"Eu vou vingá-lo, pai. Eu vou honrá-la, mãe. Eu vou salvá-lo, irmão", repetia incansavelmente a cada novo movimento dos braços. Sentado ali, com as pernas apertadas sobre a estrutura de madeira e um remo em cada mão, ele circundava os ombros vez após vez, sem descanso. Há quanto tempo estava remando? Já não se lembrava, mas sabia bem o porquê da sua viagem.

"Eu vou vingá-lo, pai. Eu vou honrá-la, mãe. Eu vou salvá-lo, irmão", entoava em sua mente. Às vezes, cuspia as palavras por entre os dentes, enquanto seus lábios estavam secos e rachados, ansiando por um gole de água ou uma refeição. No entanto, ninguém o ouvia repetir sua prece silenciosa, ou pelo menos tinham a noção de que era melhor deixá-lo em paz.

O barco em si era uma construção simplória, quase como uma canoa. Tinha espaço para uma dúzia de homens remando ao mesmo tempo, enquanto um dos líderes comandava a embarcação do leme. O cheiro entre eles era o pior possível, como se nenhum deles tivesse se banhado em muito tempo. Ele próprio emanava um odor pútrido, com os cabelos emaranhados e sem nenhum único corte, e a barba crescendo além do queixo, embora não fosse tão densa quanto a dos outros homens, que se orgulhavam de nunca terem cortado barba ou cabelo. As roupas que usavam eram de couro fervido, endurecido pelo suor, sujeira e machado pela umidade. A poucos metros do barco, outros navegavam pelo curso do rio na mesma direção, igualmente repletos de homens remando como se já não precisassem pensar no próximo movimento.

Embarcados, não havia espaço para nenhuma conversa, nada que pudesse aproximá-los uns dos outros, mas era durante o ocaso que eles descansavam os músculos e ossos sobre a margem do rio, afiando suas armas e preparando-se para o que quer que viesse com o manto negro que cobria o céu noturno.

Nas noites mais frias, eles se agrupavam em torno de uma fogueira para se proteger do tempo. Enquanto se aqueciam com o calor crepitante do fogo, o líder proferia suas pregações, e, em pouco tempo, todos mergulhavam em um transe profundo. Alguns se colocavam sobre os pés e mãos e uivavam para a lua incessantemente, comportando-se como verdadeiros animais, esquecendo-se de como um homem deveria agir. Gritavam, rosnavam e urinavam pelos arredores, marcando o território. Outros pareciam assumir as características das aves, como corujas, falcões, águias ou corvos. Yama era um desses últimos. Quando entrava em transe, pulava para as alturas, chacoalhava os braços e andava de cócoras, evitando os outros, mas grasnava e crocitava, repetindo as palavras do líder vez ou outra. Seria ele um corvo ou um melro? Era difícil dizer, mas sabia que algo de muito poder emanava das palavras do líder e da confusão de sons e gestos animalizados que o grupo assumia em noites assim. Em outras noites, contentavam-se em se aconchegar uns aos outros, em meio ao fedor e aos ruídos, mas isso era uma parte mínima do tempo.

Durante os dias, navegavam pelo rio, visitando vilarejos, aldeias e povoados, alguns dos quais os afastavam com tudo o que tinham. No entanto, eles eram homens livres, desvinculados das amarras que mantinham os comuns presos à moralidade e ao comportamento que os identificava como homens de suas nações. Pelo que sabia, muitos deles nem mesmo tinham pertencido a uma nação. Eram homens de lugares distantes, vindos do sul, do norte, do leste ou do oeste, mas, no final das contas, de lugar nenhum. Alguns tinham sotaques fortes, suas vozes graves ou roucas eram resultado das noites em que uivavam como uma matilha. A verdade é que trocavam poucas palavras, mesmo nos momentos mais entediantes, quando o tempo parecia não passar.

Apesar de tudo, Yama não esquecia por que estava ali e repetia sua promessa com frequência: "Eu vou vingá-lo, pai. Eu vou honrá-la, mãe. Eu vou salvá-lo, irmão". Desde que recebera notícias de que seu irmão poderia estar vivo, em algum lugar nas distantes terras a oeste do seu vilarejo natal, ele não hesitara em abandonar a modesta vida que levava. Era uma vida que ele compartilhara com sua família quando todos ainda estavam vivos, quando a rotina era sua companheira constante. Agora, ele se unira a um grupo de homens livres que viajavam pelo interior do país, embora já não soubesse exatamente onde estavam. Esperava ter alcançado outras grandes nações, mas a cada novo amanhecer, tudo o que via eram cursos de água, montanhas e paisagens acidentadas. A exceção eram os momentos em que entrava em transe, como um corvo em pele de homem. Seu propósito estava claro em seus pensamentos: "Eu vou vingá-lo, pai. Eu vou honrá-la, mãe. Eu vou salvá-lo, irmão". Embora não soubesse ao certo como encontraria o irmão, ele tinha certeza de que o encontraria vivo. Em homenagem à mãe, ele traria paz à nação onde pudesse encontrar refúgio. Para vingar o pai, ele arrancaria o coração de todos aqueles que guardassem malícia em seus peitos.

A última noite de que podia se lembrar de estar entre o grupo — chamavam-se "troca-peles", assim como os homens e mulheres que os expulsavam do saque e do roubo de suas plantações ou vilarejos — foi em uma confusão de sangue, gritos e fogo. O calor crepitante parecia sufocar sua respiração, iluminado apenas pelo luar de uma noite sem nuvens. Não se lembrava de ter sido abatido, mas sabia que muitos dos homens que o acompanhava tinham sido perfurados por garfos de arar a terra ou golpeados por grandes pás de tratar as plantações, enquanto mulheres e crianças gritavam e corriam. O fogo tinha sido coisa dele, descuidado. Era isso que ele tinha se tornado? Via o horror nos rostos dos inocentes, visitados pelas figuras mais horrendas que a noite podia levar até eles. Ao mesmo tempo, estava excitado. Seu coração ribombava contra os arcos das costelas e o som das batidas parecia audível aos seus próprios ouvidos.

Os outros gritavam e amaldiçoavam em línguas diferentes, ou talvez não fossem sequer palavras. Eram gritos, uivos, grasnos e rugidos em meio ao som dos escombros das pequenas construções, levantadas em pedra e madeira, alimentando as chamas. Alguns corriam em direção a um poço, com baldes e cordas, mas era tarde. Não conseguiriam apagar o incêndio nem salvar as vidas dos seus, e restava aos que ainda conseguiam correr, tentar fugir para o mais longe que pudessem, pelas suas vidas e pela vida dos seus, jurando vingança contra aqueles homens tomados por bestas que só faziam violar, roubar e destruir, sem nem mesmo velar a morte dos seus que pereciam diante da bravura dos que ousavam enfrentá-los.

A noite foi se tornando silenciosa à medida que os moribundos morriam. Tudo tinha sido consumido pelo fogo, e os que tinham se salvado já poderiam estar muito longe, procurando onde se esconder. Os homens tinham sido eliminados pela espada, e os demais tinham recebido o tratamento que mereciam, enquanto as crianças, apenas os meninos, estavam sendo acorrentadas e serviriam junto a eles por quanto tempo fossem capazes de aguentar aquela vida. Não levavam nada além das marcas, ferimentos ou o que pudessem carregar para o barco, em seu espaço minúsculo. Todo o resto era descartado, à exceção das peles de animais ou roupas que pudessem ser úteis em tempos muito quentes ou muito frios. Foi quando sentiu escorrer um líquido por entre os dedos de um dos pés, descalços sobre a terra preta. Olhou de onde vinha e percebeu que era sangue, ainda quente, que regaria a terra.

Depois, ele só se lembrava de estar em um lugar diferente, distante de tudo aquilo que conhecia. Os edifícios e construções eram claramente diferentes daqueles que ele tinha visto nos primeiros anos de sua vida. O clima era quente e seco, mas pelas janelas, era difícil ver qualquer inscrição ou sinal que indicasse onde ele realmente estava. O lençol repousava sobre seu peito e abdômen desnudos, e sua respiração em repouso parecia indicar que estava despertando de um sono leve, mas cheio de sonhos. Ele olhou ao redor e percebeu que o cheiro de suor já não o acompanhava. Passou o dorso das mãos pelo rosto, encontrando apenas uma fina penugem onde anos depois encontraria a barba, e o cabelo parecia estar no comprimento que sempre manteve, despenteado apenas pelo contato com o travesseiro macio. As mãos também estavam limpas, sem calos, cortes ou sujeira entre os dedos, e os nós pareciam como sempre tinham sido. No entanto, as cicatrizes no dorso do tronco permaneciam lá, sempre como uma lembrança de sua inocência e desejo desmedido de outrora, mas que não mais o acompanhavam. Elas sempre o lembravam de que não poderia ser capturado com vida. Cada marca gravada em sua pele era um desafio, uma lembrança do quanto ainda precisava percorrer para encontrar o que buscava. Através do vidro, uma luz quente penetrava, invadindo o quarto e tocando os dedos de um de seus pés, aquecendo-o como no sonho, avançando sobre seu corpo.

Ele estava em casa, em Iwa.

Considerações gerais: