猿飛一族

A névoa de Shimogakure pairava como um véu denso e gelado, tornando o cenário indistinto, quase ilusório. A cada passo, a geada parecia responder com um leve ranger sob as botas, o som reverberando como uma lembrança de que ali, em meio ao silêncio, cada movimento importava. Observando o contorno das árvores, cujos galhos estalavam sob o peso do gelo, um pensamento veio à tona, familiar e incômodo. “Seria estranho admitir que essa paz me sufoca?” O silêncio, que por tantos anos soou como um refúgio, agora era uma presença insistente. Uma paz tão espessa que quase parecia pedir para ser quebrada.

Cada detalhe da paisagem passava como uma pintura antiga, observada tantas vezes que já se tornara parte de um ritual. “Mas e se algo se mexer?” perguntei a mim mesmo, a voz no pensamento mais carregada de curiosidade do que apreensão. A patrulha seguia tranquila, como um dever automático. Talvez até simples demais. No fundo, uma inquietação que não era nova: a impressão de que um propósito maior deveria se desenrolar ali, entre aquelas árvores cobertas de geada.

O olhar vagava de um lado para outro, atento ao mínimo movimento. Mas o cenário ao redor permanecia imutável, a cada passo revelando apenas novas formas de silêncio. Com um leve suspiro, deixei que a mente retornasse ao passado, às memórias da infância em Kumogakure, onde o vento era constante e cada canto da vila parecia vivo, pulsando. “Este lugar é diferente,” pensei, meio sem querer, reconhecendo a solidez da geada, a estranha calma que congelava até os pensamentos mais insistentes.

A certa altura, parei. O ar ali estava ainda mais denso, mais frio. As árvores, altas e escuras, envolviam tudo como guardiãs da vila. Baixei o olhar, observando os pequenos cristais de gelo se formando no casaco, reflexo do vapor que saía com a respiração. —— Tudo quieto demais... —— disse em um murmúrio quase inaudível. Sabia que não era comum falar, mas as palavras escaparam sem permissão, como se fossem mais uma verificação de que aquela tranquilidade não escondia nada.

Um estalo leve, mais adiante, quebrou o pensamento. Meus sentidos despertaram, tensos. A mão quase se moveu em direção aos equipamentos, uma reação treinada que logo se dissolveu ao perceber que o barulho não era mais que o galho de uma árvore se partindo sob a geada. Sorri, relaxando. “Imagina só, assustado com a própria sombra… ótimo começo.”

O restante da patrulha seguiu sem sobressaltos, e, ao fim, com a vila surgindo à distância, uma sensação ambígua tomou conta. Parte de mim queria encontrar algo que desafiasse aquele silêncio. Mas outra, talvez mais sensata, reconhecia a fortuna de uma missão sem incidentes. A paz que Shimogakure guardava era como um pacto silencioso entre o passado e o presente. "Será que um dia irei me sentir realmente parte disso?", perguntei em pensamento, enquanto a vila se aproximava, tranquila e adormecida. A resposta talvez surgisse em outro dia, outro turno.