No início da noite e no meio do inverno de Suna, Kohina teve uma ideia de treino para realizar – tratava-se de um teste de resistência bem peculiar. A primeira pessoa que ela pensou foi Tanaka, já que imaginava que ele seria tão doido e desocupado quanto ela para sair nesse frio, mas infelizmente, e para a sua total surpresa, ele estava ocupado com outras questões. Então sobrou pra ela pensar em quem mais teria coragem para se jogar de cabeça nesse desafio. Ainda querendo colocar a mão na massa, a Senju se questionou sobre Hakuryuu, o parceiro de uma missão anterior que mexia com um pó esquisito. Será que ele seria corajoso e jovem o suficiente para o seu teste de resistência? Só perguntando pra saber – até porque o não ela já tinha, então iria feliz atrás da humilhação.

「Onde será que eu vou achar esse doido?」A garota rodou pela vila tentando encontrar o rapaz, mas não foi assim tão simples, já que nem ela sabia onde ele morava. Após algumas voltas nas ruas e até mesmo subir em alguns prédios, ela estava prestes a desistir da busca para dar início ao treino solo. Felizmente, por coincidência também, Kohina acabou encontrando o ninja, identificando o diferencial tom branco pálido dos seus cabelos. Que sorte, não?

– EEEEEEEEEEEI, Hakuryuu! Que tal um treino de resistência de última hora?! Nada melhor do que terminar o dia com a consciência limpa e o corpo treinado! Pensei em um teste perfeito! – A kunoichi gritava para ele, assustando qualquer um que andava no silêncio da noite e ignorando o cheiro de álcool que sentia. – Basicamente vamos usar nosso chakra pra subir em um prédio e ficar em pé na parede até a hora que a gente aguentar. O que acha?

Kohina não se lembrava de ter dificuldades para controlar seu chakra durante sua infância, então andar pelas paredes não deveria se mostrar um problema assim tão grande. Porém, ela já havia ponderado sobre aquilo, e pretendia colocar algumas metas adicionais para si mesma. Enquanto estivesse pendurada, pretendia fazer exercícios na parede, o que já deveria aumentar o nível do desafio.

LEGENDA:
Fala de Kohina: – Texto
Pensamento de Kohina: 「 Texto 」

Suzaku aproveitaria bastante aquela noite. Não era de dormir cedo e gostava de ficar se entretendo até altas horas. Fazia tudo, desde ler livros, assistir filmes, beliscar coisas e, claro, dar uma molhada no bico aqui e ali. Considerando o friozinho de inverno, a coisa estaria ainda melhor do que o de costume. Poderia fazer tudo aquilo coberto por uma daquelas mantinhas soft, super baratinhas — e, provavelmente, super vagabundas —, mas que eram incrivelmente macias e quentes. Recentemente tinha até mesmo adquirido uma com duas mangas costuradas para que fosse possível ficar só com as mãos e a cabeça para fora da coberta de forma bem conveniente.

No entanto, aqueles céus azuis não durariam tanto tempo assim. Recém-saído de casa para passar em alguma conveniência, comprar alguma besteira de comer e iniciar sua maratona de filmes, Hakuryuu sentiu um arrepio subir pela nuca ao reconhecer o tom da voz atrás de si. Lá vinha ideia errada.

Tinha sido metralhado de informações pela kunoichi, mas respirou um pouco para se concentrar e responder às coisas na ordem certa:

— Primeiramente, boa noite, Kohina-san — disse, logo que se virou para ela com uma expressão apaziguadora. — E… treinar até a exaustão no meio da noite fria? — ele até queria ter completado com algo mais, mas a ideia de substituir a maratona de filmes super confortável por um treino exaustivo simplesmente impediu seu foco para pensar. Apenas manteve uma expressão persistente no rosto. — Tem certeza? — manteve-se fixo, preso no pesadelo imaginário.

No entanto, o garoto reconhecia a necessidade de treinarem. Na real, sentia até um pouco de remorso por não ser tão cheio de energia e disposto para aquele tipo de atividade. Gente assim costumava ser mais saudável, né? Ele não queria, mas Kohina nem sequer precisaria se dar ao trabalho de insistir. Já havia um dilema interno e dois Kins minúsculos brigando dentro da mente do ninja. A consciência de Kinsetsu já era uma encarregada competente o suficiente para chutar a sua bunda na argumentação e fazê-lo a prosseguir com a opção menos desejada.

Após alguns instantes fixos na expressão de desgosto, cruzou os braços e levou uma das mãos ao cenho:

— Beleza. Eu vou — ainda com a mão no topo do nariz, de cara para baixo e olhos fechados, respondeu à garota pausadamente.

Não estava acreditando nele mesmo. Mas, fazer o quê? Era ansioso demais para voltar atrás. Ficaria com remorso o resto da noite por não ter conseguido dizer o famigerado “tá pago” no fim do treino. E essa sensação com certeza estragaria sua noite de filmes. Quer dizer, Kohina não dava conta de virar a madrugada presa numa parede, dava?

De qualquer forma, queria dar cabo logo com aquilo. Seguiria as instruções da garota sobre o que fazer, em que prédio subir, etc.

Legenda:
Falas: — Texto | Pensamentos: "Texto"

– Tá combinado então! – respondeu Kohina para o novo parceiro de treino.

A Senju se dirigiu até uma parte mais tranquila da cidade, onde percebeu uma redução no fluxo de pessoas curiosas. O local era quase um beco, na verdade estava mais para uma ruela menor e um pouco menos iluminada do que as outras regiões principais, mas possuía alguns prédios altos que poderiam ser usados no seu treino. A quantidade menor de passantes a deixava mais tranquila sobre andar por aí verticalmente. 「Não deve ser crime andar por aí, né?」 Ela não sabia se havia alguma regra específica sobre caminhar sobre os prédios em Suna, ainda assim, isso não queria dizer nada sobre ter essa liberdade toda de escalar por aí a essa hora da noite. Afinal, as pessoas poderiam não gostar do ato pra lá de suspeito, e achar que ela pretendia roubar, invadir ou algo do tipo.

Ainda assim, ela não iria desistir. Queria treinar e tinha um teste perfeito para isso, ponto final. Aquele horário deveria separar gente ativa e focada do restante preguiçoso e conformado, então ela ficava bem feliz que não se encontrava no grupo das preguiçosas. Kohina identificou um prédio que não tinha o formato arredondado, nem inclinado para não facilitar as coisas, com as laterais bem retas e com poucas janelas. Ou seja: um ótimo prédio para escalar.

– Hakuryuu, essa parede aqui parece ótima – a garota encostou a mão na parede do edifício identificado. Parecia bem sólida e segura, mas caso não fosse, não ia ter como saber também, mesmo com sua última experiência como auxiliar de pedreiro.  – Vamos começar! É só ficar aqui até a hora que aguentar! – falou a garota, como se aquela fosse a ideia mais genial do mundo.

A garota concentrou chakra nos pés e começou a subir no prédio sem sentir maiores dificuldades, lembrando-se do treino Ki Nobori no Shugyō. Quando percebeu que estava simples demais, começou a fazer alguns agachamentos.

LEGENDA:
Fala de Kohina: – Texto
Pensamento de Kohina: 「 Texto 」

Técnicas Utilizadas:

Kin seguiu a Senju pela cidade um tanto perdido em pensamentos. Claro, sabia desde a academia como utilizar o jutsu de caminhar pelas paredes. No entanto, estava genuinamente preocupado em como poderia fazer aquilo melhor. Como se tornar mais eficiente naquela tarefa? Duvidava que fosse conseguir aquilo naquela noite, mas tentar pensar no assunto não machucava, afinal.

Logo, o garoto se viu entrando em uma parte bem mais tranquila da vila. A quantidade de pessoas não só tinha reduzido, como também a Senju pareceu ter encontrado um local bem mais discreto. Estava quase para um beco e era até meio mal iluminado, mas considerando que não fazia a mínima ideia se andar pelas paredes externas era invasão de propriedade… Talvez fosse melhor que o local fosse mais escondido mesmo. Quanto menor a chance das pessoas da rua ou de dentro dos prédios vê-los, menor a chance daquela ideia dar errado.

Hakuryuu não sabia o que se passava na cabeça de Kohina, mas a julgar pela forma como ela olhou fixamente para um dos prédios de parede reta, pode entender. Realmente, andar num daqueles prédios de paredes abauladas talvez fosse um treino um tanto pesado demais. Só andar pela parede deveria ser relativamente fácil. No entanto, como estavam ali para se desafiar, teria que fazê-lo enquanto tentasse outra atividade. Sendo assim, adicionar uma variação de ângulo talvez acabasse dificultando demais.

— Hmm, é… Parece uma boa parede — tanto tinha sido levado pela coisa, que já estava até mesmo compenetrado na tarefa de caçar boas paredes. — Boa textura, bom local… — prosseguiu, pensando no quão aleatório aquele rolê era. — Certo… — finalizou, ainda ligeiramente contrariado, mas ultimamente cedendo ao exercício.

Assim que a kunoichi deu alguns passos, subindo pela parede, Hakuryuu foi atrás. Próximo da mesma, fechou os olhos para se concentrar nos pés e, assim que sentiu o chakra fluir em sua keirakukei plantar numa intensidade adequada, deu o primeiro passo. Depois outro, e mais outro… Até que se viu na mesma altura que Kohina.

Treinamento físico não era sua praia, por isso focaria em outro tipo de atividade paralela. Bom, seu foco era manipulação de sakin. Por isso, se conseguisse manipular enquanto paralelamente fazia outras atividades, talvez começasse a entender melhor o que tinha que fazer para começar a se aprimorar. Mas, começaria de leve. Tirando uma pequena quantidade de areia de suas vestes, formaria 1 pequeno cubo de 3 cm de lado (Rank D). Ao que se certificasse de que o fluxo em sua região plantar não estava minguando, prosseguiria criando, um segundo. Novamente chegado, um terceiro. Faria o mesmo até chegar ao quinto cubinho. Então, de forma meditativa, manteria-os flutuando ao seu redor. Veria até onde conseguia fazer mais de uma coisa por vez.

Legenda:
Falas: — Texto | Pensamentos: "Texto"

Técnicas Utilizadas:

Kohina subiu na parede, confirmando que ela era realmente estável, e viu Hakuryuu vir logo em seguida. Passado um tempo, a kunoichi estava confortável demais ali, então ela precisava colocar o corpo para trabalhar e transformar aquilo em um verdadeiro teste de resistência. Começou fazendo alguns agachamentos, mas não pareceu uma dificuldade real. Ela seguiu fazendo algumas flexões deitada e abdominais também. Percebeu Hakuryuu fazendo uns movimentos com o pó esquisito e imaginou que aquilo deveria precioná-lo de alguma forma.

As horas começaram a passar e a Senju continuava tentando alongamentos e outros exercícios. Quando as ideias sobre o que fazer iam se esvaziando, começou a se equilibrar em um pé só. Só que fez isso meio que de repente, e ao retirar um dos pés da parede, viu seu corpo escorregar alguns centímetros em direção ao chão.

– Opa! – foi tudo o que precisou falar, tempo suficiente para ela recompensar o chakra e voltar a ficar estável no lugar.

Ela aproveitou para forçar ainda mais – tirar o calcanhar da parede, afastar a parte central do pé, até que finalmente estava só usando as pontinhas dos dedos para fazer aquilo. Repetiu todos esses movimentos com os outros pés e começou a usar só as mãos. Seu chakra fluía de forma excepcional, nem precisava de muito esforço para isso.

Por fim, Kohina ficou sem ideias sobre o que fazer enquanto estava ali, plantada verticalmente naquela parede, bem paradinha. Agora ela estava suada e enfrentando o vento gelado que sentia na pele. O que aconteceu a seguir não estava nos planos da kunoichi…

– MARGINAIS! SOCORRO! TÃO TENTANDO INVADIR O APARTAMENTO!

Uma mulher tinha colocado a cabeça para fora da janela e, vendo aqueles dois escalando uma parede sem qualquer motivo aparente, começou a gritar e pedir socorro. Afinal, era algo suspeito mesmo. Kohina até tentou falar alguma coisa, mas a mulher não queria saber, continuando no seu cosplay de sirene humana na certeza de que se tratava de dois meliantes tentando arrombar uma janela.

– HAKURYU, ACABOU O TESTE DE RESISTÊNCIA! VAMOS DAR NO PÉ, RÁPIDO! – com a reputação a zelar, o treinamento se deu por concluído. A Senju se despediu do companheiro e voltou pra casa o mais rápido possível.

LEGENDA:
Fala de Kohina: – Texto
Pensamento de Kohina: 「 Texto 」

Após algumas horas meditando suspenso, Hakuryuu abriu os olhos para ver os arredores. Não era tão bom naquela tarefa, por isso já supunha que aquele talvez fosse o seu limite. Estava perdido quanto ao método que poderia usar para superar aquela barreira, mas estava satisfeito. Pelo menos, tinha encontrado os seus limites e traçado uma linha que conseguia entender.

Enquanto alternava manter os construtos de sakin inteiros e o fluxo de chakra dos pés constante, observou a cidade ao longe. Contemplou por alguns instantes os pontinhos brilhantes da iluminação pública e das luzes das casas. Como sempre, estava meio aéreo e sem muita ideia do que puxar de assunto. Mas, no fim, até que o treino não tinha sido tão má ideia assim. Quer dizer, ainda parecia meio arriscado ficar colado na parede externa de alguém, mas… Até que ele não estava tão neurótico com aquilo quanto antes.

Kohina já tinha feito todo tipo de movimento esquisito para tentar se desafiar. Não era muito fã, mas certamente podia ver a utilidade para um usuário de taijutsu.

Kin estava até calmo, só que a paz não podia durar para sempre. Ele praticamente viu a cabeça da moradora emergindo em câmera lenta. Ele olhou para ela, ela olhou para ele. Após alguns instantes meio cringe, a mulher pareceu finalmente reagir. Hakuryuu se assustou, obviamente. A areia caiu de volta para o chão e o pé o genin quase descolou da parede. Kin brevemente olhou Kohina sem saber o que fazer. Ele estava em choque, até porque como um indivíduo introvertido que não gostava de sair de casa, se ver no papel de um maloqueiro era a última coisa que poderia imaginar.

Por sorte, Kohina era uma boa improvisadora. Também com uma reputação a zelar, Kinsetsu prontamente deu ouvidos à segunda sirene que soou em seu ouvido: a Senju. Correu em direção ao solo, tampando o rosto para não ser reconhecido. Seguiu para uma direção aleatória para despistar a enxerida da moradora.

Após correr alguns quarteirões sem rumo, finalmente parou ofegante. Longe da doida do prédio, finalmente tomou o rumo de casa. Cansado, nem sequer se lembrou da maratona de filmes. Apenas tomou um banho quente e foi dormir.

Legenda:
Falas: — Texto | Pensamentos: "Texto"

Técnicas Utilizadas: