Para os parâmetros do deserto, a noite até que não estava tão quente assim. Haku caminhava pelas ruas de Sunagakure, indo em direção ao endereço indicado no pergaminho que haviam lhe fornecido. Estava especialmente distante naquele dia. Não por conta da dificuldade do caso em si, mas sim pelo possível envolvimento de alguém que sabia a resposta que tanto procurou nos últimos meses.
"Para onde agora, hein?!" — Nitidamente empolgado, Nanabi novamente se pronunciou.Normalmente, Hakuryū estaria imerso demais em pensamentos para responder de cara. Todavia, o chamado dessa vez vinha de um ponto mais profundo do que ele próprio se encontrava. Sendo assim, acabava sendo até mais alto do que o normal, dando-lhe um leve susto.
"Para a cena do crime…" — retornando ao estado apático após a breve inspiração pelo susto, Haku não demorou a respondê-lo mentalmente."Com medo de onde esse caso pode te levar, hehe?" — Divertindo-se com a provocação e a situação em si, a bijū continuou jocosamente."Hmm… Mais para ansioso" — já vendo a entrada do distrito em questão à distância, Haku estalou a língua enquanto fazia sua voz ecoar dentro do espaço mental compartilhado. — "Se minha intuição estiver correta e o suspeito de idade avançada do qual falam for realmente o culpado… Estou próximo de encontrar a cura para a doença do Kazekage" — sincero, Hakuryū compartilhou com Nanabi, o qual já inadvertidamente considerava como um aliado."Hmpf…" — discretamente, a besta resmungou. Ao mesmo tempo, parecia enfadada e com remorso diante da retidão tediosa do seu Jinchūriki.Hakuryū percebeu um pouco, mas não respondeu. Afinal, ele próprio reconhecia o quão chato ou desempolgante podia ser. De qualquer forma, ainda queria poder fazer alguma coisa e, por isso, procurava não se apegar tanto nessas visões.
A casa não era muito grande. Parecia um local bastante pacato. E não à toa, já que era um ninja aposentado que vivia ali. Os arredores em si pareciam não ser movimentados. Por isso, franzindo a testa, Kinsetsu perguntou-se o que o assassino poderia estar querendo ali. Afinal, por tudo que já havia ouvido, o assassinato era obviamente premeditado. E, por mais que estivesse seguro de que o "Quem" e "Como" deveriam se revelar ali naquela cena. O "Por que” ainda parecia muito distante da sua investigação. Afinal, ao que conseguisse determinar o método discreto de entrada e saída, provavelmente conseguiria determinar qual dos suspeitos era o principal. Mas saber sua identidade aproximada era diferente de conhecer a história por trás. E, bem, por mais que aquela fase da investigação acabasse eventualmente se resolvendo, ainda tinha muito pela frente. Não só na questão de rastrear e perseguir o criminoso, mas também conseguir a informação que precisava dele, fosse o homem de idade avançada realmente um Kaguya.
Apenas vigiado por dois guardas àquela hora da noite, Haku precisou apenas levantar uma das mãos para ser imediatamente reconhecido por um deles. Com um aceno firme de cabeça, os guardas deram a permissão para que Kin entrasse. Então, elevando a fita de isolamento, Haku atravessou o portal da casa, indo diretamente para a sala.
O local estava uma bagunça. Claramente houvera uma luta, mas não a ponto de destruir as coisas. Algo que batia com o fato do criminoso ter se limitado a utilizar apenas o shikotsumyaku como arma no embate de taijutsu. O problema era que em nenhum dos lugares da casa tinha sinais de arrombamento ou outro tipo de infiltração. Inclusive, pelo que relatos de vizinhos contavam, o dono da casa estivera anormalmente paranoico nos últimos dias. Algo que conferia com o relato da polícia de ter encontrado tudo trancado.
Ligeiramente irritado com a enorme quantidade de serviço que estimava haver pela frente, Haku eventualmente expirou, conformado, iniciando sua análise desde a porta.
Utilizando de tudo que sabia, tentou procurar por todos os sinais incomuns que pudesse encontrar. Entretanto, diante daquele cenário, impossível de se transpor fisicamente, a hipótese de que algum tipo de técnica muito exótica havia sido usada já estava muito clara.
Todavia, por mais minuciosamente que olhasse, centímetro a centímetro, nada foi encontrado em quaisquer partes da estrutura da casa. Absolutamente confuso com isso, Haku retornou à sala. Havia muitos objetos espalhados pelo lugar e, por mais improvável que parecesse, talvez um deles servisse de vetor. Afinal, diante da ausência de sinais de transposição das paredes com técnicas capazes de "fasear", e da ausência de fórmulas no corpo do suspeito e suas roupas, Kin não conseguia pensar em uma forma convincente o suficiente de se infiltrar naquele lugar.
De volta à sala de estar, Kinsetsu optou por refazer os passos da luta travada ali. Pelos sinais no chão, como respingos de sangue, folhas amassadas por pegadas e até mesmo salpicos de areia espalhados pelo piso, não demorou até que Haku conseguisse visualizar o que tinha acontecido ali. Observando o desenho feito para marcar a posição no chão em que o corpo fora encontrado, foi como se o tempo começasse a regredir dentro da mente de Hakuryuu. A vítima havia caído de costas ao ser perfurada nos flancos por um inimigo frente a ela. Tratando-se de ossos, Hakuryū já tinha uma ideia de que tipo de ataque ósseo tinha sido feito ali. Com esporões projetando-se da altura da sua própria caixa torácica, o criminoso teria provavelmente imobilizado os membros da vítima com taijutsu e, então, perfurado-o em diversos pontos livremente.
Regredindo o tempo mais ainda, Hakuryū foi levado por uma série de golpes corporais até um ponto adiante de uma poltrona tombada. Com sinais de longo uso, aquele era certamente o móvel onde o shinobi aposentado mais ficava e, pelo seu posicionamento, o móvel em que ele estava antes de ser surpreendido pelo invasor. Rebobinando mais ainda, usando a concentração de areia crescente como seu guia, Haku fora levado para uma estante. Pelas marcas de chutes, era como se o inimigo tivesse surgido dali e usando as prateleiras como anteparo para efetuar um impulso e, então, golpear a vítima sentada na poltrona.
Foi então que, enquanto coletava amostras de areia e sangue com suas ampolas vazias, em meio a papéis e pergaminhos espalhados do chão — caídos das prateleiras quebradas —, Haku encontrou um pergaminho com os kanjis de "Senju" em seu lado externo. Curioso quanto a razão de haver algo referente ao clã de seu outro amigo próximo, abriu o rolo. O documento abordava algum tipo de propriedade adjacente à habilidade de utilizar o Mokuton, liberação elemental avançada bem conhecida por Hakuryū, já que um dos membros de Kinkotsu no Mori o utilizava. Todavia, as partes importantes estavam todas censuradas e destruídas. A presença daquele tipo de documento em um lugar como aquele, a princípio, não tinha conexão nenhuma com o crime. Todavia, Kin estava curioso e preocupado com o porquê de parte do documento estar destruído.
Avaliando mais a fundo os tipos de danos causados a ele, no entanto, Haku encontrou uma série de kanjis cujo significado parecia um tanto estranho para o contexto do documento. Passou um bom tempo tentando entender qual seria o significado de tais palavras sem sentido naquele capítulo, cujas linhas haviam sofrido tantas censuras. Contudo, em meio às tentativas de entender o significado daquele símbolo, percebeu que aquele não era uma simples escolha exótica de caligrafia ou de uso das palavras. Alguém havia adulterado o documento para inserir uma fórmula de jutsu que parecesse fazer parte do texto. Uma luz imediatamente se acendeu em sua mente.
Rapidamente, começou a vasculhar o interior de outros pergaminhos. A coletânea de documentos e seus conteúdos eram extremamente incomuns. Em comparação com o abismo que percebia ao aprofundar-se em assuntos médicos com o pouco estudo de anatomia que teve, aquilo parecia mais profundo e distante ainda. O ANBU aposentado parecia muito mais do que um simples médico.
Nem todo pergaminho possuia a mesma fórmula discreta em seus textos. Para ser mais preciso, a maioria não possuía. Um padrão claro, no entanto, era que todos os pergaminhos com fórmulas eram estranhamente mais novos do que a coleção naquela estante. Haku teve certeza de registrar isso em seus relatos.
Enquanto analisava as pistas, no entanto, teve sua atenção subitamente desviada pelo som de vidro quebrando. Algo havia atravessado a janela e vinha em sua direção. Não conseguiu ver exatamente o que, mas graças às suas habilidades sabia também não precisar. Rapidamente ativando seu Jisei-Kyō no Myaku, Hakuryū manipulou um semi-domo de dupla camada, isolando-se do que quer que tivesse vindo do lado de fora.
Ao que o som dos impactos contra o construto metálico cessaram, a defesa se desfez em pó de ouro pelo chão, revelando diversos projéteis de ossos em meio a eles. Sem pensar duas vezes, Haku saltou pela mesma janela, tentando seguir os rastros do responsável por aquela tentativa de queima de arquivo. Entretanto, após algumas dezenas de metros de perseguição frenética, da mesma forma que acontecia na cena do crime, novamente os rastros do criminoso simplesmente desapareciam.
"Fiuu…" — um assobio ecoou de dentro de sua mente. A besta parecia impressionada. — "Isso daria uma história e tanto" — comentou, jocosa, como se aquilo fosse algum tipo de entretenimento."Quem é esse sujeito, afinal de contas…" — não tendo uma personalidade tão bem-humorada quanto a da besta, manteve o ar de seriedade.Estava extremamente preocupado com aquele caso. Ainda mais que o criminoso parecia informado o suficiente para saber até mesmo os movimentos da polícia e do departamento de inteligência.
De qualquer forma, Haku retornou aos guardas na cena do crime, relatou-lhes o que havia acontecido e, então, despediu-se dos mesmos. Indo diretamente para o Departamento de Inteligência, teve certeza de que não conseguiria descansar enquanto não analisasse as amostras coletadas sob a ótica dos seus próprios conhecimentos científicos.
Ao que saiu do prédio, com o resultado das próprias análises e os pareceres de outros profissionais e especialistas do Departamento de Inteligência em mãos, já era de manhã. Entretanto, por ainda sentir o irresistível impulso de organizar e resolver, de uma vez por todas, aquele caso em sua mente, Hakuryū não retornou para casa e simplesmente descansou. Sentado adiante da escrivaninha de um dos escritórios da propriedade, Kinsetsu sacou alguns de seus pergaminhos e começou a escrever.
Buscando ser o mais cauteloso e detalhado que podia, iniciou o relatório do caso como de costume: em ordem cronológica do seu ponto de vista. Desde sua chegada no hospital, descreveu todos os métodos utilizados na aquisição do fragmento de osso. Começou pelo uso do bisturi de chakra e a razão por trás de sua decisão. Então, prosseguiu com a descrição do método de coleta e análise do fragmento, demonstrando com base em seus conhecimentos científicos como a análise sob o microscópio comprava que o fragmento era de fato orgânico, feito de tecido ósseo, e não de outra arma mais comum. Além disso, aliado de seus conhecimentos anatômicos, também buscou explicar o porquê do fragmento de osso não poder pertencer à vítima. Afinal, além de não haver fraturas relatadas na vítima, ainda havia uma distância considerável entre o local onde o fragmento fora encontrado e os ossos da própria vítima.
À altura em que terminou de descrever suas razões, no entanto, sentiu-se insatisfeito por simplesmente mencionar o uso de ossos como armas. Considerando a complexidade do caso, concluiu que seria necessário ir mais a fundo. Por isso, junto dessas descrições, também adicionou um texto que explicava melhor a particularidade óssea que fundamentava suas conclusões.
Seu arquétipo de pesquisador, no entanto, fazia de Hakuryuu um colecionador de conhecimentos por natureza. E, tentado a começar a sua própria coleção deles, redigiu um pergaminho separado, destinado à sua biblioteca pessoal.
- A Veia Óssea do Cadáver:
Nome: A Veia Óssea do Cadáver
Nível: Jōnin
Bonificação: Conhecimento Teórico — Shikotsumyaku
Autor: Hakuryū Kisetsu
Descrição: O Shikotsumyaku é uma habilidade inerente ao Clã Kaguya, que consiste na manipulação dos ossos do próprio corpo ou na criação de novo tecido ósseo a partir dele à vontade do usuário. Com ela, os construtos e técnicas ósseas possíveis são apenas limitados pela imaginação do usuário, que pode moldar armadilhas, ferramentas, armas e até membros extras para o combate em questão. Kaguyas mais poderosos podem criar estruturas ósseas enormes, que vão desde barreiras de ossos a até mesmos chicotes gigantes feitos da sua própria coluna vertebral. Algo que não parece causar problemas à sustentação dos seus esqueletos, visto que eles também conseguem repor os ossos retirados ou pedidos de forma basicamente imperceptível aos demais.
Link: [1] [2] [3] [4]
De volta ao relatório, continuou a partir da sua chegada na cena do crime. Naturalmente, descreveu a extrema dificuldade e sua eventual falha em identificar pistas que denunciassem o método de infiltração do criminoso em qualquer lugar da casa. No entanto, também registrou que ao começar a reconstrução do embate, que se desenrolou entre a vítima e o assassino, percebeu que os rastros do invasor começavam a partir de uma estante. E que, ao analisar alguns de seus livros ao acaso, identificou um conjunto de símbolos que, apesar de aparentarem ser parte do texto, na realidade eram um tipo de fórmula. Fórmulas estas que poderiam muito bem ser utilizadas como marcas para jutsus de espaço-tempo. Algo que era corroborado não só pela presença de areia — cuja composição era distinta da região da cena do crime — em quantidades decrescentes a partir do ponto de surgimento do inimigo, mas também pelas características do escape do responsável pela tentativa de queima de arquivo que sofrera durante a investigação.
Novamente julgando ser necessário ir mais a fundo, graças à complexidade do caso, prosseguiu com mais descrições detalhadas de como havia chegado àquelas conclusões. Além de mencionar o uso de seus próprios conhecimentos científicos para estudar a composição química da areia encontrada na cena do crime, naturalmente também daria crédito aos demais profissionais e especialistas do Departamento de Inteligência que haviam o ajudado a encontrar as diferenças entre a composição química daquela areia e da areia comum à região de Sunagakure no Sato. Por fim, concluindo que isto apenas poderia ser obra de um jutsu de transporte a longas distâncias — que teria não intencionalmente trazido um pouco de areia de uma área longínqua junto de si —, também faria questão de adicionar um excerto explicando melhor a natureza do tipo de jutsu do qual falava.
Novamente movido pela sua vontade de reunir conhecimento, prosseguiu fazendo uma cópia do excerto em um pergaminho para sua biblioteca pessoal.
- Técnicas Espaço-temporais:
Nome: Técnicas Espaço-temporais
Nível: Tokubetsu Jōnin
Bonificação: Conhecimento Teórico — Jikūkan Ninjutsu
Autor: Hakuryū Kisetsu
Descrição: Os Jikūkan Ninjutsus são um conjunto de técnicas capazes de não apenas fazer pessoas aparentemente desaparecer ou reaparecer em pleno ar, como também originar fendas ou vórtices, que servem de meios de transporte instantâneo de pessoas, jutsus, objetos, etc. Conforme seu nome, ao controlarem o próprio espaço mostram-se meios de locomoção extremamente poderosos, que não só permitem viajar de forma indetectável, como também podem se mostrar defesas excepcionais. Afinal, há relatos de que algumas técnicas espaço-temporais são capazes de engolir e anular até mesmo as técnicas combinadas de ninjas poderosíssimos. Entretanto, tamanho poder também vem com seus custos. Além de serem técnicas ditas como "complicadas de se usar", até onde se sabe, dependem de um "vetor" para executar seus transportes. Vetor este que pode ser desde uma marca previamente inserida pelo usuário — em algum objeto, lugar ou pessoa —, e até mesmo algum vórtice ou portal que surgem em pleno ar.
Link: [1] [2] [3] [4] [5] [6]
Finalizado o relatório, Hakuryū assinou em baixo e, então, lacrou o rolo de pergaminho. Fechando também os dois novos tomos da sua coleção, dirigiu-se para a biblioteca da propriedade. Após depositá-los nas devidas prateleiras, dirigiu-se para o seu quarto junto do relatório lacrado. Estava cansado demais e àquela altura, planejava descansar antes de ir entregar o trabalho completo. Entretanto, logo que adentrou seu quarto, através do cômodo, viu uma ave pousada sob o parapeito da sua sacada. Expirando pelo ato invasivo, mas também estranhamente aliviado por não ter que resolver o problema em pessoa, atravessou as densas portas giratórias e depositou o rolo de papel no tubo de transporte nas costas do falcão. Após despachá-lo para o departamento de inteligência, imediatamente afundou em sua cama. Sem muito tempo para pensar, adormeceu profundamente.
No dia seguinte, de volta ao escritório, Hakuryū estranhou o burburinho inicial. Entretanto, ao começar sua rotina de trabalho, averiguando as novidades oficiais no departamento, não demorou a entender o porquê das reações. A resolução do último caso, até então num completo impasse, havia criado repercussões no departamento. Agora, além de se referirem a ele como "Hakuryū taisa" (大佐, lit. Coronel), alguns também usavam "Hakuryū-hakase" (博士, lit. Doutor). Algo que eventualmente o levou a assinar seus relatórios e artigos não somente como um Coronel, mas também como um Kasōken (科捜研, lit. Pesquisador/cientista forense).
Palavras: 2723