Novamente aquela mesma sensação estranha, mas dessa vez sem nenhuma mudança de temperatura abrupta como sentia anteriormente. Alguns pensamentos permeavam minha mente naquele vão escuro enquanto um chiado um tanto quanto diferente do anterior. Os pensamentos eram deveras tóxicos: mentiras que culpavam os hereges pela morte de minha mãe, que culpavam-os pela morte de minha amada Morrigan, mas mentiras que para mim pareceram uma verdade irrefutável. A dor da perda apenas entrava mais em minha mente como um veneno corrupto entra na corrente sanguínea de um corpo: destruindo-o. Cada vez mais os pensamentos paranoicos vinham à tona, e eu começava a abrir os olhos e a, mais uma vez, acordar do desmaio. Entretanto, para surpresa dos mercadores que buscavam me ajudar, estes teriam visão de um homem diferente: uma camada de chakra vermelho-bordô estava a tomar conta de meu corpo, além de traços brancos lembrando ossos por todo meu corpo. Estas características já estavam presentes antes quando o selo foi ativado, mas provavelmente os mercadores ignoraram meu corpo para priorizar o incêndio da floresta, não observando as mudanças que meu corpo teria tomado. Com todas essas mudanças, ao me levantar, comecei a rir freneticamente. A dor ainda era sentida por mim, mas não tanto quanto antes e, desta vez, sentia um prazer na dor que sentia. A gargalhada sádica e macabra talvez assustariam os mercadores, mas eu não ria com este propósito, de forma alguma: meu riso era da piada que suas viadas eram, de tão frágeis que são e que, ainda assim, por tão simples e frágeis que sejam, conseguem ser culpados de mortes por simplesmente serem humanos, inclusive talvez, da morte de minha Morrigan. Isso era o pensamento que vinha em minha cabeça, porém ao pronunciar a palavra "Morrigan" em minha mente, tal palavra ecoava de forma tão intensa que o riso deu lugar a um olhar assustador e a um ódio devastador em minha face. Com um grito de ódio, balancei a Gunbai intensamente para todos os lados, tentando acabar com aquela vida medíocre de todos os mercadores ali através de rajadas de vento como finíssimas lâminas, com um fio de poder de corte imenso, capaz de cortar a garganta de um humano facilmente. Infelizmente eu ainda não estava forte o suficiente para manter-me muito tempo de pé, e logo comecei a suar novamente. Apoiado em um joelho, lentamente caí para o lado no chão, porém novamente segurando a Gunbai firme em minhas mãos, e aos poucos comecei a fechar meus olhos, sem forças, desmaiando mais uma vez.

Mais uma vez, acordava de um desmaio. De fato estava fraco, mas aquele tal poder, aquela bênção dada a mim por Morrigan, parecia ter me salvado. Eu não sentia mais as dores da queimadura ao acordar, mas teria tido um sonho estranho... Um sonho onde eu teria atacado inocentes e matado-os, por simplesmente existirem e, por esta razão, terem ocasionado minhas dores e sofrimentos. Tudo isso parecia ter sido um sonho, porém, ao levantar-me a face, tive a horrenda visão de várias pessoas mortas à minha frente. Apesar das lágrimas quererem sair de meus olhos, elas não o fizeram. Minha dor da perda de Morrigan teria sido pior do que o que eu havia feito, mas o medo de mim mesmo continuava a me assolar enquanto levantava-me e caminhava à frente, colocando a Gunbai às minhas costas. Alguns mercadores ainda tinham forças para gritar palavras de ódio contra mim, que apenas fiz aceitá-las. Eu sentia-me um verdadeiro monstro. Mais alguns passos à frente, várias máscaras se dispuseram ao chão, fruto de uma grande mochila cheia das mesmas, como mercadorias. Peguei a de meu maior agrado, coloquei-a à face e avancei em direção à Konohagakure: estava na hora de voltar para casa após tanto tempo.