmente, eles tinham razão.

Precisava de um pouco mais para finalmente finalizar. Essa busca me levou ao quartel general, onde estavam alguns ninjas. Um deles era justamente aquele que me ajudou, quando o meu pai adotivo resolveu colocar seu plano em prática. —‌ Ainda está aqui. Esse caos está assim a muito tempo?‌— O homem sempre pareceu muito calmo, mas naquele dia estava diferente. Pensativo, bem pensativo, como se estivesse decidindo algo.

Havia certa preocupação em suas palavras, como se algo ruim estivesse prestes a acontecer. —‌ Jovem Suzuki. Os dias de hoje estão complicados. Tem ninja pensando em ir embora, alguns aldeões já estão indo. Não sabemos o que irá acontecer com Kumo. O raikage sumiu, não fazemos ideia de quem poderá fazer algo. Acontece que não há muita opção.‌—‌ Estava difícil. Escolher um futuro incerto, ou buscar algo que talvez seja melhor?

Confesso que nunca andei por nenhuma outra vila desde que me tornei um ninja. Para mim, Kumo já bastava, mas ver que o mundo era maior do que eu podia imaginar, gerou em mim aquela pequena curiosidade que vira e mexe aparecia. —‌ Então se algum ninja pedir para ir embora, ele terá a permissão?‌— Talvez fosse algo bem mais simples do que parecia, ou mais complexo do que achávamos.

—‌ Sim. Sem uma liderança, não há porque manter as pessoas aqui. Imagina só, tentarmos prender vocês aqui e começarem uma encurtada de fugas. ‌A situação que é complicada, vai ser pior do que já está. Mas, deseja sair? —‌ Não o respondi logo, precisei raciocinar um pouco melhor para finalmente dar a resposta.

—‌ Sim, não faz sentido permanecer em um lugar cheio de problemas assim. Não consigo resolver algo assim, não tenho poder para fazer isso. Sem liderança, isto aqui pode virar um inferno.‌ — A decisão estava tomada, sairia da vila sem olhar para trás. —‌ O que preciso fazer para sair? ‌—

—‌ Estamos dando uma carta permitindo a saída de vocês. Só não vamos poder levá-los. No entanto, sugiro que pegue uma carona com os moradores. Eles estão indo para um monte de vila, então deve conseguir ir para o lugar que desejar. ‌—‌ Realmente, seria mesmo a melhor forma.


Já estava de noite, e muitos aldeões se preparavam para partir em suas carroças cheias de pertences. A carta de permissão para sair estava comigo, e a bandana já não se encontrava mais presa no pescoço. Fora deixada junto ao antigo superior, que se preparava para ir embora também.

Precisei de alguns dias para decidir meu destino final, até escolher Iwagakure como meu novo objetivo. Não havia nada em específico que me atraía até ela, apenas a escolhi. Não foi difícil conseguir uma carona que fosse rumo a ela, embora tivesse que conversar com outras pessoas.

Partimos durante a noite mesmo, protegidos do frio e com um novo objetivo. Levados por uma carroça grande, a qual nós protegia também e nos permitia dormir durante parte da viagem. A permissão de saída foi mostrada logo nos portões, e não gerou problema algum.

Durante a minha viagem, foi preciso fazer algumas paradas. Embora de noite, não sentia que havia perigo que não pudesse dar um jeito. Fizemos fogueiras por onde parávamos, comíamos o bastante para não passar mal com o balançar da carruagem e também aproveitavamos para descansar melhor. Isso levou um tempo, mas antes do almoço chegamos ao vilarejo.

Fomos direto até os portões, demonstrando que não apresentavamos risco algum para a segurança da vila. Claro, não acreditava que eles pensassem isso de meros viajantes.


Considerando que eu era um ninja, era preciso uma conversa mais séria para eu poder entrar. Já esperava isso, mas expliquei toda a situação para que acreditassem em mim. Realmente, não seria difícil constatar que o que eu dizia era a mais pura verdade.

A carta de permissão que tinha nas mãos também ajudava nesse sentido, considerando que lá estava descrevendo meus motivos e a permissão para sair de Kumo. Ainda sim foi preciso alguns dias para que tudo fosse esclarecido.

Durante esse tempo eu passei sendo vigiado por outros ninjas, o que não me incomodou de fato. Não faria nada que me colocasse como alvo, não era burro o suficiente para fazer algo nesse intuito. Fui conhecendo a vila aos poucos, andando pelas ruas, conhecendo parte a parte da imensa estrutura que era Iwa.

Diferente de Kumo, Iwa estava sendo bem cuidada. Não podia dizer que conhecia o Kage pessoalmente, mas seu nome era conhecido pelo mundo por ser a sombra da pedra. Não tinha intenção de conhecê-lo, não sem um bom motivo. Não gostava de fazer as coisas só por fazer, e essa era uma das coisas que não conseguia entender na humanidade.

Após uma longa semana, eles finalmente vieram até mim com a notícia que eu desejava. Sim, eu poderia permanecer como cidadão de Iwa, mas seria vigiado por um tempo. Até poderia me manter como um ninja, mas se suspeitassem de mim eu seria retirado do cargo e preso. Como não vi nenhum problema nisso, aceitei o acordo com eles.

Me arrumaram uma casa pequena para morar, uma bandana nova para usar e um novo serviço. Estava longe de ser o melhor, mas para mim já estava de bom tamanho. Estava entrando em uma nova vila naquele momento, não podia pedir demais.

Na entrega das chaves um dos ninjas conversou comigo. Era alguém um pouco ríspido demais, mas que para mim não fazia diferença. —‌ Esta será sua casa. O primeiro mês está tudo bem, mas ao longo dos próximos meses você precisa pagar o aluguel. Como foi aceito como ninja, não será um problema para você. O aluguel não é tão caro, então vai conseguir. Se quiser um lugar melhor, aí sim vai depender somente de você.‌—‌ A explicação era simples, pude entender tudo. Realmente, se havia a possibilidade de melhorar, não implicaria com o que me foi dado.

—‌ Tudo bem, fico agradecido pela explicação e pela oportunidade. Minha intenção não é gerar confusão alguma, apenas viver minha vida. Então não se preocupem. Agora irei me retirar, já tomei muito do seu tempo.‌— Ela aceitou minhas palavras de forma tranquila, mas não me deixou ir antes de deixar o alerta. —‌ Saiba que estamos de olho em você, nada do que fizer passará despercebido. Não faça nada burro, ou se arrependerá de ter vindo até aqui. ‌—‌ Assim como eu, ele partiu.

No final de tudo, consegui uma casa e um serviço para ajudar a me manter. Consegui sair de um local em que provavelmente as coisas ficariam ainda piores, e que possivelmente não teria como fazer nada para melhorar. Aquela realmente foi a melhor opção, a de buscar novos horizontes. Também fazia parte da nova visão que tinha do mundo, embora não entendesse bastante coisa ainda. Estava agradecido, algo que aprendi a sentir. Agora só faltava começar com as missões, para aí sim me inserir como ninja de Iwa definitivamente. Através das minhas ações, eu mostraria que tudo o que eu desejava ali era aprender a viver, aprender a conviver com as pessoas, por mais estranho que fosse.

Considerações: