O sol de Sunagakure queimava implacavelmente, lançando sombras curtas e intensas no terreno arenoso da vila. A poeira levantada pelo vento parecia um lembrete constante da dureza do ambiente. Para muitos, um dia assim era um convite para evitar esforço desnecessário. Para mim, Aizen, era mais uma oportunidade de me aperfeiçoar. A missão de hoje era simples: um treinamento básico de combate. Como gennin, tais tarefas eram inevitáveis e, para a maioria, tediosas. Mas eu via nelas algo mais. Cada movimento, cada técnica repetida, era um tijolo na construção de algo maior. A perfeição era alcançada pela repetição incessante dos fundamentos, e eu não aceitaria nada menos do que a perfeição. Ao chegar ao campo de treinamento, um espaço cercado por rochas e protegido do vento mais forte, os instrutores já estavam posicionados. Alguns outros gennins estavam lá, ansiosos ou desinteressados. Eu me mantive à parte, observando. Cada pessoa ali era um possível aliado ou obstáculo no futuro. Estudá-los era tão importante quanto o treino em si. “Aizen,” chamou o instrutor, um chūnin com a postura rígida e o olhar severo. “Você ficará na terceira seção, trabalhando ataques e defesas em combate corpo a corpo. Lembre-se: hoje não é sobre vencer, é sobre aprender.” “Entendido,” respondi calmamente, mesmo sabendo que ele estava errado. Para mim, cada momento era uma batalha, e cada batalha tinha de ser vencida — nem que fosse apenas contra minhas próprias limitações. Posicionei-me no espaço designado, enfrentando um gennin que parecia um tanto inseguro. O instrutor deu o sinal, e começamos. Movi-me devagar no início, estudando os movimentos dele. Seus golpes eram previsíveis, com aberturas gritantes em sua guarda. Meu instinto me dizia para terminar aquilo rapidamente, mas me forcei a manter o ritmo. Não era uma luta real; era um exercício. Mesmo assim, cada soco que eu desviava, cada chute que eu bloqueava, era meticulosamente calculado. Depois de alguns minutos, o instrutor pediu que trocássemos de parceiro. O próximo gennin era mais habilidoso, alguém com movimentos mais polidos e menos hesitação. Isso exigiu mais de mim. Cada golpe vinha mais rápido, mais preciso, e eu precisei ajustar minha postura e tempo de reação. Em determinado momento, ele conseguiu acertar um soco na minha lateral, mas usei o impacto para girar e agarrar seu braço, projetando-o no chão. O instrutor interveio antes que eu pudesse finalizar o movimento. “Lembre-se, Aizen, não é um combate real,” ele repetiu, olhando-me com uma expressão que oscilava entre reprovação e aprovação. Assenti, escondendo minha frustração. Ele não entendia. Mesmo o menor erro em um treino podia se transformar em morte no campo de batalha. Eu não treinava para sobreviver; treinava para nunca falhar. A próxima parte do treinamento envolvia prática com kunais. Nos foi pedido que acertássemos alvos móveis, ajustando a precisão conforme os alvos mudavam de velocidade e direção. Peguei uma kunai e mirei. Meu Ketsuryūgan ainda não podia ser usado em público para auxiliar, mas minha percepção natural era mais do que suficiente. Respirei fundo, esperando o momento certo, e lancei. O som metálico ecoou quando a lâmina atingiu o centro do alvo. Repeti o movimento várias vezes, cada lançamento mais rápido e certeiro que o anterior. Outros gennins estavam lutando para acertar os alvos, e percebi olhares de frustração e inveja em minha direção. Eu não me importava. Eles poderiam gastar tempo reclamando; eu gastava o meu aprimorando. Finalmente, veio a última etapa: resistência física. Corridas ao redor do campo, flexões, saltos, tudo sob o sol impiedoso. Enquanto os outros ofegavam e desaceleravam, eu mantinha meu ritmo constante. A dor e o cansaço eram passageiros, enquanto a força era permanente. Quando o treinamento terminou, os outros gennins caíram no chão, exaustos. Eu permaneci de pé, a respiração controlada, meus olhos fixos no horizonte. A perfeição não era um destino; era uma jornada. E cada gota de suor, cada músculo dolorido, me levava um passo mais perto de transcender os limites impostos a mim. Enquanto os outros se dispersavam, o instrutor se aproximou. “Bom trabalho hoje, Aizen. Mas lembre-se: a força não é apenas habilidade. É saber quando usá-la.” Dei um leve aceno. Ele não entenderia. Minha força era um meio para um fim, e eu não me importava com as nuances morais ou éticas que ele parecia insinuar. Tudo o que importava era que, quando o momento chegasse, eu estaria pronto.


A noite caiu sobre Sunagakure, trazendo consigo um silêncio que parecia absorver até mesmo o som do vento constante do deserto. Para a maioria, era um momento de descanso. Para mim, era uma nova oportunidade de continuar crescendo, mesmo que a missão fosse, aparentemente, trivial. Um médico local precisava de ervas medicinais raras, e eu fui designado para buscá-las. Apesar da simplicidade da tarefa, tratava-se de um trabalho minucioso, e eu o trataria com a mesma seriedade que qualquer outro. O médico me entregou um pergaminho com descrições detalhadas das ervas e os locais onde poderiam ser encontradas. Ele também mencionou a importância de não danificar as plantas ao coletá-las. “Essas ervas são frágeis, e precisamos de folhas intactas para o remédio,” explicou, a preocupação evidente em sua voz. Com o pergaminho guardado em minha bolsa, saí para a periferia da vila. A paisagem desértica era iluminada apenas pela luz pálida da lua, o chão de areia fria sob meus pés. Estava acostumado ao ambiente hostil de Sunagakure, mas a noite sempre trazia um elemento de imprevisibilidade. Qualquer coisa podia se esconder nas sombras, mas isso nunca me incomodou. Eu também sabia como me esconder nelas. Cheguei ao primeiro ponto indicado no pergaminho, uma formação rochosa onde crescia a Mirageia, uma planta que só florescia à noite. Movi-me com cuidado, meus olhos treinados varrendo o chão em busca das folhas características descritas no pergaminho. Após alguns minutos, encontrei um pequeno grupo de plantas crescendo em uma fenda na rocha. Usei uma pequena lâmina para colher as folhas, garantindo que as raízes permanecessem intactas. Coloquei as amostras em um recipiente de tecido úmido, como o médico havia instruído. O próximo local era um oásis a poucos quilômetros de distância. A caminhada foi tranquila, o silêncio quebrado apenas pelo som dos grãos de areia movidos pelo vento. Enquanto me aproximava, notei algo incomum. Marcas no chão indicavam que alguém havia passado por ali recentemente. Pegadas humanas, misturadas com rastros de pequenos animais. Não era algo preocupante, mas fez minha mente trabalhar. Quem mais estaria andando por essas áreas a essa hora? Ao chegar ao oásis, identifiquei rapidamente a Luz do Deserto, uma flor delicada que brilhava levemente sob a luz da lua. Era ainda mais frágil que a Mirageia, e precisei de extrema precisão para colher suas pétalas sem danificá-las. Enquanto trabalhava, ouvi um leve som ao longe. Algo ou alguém estava próximo. Congelei, meus sentidos em alerta. Mas, após alguns minutos, o som desapareceu. Decidi ignorar e terminar minha tarefa. Com ambas as ervas em mãos, comecei o caminho de volta para Sunagakure. A missão estava quase concluída, e uma sensação de realização tomou conta de mim. Não era uma tarefa grandiosa ou perigosa, mas mesmo os menores passos eram importantes para construir algo maior. Entreguei as ervas ao médico, que as examinou com um olhar crítico antes de dar um leve aceno de aprovação. “Bom trabalho, Aizen. Você tem um futuro promissor como ninja,” disse ele, suas palavras carregadas de gratidão. Eu apenas assenti, minha mente já pensando no próximo desafio. Cada missão, por mais simples que fosse, era uma chance de aprimorar minhas habilidades e fortalecer meu caminho. E mesmo em meio à rotina, meu objetivo final permanecia claro: transcender os limites que o mundo tentava impor.

Considerações: