Hakuryuu abriu os olhos lentamente, ainda sentindo um pouco de sono. Olhou para o lado e viu que seu companheiro de quarto ainda estava dormindo. Ele se levantou com cuidado para não acordar o colega e esticou o corpo, sentindo os músculos se alongarem após uma boa noite de sono.

Enquanto se arrumava, Hakuryuu se lembrou de um anúncio que havia conferido no quadro de missões do dia anterior. Um grupo de nukenins havia sido avistado ao sul do país do vento, e a vila estava procurando por um shinobi para investigar a situação. No fundo, Hakuryuu ainda estava um pouco inseguro se teria a habilidade necessária para lidar com a tarefa. No entanto, sua consciência eventualmente acabou falando mais alto. Afinal, se não tomasse a coragem para superar aquele próximo degrau agora, quando o faria?

Assim que terminou de se vestir, ele se dirigiu ao quadro de missões na vila, onde encontrou o oficial responsável por passar os detalhes da missão. Após cumprimentar o superior, Hakuryuu se ofereceu para assumir a tal missão. Afinal, que mal poderia ter em prender alguns criminosos e entregá-los na vila para serem devidamente julgados? Era o certo a se fazer. O oficial, então, concordou e lhe entregou as informações necessárias.

Hakuryuu visou memorizar os detalhes mais técnicos da missão e, assim que se sentiu seguro o suficiente quanto a onde e ao que deveria fazer, saiu correndo da vila. Ele sabia que, por conta daquela atividade nukenin, a região sul deveria estar bastante perigosa àquela altura. Por isso, sabia que precisava estar preparado para quaisquer eventualidades. Durante a viagem, o genin ponderou acerca dos verdadeiros motivos para aquele grupinho desprezível estar se reunindo. Seriam eles uma ameaça direta à vila? Estariam planejando algum ataque?

Essas perguntas ficaram ecoando na cabeça de Hakuryuu até que percebeu ter chegado na área aproximada de onde vinham os relatos oficiais. Era ali que poderia encontrar alguma pista mais relevante sobre o assunto. Ele olhou em volta, tentando encontrar qualquer sinal do grupo. Mas, por um tempo, tudo pareceu calmo e tranquilo.

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Hakuryuu caminhou cautelosamente pelo local designado para investigação. Seus olhos percorriam cada canto em busca de qualquer pista que pudesse indicar a presença do grupo de nukenins. Enquanto explorava a área, ele notou pegadas no chão arenoso, algumas delas mais frescas do que outras.

Seguindo as pegadas, Hakuryuu adentrou um bosque denso e sombrio. O silêncio era quase ensurdecedor, apenas interrompido pelos sussurros das folhas sob seus passos. Sua intuição lhe dizia estar próximo, quando finalmente pode ouvir um pequeno barulho longínquo. Não fosse por sua costumeira atenção aos detalhes, não teria os distinguido. Todavia, após alguns instantes a natureza dos barulhos ficou clara: eram passos sobre as folhas. Alertando uma ameaça iminente, seus cabelos da nuca se arrepiaram.

Em um momento de instinto, Hakuryuu rapidamente se escondeu atrás de uma grande rocha, observando cautelosamente. Foi quando finalmente ouviu vozes abafadas à distância. Fixo no lugar, eventualmente começou a captar a conversa dos nukenins. Eles estavam próximos.

Deslizando silenciosamente entre as sombras das árvores, Hakuryuu se aproximou sorrateiramente dos arredores onde o grupo estava reunido. Escondido na copa de uma das árvores, ele discretamente tentou escutar sobre o que conversavam.

As coisas estavam meio desconexas, já que não podia ouvi-los tão bem àquela distância. No entanto, nenhuma das poucas palavras que conseguiu captar pareciam boas. Até onde conseguia interpretar, tudo parecia indicar que planejavam algum tipo de ataque. Sua natureza, porém, ainda não estava clara ao genin.

Determinado a impedir seus planos, Hakuryuu decidiu permanecer quieto e absolutamente silencioso em seu esconderijo. Sua ideia era esperar que os inimigos, que caminhavam pela floresta, se aproximassem do seu esconderijo e ele pudesse escutar melhor o que diziam. Então, logo que seguissem adiante e Kinsetsu já tivesse se certificado se havia mais aliados envolvidos naquela sujeira, prepararia um ataque surpresa. Pegaria-os de surpresa-, pelas costas. Presos, levaria os criminosos para serem julgados na vila.

Enquanto os sons não se faziam claros o suficiente, o genin observou o terreno ao redor, tentando identificar possíveis pontos estratégicos e rotas de fuga.

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Hakuryuu permaneceu imóvel, seus olhos perdidos por entre as folhas da copa, mas com a audição completamente focada nos murmúrios crescentes à distância. Com cuidado, ele tentava decifrar suas intenções através das poucas palavras que conseguia captar. Enquanto o grupo se aproximava cada vez mais de sua posição, a tensão aumentava a cada instante.

Finalmente, as vozes se tornaram claras o suficiente à medida que os nukenins se aproximavam. Hakuryuu ouviu menções sobre o que parecia ser um plano de ataque contra um posto avançado nos arredores de Sunagakure no Sato. Imediatamente, seu senso de justiça lhe disse que simplesmente não podia permitir que isso acontecesse. Seu código de honra o impelia a agir. Sem machucá-los gravemente, prenderia e levaria os nukenins de volta à vila para enfrentarem o devido julgamento.

Ao que as vozes dos nukenins começaram a mudar de direção, Hakuryuu prontificou-se para agir. Assim que suas vozes viessem bem da sua frente, saltaria para emboscar os inimigos com sua sakin. Entretanto, antes que as vozes chegassem no ponto desejado, Kinsetsu se viu momentaneamente envolto em um súbito silêncio. Seus olhos se arregalaram ao que começou a contemplar a possibilidade de terem percebido sua presença. No entanto, antes mesmo de poder tomar qualquer ação, um golpe surpresa atingiu sua nuca. A força do impacto foi avassaladora, fazendo com que tudo ficasse escuro instantaneamente.

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Aos poucos, sua visão foi se ajustando à escuridão, revelando uma cela sombria e úmida. O cheiro de mofo impregnava o ar, enquanto a umidade lhe envolvia como um abraço gélido. Não se lembrava de como havia chegado ali e sua cabeça pulsava em dor. A cada respiração, a adrenalina fluía em suas veias, alimentando sua ansiedade enquanto ele desesperadamente buscava avaliar os arredores e interpretar a situação o mais rápido possível. Sabia que precisava encontrar uma maneira de impedir o plano de ataque iminente contra seus conterrâneos. Contudo, para isso teria que sair vivo dali.

Antes mesmo que pudesse formular um plano de fuga, a porta da cela se abriu bruscamente, assustando o genin ainda atordoado. Era um dos nukenins que havia adentrado o local. Sua figura sinistra se destacava na penumbra, seus olhos brilhavam com uma malícia calculada e um sorriso cruel se estampava em seu rosto. Com os braços e pernas totalmente algemados e acorrentados, Kinsetsu se viu totalmente à mercê daquele criminoso doentio.

Claro, o fato de sua roupa ser um reservatório de sakin ter passado completamente despercebido até parecia ser uma vantagem. Todavia, por conta de uma algema de madeira retangular, que isolava seus pulsos a uma distância fixa entre si, Kin sabia que performar selos seria uma tarefa impossível.

Após um brilho em seu sorriso em meio às sombras, o homem bradou para que ele se levantasse imediatamente. Totalmente indefeso, Hakuryuu não pode senão obedecer. O nukenin então deu a volta em Kin, soltando suas correntes da parede e ordenando violentamente para que saísse da cela. Do lado de fora, o criminoso apontou algo afiado contra suas costas e o genin imediatamente soube que era para seguir em frente. Porém, não fazia a mínima ideia para onde seria levado.

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Hakuryuu sentiu o coração acelerar ao caminhar pela ala prisional. A situação era estranha, pois o local parecia grande demais para ser uma instalação improvisada. Além disso, a presença de animais em celas específicas somente aumentava o mistério..

Cada passo em direção à luz no fim do corredor era cheio de temor e ansiedade. Seu código de honra ecoava em sua mente, lembrando-o de seu dever para com sua vila e seus habitantes, mas também para com sua própria consciência. Ele acreditava que toda vida tinha valor e, por isso, buscava escapar sem causar mortes desnecessárias.

No estreito corredor, a atmosfera era tensa e pesada. Sons abafados da multidão repentinamente invadiram seus ouvidos, chocando-o. Ele tentava manter-se firme por fora, mas por dentro a preocupação crescia.

