Tossi brevemente, talvez a arfada mais suave em semanas. Depois do final do inverno, uma doença muito agressiva tinha atingido meus pulmões e, de súbito, caí de cama. Se minha mãe estivesse comigo, não teria acontecido. Se o meu pai estivesse cuidando de mim, teria me recuperado mais rápido. Ela gostava de fazer chás e compressas de ervas, conhecimentos que não compartilhava com ninguém, exceto com aqueles que estavam precisando — eram os seus segredos, assim como as receitas para os almoços de fim de semana, que ela nem mesmo guardava em um caderno como tantos faziam. Ele era disciplinado, dormia cedo e acordava mais cedo ainda, buscava o jornal e lia as notícias com uma xícara de café na mão, sentado à primeira luz da manhã, não importava o quão frio e úmido ou quente e seco estivesse o clima ali tão alto no pico das montanhas, mas era certo que ele já teria providenciado para que o dia se encaminhasse para todos, buscando o pão e o leite, além de deixar o café coado para os demais quando acordassem. E Enma, meu irmão... Como sentia a sua falta. Ainda era doloroso pensar em como não pude chorar a sua morte, velar o seu corpo... Ele teria cuidado de mim assim como os velhos tinham nos ensinado, ou pelo menos faria o seu melhor. Ele era mais bondoso do que eu, mas não muito paciente, então teria falado "Levanta logo daí! Eu sei que você só continua deitado, querendo que eu continue te levando cházinho na cama!" quando me visse deitado por tantos dias. Mas não estava, assim como nenhum deles.
Sem ajuda, viver sozinho podia ser realmente complicado para alguém muito desorganizado, assim como eu. Sem uma rotina muito clara nem uma lista do que comprar, bastava uma doença para comprometer tudo... Sem me alimentar muito bem, bebendo pouca água e perdendo o horário dos remédios, precisei de muito mais tempo do que o previsto pelos médicos para me recuperar. "Assim você não vai sarar nunca, garoto", diziam toda vez que voltava ao pronto atendimento para ver mais uma vez se meu peito estava mais limpo, mas sempre parecia estar um pouco pior do que na anterior.
"Chega, preciso seguir", pensei. Levantei de súbito, embora fraco. A primavera ainda estava desabrochando, mas o frio intenso das geadas que se abatiam sobre o vilarejo durante o alto da estação anterior não era mais visto, o que ajudava a reunir forças. Eu realmente odiava aquele maldito frio. Meu peito chiava, e minha respiração era ofegante, mas lembrei de como ela começava a preparar um remédio sempre que um de nós começava a tossir. Preparava o gengibre, alguns dentes de alho e mel, por último algumas gotas de limão. O cheiro ficava péssimo, e o gosto era ainda pior, mas funcionava para quase tudo. Uma mistura que só uma mãe poderia ousar oferecer sem esperar ofender alguém. Misturei tudo com alguns mililitros de água filtrada, bem quente, na caneca escrita "para o melhor pai", recordação que ainda guardava, mesmo com uma parte da asa quebrada, e tomei tudo. Pensar era pior, então que fosse de uma vez.
Depois de adormecer, percebi que muitas horas tinham se passado — era outro dia. Meu peito já não estava cansado, e a dor no corpo tinha passado. Estava recuperado de semanas de um resfriado.

Considerações gerais: