Os dias de folga sempre eram bastante entediantes desde a época em que eu era apenas um aluno no dojo em Kumogakure. Porém, o clima hostil do novo lugar que chamávamos de lar fazia questão de deixar as coisas ainda piores. Vesti um grande casaco com o símbolo de nosso antigo vilarejo e resolvi perambular um pouco pelas pequenas vielas, apesar do frio que ousava, por algumas vezes, entrar pelo meu capuz e batalhar com meu corpo.

Não tinha muitos conhecidos nas terras gélidas, afinal aqueles que em um dia fizeram parte de minha vida provavelmente tiveram suas vidas tiradas na guerra contra o novo império do trovão, tão pouco tinha hobbies de verdade fora afiar minha espada e treinar novas técnicas com aquela. Acredito que eu esteja fazendo a maior parte dos espadachins parecerem fracos falando essas coisas, mas era a pura verdade. Porém a não muito tempo durante minha primeira missão de verdade, tive a oportunidade de conhecer dois garotos, um chamado Hiei que era muito quieto e não parecia gostar muito de se divertir e Daisuke que na verdade era totalmente o contrário disso, um tagarela que facilmente aceitava a maioria das minhas loucuras. Depois de dobrar duas vezes a esquerda e uma a direta, entrei finalmente no beco em que o garoto das armas havia me dito que gostava de ir para comprar “coisas que não se vendem em locais normais” como o mesmo gavia me dito, meus olhos estavam atentos em sua procura.

—— Daisuke, aí está você, me diz qual a boa de hoje? —— falei enquanto puxava um de meus chicletes do bolso e começava a mascar com certa vontade —— Esse frio é de foder, que saudade de nossa antiga casa... —— reclamei enquanto dava uma breve tossida —— Acho que estou ficando gripado... —— não fazia ideia se era verdade, mas se eu ficasse doente e não pudesse participar de outras missões como aquela, com certeza ficaria puto da vida.

Era mas um dia frio naquele vilarejo cujo qual tinha que me acostumar em ser o meu novo lar, pelo menos por hora. Lembrava que alguns dias atrás tinha feito minha primeira missão ninja, e isso pedia com certeza uma comemoração. A Blakk Star sempre em minhas costas me salvava de muitos problemas, visto que sua imponência de ser uma arma muito diferente do comum passava sim alguma credibilidade. Já havia escovado meus dentes e tomado meu café da manhã, e estava naquele dia vestido com uma roupa de frio branca, uma das poucas que havia no meu guarda roupa; então coloquei-me em direção de um local que eu costumava comprar meus doces em grande quantidade por um preço duvidoso, eu não tinha a menor noção do porque, mas enquanto alimentasse meu vício estava tudo justo.

Levei uma bala de banana até minha boca com a mão esquerda, essa era minha favorita, e comecei a caminhar normalmente pelo pequeno vilarejo, era muito diferente de casa, uma estrutura bem mais humilde mas as pessoas da região pareciam bem mais felizes, mesmo em condições terríveis climáticas e vivendo no que parecia para mim ser a pobreza, afinal, aquela loja também ficava no bairro mais pobre da vila, do lado de onde eu morava, que era o terceiro mais pobre, mas também não haviam tantos bairros assim naquele pequeno lugar. Cortei os becos com uma tranquilidade de quem já conhecia  tudo na região, eu nem sequer sabia como havia aprendido a andar ali, pois não me lembro de me perder nenhuma vez, mas não demorei para chegar na loja.

— Daisuke, aí está você, me diz qual a boa de hoje? — O silêncio da manhã era completamente interrompido por alguém que sabia meu nome, e ao olhar pra trás pude enxergar um dos garotos com quem tinha feito a minha primeira missão, recordei-me que havia contado sobre aquele lugar para ele, pois ele gostava muito de chicletes. Ele reclamava do clima enquanto esbocei um pouco de felicidade por ver um rosto conhecido, e não demorei para respondê-lo:

— Hoje vamos comemorar, você paga os doces que eu levo a felicidade! —  Dizia enquanto apontava para uma garrafa em promoção na vitrine do estabelecimento, no rótulo estava escrito "Liquor Tokubetsu Samisai", era a bebida favorita da minha avó, pelo pouco que eu conhecia de bebida, parecia ser um saquê suave e bastante doce, não demorei para caminhar até o balcão.

— Bom dia Nagamato, eu quero o Samisai da promoção!! —  Falei diretamente com o vendedor apontando para a garrafa, e veio logo a resposta que eu queria. — Bom dia Daisuke, você sabe que não podemos vender bebida alcoólica para crianças... Mas como você agora é um ninja que já fez até sua primeira missão, eu vou te dar esse de presente. — Então ele levo sua mão até o estoque na estante em suas costas e logo me entregou aquela garrafa dentro de uma bolsa escura, afinal, ele também não queria que eu fosse pego. — E não me inventa de beber isso na rua em! — Então concordei com o mesmo e logo me virei para Zemaru.

— Bom, pega os doces, você mora muito longe ? Minha casa é aqui perto. — Eu não sabia se o garoto da espada morava sozinho, eu dava sorte de ter algumas reservas que meu pai havia me dado, e estava conseguindo me sustentar sozinho com aquele dinheiro.  

Estampei um sorriso longo em meus lábios no momento em que ele propôs uma comemoração por conta do nosso sucesso naquela missão. Devia admitir que o comentário sobre ele trazer a felicidade da nossa comemoração me trazia bastante animação, afinal, sabia que se fosse algo vindo daqueles becos, provavelmente era algo que não estávamos permitidos consumir no centro dos vilarejos —— Ei, velhota, me veja seus melhores doces e alguns chicletes também! —— diria animado enquanto soltava uma breve quantia de dinheiro em cima da bancada, esperando que meus pedidos fossem providenciados.

Escutando um pouco da conversa de Daisuke com aquele vendedor que parecia conhecê-lo, entendi por que era tão bom fazer amizades por aquelas bandas. Afinal, eles pareciam realmente se animar com coisas pequenas, diferente da maioria, ainda mais com uma missão boba como aquela. Senti certo nervosismo ao ver a garrafa que havia sido dada ao meu amigo, pois, vamos deixar entre nós, mas aquela seria a primeira vez em que eu estava tomando algo com álcool. Os mestres do nosso dojo faziam de tudo para nos afastar de coisas que nos desfocassem do nosso treinamento, então digamos que eu nunca tenha conhecido o "lado bom" da vida como alguns samurais chamavam —— Moro em um apartamento não muito distante daqui, os samurais do trovão do meu antigo dojo deixaram uma pequena herança para podermos sobreviver… —— respondi, enquanto um semblante triste surgia momentaneamente no meu rosto. Afinal, todos os anciões haviam sumido depois do desastre do trovão. Continuaria caminhando ao lado de Daisuke, contando como sempre algumas piadas bobas para aliviar o clima tenso —— Ou possa ser o sangue de alguma vítima —— imitei a voz de Hiei, que na minha cabeça parecia ser muito engraçada por conta de toda a seriedade que ele tinha —— Aquele cara é maneiro, mas também muito esquisito! —— comentei enquanto estendia um de meus chicletes para ele e colocava um na minha boca após isso.