O veículo serpenteava por estradas cada vez mais estreitas e sinuosas, deixando para trás o burburinho da cidade e mergulhando em um mundo de sombras e segredos. Shion, Angell, Katsura e Opus sentiam o peso da missão que tinham pela frente, cada quilômetro percorrido os levando mais fundo não apenas na zona rural, mas em direção a um passado há muito enterrado.

Finalmente, emergiram diante de uma chácara quase engolida pela vegetação exuberante. Para Angell, o lugar pulsava com memórias nebulosas de outra vida, outro tempo. Para Shion e Katsura, era um retorno às raízes de seu amor, o local onde tudo começou.

Desceram do carro em silêncio, o ar carregado de expectativa e um toque de apreensão. Shion liderava o caminho, seus passos hesitantes traindo a batalha interna que travava. Katsura o seguia de perto, seus olhos brilhando com determinação feroz. Opus e Angell vinham logo atrás, trocando olhares carregados de significado.

No fundo da propriedade, um jardim se revelou, como um oásis de paz em meio ao caos de suas vidas. Um pequeno lago refletia o céu noturno, e uma árvore ancestral se erguia majestosa, suas raízes profundas como os laços que uniam aquela família peculiar.

Shion se aproximou da árvore, seus dedos traçando suavemente as iniciais entalhadas há tanto tempo: K + S 4ever. Um sorriso melancólico brincou em seus lábios enquanto memórias de dias mais simples inundavam sua mente.

Com movimentos deliberados, quase ritualísticos, ele removeu o paletó e arregaçou as mangas. Virando-se para os outros, sua voz saiu rouca, carregada de emoção contida:

Então, vamos começar.

Seus olhos percorreram o grupo, detendo-se em cada rosto por um momento antes de continuar:

Você precisa entender exatamente o que aconteceu. Quando sua mãe me trouxe de volta, ela não conseguiu extrair o pacote completo. Primeiro, se ela tivesse, ela nunca conseguiria me controlar. Segundo, às vezes ela precisaria de traços do verdadeiro eu. Mas existe uma forma melhor de demonstrar como estão as coisas aqui.

Abaixando-se, Shion pegou uma folha seca, inteira mas frágil. Seus olhos brilhavam com uma intensidade quase febril enquanto explicava:

Essa é minha alma.

Seca em demonstração real, Opus não pôde evitar o comentário sarcástico, recebendo um olhar de reprovação de Shion.

Com gestos cuidadosos, Shion partiu a folha em dois pedaços iguais. A alma, para ser dividida, já cria uma boa bagunça no dono. Mas não foi dividir em dois que sua mãe fez.

Fechando os pedaços em sua mão, ele os amassou lentamente. Ao abrir, dezenas de fragmentos caíram, dançando no ar como confetes macabros de uma celebração sombria.

É assim que as coisas estão agora, ele concluiu, sua voz mal passando de um sussurro.

Katsura se aproximou, sua presença uma âncora em meio à tempestade emocional de Shion. Colocando a mão sobre a testa dele, ela perguntou com suavidade:

Tem tido alucinações? Seus sonhos, como eles são? Costuma ver momentos antigos demais, mas era como se tivesse vivido eles hoje?

Shion segurou a mão dela com delicadeza, um sorriso triste brincando em seus lábios. Não dá pra esconder nada de você, não é?

Katsura sorriu em resposta, afastando-se levemente. Shion, uma centelha de esperança em seus olhos, perguntou:

E aí, sabe como resolver?

Katsura se voltou para Angell, seu olhar intenso e carregado de significado:

Por isso a Angell está aqui. Tenseigan, não é? Ela consegue ver coisas muito além que qualquer outro. Se ela já atingiu a capacidade máxima desses olhos, logo logo passado e futuro, ela será capaz de ver tudo isso. Da mesma forma, o olho dela consegue ver o interior das pessoas, mas não somente o físico, o espiritual. Agora mesmo, eu acredito que ela consiga ver sua alma fragmentada. Mas não é pelo lado de fora que vamos precisar resolver isso. Ela vai precisar entrar lá dentro, e aí que eu entro.

A entrada eu posso sugerir um lugar? Opus não resistiu à provocação, recebendo um galho arremessado por Shion em resposta.

Para de graça, caramba! É da minha alma que a gente tá falando, Shion retrucou, uma mistura de irritação e nervosismo em sua voz.

Como Angell vai fazer isso, Katsura? Shion perguntou, a ansiedade evidente em sua voz.

Para alguém que usa um doujutsu chamado olho da reencarnação, você é bem tapado, ein? Katsura provocou, antes de explicar: Eu preciso fazer um entrelaçamento espiritual. Basicamente, Angell vai fazer com você um processo semelhante ao que eles chamam de Jinchuuriki. Eu vou selar o corpo dela dentro de você. Mas aí que chega o Opus: ele tem a marca do Sol. Com essa marca, Angell está protegida e livre de controle. Ou seja, mesmo que você absorva ela, ela vai ser um, você vai ser outro, e mais o que estiver aí dentro.

Certo, Shion assentiu, processando a informação. Eu sei do Tenseigan, mas por que você não entra junto com ela?

O rosto de Katsura se contorceu em uma expressão de negação e preocupação:

Lilith... Nós derrotamos a Lilith do mundo da Angell, mas a minha vive e está dormindo. Eu acredito que não seria sensato arriscar colocar meu corpo e alma com uma demônia vingativa dentro de seu corpo. Ainda mais que, uma vez dentro, ela tem liberdade para ver tudo que quiser. Imagina se ela espiar um momento no passado e resolver se manifestar mais forte.

Shion e Opus trocaram olhares carregados de compreensão e apreensão. O ar ao redor deles parecia vibrar com energia mística, as sombras da noite dançando ao redor como espectadores silenciosos deste ritual arcano.

Katsura começou a se preparar, seus movimentos fluidos e precisos como os de uma dançarina executando uma coreografia sagrada. Shion, sentindo o peso do momento, chamou:

Gyuki-san!

Em um instante, os olhos de Angell se avermelharam, sua voz mudando para um tom masculino e profundo: Eu estou de acordo!

Um suspiro de alívio escapou dos lábios de Shion. Os três se voltaram para Angell, a pergunta pairando no ar como uma nuvem carregada:

E você, de acordo?

O silêncio que se seguiu era denso, carregado de expectativa. A resposta de Angell determinaria não apenas o destino de Shion, mas potencialmente o futuro de todo o reino. A noite parecia prender a respiração, aguardando a decisão que lançaria todos eles em uma jornada através das profundezas da alma fragmentada de Shion.

Quando Angell declarou sua prontidão, um silêncio significativo tomou conta do ambiente. Os veteranos trocaram olhares carregados de significado, cada um deles confirmando sua própria preparação através de gestos sutis e acenos discretos.

Opus, com movimentos fluidos e precisos, elevou sua mão em direção ao céu noturno. Partículas luminosas começaram a dançar ao redor de seus dedos, convergindo gradualmente até materializar um selo etéreo em forma de estrela. Com destreza, direcionou seus dedos para Angell e, num movimento preciso, liberou o selo. A marca de proteção manifestou-se em sua bochecha como uma tatuagem luminescente, pulsando suavemente com energia mágica.

A atenção voltou-se então para Katsura. Ela fechou os olhos com serenidade, inspirando profundamente. Ao reabri-los, uma transformação dramática se desenrolou: seus olhos assumiram uma coloração sobrenatural, características demoníacas emergiram em seu semblante - presas afiadas projetaram-se de seus lábios, chifres elegantes brotaram de sua testa, e uma tiara incandescente materializou-se em meio a labaredas místicas. Com voz ressonante, iniciou sua conjuração:

Eu sou Lilith, herdeira da humanidade caída, e exijo os poderes do mundo inferior!

Voltando-se para Shion, começou a contagem regressiva: Em cinco, quatro, três, dois

ESPERA! - A voz de Shion cortou o ar, interrompendo abruptamente o ritual. Katsura conteve o feitiço, confusa pela interrupção repentina. Shion correu até Angell, envolvendo-a num abraço protetor enquanto sussurrava palavras carregadas de urgência: Não se perca no caminho. Escolha as portas certas. Muitas vezes o que parece certo não é certo. Lembre-se, são minhas escolhas - você precisará entendê-las por mim.

Katsura, observando a cena com um sorriso provocativo, comentou: E nós? Não merecemos um abraço também?

Retornando à sua posição original, Shion apontou para os dois com fingida severidade: Vocês dois? Se algo acontecer com ela ou comigo, juro que volto para amaldiçoar ambos. O show é de vocês.

Katsura reiniciou o ritual com renovada concentração. Ergueu seu punho em direção a Shion, que sentiu seu próprio braço ser erguido por uma força invisível até seus punhos se encontrarem. No instante do contato, Angell sentiu seu ser transformar-se em pura energia, sendo violentamente puxada para dentro de Shion.

O local do ritual agora mostrava apenas Shion, ainda com o punho erguido e conectado ao de Katsura. Seus olhos haviam se transformado completamente, tornando-se brancos e vazios, enquanto veias pulsantes começavam a se destacar ao redor de seu rosto.

Opus observou a transformação com curiosidade científica: Isso é um byakugan?

Katsura examinou atentamente: O olho de Angell, não é?

Shion assentiu em confirmação.

Deu certo? - questionou Opus, ainda incerto.

Um sorriso conhecedor iluminou o rosto de Katsura: Sim! Agora é com eles. Voltando-se para Opus, indagou: O que você percebe da marca?

Opus examinou sua mão com atenção profissional - os sinais vitais de Angell permaneciam completamente estáveis.

[...]

Angell sentia que estava despencando. Tentava se manter voando, ativando técnicas, mas nada adiantava - um vazio branco infinito se estendia sem fim. Ao olhar ao redor, percebeu que não tinha corpo físico, era apenas consciência caindo em meio ao nada.

A queda durou mais alguns instantes, acelerando gradualmente até que, de repente, ela começava a passar por centenas de imagens - memórias de Shion. Algumas já vividas por ela, outras completamente novas, mas nenhuma que chamasse particular atenção ainda. A queda continuava enquanto ela sentia a temperatura começar a cair.

Do chão, árvores começavam a brotar e casas a se erguer, formando aos poucos um povoado. Subitamente, Angell se viu materializada em meio a uma praça. Ao seu redor, lobos - tanto filhotes quanto adultos - vagavam docilmente como animais domesticados. À frente, as casas ganhavam forma mais definida enquanto armas começavam a se materializar. O vazio branco dava lugar a uma noite de neve suave, onde Angell permanecia sozinha na vila, tendo apenas a companhia dos lobos.

Sons de batalha começaram a preencher o ar - tinir de lâminas, gritos e gemidos de combate. Gradualmente, dezenas de homens, mulheres e crianças surgiam correndo armados, lutando e trocando insultos ainda incompreensíveis, até que um homem esbarrou nela.

Opa, sai da frente aí garota! E o que tá fazendo aí desarmada? Toma. O homem empurrou uma katana nas mãos de Angell. Vamos, encurralamos Hanzo, hoje ele e sua vadia vão morrer.

Tudo ainda parecia confuso para Angell. Olhando para baixo, notou que estava vestida como os demais guerreiros. Tentou ativar seu doujutsu, mas nada funcionava. O frio intensificava-se quando uma mulher a puxou bruscamente pela mão.

VAMOS LOGO!

Angell se viu arrastada com o grupo através de um caminho de destruição - corpos caídos, casas em chamas, crianças, homens e mulheres mortos, batalhas chegando ao fim sangrento. Ela poderia tentar impedir, mas seu corpo não respondia aos seus comandos.

A mulher finalmente parou diante de um grande casarão. Os guerreiros invadiam em meio a gritos e insultos ainda incompreensíveis. Na entrada da casa, Angell viu o alvo - seu avô paterno, Hattori Hanzo, armado e mantendo os invasores à distância. Atrás dele, sua avó - ambos lutando contra a horda de invasores. Mesmo com a ajuda dos guardas, estavam em desvantagem numérica e, pouco a pouco, suas defesas caíam. Hanzo conjurava ventanias de gelo, lutando com maestria contra múltiplos oponentes, até que um grito cortou o ar:

PAPAI!

A distração foi fatal. Com a guarda momentaneamente baixada, um inimigo aproveitou para desferir um golpe traiçoeiro, rasgando seu abdômen. Angell sentiu suas pernas começarem a se mover, mas era como arrastar toneladas - cada passo exigia um esforço sobre-humano.

Sua esposa tentou socorrer Hanzo, mas foi imobilizada pelas costas. Uma mulher se aproximou e, com um movimento preciso, cortou sua garganta. A Uchiha tentava desesperadamente conter o sangramento com as mãos. Angell sentiu seu corpo ficar mais leve, conseguindo se mover com um pouco mais de velocidade, mas ainda insuficiente para alcançar o casal encurralado.

Hanzo, ao tentar defender sua esposa, recebeu seis golpes nas costas. Em um último ato de desespero, bateu sua mão no chão - o solo congelou instantaneamente, desequilibrando os inimigos. Com suas últimas forças, ele pegou o sangue de sua própria esposa, congelou-o e o transformou em agulhas letais, eliminando todos os invasores dentro da casa. Os que ainda estavam no portão apenas caçoavam - não precisavam mais intervir, Hanzo já estava condenado.

De repente, um garoto de cabelos negros saltou sobre o telhado da casa. Angell sentiu seu corpo ficar completamente leve, podendo se mover normalmente. Era seu pai, Hattori Shion, ainda criança, testemunhando o horror que se abatera sobre sua família. Shion se aproximou de seu pai moribundo, que ainda segurava o corpo de sua esposa, mãe de Shion.

Um homem decidiu intervir, aproximando-se sorrateiramente de Shion, que tentava falar com seu pai e não percebia a aproximação. Angell via o homem se aproximar com um machado, mas uma barreira invisível e intransponível a impedia de interferir.

O machado desceu violentamente sobre as costas de Shion, fazendo-o cair sobre seu pai, que sussurrou suas últimas palavras: É... por... sua... causa... Com um último suspiro, partiu. Shion, ferido, tentou se virar para enfrentar seu algoz, quando subitamente o corpo do homem foi dilacerado por lâminas de ar - Katsura havia chegado.

A perspectiva mudou drasticamente - Angell agora via através dos olhos de Katsura. Diante dela estava seu melhor amigo, sobre os corpos sem vida de seus pais. Katsura sentia um calor intenso percorrer seu corpo, e Angell compartilhava dessa sensação, essa necessidade urgente de ajudar. A voz de sua mãe ecoou em sua mente:

Seu sangue é especial filha, você é a única em nossa família. Graças a seu sangue você pode fazer milagres, você um dia mudará o mundo.

A imagem de Katsura se dissolveu, e Angell se viu novamente criança, uma lâmina em suas pequenas mãos. Diante dela, seu pai lutava para se manter vivo, lágrimas escorrendo enquanto olhava para o céu, aguardando o inevitável. Tudo que restava para ele era Angell.

Era como ver um reflexo da própria Katsura - o gesto que selou o destino dela e de Shion para sempre naquele dia. Quando o sangue da Grey pura entrou em contato com Shion, seu corpo começou a receber uma cura acelerada. A temperatura, porém, subia perigosamente. Shion começava a ficar ofegante enquanto seu corpo passava por uma mutação - naquele momento crítico, ou ele sucumbiria ou algo extraordinário aconteceria.

Já inconsciente, Shion travava uma batalha interna entre seu próprio corpo e o poder Grey tentando se fundir às suas veias. Seus olhos se abriram abruptamente, a pupila dilatando sem controle. De repente, o Sharingan emanou - primeiro com apenas um tomoe. O padrão começou a girar, um segundo tomoe surgindo, seguido de outro giro e um terceiro tomoe. Lágrimas misturadas com sangue escorriam dos olhos de Shion que, mesmo desacordado, gritava em agonia.

Seu olho girou mais uma vez, os tomoes se fundindo numa forma completamente nova - um círculo ornamentado com pequenas pontas ao redor em ambos os olhos. Sua respiração permanecia ofegante. Com outro grito lancinante, vapor começou a emanar de seu corpo. Ele fechou o olho esquerdo e, ao reabri-lo, sua forma havia mudado novamente - agora exibia uma coloração roxa, com vários círculos complementados por tomoes. Gradualmente, sua respiração foi desacelerando até normalizar, a temperatura também baixando.

O pequeno Shion se levantou, olhando diretamente para Angell.
Foi nesse dia, que Katsura cometeu seu crime contra os Greys, disse o garoto com um olhar penetrante.

O jovem Shion desapareceu, reaparecendo ao lado de Angell enquanto enfaixava o corte. Você conseguiu abrir a primeira porta. Ele segurou sua mão direita - embora na aparência de um jovem, falava e emanava a aura do Shion que Angell conhecia, ainda que mais contida.

O mundo ao redor se despedaçou completamente, retornando ao vazio branco anterior. Desta vez, porém, Angell tinha seu corpo de volta, mesmo que seus poderes ainda estivessem ausentes. O pequeno Shion permanecia ao seu lado quando uma voz grave soou:

Então é assim que eu me pareço?

À esquerda de Angell materializou-se uma versão mais velha de Shion, com cabelos e olhos em um tom magenta escuro.

Quem é você? indagou o pequeno Shion.

Você me conheceu como oito caudas, sou o Gyuki respondeu o mais velho.

Como isso é possível? perguntou o jovem, espantado.

Eu não tenho ideia, mas se estou aqui também pretendo ajudar, tudo bem pra vocês?

O pequeno assentiu positivamente.

Enquanto buscavam um caminho para prosseguir, o mundo mudou mais uma vez. Os três se tornaram meros observadores de uma cena que se desenrolava: por um corredor, caminhava uma mulher carregando uma bandeja coberta. Conforme se aproximava, sua identidade ficou clara - Azshara Grey, com uma expressão séria no rosto.

Ela parou diante de uma porta no fim do corredor, batendo duas vezes. Sem resposta, abriu-a vagarosamente. Na cama estava o pequeno Shion, abraçando um travesseiro em lágrimas. Azshara observou a criança desolada, colocou a bandeja sobre uma mesa e deitou-se ao lado do garoto. Era vinte e quatro horas após o trágico fim dos Hattoris do sul - quando tudo aconteceu, Katsura e os Greys trouxeram a única criança sobrevivente para casa.

A mulher se acomodou atrás dele, envolvendo-o num abraço maternal. Com voz suave, sussurrava para ele expressar seus sentimentos. Carinhosa e gentil, consolava a criança que acabara de perder seu mundo. Aos poucos, ele foi se acalmando, e Azshara tentou conversar:

Tá com fome, meu bem?

Ele negou com a cabeça, embora estivesse faminto - não comia há quase um dia. Azshara insistiu:

Você tá passando pelo pior dia da sua vida meu amor, mas você tá seguro agora, ninguém vai machucar você. Infelizmente o pesadelo que você teve foi real e não há nada que possa mudar isso, mas você precisa ser forte agora. Vai ser um tempo difícil, mas pra aguentar isso você precisa repor suas forças.

Ela o ajudou a sentar-se na cama, foi até a bandeja e a descobriu: Eu não sei o que gosta então eu trouxe um pouco de tudo.

Shion nunca havia visto metade daquelas comidas - doces, refrigerantes. Seu estômago roncava, mas era tímido demais para se aproximar. Azshara trouxe a bandeja até a cama, pegou um chocolate e mordeu:

Adoro esse doce, você deveria experimentar.

Ela pegou outro pedaço e, com um gesto brincalhão, passou na ponta do nariz dele antes de dar-lhe para comer. Limpou o nariz dele com um lenço, arrancando um pequeno sorriso involuntário.

Come, vai ajudar eu prometo.

Shion começou a comer, seus olhos brilhando com aqueles novos sabores. Devido às habilidades de seu clã, cada sensação era ainda mais intensa.

Enquanto ele se alimentava, Azshara se levantou, puxou uma cadeira e o observava com uma expressão de gratidão. Quando ele parecia satisfeito, ela pediu permissão para recolher a mesa, entregou-lhe um guardanapo e levou a bandeja de volta. Aproximou-se dele, olhando-o nos olhos:

Esse seu olho, como conseguiu?

Entregou-lhe um espelho de mão. Confuso, ele respondeu: Eu não sei, é a primeira vez que vejo ele.

Ela acariciou seus cabelos e disse: Minha filha te adora, e bem meu marido sempre quis um garoto, por isso a gente te trouxe pra cá. Não seria justo deixar alguém tão importante pra Katsura em um orfanato, por isso você está aqui meu pequeno futuro príncipe.

Como assim? perguntou ele, surpreso.

Ela sentou-se ao seu lado, acomodando a cabeça dele em seu colo enquanto afagava seus cabelos:

Você agora poderá ter um novo papai e uma nova mamãe e vai ter duas irmãzinhas. Seu mundo não acabou meu pequeno, a gente vai cuidar de você, proteger você. Você não vai mais passar fome, sofrer.

Shion não conteve as lágrimas, agarrando-se levemente ao colo de Azshara enquanto ela o consolava com sons maternais:

Mas isso meu pequeno é uma decisão só sua, você precisa querer isso, você precisa jurar isso. Você juraria? Juraria ser meu filho e faria tudo que eu pedir?

Ele assentiu em seu colo, mas ela continuou:

Mas você precisa fazer um juramento de verdade, como grandes cavaleiros fazem. E somente os cavaleiros mais corajosos juram servidão à sua rainha. Você é corajoso?

Sou... respondeu timidamente.

Pois faça. Cavaleiros se ajoelham diante de sua rainha e dizem as seguintes palavras, é só repetir comigo.

O pequeno Shion, inocentemente, levantou-se e ajoelhou-se diante de Azshara. Os três observadores - o Shion atual, Angell e Gyuki - comentavam. Shion foi o primeiro:

Angell, foi nesse dia, foi nesse momento! Me impeça, não deixe ele fazer o juramento! Agora tudo faz sentido, esse é o grande dia, aqui agora a gente pode quebrar o ciclo, podemos até mesmo impedir Shaka da maldição do ódio!

Gyuki, notando seu desespero, ponderou: Tem certeza disso? Eu sei o que rolou ali, mas há coisas que mesmo pequenas...

EU ESTOU SUPLICANDO ANGELL! Shion gritou. Não me deixe fazer esse juramento! Podemos me salvar, salvar Shaka, retirar todo esse futuro de desgraça! Você tem noção de quanta gente eu machuquei por causa desse juramento? Eu não posso deixar de impedir isso!

Gyuki recitou um antigo ditado: Há um velho ditado... Por causa de um prego perdeu-se a ferradura. Por causa da ferradura, perdeu-se o cavalo. Por causa do cavalo não se entregou a mensagem. E por causa da mensagem... perdeu-se a guerra.

O Bijuu silenciou, deixando a decisão nas mãos de Angell.