O Tumulto em Iwagakure era notável desde que os primeiros feixes de luz solar caíam sobre a vila. Shinobis das mais variadas patentes corriam por todos os lados, reunindo-se no quartel-general do vilarejo e discutindo sobre um acontecimento terrível que havia sido descoberto pela inteligência do vilarejo: Um grupo de shinobis da elite de investigação foram capturados e mortos por inimigos desconhecidos, que deixaram uma mensagem para trás: 'Iwagakure arderá em chamas!' Os investigadores não conseguiram determinar ao certo de quem poderia ter orquestrado o ataque contra os espiões da vila, mas havia uma forte suspeita de ser algo ligado aos terristas da Resistência. Sem maiores explicações, o alto escalão militar do vilarejo convocou uma reunião de emergência, temerosos por um possível ataque de larga escala do grupo opositor.

— Convoquem ninjas de nível Chuunin ou superiores! Isso é uma emergência, precisamos nos preparar! — Um dos Jounin encarregados pela missão bradou. — Não temos a confirmação da identidade do inimigo e nem de sua posição, precisamos de uma grande força-tarefa. Dividam grupos de investigação, esquadrões médicos e de ataque, agora! — Finalizou.

Seus subordinados então dispararam para fora do quartel, tão apreensivos quanto seu próprio líder.

[...]

Eu estava apreciando a solitária brisa matinal, com o rosto virado em direção às montanhas que ainda escondiam o sol por detrás de seus corpos imponentes. Ouvi o sussurrar gélido do vento passageiro, enquanto meus cabelos negros eram jogados contra a corrente. No entanto, o momento de relaxamento fora breve, subitamente interrompido por uma dupla de ninjas que rapidamente se apresentaram como Miki e Tetsuo, chuunins sob as ordens do Quartel-General.

— Hm? — Virei meus olhos em direção aos mesmos com notório desprazer. — O quê? —

— Uchiha Mayer, não é? Você foi convocada para uma missão de emergência. Compareça ao Quartel-General o quanto antes, nossos superiores irão explicar a situação. Por favor, se apresse, Iwagakure está correndo um grande perigo! — Ele disse, enquanto gotas de suor escorriam de seu rosto.

— ...A Resistência. — Sussurrei, suspirando logo em seguida. Em um instante, meu corpo se deslocou através do ar, reaparecendo atrás da dupla. — Estou indo. —

Meus passos foram contidos, lentamente atravessando as ruas do vilarejo, quase como se fosse uma modelo desfilando através de uma longa e inacabável passarela de rochas úmidas. Algumas ruas estavam tão silenciosas que davam a impressão de que a vila havia se transformado em uma cidade-fantasma, enquanto outras estavam lotadas por esquadrões de dezenas de shinobis, desde crianças até adultos e velhos. A situação não parecia nada boa, e eu franzi o meu cenho, suspeitando de que aquilo pudesse ser algum tipo de retaliação por conta da destruição da base suspeita de algum tempo atrás. Eu não sabia se era uma base da Resistência ou não, mas a sequência de eventos não parecia ser uma mera coincidência. Além disso, Ishi não estava na vila. Me aproximei do quartel general, adentrando-o com certa pressa e indo até a sala de briefing. Lá, estavam três figuras: Uma mulher jovem, um homem de longos cabelos negros e um Jounin, que parecia ser o oficial responsável pela missão. Me curvei com respeito.

— Uchiha Mayer. — Me apresentei, aguardando pelas ordens do superior.

Todos aqueles que desafiarem o poder de nossa nação devem ser exterminados.

Informações:

— O Jounin trajava longas vestes negras e utilizava sua banda por cima do olho esquerdo, rodeado por terríveis cicatrizes de batalha. Ele agarrou um longo graveto que se encontrava sobre a mesa a sua frente e o apontou em direção ao quadro atrás de si, onde uma rede de informações havia sido planejada para a operação. Após vos fitar nos olhos, ele se prontificou a iniciar a sua explicação e orientações da missão a seguir.

— Uchiha Mayer, Kurogane Momo, Kazen Yoruichi. — Disse ele, citando os três presentes na sala. — Vocês farão parte do esquadrão de coleta de inteligência. Além de vocês, há outros dois esquadrões que foram despachados para as fronteiras do Leste e Norte, então vocês ficarão com o Sul. O papel de vocês é espionar nossos inimigos, coletar informações e repassar para nós. Não sejam descobertos, e evitem combate ao máximo. Se for inevitável, não chamem atenção. Nosso inimigo é desconhecido, então é preciso tomar muita cautela. Quando tivermos informações o bastante, enviaremos nossos esquadrões de assalto. Vocês cuidarão da área que corresponde a cerca de seis pequenos vilarejos. Isso é tudo, estão despachados. Vocês tem uma hora para se prepararem. — Finalizou, largando o graveto e realizando um sinal de mão para nos liberar.

[...]

Até aquele instante, nenhum de nós havia sequer falado uma única palavra com o outro. Estávamos andando juntos, mas em silêncio absoluto. Kurogane parecia ser uma adolescente, portando cabelos dourados curtos e trajando-se com um colete sem mangas e calças de couro longas. Por outro lado, Kazen era um homem alto e esguio com cabelos pretos que cobriam seu rosto. Apesar do clima fúnebre de nossos passos, a situação começou a mudar um pouco conforme nos aproximávamos dos portões da vila.

— Uchiha, não é? Você possui os olhos.... Aqueles olhos. — Kazen ergueu sua voz em um tom curioso. — É a primeira vez que vejo um Uchiha em pessoa. É um prazer. Sou um Tokubetsu Jounin, e essa aqui é minha aprendiz, Kurogane. —

— Então você sabe sobre o Sharingan. Entendo, não me admira que isso seja uma informação tão facilmente disseminável. Enfim... — Suspirei brevemente antes de fitar os portões. — Nossa missão é somente investigar, não é? Vamos nos manter atentos a isso. Quais são as suas especialidades? — Os questionei, buscando conhecê-los.

— Kenjutsu. — Kazen disse sobre si mesmo, antes de apontar para Kurogane. — Genjutsu. — Ela disse, em um tom tímido e reprimido.

— Sou especialista em ninjutsus de fogo, então acho que serei um pouco menos útil, mas não tem problema, eu me viro no taijutsu também... — Forcei uma breve risada.

Eles pareciam ligeiramente confusos e apreensivos quanto ao objetivo, e não era para menos: Estávamos sendo jogados na completa escuridão contra forças inimigas desconhecidas. Eu mantive a minha calma e neutralidade como sempre, mas conseguia sentir que eles estavam transbordando de nervosismo. Eu só esperava que pudéssemos cumprir essa missão sem maiores complicações, mas, conhecendo a minha sorte, com certeza as coisas não seriam tão simples.

Informações:

— O que vos restava se não o silencioso lamento de ventos distantes? Nosso primeiro passo para fora dos limites do vilarejo fora marcado por um frio na espinha que nos atingiu de forma simultânea. Cessamos todos os movimentos por apenas um único instante - Imperceptível para olhos comuns, mas intrigante para outros ninjas. Aquilo não era apenas um mau agouro, era um testamente para o inferno que aquela missão se tornaria em um futuro próximo.

— Merda. — Kazen sussurrou a si próprio, incapaz de esconder sua apreensão. — São pontos demais para apenas três ninjas vigiarem. Eles podem estar nas dezenas. Momo, você é uma ninja sensorial... Por favor, faça questão de se manter atenta a qualquer atividade suspeita. — Ele disse.

— S-sim.... Eu sei disso. — A garota assentiu.

Liderei a frente do grupo em silêncio, analisando as rotas que poderiam nos levar até o sul. Eu não sabia se elas eram seguras e muito menos se levariam para os pontos de nosso interesse, mas não tínhamos tempo para pesquisar o local ou buscar mais informações. Apontei em direção ao horizonte longínquo, para muito além de onde o sol nascia, colocando o dedo contra os feixes de luz que nos iluminavam entre as nuvens negras que lentamente se formavam nos céus azulados do vilarejo. Mesmo sem ditar uma única palavra, eles haviam entendido o meu comunicado. Então, partimos em direção ao sul em velocidade elevada, buscando nos manter entre as sombras para ocultar a vossa presença de possíveis olhares curiosos.

Desbravar Iwagakure não era exatamente parte do plano, mas o desconhecimento das rotas era algo a se levar em conta, bem como os possíveis encontros com civis, bandidos e outros perigos do país. Haviam alguns pequenos vilarejos mercantes ao longo de nosso caminho, e não me impressionaria que um ou dois deles estivessem sob vigília de uma gangue de mercenários. Por conta dessa suspeita, preferiria e muito a opção de seguir por rotas alternativas do que o óbvio caminho de estradas planejadas.

— Se a garota é uma ninja sensorial, então ela é prioridade. Será nossa carta na manga para obtermos a vantagem sobre os inimigos. Kazen, você fica na frente, eu me manterei na retaguarda. Vamos manter essa posição para garantir que não teremos pontos cegos. Podem ser apenas vagabundos, ou talvez ninjas experientes. Em qualquer caso, estamos vulneráveis até demais. — Ditei em um tom quase tirânico, impondo a minha vontade de forma inconsciente.

— E desde quando você manda aqui? — O outro retrucou, incomodado com minha fala. — Bom, eu sei que estamos todos apreensivos. Vamos fazer isso, é melhor do que correr sem rumo. — Continuou, assentindo.

Pisquei os olhos em um breve sinal de alívio. Não havíamos tempo para discutir, apenas agir. Cada segundo era crucial, e eu não estava disposta a perder o ímpeto daquele momento. A melhor defesa é, afinal de contas, atacar primeiro.

Informações:

— O caminho não era exatamente agradável, mas ao menos não havíamos sido alvos de emboscadas - Pelo menos até agora. Nossos passos mantinham uma velocidade constante de dezoito metros por segundo, saltando entre as rochas e poucas árvores que se encontravam dispersas pelo caminho a frente. Na distância, além de alguns montes que éramos capazes de observar, também podíamos ver os lampiões erguidos de um pequeno vilarejo que se recosta nos pés de uma grande montanha, a pouco menos do que trinta quilômetros de Iwa. Decidi que seria uma boa ideia nos aproximarmos mais do local, tomando uma rota alternativa pelo lado esquerdo e assim termos melhor visão da pequena vila. Tanto Kazen quanto Momo não apresentaram obejções, então demos sequência ao plano de forma imediata. Estávamos a cerca de um quilômetro do local, então tínhamos tempo para pensar e decidir o melhor curso de ação.

[...]

A cerca de trezentos metros da vila, paramos. Do topo de um grande monte de rochas pontiagudas e ocultos por um grupo de pequenas árvores que sobreviviam na ponta do penhasco, nos mantivemos em silêncio absoluto, esgueirando como espíritos vingativos esperando por uma alma para atormentar. Kazen permaneceu a cerca de quarenta metros de nossa posição, vigiando a retaguarda para garantir que nenhum inimigo fosse se aproximar durante o nosso período de investigação. Momo preferiu ficar entre as árvores, conservando seu chakra para momentos mais importantes. Ela sabia que poderia usar suas habilidades sensoriais naquele momento, mas não era viável desgastar-se à toa. Eu fiquei deitada na ponta do penhasco, observandoo vilarejo de longe para tentar perceber qualquer tipo de movimentação suspeita ou fora do comum para os padrões daqueles civis. Ficamos ali por cerca de vinte minutos, até que algo me chamou a atenção. Em minha visão periférica, a cerca de oita metros de nossa posição, uma dupla de homens caminhava desfiladeiro abaixo. Eles portavam máscaras sobre suas bocas e carregavam katanas alongadas.

— Oitenta metros às 16 horas. — Ditei, indicando a posição do 'inimigo'. — Parecem mercenários, eles vieram da vila. Vamos capturá-los e interrogá-los. Momo, avise o Kazen. Vamos emboscá-los por lados diferentes e atacar antes que tenham a chance de revidar ou chamar por reforços. — Ditei, me levantando e saltando do penhasco imediatamente.

— S-sim senhora! — Momo assentiu. — Kazen-senpai!!! — Bradou, buscando pelo outro.

Era uma oportunidade perfeita para descobrirmos um pouco mais sobre aquele perímetro. Pelo pouco que vi, não parecia ser um vilarejo anormal. As coisas andavam dentro do esperado. Não devia possuir mais do que cem ou duzentos moradores a julgar pela quantidade de construções, e o fluxo comercial também não parecia ser dos mais fortes. Era um vilarejo que parecia depender da monocultura e pecuária, então não chamaria a atenção de organizações maiores, a menos que...

— Eles queiram se esconder, huh? — Pensei, enquanto me aproximava da posição dos homens. Saquei uma kunai da minha bolsa de armas, girando-a em meu dedo indicador destro enquanto me preparava para o ataque. — Não há ninguém ao nosso redor. Será fácil ocultar os corpos... — Concluí o pensamento, analisando o curso da ação.

Informações:

— Parei a cerca de vinte metros da posição de vossos opositores até então desconhecidos. Eles andavam com cautela, observando seus arredores para se certificarem de que não estavam sendo seguidos. Mantive meu corpo esguio atrás de uma grande formação rochosa, me aproveitando da sombra projetada pelo monumento natural para aprimorar minhas capacidades furtivas. Enquanto aguardava pelo sinal de meus aliados, tomei o curto tempo restante até o assalto para analisá-los um pouco mais a fundo. O homem à direita era alto, corpulento e mau-encarado. Parecia excessivamente desconfiado e não parava de olhar para os lados. Em seu antebraço direito estava uma bandana riscada com o símbolo de Iwagakure, indicando que se tratava de um shinobi renegado da vila. O outro ao seu lado era um homem magro de pele escura que também portava um hitai-ate riscado, mas este se encontrava enrolado ao redor de seu pescoço e virado para trás. Qualquer animal seria capaz de medir a força de um oponente. Tomando como base que eu fosse um 10, o da direita poderia ser um 3, e o da esquerda, 2. Não eram grandes coisas, mas provavelmente poderiam se tornar um problema caso estivessem acompanhados de outros inimigos.

Dentro de poucos segundos, uma pequena rocha rolou ao meu lado, e uma sombra saltou, movendo-se como um borrão imperceptível. Era Kazen, desembainhando sua espada e a cobrindo com o chakra elemental do vento. De imediato, avancei pelo lado contrário, a fim de flanquear e surpreender os adversários com um ataque surpresa. Eu envolvi a lâmina da kunai com a energia flamejante do fogo, enquanto ouvia sons distantes - Uma melodia hipnotizante conjurada por Momo. Os olhos dos renegados se arregalaram por um único instante, indicando que haviam sido pegos pela técnica ilusória discreta. Distraídos pela canção, o banho de realidade viria na forma de um massacre sangrento. Sem pestanejar, saltei em direção ao homem musculoso, perfurando sua garganta com a kunai em chamas enquanto Kazen o perfurava pelas costas com sua espada, arrancando-lhe o estômago e ceifando sua vida de forma quase instantânea. No entanto, antes que o homem viesse ao chão, notei um movimento ligeiro ao meu lado. De forma institniva, disparei a kunai para a direita, atingindo o segundo mercenário em sua coxa direita, forçando-o a tropeçar em seus próprios passos antes de cair indefeso no chão. No entanto, antes que pudesse gritar, eu já estava em seu encalço, forçando a sola de minha sandália de madeira contra a sua boca para silenciá-lo.

— Kazen, livre-se do corpo daquele brutamontes. — Ditei, fitando o sobrevivente nos olhos. Ele estava transbordando de medo, prestes a lacrimejar. Isso, de certa forma, me alegrava. Aquela praga sabia que seu destino havia sido selado, e a visão inevitável de sua morte patética cruzava sua mente por inúmeras vezes sem parar. Esse sentimento me deixava ligeiramente excitada. É isso que esses lixos merecem. — Seu bosta... Pra quem você trabalha? É a Resistência, não é? Fala logo de uma vez antes que eu termine de cortar a sua cabeça! — Ditei.

Removi a sola da sandália de sua boca, logo em seguida apontando a kunai ainda envolta pelo chakra em direção a garganta do outro, que agora tossia e recuperava o ar que lhe havia sido tomado à força pouco antes. Ele olhou para as palmas de suas mãos e pareceu refetir consigo mesmo por alguns instantes antes de responder, com a voz rouca, quase como murmúrios.

— Resistência...? Somos apenas bandidos... Por favor... Não mate meus companheiros! — Ele suplicou de forma patética. — Estamos apenas vigiando Fukui... Se você quer saber de algo, busque o ferreiro da vila. Por favor, me deixe viver! Eu não quero problemas com Iwa! — Juntou suas mãos como em uma reza.

— Resolva seus malditos problemas no inferno! — Respondi de forma furiosa antes de cortar a sua garganta em um movimento sutil.

As chamas automaticamente cauterizaram a ferida causada, impedindo que o sangue jorrasse descontroladamente de suas jugulares. Enquanto os olhos rolavam para cima, voltei a kunai para a bolsa, com as informações coletadas. Eles não pareciam ser culpados, mas estavam no caminho. Bom, mentir não faria mal, não é mesmo? Quando percebi que Kazen havia se livrado do corpo do outro, imediatamente o chamei para minha posição a fim de partilhar o que havia descoberto, omitindo o fato de serem apenas bandidos quaisquer. Havia um ferreiro na vila de 'Fukui', e ele parecia ser alguém importante. Se ele for o contratante, talvez ele saiba de algo.

No entanto, ao menos por agora, deveríamos nos focar em apagar as evidências desse assalto.

Informações:

— Enterramos os cadáveres ensaguentados entre as árvores do monte acima, cobrindo-os por camadas de folhas e finalizando com uma manipulação de terra do shinobi Kazen, que afundou o solo, envolvendo os corpos com o abraço gélido da terra. Após apagar as evidências da emboscada, seguimos nosso caminho em direção a Fukui, com o intuito de nos encontrarmos com o tal ferreiro. Nos aproximamos com cuidado, escondendo nossas bandas de vilarejo no interior de vossas bolsas de armas. Talvez aquilo não fosse o suficiente para nos identificar como possíveis mercenários, mas ao menos removeria a identificação óbvia do vilarejo que com certeza traria hostilidade por parte dos habitantes e forças de bandidos contratadas. Ao chegarmos na entrada, Momo tocou em meu ombro esquerdo, olhando para o lado direito, desconfiada de algo.

— Sinto que há algumas assinatura de chakra mais poderosas do que o normal por aqui. — Ela ditou. — Três a cerca de duzentos metros. Não são bandidos ordinários. Melhor mantermos distância. — Finalizou.

De imediato alteramos o trajeto para o lado oposto do qual tais ameaças se encontravam. Ele poderiam esperar um pouco, pois já havíamos um alvo em mente. A vila era pequena e as construções possuíam espaço o suficiente entre elas para vos ocultar com facilidade. Alguns transeuntes andavam de um lado para o outro em busca de dinheiro pelas ruas do pequeno assentamento esquálido, tão miserável que me impressionava ter dinheiro o bastante para contratar uma força de mercenários para protegê-los. Inevitavelmente nos encontramos com o estabelecimento do ferreiro - Muito mais imponente do que qualquer outra casa ao redor. Com uma grande estande e vitrine de armamentos e uma chaminé que constantemente estava a exalar fumaça negra, era possível enxergar a fornalha acesa por detrás das janelas translúcidas. Nos aproximamos com cuidado, batendo à porta.

[...]

— Hã? Quem diabos são vocês, hein? Nunca vi nenhum de vocês por aqui... — Ele imediatamente abriu a porta, nos analisando da cabeça aos pés com desconfiança. — Vocês vieram buscar algum tipo de encomenda? Não me lembro do Keith ter pedido nada... — Continuou.

Kazen se pôs a respondê-lo.

— Somos apenas viajantes, senhor. — Disse ele, com um sorriso inocente no rosto. — Queremos saber sobre esse lugar e os outros vilarejos próximos. Estamos perdidos na trilha, então seria útil para nós termos mais informações sobre o local, não é? — Continuou.

— Oh... Entendi. Bom, há a vila de Ishikawa e Kotaro seguindo a trilha adiante, com Fuma e Touda estando mais ao leste. Essas aí tão mais próximas da fronteira. Era isso que queria saber? Não quer comprar nada? — Ele ofereceu seus serviços.

— Aliás, esses caras que ficam rondando a vila... — Momo levantou sua voz, curiosa.

— Não se importe com ele, são só alguns amigos de uma organização que se ofereceu pra nos proteger. Não sei o que tá acontecendo, mas a grana tá entrando. Nossa vila tá toda fodida, então qualquer ajuda é bem-vinda. — Finalizou.

Agradecemos pelas informações e nos afastamos sem levantar suspeitas.
"Amigos" de uma organização, hein? Que papinho furado...

Informações:

— Com o passar das horas, planejamos o nosso próximo objetivo: Investigar este pequeno vilarejo e coletar mais informações a respeito dessa tal "organização". Sabíamos que haviam pelo menos três figuras com poder maior do que o comum, e o próprio ferreiro citou o nome 'Keith'. Se eles não possuíssem nenhum tipo de shinobi sensorial, não seria tão difícil espioná-los se conseguíssemos manter o disfarce e low-profile como andarilhos errantes por um dia ou dois. Alugamos um quartel de hotel na única pousada da vila. Suas paredes de madeira estavam decadentes e os corredores cheiravam a vômito, mas não tínhamos opção. O quarto era pequeno e apertado, possuíndo duas camas rústicas de madeira antiga com colchões rasgados e manchados. O ventilador estava sem uma das pás, contrastando com a janela extremamente empoeirada e a atmosfera cadáverica daquele lugar nojento. Abri a janela até a metade e coloquei um pano sobre a abertura, para que pudéssemos enxergar através dela e impedir a visão de curiosos do lado de fora.

— Momo, por quanto tempo acha que consegue manter a sua técnica sensorial ligada? — A questionei, observando a porta do quarto e percebendo que não se fechava completamente. — Esse lugar tá caindo aos pedaços, não é seguro. — Comentei.

— Direto? Hm.... O-oh, acho que provavelmente por uma hora ou duas. Não tenho tanto chakra como o Kazen-senpai, então não posso garantir que ficarei muito tempo com o sensor ativo. No entanto, eu acho que posso espioná-los mesmo sem o meu Kanchi. — Ela disse, colocando dois dedos no queixo.

— E se nos dividirmos? Mayer, você pode ficar aqui, eu e a Momo encontraremos outro lugar. Tem um prédio do outro lado da vila que dá visão para cá, você poderá nos ver de onde está. Eles são poucos, mas não podemos nos dar ao luxo de sermos vistos. Vamos manter tudo por baixo dos panos, ao menos por hoje. Vamos ver o que conseguimos descobrir e agir pela manhã do próximo dia. — Kazen ergueu sua voz enquanto limpava a lâmina de sua Token.

Assenti, parecia ser um bom plano.

Eu não esperava que nossos inimigos fossem ninjas excepcionalmente perigosos, mas evitar o confronto era parte das instruções do vilarejo. Ademais, não havia muito o que fazer além disso: Observar e esperar por um vacilo ou dois de nossos suspeitos. Kazen e Momo se retiraram do hotel e partiram para o destino anteriormente apontado, atravessando os telhados das casas em velocidade cegante. Permaneci recostada na janela enquanto os observava com uma expressão relaxada, acendendo um cigarro e o levando até a minha boca para que fosse tragado. Enquanto o cheiro da fumaça subia e empestava o local, comecei a pensar.

— Aquele ferreiro parece suspeito também. Vou dar uma olhada nele pela noite. — Ponderei.

Até o momento, a situação parecia tranquila e dentro dos conformes. Eu só esperava que não fosse a maldita Resistência que estivesse por trás desse plano. A vila já vem lidando com perdas constantes nos últimos tempos, e agora vão se aproveitar da ausência de nosso Kage para atacar? Puta merda, não poderia ser pior. Mesmo assim, eu precisava manter a calma. A coisa ainda estava muito longe do fim.

Informações:

— Aguardei de forma paciente até o pôr do sol, que caíra cerca de cinquenta minutos depois. Não havia recebido nenhum sinal por parte de meus companheiros, que permaneciam vigilantes do outro lado do pequeno vilarejo. Tomei essa oportunidade de calmaria para saltar da janela do hotel esquálido e me deslocar de forma imediata em direção a Forja do velho de outrora. O local estava fechado, a fornalha se encontrava apaga e fumaça não mais subia aos céus. O silêncio imperava enquanto a temperatura ambiente, anunciando a chegada de mais uma noite de inverno congelante. Suspirei fundo antes de me agachar e lentamente me aproximar pela lateral do pequeno edifício, me aproveitando de algumas rachaduras em sua estrutura para ser capaz de espiar se havia alguém do lado de dentro.

Uma única vela se encontrava acesa, posta sobre uma antiga mesa de madeira que se dispunha no centro da sala, cercada por duas cadeiras. O fogo iluminava somente parte da forja, evidenciando algumas pinturas e estandes de armas pronta nas paredes. Não conseguia escutar nada vindo de dentro, então pude assumir que o ferreiro havia deixado o local ou estava distante o bastante para que eu pudesse invadir sem muitos problemas. Utilizei a ponta da Kusanagi para cortar a parede apenas o suficiente para empurrar alguns tijolos e criar um buraco espaçoso o suficiente para me arrastar até o lado de dentro. Obtendo sucesso em fazê-lo, imediatamente percebi que o martelo de forja ainda se encontrava quente, cuidadosamente posto sobre a mesa de forja que pulsava com o ferro derretido. Haviam algumas espadas ainda no processo de construção, bem como adagas, flechas e todo tipo de arma que um guerreiro poderia imaginar.

— Ele não está por perto. — Pensei, olhando ao meu redor para me certificar de que não haviam pontos cegos na construção. — Serei breve. —

Revirei cada centímetro da forja em busca de informações. Após alguns minutos de busca, pude recuperar vários papéis empoeirados que se escondiam por debaixo de tábuas soltas e outros colocados de forma estratégica nas quinas da forja ou mesmo dentro dos móveis. A maioria desses papéis eram diagramas de forja e instruções de minérios e outras coisas similares. No entanto, entre essa montanha de informações fúteis havia algo que se destacava: Uma pequena carta de remetente desconhecido, escrita com um garrancho terrível que a tornava quase ilegível. Ela dizia que o 'Velho Shad' deveria ficar de bico calado se não quisesse morrer.

Carta escreveu:
Aê Shad, seu véi, tá de brincadeira seu moleque? Essa porra aí é toda nossa, tendeu?
Cê vai é fazer as armas todas pra tropa. Tenta correr e a gente te mata, se sair ruim morre também, sacou?
A Resistência que manda, a gente vai explodir essa merda de vila é hoje!

— Maldito analfabeto funcional. — Disse, ironizando o conteúdo da carta. — Então é o que eu suspeitava. Eles devem estar por toda parte agora, que desgraça! — Continuei.

No entanto, ao invés de simplesmenta guardar a carta e me retirar, decidi tomar um pouco mais de tempo para estudar os diagramas de forja deixados por Shad. Eu não sabia se eles haviam algo de importante ou especial, mas foram itens encomendados pela própria resistência. Sabia que a qualquer momento Kazen poderia enviar um sinal, então era melhor me manter atenta. Eu tinha pouco tempo, mas era mais do que suficiente. Eles estão bem armados e prontos para a guerra... Isso não pode continuar!

Informações:

— Devo admitir que, de certa forma, fiquei ligeiramente entretida com o que havia descoberto. Os diagramas da forja eram expecionalmente detalhados, abrangendo desde informações básica da concepção de cada item a ser criado, como as especificações de seus materiais, modo de forja, tempo de aquecimento e instruções para o molde de suas formas finais. Diagrama após diagrama, comecei a ficar cada vez mais imersa naqueles papéis. O que deveria ser uma breve leitura tornou-se uma verdadeira e extensiva sessão de estudos. Nunca, nem por um segundo, eu pensei que fosse me interessar por algo tão bruto quanto a forja de armas e armaduras shinobi. O desenho das peças e as orientações intensas contribuíam para uma leitura excitante, mas havia algo a mais que não conseguia realmente responder o que era. Talvez a beleza da criação, ou a ansiedade para ver o resultado final de uma obra-prima? Era uma motivação distante para mim, um sentimento intrínseco daqueles apaixados pela arte da forja.

— Que interessante... — Sussurrei a mim mesma, alheia ao mundo exterior. — Incrível.. Vou levar de volta comigo. Pode ser um bom passatempo para me desestressar. — Continuei.

Dobrei as folhas de papel e rapidamente as guardei em minha bolsa de armas. No entanto, antes mesmo que pudesse perceber, havia perdido o horário - A vela estava pela metade, e cerca de meia hora havia se passado desde o início da minha inesperada descoberta por uma paixão desconhecida. Arregalei os olhos e saltei para fora da forja, ainda admirando os espécimes metálicos que estavam à mostra na varanda. No entanto, eu não possuía muito tempo - Minha mente se deslocou tanto durante aqueles minutos que eu havia perdido completamente a noção de horário, e não sabia se o sinal havia sido lançado ou não. Subi e uma das casas de barro próximas, alcançando o telhado antes de vislumbrar o horizonte distante, onde um pequeno relâmpago se formou, vindo de baixo para cima. Não parecia tão luminoso ou potente como um raio de verdade, mas...

— Merda. — Pensei, já sabendo do que se tratava. — Estou atrasada demais, que desgraça. Deixei minha mente cair na tentação... — Continuei.

Reclamar não iria mudar nada. Por mais que as coisas já estivessem tomando o seu curso do outro lado, tudo o que eu poderia fazer era agir para garantir que nossos inimigos não fossem escapar desse lugar com vida. Não sabia da situação de Momo ou Kazen, mas eles não poderiam ter sido mortos - Kazen era poderoso, e a garota, uma prodígio das técnicas ilusórias. Tenha foco, Mayer! Lembre-se do sangue que você carrega, e do voto que você firmou consigo mesma!

Informações:

— As coisas já pareciam estar saindo de controle. Kazen parecia ser um homem calmo e contido que pouco deixava transparecer as suas verdadeiras emoções, mas Momo era uma mente frágil, uma alma pura que desconhecia os horrores deste mundo. Não me impressionaria caso ela se apavorasse frente um inimigo formidável ou de aura intensamente brutal. Me desloquei entre as casas em velocidade elevada, cortando a escuridão com movimentos tão rápidos que deixavam borrões para trás. Os passos pousavam sobre as telhas das casas improvisadas como penas, e meu corpo se movia de acordo com as sombras da noite - Um fantasma esgueirando-se na escuridão à frente.

Ao me aproximar, imediatamente pude captar um son metálico ecoando ao fundo, como se duas lâminas houvessem acabado de se colidir. Saquei a Kusanagi, desembainhando-a com velocidade e habilmente empunhando a lendária lâmina com a palma destra. Ao chegar no destino almejado, meus olhos foram imediatamente levados até o centro, onde Kazen estava a confrontar um shinobi alto com vestes escuras e uma capa amarronzada coberta por terra. A aparência do outro lembrava a de um shinobi de Iwagakure, mas a bandana riscada em sua coxa direita entregava suas verdeiras intenções. Com um segundo choque, a colisão de espadas enviou ambos os ninjas para trás em direções opostas, levantando uma pequena nuvem de poeira  no processo. Baixando sua máscara, o inimigo revelava um rosto de expressão vil, olhos cerrados de cor negra e um sorriso largo.

— Nenhum de vocês vai escapar desse cerco. Já se perguntaram o que a Resistência realmente pode fazer?! — Ele exclamou, abrindo os braços em uma postura arrogante. — O cerco está se fechando nesse exato momento. Um ou dois homens não podem fazer nada contra as nossas forças. Morra! — Ele finalizou.

— M-merda! Momo, se abaixe! — Kazen gritou, enquanto o opositor concentrava o chakra em seu estômago.

Após amassar a energia no estômago, ela subiu pelo seu esofâgo e tomou a forma de um largo e poderoso jato d'água que avançou em uma velocidade incrível. O jato era espesso e parecia possuir propriedades cortantes, rasgando com facilidade através das rochas e árvores ao redor. Momo e Kazen se afastaram do alcance da técnica, recebendo pequenos arranhões no processo. Me aproveitei da distração momentânea do inimigo para avançar, reaparecendo no ponto cego de suas costas e estocando-lhe à altura de sua coluna cervical. Senti a lâmina da Kusanagi se cravar nos ossos de sua coluna, mas ela não foi mais fundo do que aquilo. Um pouco de sangue escorreu pela espada, mas ela travou, como se houvesse atingido uma montanha. Tentei puxá-la de volta, mas estava completamente presa entre os músculos do renegado.

— Quase. Você quase passou pela minha armadura. — Ele disse, virando o seu rosto antes de chutar para trás.

Me defendi com dificuldade do ataque, colocando a lâmina da Kusanagi, agora envolta por chamas como medida defensiva. O fogo pôde queimar através das defesas de forma supercial, me permitindo trazê-la de volta a mim antes que o golpe conectasse. Mesmo assim, o impacto do chute fora poderoso o bastante para me arremessar a cerca de três metros da posição original, forçando-me a a aterrissar de maneira precária e vulnerável.

— Ele controla dois elementos?! — Me perguntei, surpresa. — Esse cara não é um ninja qualquer. Chuunin? Não... Aquela técnica era avançada demais. — Continuei, enquanto observava as placas de terra caírem de suas costas.

[...]

Do outro lado, Momo e Kazen se afastaram. Com a garota em seus braços, Kazen se manteve a uma distância de quinze metros do campo de batalha, escondendo-se atrás de uma construção abandonada para recuperar suas forças. O combate havia sido curto, mas exaustivo. Estava com sua respiração irregular, suando e sangrando. Momo, por outro lado, havia sido surpreendida por uma estocada nas costas. Não foi um golpe fatal, mas havia sido o suficiente para derrubá-la. Por não ser uma ninja de combates diretos, ela não teria chance contra alguém de nível mais elevado que ela própria.

— Puta merda, Mayer... Onde você tava? Agora tudo foi pra merda! Eles fugiram... Os malditos fugiram, porra!!! — Kazen pensou consigo mesmo, enquanto balançava a cabeça em sinal de negação: Uma mistura de frustração com medo.

Informações:

— O ninja em minha frente não parecia se importar em chamar atenção. Ao realizar uma sequência breve de selos manuais, o homem levantou sua mão destra ao chão, liquefazendo o solo ao seu redor e criando um pântano de terra pegajoso. Como em um redemoinho, a força centrífuga da técnica começara a espiralar em direção ao centro do pântano, arrancando árvores de suas bases à força e derrubando as casas ao redor. Me prendi a uma rocha com a lâmina da Kusanagi, impulsionando-me para cima, escapando do alcance da técnica. Aquela tormenta de lama que mais se assemelhava a uma espécie de areia movediça provavelmente permaneceria ativa por um bom tempo, então era inviável tentar me aproximar do inimigo dessa forma. O ninja varreu a área em busca dos meus olhos, encontrando-os por um único instante antes de desaparecer como um espectro vingativo.

— Ele é rápido. — Sussurrei.

O opositor reapareceu logo atrás de mim, materializando seu como como uma extensão da escuridão que vos cercava. De mãos nuas, ele firmou e flexionou os músculos de seu braço direito, levantando-o a frente com a intenção de partir o meu crânio com um golpe poderoso contra a base da minha cabeça. No entanto, o seu curso de ações era previsível: Ele não parecia ser um ninja fraco ou pouco experiente, mas com certeza estava limitado a uma ou duas formas de combate. Por conta disso, me joguei para frente, deixando um clone explosivo para trás com o Bunshin Daibakuha.

Surgindo de maneira instantânea, a réplica imitou a minha pose anterior, virando sua cabeça em direção ao homem antes de detonar em uma magnífica explosão de cinco metros de raio, vaporizando a rocha em que estava sobre e arremessando destroços para todos os lados - O homem inclusivo, que em uma guarda cruzada pôde evitar os danos fatais da explosão. No entanto, apesar das marcas de queimadura, ele não aparentava ter sido ferido gravemente.

— Foi atingido pela explosão na fuça e não sangrou uma única gota de sangue...? — Pensei, analisando-o mais a fundo. — Não é a armadura de terra, né? Esse cara está escondendo alguma coisa de mim. Mas a essa altura é inútil, nós chamamos atenção demais. É melhor fugirmos antes que ele destrua todo esse lugar! — Continuei.

No entanto, quando pensei em dar as costas para escapar enquanto o desconhecido se recuperava da técnica, senti a mão de Kazen pousar sobre o meu ombro esquerdo, pressionando-o com certa força, como se estivesse a realizar uma súplica. Sem trocar palavras ou olhares, ambos havíamos entendido a mensagem: Não dava pra fugir mais. Deveríamos priorizar a eliminação do alvo ao invés de permitir que ele lutasse um outro dia.

— Momo está bem. Vamos cuidar desse traste de uma vez. A armadura de terra é só um chamariz... A verdadeira técnica dele é enrijecer seus músculos com chakra. Ele é quase imune a ataques físicos, mas... — Kazen sorriu, olhando para mim. — Você disse que é especialista em fogo, não é? —

Assenti. Estava na hora de colocar nossa teoria à prova.

Informações:

— Vosso opositor nos encarava com brutalidade. Seus músculos estavam tensionados, e as veias estavam tão saltadas que pulsavam por cima de sua pele. Os olhos sempre abertos e focados revelavam um horror profundo conforme as partículas e pequenas placas de terra começavam a se descascar da pele. Para um observador leigo, era quase como se o homem estivesse a trocar de pele, como uma serpente. Kazen firmou as mãos na empunhadura de sua Token, levemente dobrando as pernas para impulsionar-se no momento correto. Fiz o mesmo, mantendo a Kusanagi apontada para frente, mirada contra o coração do inimigo. Os ventos gélidos sopraram para além de nossos corpos, causando uma turbulências entre as folhas das árvores ao nosso redor, que eram levadas pelo vento como corvos a rodear carcaças. Quando o último suspiro do vento se foi, todos se moveram.

Foi curto, rápido, brutal. O impacto entre os golpes fora tamanho que o rachão abaixo de nós pés rachou. A espada nas mãos de Kazen se partiu em três pedaços irregulares, mas o Tokujo ainda segurava a empunhadura da lâmina destroçada. Por um instante, pensei que não houvesse dado certo - O renegado ainda estava de pé, de costas para nós, inabalável. No entanto, poucos instantes depois, uma grande explosão surgiu no seu corpo, enviando sangue para todos os lados. Foi então que Kazen se ajoelhou, segurando uma ferida profunda em seu abdomen. Seu sangue jorrava como uma fonte carmesim, mas ele mantinha uma expressão solene no rosto.

— Ah... — Kazen sussurrou, com dificuldades para respirar. — Desgraçado, ele ainda conseguiu atravessar a minha espada. Eu a parti de propósito e criei uma barreira de vento entre nós com vários papéis bomba. Puta merda, se ele houvesse insistido mais naquele ataque eu teria sido partido ao meio. — Ditou, em uma mistura de surpresa e medo.

— Você é bom nisso, hein? — Respondi, observando o corpo destroçado do renegado. — Seu ataque foi perfeito. Acabei sendo repelida pela armadura, então no fim você mesmo foi o tal 'especialista em fogo.' — Continuei, em um tom levemente sarcástico.

Kaen gargalhou brevemente, amarrando uma atadura ao redor da barriga a fim de parar o sangramento e promover uma recuperação estável de sua ferida. Ela coagularia em breve, mas conseguia ver nitidamente que seu corpo estava exausto. Além disso, chamamos atenção demais. Mesmo sem uma audição superior, era possível escutar diversos passos que corriam rapidamente em nossa direção.

— Eu levo o corpo daquele cara, a Momo já foi na frente! Vamos logo, Mayer. — Ele disse, disparando para fora da cena.

Fiz o mesmo.

Dois haviam escapado, e a culpa foi toda minha. Estávamos indo em direção a trilha que levava diretamente a Ishikawa, uma vila fronteiriça. Além disso, ela estava muito próxima de outros dois pequenos vilarejos. Se aqui havia um inimigo daquele nível, não podia imaginar o que encontraríamos depois. Agora eles sabem quem somos nós - A porra da missão já foi pra merda, mas não tem como voltar atrás. O que nos resta é ir até o fim, e matar cada um destes desgraçados!

Informações:

— O tempo se passou diante de nossos olhos, tão rápido que mal tivemos tempo de pensar a respeito do que se passou em Fukui. Tínhamos certeza de que não havíamos sido vistos pela população geral ou por um número maior de inimigos, e, além de tudo, os fugitivos não sabiam que eu também estava lá. Por outro lado, Kazen e Momo pareciam demasiadamente aborrecidos pelos acontecimentos desajustados de pouco tempo atrás. Em determinado ponto da viagem até Ishikawa Kazen decidiu parar, nos guiando mata adentro e formando uma clareira circular ao manipular o vento para cortar a vegetação indesejada.

— Vamos descansar aqui. Minhas feridas estão cobrando demais do meu corpo. — O espadachim disse, agachando-se com dificuldades. — Sem fogueiras. Não podemos chamar atenção. Vamos ficar entre duas a três horas, será bom para despistarmos possíveis perseguidores também. Por sinal, Momo, você conseguiu detectar mais alguma naquela hora? —

— Não tenho certeza, foi muito rápido. — A garota disse, cabisbaixa. — Senti apenas três presenças. Entre as três, uma estava a carregar algo similar a um artefato de chakra. Pode ser uma arma ou um pergaminho selado, não sei. Minha barriga dói... — Continuou, sua voz trêmula e baixa.

[...]

Mantive-me em silêncio durante a maior parte do tempo, apenas servindo de guarda para meus companheiros. O trajeto era pouco movimento. De onde estávamos, tínhamos uma vista privilegiada da estrada ao lado, ao memso tempo que não conseguiriam nos ver do outro lado da mata. Alguns civis transitavam pela estrada de terra batida, carregando suprimentos ou simplesmente viajando de um vilarejo ao outro. Não havia sinal algum de ninjas inimigos, mas não baixei minha guarda em momento algum.

— Ishikawa... Esse vilarejo não me é estranho. Foi onde Shinji viveu por boa parte de sua vida, não é? Ele roubou o Rashomon daquele lugar... — Refleti comigo mesma, me lembrando de uma missão de alguns meses atrás. — Não é a toa que se tornou um local em que a Resistência está interessada. Tem alguma coisa por lá que eu deixei passar entre as palavras de Shinji. — Acendi um cigarro, levando-o a boca.

Tanto Kazen como Momo estavam a olhar fixamente para o chão. O espadachim estava movendo a terra com um graveto em mãos, desenhando figuras aleatórias no solo para passar o tempo. Por outro lado, a ilusionista se manteve com as pernas coladas ao peito, agarrando-as com seus braços e mantendo o olhar baixo, escondido por detrás de seus joelhos. Eles eram uma dupla bastante interessante, e contrastavam fortemente em personalidade. De qualquer forma, um momento de descanso não era um alívio - E sim um atraso. Os inimigos já deveriam estar a disseminar informações enquanto estávamos procrastinando em um maldito fim-de-mundo como aquele.

Maldita seja minha "sorte."

Informações:

— Sentei-me sobre um galho suspenso, observando o horizonte distante e contando as nuvens que passavam sobre nossas cabeças. Enquanto meus pensamentos se desfaziam em memórias distantes e meus olhos se focavam na paisagem paradisíaca, não pude deixar de notar a calmaria que sentia no meu coração naquele instante: Cercada pela brisa diurna e seca do País da Pedra, relaxando na natureza de forma despreocupada como uma garotinha tola, tão inocente - tão pura. Lembrei-me brevemente da minha infância, e de quando corria através dos campos e planícies das fronteiras do país ao lado de minha mãe. Seu sorriso era brilhante como o de uma estrela, e seu coração era tão grande que provavelmente seria capaz de perdoar até o pior dos demônios. Cerrei o punho de forma instintiva, lembrando-me da figura estoica e sempre distante de meu pai, Aiko. Os cabelos prateados e postura antisocial entregavam as dores de um passado sangrento, mas nunca poderia imaginar que ele próprio se tornaria o mal de minha vida.

— Ela morreu por sua causa... — Disse, como se ele estivesse em minha frente. — Por sua causa a minha vida viirou esse inferno, esse mar de desgraças... Vou matá-lo, fazer com que sofra até o último instante de sua existência miserável. Pagará por ter me criado como sua arma. — Continuei, perdida no limite entre imaginação e realidade.

Até que um toque me trouxe de volta.

— Mayer?! — Kazen disse, preocupado. — Você tá bem? Está dizendo coisas estranhas... — Ele continuou.

Ao seu lado, a jovem Momo observava de forma curiosa, agarrada a cintura de seu mestre. A conexão entre eles me lembrava não só Ryo, mas também a minha mãe. Se eu ainda fosse a mesma de antes, deixaria escorrer uma lágrima. No entanto, associar tais conceitos apenas me fez afundar ainda mais na escuridão que havia criado no meu interior. O vazio se expandia rapidamente, e minha humanidade escorria pelas mãos assim como a água se perde em uma correnteza. Eu era um pequeno peixe cercado por um mar frio, solitário, escuro. Tudo o que me restou, ironicamente, é meu pai. O homem que destruiu a minha vida era tudo o que eu tinha. Ele era a minha motivação para viver. Um destino desgraçado, infernal.

— Não é nada... Quanto tempo já se passou, Kazen-san? — Levei a mão sestra até meu rosto, me recompondo.

— Você tá bem mesmo? — Ele não esperou por uma resposta, apenas balançou a cabeça. — Duas horas. Já é quase meio-dia. Hora de irmos, já me recuperei. — Continuou, indo a frente.

— Mayer-senpai, não fique triste! A vida pode ser difícil, mas sempre vai ter alguém com você! Alguém te amo, saiba disso! — Momo disse com um largo sorriso.

Levei a outra mão ao rosto, escondendo-o enquanto a garota se afastava.
Sim, eu tinha um apoio, um amor, uma vida.

Tinha.

Informações:

— Mas agora, será que alguma coisa realmente ainda importava? Era uma pergunta difícil de se responder, e agora não era o momento para me perder em uma reflexão como essa. Levantei-me de onde estava e passei a seguir a dupla, ficando um pouco para trás, ainda pensativa sobre a questão. Havíamos escolhido aquele monte como ponto estratégico justamente porque estava na encruzilhada em direção a Ishikawa, então seria mais fácil alcançarmos o vilarejo por aquela rota. Posso dizer com certeza que passamos mais de trinta minutos correndo entre rochas e planícies vazias até que o vilarejo estivesse em vista, e ele era bem diferente do que eu esperava: Era relativamente grande, cercado por lanças de madeira que serviam como uma muralha improvisada. Lampiões queimavam sobre os postes, e uma força-tarefa de shinobis renegados se encontravam aos portões do local. Nos abaixamos de forma quase instantânea após vermos que haviam guardas pelas estradas.

— Com certeza tem um sensor por lá. — Momo disse em voz baixa, realizando o selo da cabra pára ativar o seu Kanchi. — 10, 20... 25 ninjas ao redor dos muros. Há dois dentro da vila, então devem ser sensores de baixo ou médio alcance. A assinatura de chakra dos que encontramos em Fukui não está aqui, então eles ainda não sabem das boas-novas... — Ela deduziu.

— 25? — Me perguntei. — É impossível invadir. A menos que nós entremos em confronto direto, não tem como invadir uma vila de forma silenciosa com dois sensores do lado de dentro das muralhas. Eles são muitos para serem despistados, e mesmo que seus ninjas sensores sejam fracos, ainda são sensores. O alcance não deve ser menor do que cem metros. — Continuei.

Paramos um pouco para pensar a respeito e montar um plano.

[...]

Após bons minutos de discussão, havíamos chegado a um consenso: Não havia outro jeito se não chamar atenção da forma mais óbvia possível: Um grande show de luzes. Poderíamos até atrair os guardas das muralhas para o ponto de distração almejado, mas os sensores com certeza não sairiam de posição. É aí que a coisa fica um pouco mais divertida: Clones. Eles não poderiam diferenciar nossas duplicatas dos originais, e, além disso, também poderiam confundir com um batalhão de seus próprios aliados. Kazen ficou encarregado de avançar com os clones, enquanto eu seria a responsável por chamar a atenção dos guardas. Quanto a Momo,ela permaneceria em posição e colocaria um genjutsu no terreno para atrasar a volta dos aliados dos sensores antes que fosse tarde demais para nós.

Informações:

— A hora estava quase chegando. Nos separamos assim como planejando e começamos a nos mover entre as poucas sombras que ainda restavam sob a acusação flamejante do sol, tão brilhante no centro dos céus. Me posicionei a cerca de sessenta metros dos portões do vilarejo, oculta e agachada entre rochas soltas que formavam um pequeno monte de terra. Enquanto colocava meu rosto sobre a ponta da rocha para observar a movimentação inimiga de relance, também tive a oportunidade de visualizar a movimentação ofensiva de Kazen, realizando um selo único e convocando três réplicas ao seu redor. Cada clone permaneceu o mais próximo possível de seu original, a fim de dar a impressão de unidade e confundir o raciocínio dos ninjas sensores.

— Dez guardas nos portões, mais cinco para a direita e outros cinco à esquerda. Ademais, acredito que os três restantes devam ser patrulheiros móveis, e os sensores encontram-se em dois dentro das muralhas. Acredito que todos do meu lado serão atraídos pelo meu chamariz, mas não posso garantir que o Kazen conseguirá ter sucesso, mesmo que eu atraia os inimigos para minha posição. É uma situação verdadeiramente delicada... — Pensei, planejando meu ato futuro.

O sinal veio da forma de uma disparada direta: Kazen moveu-se junto aos clones em linha reta contra o vilarejo, o que me deixou surpresa. Ele estava confiando demais em mim e em seu plano mirabolante, mas não tínhamos muito o que fazer além disso. Nossa missão era simples: Nos infiltrar, eliminar os sensores e nos misturar à multidão. Mesmo que procurassem pelos assassinos, não poderiam nos descobrir entre os mares de civis e trabalhadores à parte. Levei a mão direita à altura de minha boca, inspirando o chakra e amassando-o no estômago. Então, quando a energia estivesse devidamente coletada e preparada para a liberação, viraria o meu rosto para cima como se observasse as estrelas.

— Katon: Goukakkyu no Jutsu! — Exclamei.

Então, uma enorme esfera flamejante de dez metros de diâmetro fora criada. Após ser lançada em direção aos céus, ela percorreu um caminho em linha reta até explodir em uma grande esfera de fogo. Repeti a técnica uma segunda vez, mirando contra as árvores e rochas ao meu redor. O resultado foi um grande espetáculo de destroços que voaram por todos os lados, bem como chamas que agora dançavam em sincronia com os raios de sol. O som estridente das explosões poderia ser ouvido a dezenas, se não centenas de metros. Não demorou muito até que eu percebesse que eles haviam começado a se mover. Não um ou dois - Todos eles.

— Isso! — Pensei.

Agora vinha a parte difícil: Fugir.

Informações:

— Por sorte, os sobreviventes decidiram ficar por lá na floresta mesmo. Não sabia se estavam se recuperando da explosão, cuidando dos feridos ou simplesmente investigando o perímetro para se certificarem de que o inimigo estava próximo. Enfim, pouco importava: Consegui pôr meus pés nos terrítorios do vilarejo pouco mais de um minuto após a explosão. Minha reservas de chakra ainda estavam em alta, essencialmente inalteradas graças ao meu controle superior sobre a energia vital que vos rege. Saltei entre as anças de madeira que se portavam como muralhas improvisadas, caindo sobre um pequeno amontado de terra e rochas - A poucos metros de onde Kazen estava. O outro estava a observar a corpo sem vida de um dos ninjas senores. O sangue do inimigo ainda pingava da lâmina do assassino de Iwa, que fixamente continuava a observar o cadáver, quase como se fosse capaz de conversar com ele.

— Hm? — Ele interrompeu sua reflexão, se virando para mim. — Oh, Mayer. Parece que tudo deu certo, aparentemente. Eliminei os dois sensores de uma vez, não passavam do nível acadêmico de força. Enfim, estamos limpos. Não verifiquei nenhuma outra presença suspeita, e Momo certificou-se de analisar todas as assinaturas de chakra da região. No entanto, com certeza mais deles chegarão. Esse lugar é mais do que parece ser, então é melhor nos prepararmos. — Ele disse, guardando a espada.

— Descobriram algo? — O questionei, séria.

— Não exatamente. Não consegui notar nada de diferente na vila, mas sinto que tem algo acontecendo aqui. Pode ser por conta dos civis... Não tenho certeza. Vamos continuar observando e investigando até que o próximo enxame de renegados chegue. — Ele ditou a última frase de forma irônica, como se estivesse a esmagar moscas.

Bom, não poderia dizer que ele estava errado.

Observei os meus arredores com cautela, vertificando que Ishikawa era um vilarejo relativamente pequeno. Ele devia possuir não mais do que mil ou duas mil pessoas, com no máximo duas centenas de casas e um prédio que parecia servir como o consulado da região. Eram casas modestas, e as ruas eram bem pavimentadas, com lampiões sempre acesos. Não haviam shinobis de Iwagakure no local, o que indicava que se tratava de um pequeno vilarejo errante. Seria mais fácil assim, no final das contas. Mais um ou menos um habitante não faria diferença para um povo como este, e muito menos para os renegados. Eles estavam aqui por um motivo, e nós descobriríamos a razão por trás disso muito em breve.

Informações:

— Nos reunimos em uma praça pública onde havia maior movimento. Transeuntes iam e viam a todo instante, alguns com olhares preocupados e de desconfiança em seus rostos. Ele viam a fumaça distante como um sinal de um mau agouro - Cidadãos esquálidos, magricelas e esqueléticos. Vestiam panos coloridos ao redor de seus corpos como se ainda estivessem vivendo na Idade Média, mas portavam-se de forma tão estranha que me causava calafrios. Imediatamente me recordei do pequeno vilarejo que Shinji destruiu durante o nosso confronto nas fronteiras do leste. Os moradores de lá tinham esse mesmo rosto, esta mesma feição. A expressão de alguém que foi abandonado e esquecido por Deus, um povo miserável que pouco tinha além de suas próprias vidas. Permanecemos com olhares baixos, encapuzados e enrolados em trapos baratos que achamos jogados pelo chão para ocultar a nossa identidade e nos passar por civis comuns com mum pouco mais de tranquilidade.

— Que gente bizarra. — Momo não deixou de notar, sussurrando. — Eles estão vivos mesmo? —

— Sei lá, mas isso não importa. Esse povo é tão estranho que seria impossível pensarem que somos parte deles. Melhor nos escondermos em algum lugar por aí antes que vejam os nossos rostos. Eu sei que tem alguma coisa por aqui, então não vamos fazer a mesma merda de antes e chamar atenção demais. — Kazen respondeu, sério. — Alguma ideia, Mayer? —

— ... — Não o respondi.

Kazen olhou para meu rosto com um pouco de dúvida, mas logo esqueceu-se do silêncio e voltou a se firmar em seus próprios pensamentos. A verdade é que eu estava completamente perdida. Se o povo daquele lugar é o mesmo daqui, então quer dizer que eles estão sendo "criados", de certa forma. Subnutridos - Todos eles se vestem e portam da mesma forma, quase como se fossem escravos.

Escravos...

— É isso! — Eu ditei um pouco mais alto do que deveria. — São todos escravos, devem estar sendo controlados por alguma técnica mental. Já vi essa gente antes... Eles não falam e não sentem. São peças. É isso que a resistência está fazendo aqui! Querem escravos para suprir suas necessidades. Se é assim, então quem quer que seja o responsável pela técnica deve estar próximo. Algo dessa escala exigiria uma quantidade insana de chakra. —

Kazen soltou uma gargalhada. Ele não acreditou em mim.
No entanto, Momo assentiu. Ela também havia sentido que algo estava fora do eixo naquele lugar.

O homem olhou para nós duas e se perguntou se estávamos falando sério. Suas expressões faciais variaram da surpresa, até a dúvida e então a realização. O espadachim levou sua mão direita até a testa e fechou os olhos, refletindo sobre o que havia acabado de ouvir. Soava como um absurdo, um devaneio de um louco, mas era a mais pura verdade. Ligar os pontos era fácil para mim porque já estive em uma situação similar, mas para ele era um conceito completamente alienígena. Não o culpava por isso... Na verdade, era até bom que não soubesse das atrocidades da Resistência.

— Caralho, isso é diabólico... — Ele sussurrou, ainda incrédulo.

Informações:

— Ficar reclamando ou pensando a respeito não iria alterar os fatos. Em uma medida rápida de investigação, nós decidimos nos dispersar pela cidade e assumir pontos de controle e de observação. Diferentemente de Fukui, não haveriam sinais e tampouco avisos: Estávamos a buscar pelo nosso inimigo oculto completamente às cegas, e portanto seria de responsabilidade de cada um fazer a sua própria investigação e não ser descoberto pela Resistência. Nos misturar a multidão seria quase impossível, ainda mais sabendo que estes escravos muito provavelmente seguem as ordens de quem quer que esteja no controle da técnica. Seria fácil demais para qualquer um de dentro deste círculo macabro reconhecer que há um ou dois agindo de forma errática. Acabei ficando com a área norte da cidade - Potenciamente a mais miserável entre todos os outros setores daquele vilarejo imundo. As casas ainda possuíam uma arquitetura regular, mas estavam caindo aos pedaços. Os lampiões falhavam constantemente e as ruas se encontravam mergulhadas em lixo.

Os poucos moradores empilhavam o lixo em montes, um por cima do outro, descartando até mesmo ossadas e corpos daqueles que já não mais possuíam a vitalidade para continuar resistindo a este tormento prolongado. Apesar de tudo, o local não parecia ser guardado por ninguém. Apenas haviam algumas figuras esqueléticas vagando sem rumo ou em círculos, mas os guardas da resistência com certeza não dariam atenção a um ponto tão descartável como este. De qualquer forma, era meu papel investigá-lo até que encontrasse alguma coisa. Sabia que Momo e Kazen não estariam por perto para me dar suporte e que um combate em grande escala seria uma sentença de morte, então começaria por baixo, em silêncio.

— Não faço ideia do que fazer aqui. — Comentei comigo mesma, me escondendo atrás de uma parede.

Aquele lugar era simples até demais. As ruas, por mais que labirínticas, ainda eram curtas e as casas estavam em poucos números. Conseguia ver o outro lado da muralha desde o início do setor, evidenciando que era o menor entre todos os demais. Se houvesse algo aqui, com certeza estava mais perto do que poderia imaginar.

— Dentro das casas, talvez? — Pensei. — Parece ser uma possibilidade. —

Começaria por ali.
Invasão de propriedade não é uma coisa que eu já me imaginei fazendo, mas até que era interessante.

Informações:

— Invadi a primeira residência que vi pela frente. A grande maioria daquelas casas possuíam um ou dois andares, no máximo. Eram simples, com poucos móveis e uma estrutura tão frágil que me impressionava ainda estarem de pé. As escadarias para os andares superiores estavam empoeiradas, e a madeira rangia como se estivesse se partindo por dentro. O chão e paredes sem pintura, móveis remebdados como fitas adesivas e talheres retorcidos evidenciavam a miséria de Ishikawa. Na verdade, aquele lugar nem parecia real. Era como um pesadelo, um local que estava vagando na linha entre o vale da estranheza e o mundo real. De qualquer forma, minha investigação continuou durante mais alguns minutos, até que eu cheguei na maior entre todas aquelas casas. A explorei e não encontrei nada como de costume, mas após voltar para o primeiro piso, notei que alguma coisa parecia... Fora do lugar. Um relógio de pêndulo quebrado em uma das quinas da casa, posicionado de forma perfeita, ao mesmo tempo que extremamente agoniante. Me aproximei do relógio com cautela, observando-o de todos os ângulos possíveis antes de puxá-lo. Ao cair, foi-se revelada uma passagem oculta. Ela estava lacrada por um cadeado de aço, pintados nos mesmos padrões de cor do restante da casa para se camuflarem. Com a Kusanagi, cortei a corrente e forcei a abertura do porão.

— Isso não existia nas outras casas. Por que isso está aqui? — Me perguntei, saltando na escuridão. — Aposto que tem algo aqui embaixo. — Continuei.

Após tocar o solo, imediatamente concentrei o chakra em meus olhos. Os globos oculares se encheram de sangue, e três tomoes surgiram ao redor da pupila, girando até se posicionarem em lados opostos. Com o sharingan ativo, passei a observar tudo o que estava ao meu alcance. Se houvesse qualquer tipo de forma de vida naquele lugar, seria capaz de ver o seu fluxo de chakra através do olho copiador giratório. Mantive a Kusanagi na mão destra enquanto me deslocava através do grande subterrâneo da casa, me deslocando entre corredores estreitos repletos de luzes quebradas, teias de aranhas e ratazanas nojentas. Me arrastei através de aberturas minúsculas e passagens claustrofóbicas, mas eventualmente cheguei ao outro lado. Uma luz distante - Como se aquele maldito caminho estivesse abrindo para uma revelação sacra. No entanto, eu sabia que havia encontrado o que estava procurando. Franzi o cenho, preparada para o assassinato.

[...]

Do outro lado da cidade, Kazen caminhava junto a Momo. Eles estavam investigando o setor oeste ao mesmo tempo em que Mayer entrou no porão, e acabaram por descobrir outro elemento importante da investigação: Nem todos os escravos eram realmente escravos. Momo detectou uma presença de chakra repentina que desapareceu na sequência. Ao olhar para trás, a mulher percebera que um dos moradores havia saído correndo em direção aos portões, deixando para trás uma multitude de papéis explosivos que se grudaram às pessoas e casas do local. Com um selo manual, o homem amassou o chakra em seu estômago e cuspi uma gigantesca parede de lama, bloqueando os portões.

— Exploda! — Ele exclamou, realizando o selo de cabra com uma mão.

Os papéis detonaram. Dezenas foram partidos em pedaços, e construções ruíram em meio ao caos de chamas e fumaças negras que cheiravam a metal e enxofre. Kazen agarrou Momo pelo braço e disparou com ela em direção a uma construção próxima, sacando sua Token.

— Porra! Quem é aquele cara?! — Kazen disse, assustado.

— E-ele... Ele é.....Não!!! — Momo berrou, desesperada. — Nós vamos morrer! Precisamos sair daqui agora, Kazen!!! — Continuou.

Informações:

— Eu tinha certeza absoluta de que seria um assassinato rápido e limpo. Ao avançar luz adentro, percebi que me encontrava em um pequeno cômodo de pouco mais do que trinta metros quadrados. Havia um sofá modesto recostado sobre uma estante de madeira cheia de pergaminhos e livros frente a um quadro com um mapa de Iwagakure desenhado. Do lado oposto ao sofá, uma pequena cozinha com uma geladeira entreaberta. Mais ao fundo, uma mesa de escritório com uma lamparina e um caderno o qual estava sentido escrito de forma suave por um homem de terno cinza. Com cabelos louros, ele parecia focado em sua escrita, alheio à morte que espreitava. Aproveitei o ímpeto do momento para avançar em sua direção, utilizando a Kusanagi para perfurá-lo à altura do coração.

— E então, Lúcifer caiu do céu... — Ele disse, em um tom sereno.

Nem sequer pude me aproximar. Em um piscar de olhos, um clarão cegante ocupou a minha visão, seguido por um impulso tempestuoso que arremessou meu corpo a mais de dez metros de distãncia, colidindo contra vários móveis do cômodo e destruindo as paredes de madeira frágil que o compunham. Apesar de não estar ferida, não pude deixar de me impressionar pela veocidade de reação do opositor. Me levantei rapidamente, ainda com a espada em punho, observando-o de frente. Ele permanecia no mesmo lugar, agora de pé, fixando seu olhar em mim. Carregando um sorriso irônico no rosto, o homem deixou o caderno cair.

— O Arcanjo Miguel expulsou o dragão do céu com sua espada de chamas. Como um asteroide, o anjo caiu sobre a Terra e empestou o mundo dos vivos com sua blasfêmia... — Continuou, como se estivesse a recitar um poema.

— Que merda é essa? — Me perguntei, atenta ao outro. Ele agia e falava como um missionário. — Foda-se, não vim aqui pra perguntar nada. —

As tomoes giraram rapidamente antes de anunciar minha técnica. Apontei a lâmina da Kusanagi em sua direção, formando um manto de chamas sobre a espada legendária. Na sequência, uma projeção flamejante da lâmina fora disparada em direção ao outro. O calor do fogo derreteu a madeira do cômodo, derrubando as paredes e retorcendo o metal. Por fim, a técnica o atingiu diretamente no peito, mas ele não esboçou reação. Seu corpo se desfez como lama, explodindo antes de reaparecer logo atrás de mim.

— Subsituição?! — Me virei rapidamente.

— Katsu. — Ele susurrou.

[...]

Do lado de fora, as coisas estavam ainda pior. A fumaça criada pela sequência de explosões atrapalhavam a visão de Kazen e Momo. A garota tinha dificuldades em localizar a assinatura de chakra do inimigo, e Kazen, um shinobi especializado em combates a curtas distâncias, estava em completa desvantagem. Um tremor de terra acometeu Ishikawa, e ao olharem para o lado, viram um foco de incêndio se formando na zona sul da vila.

— A Mayer não estava ali? Puta merda! — Ele exclamou. — Momo, não temos opção! Vamos lutar aqui mesmo! Que se foda a inteligência, precisamos destruir essa merda toda! — Continuou.

— Aquele cara não é um ninja qualquer! Ele é um renegado... Que já fez parte da elite da Pedra. Não podemos vencê-lo, é poderoso demais! — Ela continuou.

Então, ele reapareceu. Coberto por panos e lençois, ocultava sua identidade ao máximo. Sem pestanejar, o homem apontou o seu dedo na direção da dupla de shinobis, invocando uma miríade de papéis explosivos. Com um segundo selo manual, uma explosão gigantesca foi criada, derrubando o prédio em que estavam próximos. Ele parecia calmo enquanto espalhava o caos por Ishikawa, sabendo que era superior a Kazen e tinha a vantagem territorial. No entanto foi obrigado a tomar distância quando dezenas de lâminas de vento surgiram entre a fumaça, rasgando os prédios a sua frente e avançando em alta velocidade em sua direção. Enquanto se esquivava das lâminas, ele arremessou seus trajes de disfarce para longe, parando de pé sobre os destroços de uma casa.

— Patético, sem um pingo de poder. — Ele comentou, ironizando a técnica de Kazen. — A Resistência já iniciou seu assalto. O destino de Iwagakura está selado. —

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— O cabeça-de-planta fez mais uma moção com sua mão destra, espalhando o chakra ao seu redor e criando uma linha de fogo que rapidamente se revelou como uma poderosa explosão em cadeia. A cortina de fogo e fumaça bloqueava o acesso aos portões, e agora eu já não sabia bem se Kazen estava realmente vivo. A julgar pela postura do inimigo, era improvável que o espadachim tenha conseguido se sair bem no combate. Eram completos opostos - Uma batalha fácil de prever. Franzi o cenho com ainda mais força, e o meu sharingan brilhou por um único instante, o suficiente para anunciar a minha presença assassina esmagadora. O peso da atmosfera caiu sobre os ombros de desconhecido, que abriu um sorriso ainda mais largo do que o anterior, apontando sua mão esquerda na forma de uma pistola em minha direção.

— Hahahaha! — Ele gargalhou, eufórico. — Parece que o chamariz serviu. Foi o Kogo que te enviou, não é? Se infiltrar no vilarejo não foi tão difícil assim. Separar os ninjas e abrir caminho para o assalto principal... — Continuou.

Naquele instante, eu congelei.

— N-não... — Sussurrei. — Era um infiltrado também?! Impossível! — Continuei, descrente.

— O meu nome é Linspector. Shunsou Linspector. — Anunciou a si próprio, quase como um palhaço. — Eu conheço as fraquezas de Iwagakure melhor do que qualquer um. Fazia parte da ANBU e também do Bakuha Butai... Se tem alguém que sabe tudo sobre essa vila e esse país... Sou eu!!! — Continuou.

Naquele instante, ele realizou uma breve sequência de selos manuais, criando uma ponte entre mim e ele composta por papéis bomba. Com um segundo selo, todos os papéis detonaram de forma simultânea. Me defendi ao amassar chakra no estômago com velocidade, utilizando o Goukakkyu no Jutsu para criar uma esfera quente o bastante para incinerar os papéis antes que pudessem explodir nas minhas proximidades. Saltei para trás, esticando a lâmina da Kusanagi em direção a Linspector, que defendeu-se habilmente ao utilizar um papel bomba para desviar a rota da espada ligeiramente. Puxei-a pelo cabo, trazendo a lâmina como um bumerangue. O de cabelos verdes abaixou-se no instante em que a espada fez contato com sua pele, e imediatamente espalhou seu chakra pelo solo, criando um pântano de lama com força centrífuga impressionante, que começara a me puxar em direção ao centro.

Ele saltou em minha direção, cobrindo o seu braço direito de papéis explosivos. No entanto, ao fazer contato com meu corpo, as chamas do purgatório queimaram sobre minha pele. Um uso único do Zanmai no Shinka sem selos manuais - O bastante para que o fogo do inferno se espalhasse por todo o corpo de Linspector, que berrou em agonia antes de utilizar uma técnica de substituição explosiva. O pântano se desfez, e o homem reapareceu a poucos metros dali, com feridas superficiais e mantendo o sorriso irônico em seu rosto. Juntei as mãos com o selo do cavalo, lançando um paredão de fogo com o Goka Mekkyaku. A muralha flamejante consumiu todo um setor do vilarejo, desintegrando uma dúzia de construções. O que restou do campo de batalha foi um inferno de cinzas e uma create criada pela técnica, que fora seguida por uma utilização do Tenro Kaken, criando uma espada flamejante para perfurar a muralha além de seu limite e potencialmente estocar o corpo do outro.

— Você é boa. — Linspector ditou, reaparecendo entre as chamas. — Parece que vou ter que levar isso a sério... Heh. — Concluiu.

— Quem era o seu "amiguinho" de antes? — O questionei, não esperando uma resposta.

— É quem vai acabar com tudo isso. — Respondeu de forma críptica, mas a mensagem já havia sido passada.

Eu precisava ser rápida.

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— Com um gesto, ele invocou outra sequência de selos, seus dedos se movendo rapidamente antes de criar uma barreira de Kibaku Fudas ao redor de nós, uma prisão circular de papéis bomba que parecia flutuar no ar como lâminas à espera. Ele soltou uma gargalhada – o som macabro perfurando o zumbido nos meus ouvidos enquanto eu estudava o campo à nossa volta. Cada movimento dele era coordenado, não deixando nenhuma brecha. Como esperado de alguém que já esteve entre os agentes da ANBU e Bakuha Butai, ele sabia como manipular o campo de batalha para o máximo de destruição.

Linspector estava montando uma sequência para me encurralar. Não havia tempo para hesitação.

Primeiro, executei o Katon: Kaen Senpu. Concentrei chakra nos pulmões e cuspi uma linha de fogo que girou violentamente ao redor do meu corpo, transformando-se em uma espiral flamejante. A técnica envolveu a área ao meu redor em um vórtice de calor intenso, desintegrando os papéis explosivos que flutuavam nas proximidades antes que pudessem detonar. A cortina de chamas impediu sua visão e criou uma abertura.

Mas Linspector não recuava tão facilmente. Ele saltou acima do vórtice, aterrissando no topo do muro de uma das casas destruídas ao nosso redor. Levantando as mãos, invocou um selo e disparou outra série de papéis bomba em minha direção, que avançaram pelo ar em uma onda letal.

Abaixei-me e rapidamente ativei uma de minhas técnicas defensivas, concentrando chakra ao redor das mãos e moldando as chamas em escudos sólidos, semelhantes a barreiras incandescentes que absorviam o impacto das explosões. Cada papel que colidia era consumido pelas labaredas sólidas, dissipando-se em uma cortina de fumaça e faíscas.

Quando a última onda de papéis foi dissipada, senti o solo abaixo de mim estremecer. Percebi tarde demais que Linspector havia preparado mais uma armadilha: um círculo de Kibaku Fudas espalhado sob meus pés, ativado apenas quando ele controlou seu chakra pelo solo. Com um salto ágil, evitei parte da explosão, mas a onda de choque me lançou para trás.

No ar, concentrei chakra na boca e liberei o Suiton: Suidanha, uma lâmina de água de alta pressão que cortei em sua direção. A lâmina atravessou o campo e rasgou o solo entre nós, separando-nos com um profundo sulco. Linspector se moveu para o lado, mas não rápido o suficiente – o ataque cortou parte de sua capa, arrancando um sorriso ainda mais insano de seu rosto, como se ele estivesse apenas aquecendo.

Ele não deu nem um segundo de respiro. Criando um selo com apenas uma mão, ele moldou outra técnica de explosivos, espalhando seus papéis como uma armadilha ao redor do campo, para explodir de forma imprevisível e tornar o espaço instável. Suas intenções estavam claras – não me dar nenhum momento para respirar. Aproveitando o tumulto, moldei outra manipulação de chamas sólidas em torno de mim, criando uma barreira compacta e mais robusta. A onda de explosões foi engolida pela barreira flamejante enquanto eu mantinha o foco em sua figura.

— Você me diverte, Mayer! — ele disse, lançando um olhar insano de quem estava plenamente no controle. — Mas não passa disso... Um pequeno aperitivo. —

Conferi rapidamente o ambiente. Precisava de uma vantagem estratégica. A batalha se alongava e exigiria mais do que força bruta.

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— O campo de batalha estava em chamas. O cheiro de pólvora e carne queimada pairava no ar, e o som de explosões reverberava pelas ruínas do vilarejo. Linspector ainda mantinha aquele sorriso insano no rosto, os olhos repletos de adrenalina e um prazer sádico. Eu sabia que ele estava me testando, e por mais que ele tivesse conhecimento da vila e suas armadilhas, ele parecia estar ficando sem paciência. Isso significava uma coisa: ele estava prestes a tentar algo decisivo.

Meu peito ainda ardia das explosões anteriores. A camada de lama no chão dificultava cada movimento, mas não podia me permitir fraquejar. Meus olhos vasculhavam a área, atentos aos menores sinais de chakra. Eu precisava de um movimento que virasse o jogo.

Linspector percebeu minha hesitação por um breve instante e aproveitou a brecha. Ele girou no lugar, criando um turbilhão de papéis explosivos ao seu redor, cada um movendo-se com precisão em minha direção. Saltei para o lado, mas antes que eu pudesse completar o movimento, ele arremessou uma segunda leva, dessa vez mirando diretamente onde eu pousaria. Não tive outra opção senão lançar uma camada de chamas sólidas sob meus pés para absorver o impacto enquanto deslizava para longe, o calor dos papéis atingindo minha pele como agulhas.

— Está ficando cansada, Uchiha? — Linspector debochou, os dentes cerrados em um sorriso predatório. — Achei que seria mais rápida. Talvez essa vila não seja tão forte quanto eu pensava. —

Eu não respondi. A provocação era óbvia, e o único foco que importava agora era acertá-lo, uma vez por todas.

Meu sharingan brilhou em vermelho, analisando cada movimento de seu chakra. Percebi que ele concentrava a maior parte de seu chakra nos papéis espalhados pelo campo, mantendo-os conectados por uma linha fina, quase invisível. Se conseguisse quebrar esse elo de controle, eu teria uma chance.

Decidi arriscar. Com uma velocidade que ele não esperava, moldei selos rápidos e ativei o Katon: Kaen Senpu novamente, mas dessa vez o turbilhão de fogo foi moldado com uma intensidade muito maior, expandindo-se até envolver a área onde os papéis estavam ancorados. Os papéis explodiam em sucessão, desestabilizando sua barreira.

Linspector reagiu, percebendo que a maré começava a virar. Ele saltou para trás e fez um selo com apenas uma mão, manipulando o solo para abrir uma fissura entre nós, de onde um fluxo de lama jorrou, tentando me prender enquanto ele se posicionava para uma ofensiva maior. O chão ao redor tornou-se um campo traiçoeiro de lama, mas eu ainda tinha uma carta na manga.

Com um salto rápido, usei o Suiton: Suidan no Jutsu uma última vez, canalizando o jato de água diretamente na fissura. O fluxo colidiu com a lama, criando uma onda de pressão que desestabilizou o solo e explodiu a lama para todos os lados, forçando-o a cobrir o rosto para se proteger da enxurrada.

— É isso que você chama de resistência? — murmurei, minha voz baixa e controlada.

Linspector gargalhou, aparentemente se deleitando com o desafio. Ele se posicionou com a mão esquerda apontando para mim, os dedos preparados para invocar mais explosivos. Porém, dessa vez, percebi que ele tinha menos papéis disponíveis; suas reservas estavam se esgotando. Agora era minha chance.

Eu moldei o selo do cavalo e, com um único foco, invoquei o Gōka Messhitsu, a técnica se expandindo em um paredão de fogo que avançou, consumindo o que restava dos papéis explosivos no caminho. Ele foi forçado a recuar, um lampejo de hesitação passando por seu rosto. Quando as chamas dissiparam, deixaram um rastro de destruição – as ruínas ao redor estavam carbonizadas, e havia uma trilha de cinzas indicando onde o paredão havia passado.

Linspector, ofegante e com o olhar febril, manteve-se em pé, mas agora, seu sorriso estava mais sombrio, quase amargo.

— Parabéns... — ele murmurou, limpando uma gota de sangue do canto da boca.

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— Linspector permanecia com os olhos arregalados, e sua respiração se tornava cada vez mais fraca a cada segundo que se passava. A fumaça e fogo que envolviam todo o vilarejo eram tão densas e o som crepitante das chamas era tão alto que parecia vos ocultar em torno de um véu da morte. Observei o moribundo sangrar gradualmente em direção a sua morte, mas logo os últimos traços de consciência voltaram a ele. Com um sorriso em seu rosto, o assassino não pôde deixar de gargalhar. O sangue escorria do canto direito de sua boca enquanto ele lutava para permanecer respirando.

— A-Ah... Sua tola... — Ele disse, tão baixo quanto um sussurro. — A morte chegará a todos vocês... Posso ver tão claramente... Assim como descrito nos versos sagrados... — Ele finalizou.

Então, a luz escapou de seus olhos, e ele se calou para todo o sempre. Olhei ao meu redor e os poucos sobreviventes de Ishikawa levavam suas mãos até a cabeça, indicando que o controle mental havia sido quebrado. As pessoas, mesmo que desnorteadas e feridas, ainda pareciam reter as suas memórias e capacidades cognitivas. Gritos ecoaram por todos os lados, enquanto os esquálidos moradores apressavam seus passos para escapar daquele inferno de sangue e chamas. Apesar de tudo, meus olhos estavam focados em somente um objetivo: Encontrar Momo e Kazen.

— Kazen! — Exclamei, saltando entre os destroços. — Droga, onde você está?! Kazen!!! — Continuei.

[...]

Quinze minutos. Levei exatamente quinze minutos para encontrá-los, soterrados sobre os destroços impiedosos de um edifício caído. Ambos estavam vivos, mas extremamente feridos, à beira da morte. O braço esquerdo de Kazen foi reduzido a uma pilha de sangue e carne retorcida, enquanto Momo havia sido empala em seu peitoral e abdomen por destroços que caíram da estrutura do edifício. Eu não seria capaz de salvá-los naquele estado, e tudo o que eu podia fazer era torcer para conseguir retornar ao vilarejo e conseguir ajuda. No entanto, eu não sentia nada. Finalmente me libertei daqueles sentimentos de algumas horas atrás, e as comparações com Ryo tornaram-se cinzas. Apenas os observei com um pouco de pena, e, sem dizer uma única palavra, dei as costas para seguir a trilha de volta ao vilarejo.

— Preciso voltar logo. Eles devem estar próxmos... — Pensei, preocupada.

Talvez o exército deles não fosse tão grande assim, mas ainda era um perigo notável. Eu precisava avisar aos demais esquadrões e me preparar para enfrentá-los de frente. O líder deles era capaz de se teletransportar, e parecia ser um shinobi à altura do meu poder, se não maior do que isso. Com as mãos para trás e os olhos focados, saltei entre as poucas casas que ainda restavam de Ishikawa, pulando sobre os muros arruinados da pequena vila e disparando em direção ao grande vilarejo do país.

Uma única gota de suor escorreu de minha testa. Uma gota de angústia.

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