Ao atravessar a porta, após se acostumar com o ofuscamento, seus olhos arregalaram. A realidade finalmente se revelara: ele fora jogado em uma arena mortal. A violência gratuita e a adoração daquela multidão o perturbavam. Como pessoas conseguiam apreciar aquilo?

Enquanto tentava encontrar respostas, uma voz eletrônica se destacou. Kinsetsu percebeu ser o locutor do evento. Em meio às vozes atordoantes, suas algemas inexplicavelmente se abriram, caindo no chão.

Tentando recuperar o foco, pelo que conseguiu interpretar das falas do anfitrião, teria que vencer para conquistar sua liberdade. Porém, quando achou que estava prestes a se recompor, cruelmente a memória da presença de animais pareceu fazer sentido: um rugido gutural ecoou pela arena. Kin instintivamente virou-se na direção do som e, ao perceber a verdade, ficou inerte. Um enorme urso marrom o encarava com olhos ferozes e uma boca sedenta de sangue.

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Superação de Defeito: Código de Honra — Humanitário #1

Hakuryuu encarou o imenso urso negro com um misto de medo e contradição. Gravado em seus genes estava o quão aterrorizante aquela cena de fato deveria ser. Sem dúvidas, cada célula em seu corpo gritava para que recuasse de algo que, até pouco tempo atrás historicamente falando, era uma situação de morte certa. No entanto, racionalmente, ele bem sabia que seus poderes provavelmente superavam o urso em muitos níveis. E isso lhe colocava em um certo dilema moral. Ao seu ver toda vida era preciosa e, por mais que ele não sentisse tanta inibição quanto seria contra uma pessoa, ainda assim hesitava em tomar a vida da criatura.

Já o urso, que salivava como se Kinsetsu fosse o último pedaço de carne da terra, não estava nem um pouco interessado, ou sequer consciente, nisso. Rugindo ele avançou pesadamente contra o genin. Este por sua vez, suspirou, fazendo a sakin rapidamente fluir por de trás da sua capa.

As expressões animalescas do urso se paralisaram quando ele percebeu que a presa ao fim de sua visão em túnel foi totalmente coberta por algo dourado. Completamente incapaz de reagir contra a ameaça complexa — e também com pouco foco para tal devido à fome — logo a criatura se viu presa por um agarro poderoso. A mão fechava-se ao redor do seu corpo (Rank-B), apertando-o com só a cabeça para fora.

Do outro lado da arena, Hakuryuu observava a cena com o cenho contraído. Estava contrariado, pois sentia piedade da pobre criatura, que em nada tinha culpa daquela situação. Ainda assim, o genin duvidava que poderia contra tantas pessoas de uma vez para sair vivo dali sem ter que cumprir a vontade de seus captores.

A criatura se debatia ferozmente, lutando por sua vida com toda a reserva energética que ainda lhe restava. Para ele, afinal, aquele embate também significava tudo ou nada. Diferente de Hakuryuu, porém, ele não tinha a possibilidade — mesmo que remota — de conseguir escapar dali sozinho. Ainda que sob milhares de vaias, por estar apenas segurando o urso com sua enorme mão dourada há um bom tempo, Kinsetsu estava completamente imerso em seus pensamentos. Sua mente estava buscando por alternativas, mas sem grande sucesso.

Ao que ameaças veladas foram feitas por parte do locutor do evento, o genin agarrou o cenho com as mãos. Definitivamente não teria escolha naquele assunto. Teria que tirar uma vida inocente. Todavia, fosse fazê-lo, o mínimo que poderia se certificar era de que a morte seria rápida e indolor.

Afirmando a mão dourada que englobava o urso, Hakuryuu fez mais pó de areia suspenso fluir de dentro de suas vestes. Então, concentrando esse fluxo em alta velocidade, em pleno ar formou uma espécie de lança (Rank-B). Certificando-se de que estava comprimindo a ponta afiada o máximo possível e, assim concedendo-lhe a afiação necessária, acelerou o objeto na direção do crânio da criatura com a maior intensidade que pode.

A morte foi anti-climática. Após um assobio da ponta da lança — que emergia do chão, esticando-se na diagonal — contra o ar, os rugidos desesperados da criatura simplesmente cessaram. Fora uma morte limpa, pelo menos. No entanto, a plateia não gostara nem um pouco. Eles queriam ver violência, sangue e sofrimento. Só que Hakuryuu definitivamente não entregaria o que queriam por conta própria.

A locução, àquela altura, permaneceu em silêncio. Era como se tivessem se retirado para discutir algo no backstage. Enjaulado na arena, e vigiado por vários nukenins estrategicamente posicionados ao redor, Kinsetsu não pode senão esperar pacientemente pelo próximo desafio. Seja lá qual fosse o horror que conseguiriam inventar de última hora.

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Superação de Defeito: Código de Honra — Humanitário #2

A decisão do backstage tinha que ser rápida. A plateia parecia estar bastante desgostosa com a situação. Todavia, Kin não nutria qualquer simpatia que fosse para com os sentimentos daqueles bárbaros ao seu redor. Jamais lhes daria o gosto de violência que tanto buscavam.

Não poderia dizer que se orgulhava de não ter hesitado em tirar a vida do urso. Todavia, se não tivesse o feito, poderia estar numa situação bem complicada agora. Qualquer ferimento mais profundo que o fizesse sangrar continuamente seria perigoso. Certamente não teria acesso a atendimento médico ali. E, até que conseguisse chegar em sunagakure, talvez já tivesse sangrado até a morte. Orgulhava-se menos ainda por estar convicto de que continuaria sacrificando mais animais.

Os showrunners não poderiam e, efetivamente, não deixaram que a plateia ficasse esperando demais. Logo o locutor voltou, novamente animando a plateia com dizeres absurdos e violentos. Kinsetsu não estava tão nervoso. Considerando seus poderes, estava razoavelmente no controle da situação. Duvidava que conseguissem jogar algo que fosse realmente perigoso para sua areia dourada. Mesmo assim, duvidava que conseguisse escapar com tantos nukenins de guarda.

“Contanto que isso não envolva pessoas… Acho que consigo escapar nos termos deles” — ingênuo, Hakuryuu disse mentalmente para si.

Escolhendo ter fé de que não envolveriam seus colegas ou inocentes, inicialmente Kinsetsu se viu aparentemente correto.

Logo, as três grades metálicas situadas no ponto norte, leste e oeste da arena se abriram, revelando 1 par de olhos brilhantes cada. O som do rugido era inconfundível. A criatura não era nativa de sua região, mas seu som era tão característico que Kinsetsu não precisou que os leões se revelassem das sombras para identificá-los. Em meio aos gritos ensandecidos da plateia, o genin arregalou os olhos. As coisas pareciam estar começando a sair de controle ali.

Tentando cercá-lo, os três leões começaram a caminhar lentamente, analisando o genin como o genin os analisava. Eles pareciam procurar uma brecha. Ao mesmo tempo, Kin buscava prever o momento em que atacariam. Entretanto, os felinos, assim como o urso, pareciam famintos demais para coordenar suas ações. Então, assim que notou o primeiro contrair de músculos por parte dos inimigos, Hakuryuu ergueu um pilar de areia dourada vertical sob seus pés (Rank-B).

Quando os leões finalmente puderam chegar no alcance do genin, deram de cara com o cilindro dourado. Tendo sido elevado no ar pelo prisma crescente, como num elevador, Kin teve uma boa vista dos leões atordoados no chão. Como bem esperava, porém, o tal impasse não duraria muito e logo eles tentariam cravar suas garras para subirem no pilar, como quando sobem em árvores atrás de presas mais ariscas.

Ao que os três felinos deram sinais de que iriam agarrar às 11, 12 e 1 horas do pilar, Hakuryuu soube que teria que agir. Fez o pilar deslizar para trás, aumentando o tempo que tinha e, enquanto fazia fluir mais sakin de suas vestes, preparou-se para desferir o golpe fatal. Aproveitando-se da areia do pilar, Kinsetsu socou a face superior sob seus pés. Este prontamente começou a colapsar sobre si, liberando sua areia para todos os lados e, consequentemente, empurrando os leões para um pouco mais longe.

Então, aproveitando-se da baixa visão das criaturas na nuvem de pó de ouro, Hakuryuu faria a maior onda de areia dourada que conseguisse (Rank-B). Buscando englobar os três leões em sakin, dessa vez viu-se amargamente impedido de fazer algo limpo. Lançando à onda adiante, logo os leões se viram em meio às correntezas oscilantes de um profundo e agitado mar de ouro. Certificando-se de que ficariam totalmente cobertos, Hakuryuu logo comprimiu a areia aos seus arredores.

Ao que o sangue emergiu por entre as partículas de ouro, a plateia, que até então estivera boquiaberta com as ondas douradas, subitamente começou a gritar. Kinsetsu, extremamente desapontado consigo mesmo, apenas observou a cena com uma forte expressão de desgosto no rosto. Não teve outra escolha. Mas, ao finalmente fornecer o que os showrunners tanto queriam, eles o liberariam daquela vez, não é?

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Superação de Defeito: Código de Honra — Humanitário #3

Novamente, o locutor pareceu desaparecer de seu posto ao microfone. A plateia estava animadíssima, aos berros diante da demonstração de antes. Kinsetsu já supunha que os organizadores deviam estar tramando como capitalizar ainda mais aquela euforia. No entanto, ingênuo, não imaginava que o plano envolveria ele. Tinha dado o que queriam, o liberariam para que comemorassem a conquista da liberdade por parte de um gladiador. Assim pensou. Todavia, logo ouviu novamente o barulho de um dos portões de ferro abrindo.

O genin permaneceu de olhos arregalados, sem reação. O nukenin, porém, avançava das sombras do interior do portão até a borda da arena com um andar e sorriso convencidos. Tamanho conforto com o local, era de se esperar que fosse um dos competidores residentes da casa e, possivelmente o campeão dali. Entretanto, Haku não estava num bom momento para perceber tais coisas. Ele tinha entrado em tilt com a ideia de que teria que morrer ou matar alguém para sair dali. Na realidade, sua mente ainda lhe impedia de sequer visualizar a cena dele matando uma pessoa. Estava num estágio de negação, congelado imaginando que algo, alguém, alguma coisa interviria naquela situação terrível. Quer dizer, as coisas não podiam ser tão injustas assim a ponto de obrigar um inocente a marcar sua alma com algo tão terrível quanto o assassinato, não é?

O olhar do nukenin do outro lado da arena era tão sedento quanto ao das bestas que Hakuryuu enfrentara. No entanto, diferentemente deles, não era comida que o nukenin desejava. Era algo muito mais selvagem e despropositado do que isso. Fosse uma causa compreensível como comer era até menos mal, mas aquele indivíduo apenas estava ali para causar dor e morte. Nada mais. Kinsetsu naquele momento não conseguia pensar em qualquer objetivo mais desprezível que esse.

Em meio à indecisão do genin, o oponente finalmente decidiu agir. Sem piscar, com os olhos fixos em Kin, o nukenin sacou uma kunai e avançou contra ele. Até então em choque, foi como se Hakuryuu conseguisse sentir a sede de sangue do inimigo à distância. Subitamente o garoto acordou, percebendo que o nukenin não estava mirando em pontos vitais. Pelo contrário, não parecia querer que o genin de suna morresse tão cedo. Todavia, por não estar com a cabeça no lugar, a única coisa que Hakuryuu conseguiu pensar foi em se proteger. Logo, uma boa quantidade de sakin simplesmente surgiu de suas roupas, condensando-se em uma esfera oca ao seu redor (Rank-B).

Do lado de fora, o nukenin sanguinário socava, esfaqueava e chutava a esfera dourada. Graças ao seu alto poderio defensivo (120 + 175), inicialmente o inimigo viu seus golpes físicos serem absolutamente ineficazes. Ele estava visivelmente enfurecido com a situação, bradando nomes e ofensas para Hakuryuu em seu interior. Apesar disso, ele sabia muito bem que a proteção não poderia durar para sempre.

No interior da esfera, Hakuryuu estava completamente amedrontado e inerte. Agarrado em posição fetal, concentrando o máximo de si para isolar-se das ameaças externas com sua sakin, o garoto balbuciava coisas sem sentido. Era como se ele estivesse em discussão consigo mesmo, buscando alguma solução irreal para aquela situação cruel em que se encontrava.

Quantos mais socos e chutes a bolha de areia dourada aguentaria? Hakuryu sabia, no fundo, que os primeiros sinais de fadiga começavam a surgir.

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Superação de Defeito: Código de Honra — Humanitário #4

Em meio à escuridão e cacofonia produzidas pelos golpes e xingamentos do inimigo do lado de fora, Hakuryuu permaneceu em posição fetal por mais alguns instantes. Ele não queria aceitar a realidade. Não era possível que lhe obrigariam a tirar a vida de outra pessoa. Eles não eram aliados? Por que entregá-lo à morte, mesmo que fosse apenas em possibilidade? Por que o próprio sujeitava-se a isso? Ainda que vis, era de se esperar que pelo menos tivessem apreço um pelo outro, não? Kinsetsu dizia isso para si na esperança de que eventualmente desistissem daquela ideia sórdida.

Era essa a consolação que tinha. Considerando o poderio defensivo de sua areia, supunha que eventualmente eles desistiriam da ideia de tentar alcançar Hakuryuu. Quer dizer, eles perceberiam serem fracos demais e tentariam recuar. Claro, ele não atacaria, mas faria grandes construtos na intenção de assustá-los, assim como um gato assustado eriça os pelos para parecer maior.

Em seu abandono da realidade, com os olhos arregalados, o genin finalmente emergiu se sua posição fetal. Ele observava os arredores atentamente, esperando o tal momento. Estava certo de que os barulhos das tentativas de arrombamento cessariam e, então, ele poderia saltar para assustar o inimigo com uma enorme onda de sakin.

Todavia, em sua deserção dos fatos, sua capacidade de julgamento fora gravemente prejudicada. Esperando parado por um momento que simplesmente não iria acontecer, o rapaz foi surpreendido com algo impensável para ele. Claro, houve uns instantes de calmaria, os quais foram capazes de arrancar um sorriso de esperança do rapaz. No entanto, a próxima coisa que viu foi uma onda de impacto que o jogou para longe, em direção à parede da arena.

Eventualmente cansado de socar e chutar a sólida esfera dourada e não obter quaisquer resultados, o nukenin decidiu aproveitar-se do tempo que Hakuryuu lhe ganhara. Colou algumas tarjas explosivas concentradas numa região específica da superfície da esfera e se distanciou, tapando os ouvidos. Naturalmente, a durabilidade da esfera já tinha caído em uma boa quantidade e aquele definitivamente fora a gota d’água. Kinsetsu teve sorte de uma parte da explosão ainda ser mitigada pelo restante da durabilidade da esfera, mas ainda assim fora jogado para longe.

Oculto pela nuvem mista de poeira e pó de ouro levantada pela explosão, Hakuryuu pelo menos teve uma trégua para poder receber o tapa de realidade na cara adequadamente. Cauteloso para não ser surpreendido pela falta de visual, o nukenin decidiu esperar do lado de fora para ver se identificava um oponente moribundo para torturar. Nesse meio tempo, porém, Kinsetsu teve alguma chance de se recuperar do atordoamento causado pela explosão. Dessa vez, porém, fragmentos de uma memória antiga pareceram revisitar.

“Ninja? Tem certeza? Não acha uma vida um pouco dura?” — uma voz feminina tentando parecer educada, mas ainda meio incrédula, ecoou em sua mente.

“É só questão de tempo. Uma hora essas suas fugas e contornos não vão poder te salvar. A vida de um shinobi é assim. Você deveria ter escolhido algo mais fácil.” — uma voz masculina firme, mas um tanto desapontada, também ecoou logo em seguida.

Inicialmente, foi como se ele tivesse atingindo seu ponto mais baixo. No entanto, quando pensou ser seu fim, algo dentro dele simplesmente pareceu falar “não”. Como se fosse um líquido fervente transbordando, um sentimento de determinação, assim como suas memórias, também veio à tona. Mostraria que eles estavam errados, que não o conheciam tão bem quanto achavam conhecer. Assim como ele muito bem já sabia, pelos tanto que tivera que suportar por todos esses anos, provaria para eles que bondade não era sinal de fraqueza.

Erguendo-se decididamente, com uma sombra no rosto o rapaz rapidamente começou a executar alguns selos. Rastros de sakin começaram emergir de suas vestes um a um, dançando ao redor do garoto cada vez em maior número e mais concentrados. Ao fim da sequência então, agachou-se tocando ambas as mãos no chão.

Ao baixar da poeira, diante da cena de um Hakuryuu prostado, o inimigo não pode senão alegrar-se. Com um sorriso maquiavélico, ele ergueu a mão com a kunai em riste e deu os primeiros passos para tirar toda gota de entretenimento que pudesse do sofrimento do prisioneiro. No entanto…

— Jiton: Sakin Taisō!! — Kin bradou, subitamente elevando um olhar fixo e determinado dentro dos olhos do inimigo.

A reação física não foi imediata, mas, no fundo, o nukenin soube que algo tinha dado errado. Pouco depois do sorriso presunçoso apagar-se de suas feições, o que parecia ser uma enorme e intimidadora onda dourada o oprimiu de cima a baixo, logo engolindo-o por completo.

Ao fim do ato, o círculo cercado por paredes inferiores à plateia parecia uma piscina de ouro puro. Não era possível ver mais as placas de rocha que formavam o chão da arena e a audiência permanecia inerte, em choque. Hakuryuu tinha cuidado para que, pelo menos, a morte fosse rápida. No entanto, dessa vez não fora gentil como com o urso. Optou por algo mais semelhante aos leões. Dessa vez, porém, fora proposital. Logo, em reação à pressão exercida, sangue lentamente emergiu para a superfície alguns metros adiante de Hakuryuu, quase como se de fato fosse água.

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Superação de Defeito: Código de Honra — Humanitário #4

Ao que a realidade dos fatos finalmente pareceu penetrar nas cabeças das pessoas da plateia, gritos de euforia ecoaram por todo o ambiente. Para Hakuryuu era uma situação terrível, mas para eles não era diferente de um show. E um show bastante satisfatório, diga-se de passagem. No entanto, ao elevar os olhos para a bancada do locutor à distância, os responsáveis não pareciam tão felizes assim. Cochichavam alguma coisa longe do microfone. A casa de apostas não devia estar nada contente. Algo que, na realidade, deveria ser de se esperar. As pessoas deviam ter preferido apostar no lutador residente do que num completo desconhecido recém-capturado. Entretanto, numa completa reviravolta, esse estranho tinha saído vitorioso e a casa teria perdido dinheiro.

Kinsetsu tinha seus temores quanto ao que tramavam, mas já não era mais o mesmo. Cercado por sua areia, fixou o olhar nos homens na plataforma acima da plateia. Não demorou muito para que eles percebessem e se distraíssem de sua conversa. Nesse momento, o genin lhes lançaria um olhar bastante ameaçador. Se ele tinha feito aquilo com o campeão deles, acabar com eles deveria ser fichinha. Hakuryuu sabia disso, eles sabiam disso. No entanto o seu olhar referia-se especificamente a honrarem as condições que haviam imposto.

O genin estava cansado, mas eles não precisavam saber disso. Hakuryuu buscou manter-se o mais neutro possível em sua linguagem corporal. Os showrunners pareceram hesitar inicialmente, contudo, ao que Kin moveu suas mãos dando meros sinais de que iria executar mais selos, um deles prontamente avançou em direção à mesa do locutor. Desesperado, pareceu acionar um botão que desencadeou na abertura de um dos portões da arena. O genin fitou as sombras dentro dele, um tanto incrédulo. Todavia, aparentemente uma série de portões se abriram, revelando uma pequena luz no fim do túnel.

Após lançar mais um olhar fulminante para os organizadores, o garoto iniciou uma caminhada serena até a saída. Sentia dores por todo o corpo, mas manteve-se forte para não deixar isso transparecer. Com a coluna reta e os braços soltos ao lado do corpo, sumiu nas sombras do portão da arena. Sua calma não passava de uma farsa, afinal, a realidade era que estava sem energia para sair correndo dali. No entanto, enquanto a calma e aparente domínio da situação fossem vantajosos para ele, continuaria fazendo uso deles.

Longe do local, o rapaz finalmente pode soltar-se um pouco e voltar a se queixar de seus incômodos para si. Caminhou um pouco a esmo na região sul do País do Vento. Todavia, não demorou tanto assim para que se orientasse no espaço novamente.

Sem energia sequer para ficar ansioso em voltar para casa, o garoto com expressões sonolentas avançou lentamente até sunagakure no sato. Chegando lá, reportaria o resultado de sua missão e procuraria por atendimento de iryonins. Ao que tudo fosse resolvido, voltaria para casa para finalmente descansar um pouco. Estava meio sem paciência, afinal.

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