O céu de Shimogakure, sempre encoberto por nuvens pesadas, anunciava mais um dia de trevas e sombras. A tempestade rugia à distância, e Kurama Saitō, no centro do campo de treinamento, olhava para o horizonte como quem busca no caos da natureza o reflexo de sua própria alma. O trovão ribombou, ecoando pelo vale como o grito de um deus vingativo. Aquela tempestade, pensava Kurama, era o prenúncio de seu treinamento; um espelho da fúria que ele desejava domar dentro de si.

Seu desafio daquele dia era um só: tornar-se rápido, mais veloz que a luz que cortava os céus. "Velocidade," ele disse para si mesmo, "é o caminho para a vitória. Um ninja que não pode ser tocado, não pode ser derrotado."

Sem mais hesitar, Kurama lançou-se à tarefa. Seus pés tocaram a terra com leveza, e então ele correu — não de modo comum, mas com um propósito singular. Ao seu redor, o mundo tornou-se um borrão de formas indistintas. No entanto, Kurama sentia-se como se estivesse em marcha lenta, seus movimentos pesados e seu corpo um fardo a carregar. Cada passo era uma luta contra a gravidade, cada movimento uma batalha para alcançar o que desejava.

Ele correu em torno de árvores, saltando sobre rochas, esquivando-se de ramos como se fossem golpes de um oponente invisível. Mas mesmo assim, sentia que não bastava. Parou, ofegante, os pulmões em chamas, o coração batendo como tambores de guerra em seu peito. Mas não se permitiu fraquejar. O verdadeiro guerreiro sabia que a perfeição estava além da exaustão, e somente através do suor e do esforço se alcançava o impossível.

"Preciso tornar-me um com o vento," sussurrou, seus olhos brilhando com nova determinação. "Devo ser mais leve que a própria terra que piso."

Kurama tirou suas sandálias e colocou os pés descalços sobre a grama fria e úmida. Ele se concentrou no que estava além de si mesmo — o farfalhar das folhas, o sussurro do vento entre as árvores. E então, correu novamente, mas desta vez, ele não corria contra o mundo. Ele corria com o mundo. O vento não mais lhe oferecia resistência; ao contrário, parecia guiá-lo, empurrando-o adiante, como se Kurama fosse uma flecha disparada pelo próprio arco da natureza. Seus passos, antes pesados, agora se tornavam mais ágeis, seus saltos mais rápidos e precisos.

Ele prendeu longas cordas aos troncos das árvores, amarradas a pesos nas extremidades. As cordas, finas como linhas de seda, estavam dispostas ao longo de seu percurso. Sua missão? Desviar-se delas sem tocá-las, correndo com tal precisão que, ao menor erro, sentiria a dor das cordas chicoteando sua pele. Seus pés moviam-se rápido, mas não rápido o suficiente. A cada falha, uma corda chicoteava seu corpo como um lembrete implacável de sua falta de maestria. E ainda assim, Kurama não cedeu ao cansaço, nem à dor. "A velocidade não é apenas sobre força," murmurou entre ofegos. "É sobre ritmo. É sobre antecipação."

Foi então que ele fechou os olhos. O mundo ao redor desapareceu, e Kurama começou a ouvir o som de seu próprio coração, os batimentos criando uma melodia rítmica em seus ouvidos. Ele passou a confiar não na visão, mas na sensação de cada movimento, na percepção de cada sussurro do vento. E então, quando menos esperava, seus pés começaram a se mover com uma leveza que ele não sabia possuir.

As cordas não o tocavam mais. Ele dançava entre elas como um fantasma, seus movimentos fluidos e graciosos, como se fosse um com o ar que o cercava. A tempestade sobre ele ecoava a sua própria fúria, mas dentro de Kurama havia apenas calma. Quando finalmente abriu os olhos, todas as cordas estavam intactas. Não mais errava, não mais hesitava. Ele havia se tornado o trovão e o relâmpago, movendo-se com uma velocidade que desafiava os limites do corpo humano.

Cansado, Kurama fitou o céu, e a tempestade lhe respondeu com um último estrondo. Ele sorria, sabendo que, naquele dia, havia despertado algo novo dentro de si.

Considerações: