Mei, nascida entre a nobreza dos Ogosho, estava predestinada a ser uma kunoichi, uma sombra no jogo de guerra do País do Relâmpago. Mas o destino interveio. Com seu nascimento, veio a surpresa: Yasa não teve uma, mas duas filhas. Naomi nasceu logo após Mei, unindo-as em um destino compartilhado.

Dentro dos domínios dos Ogosho, a chegada de gêmeos não era recebida com festa, mas com um sussurro de preocupação. Acreditava-se que traziam consigo a semente de futuras contendas, anunciando batalhas por direitos enraizados na história da nobreza. Yhwach, o patriarca respeitado, cujas decisões moldavam o futuro, decretou que o destino de suas filhas seria selado apenas quando atingissem dez anos. Nesse dia, uma seria nomeada a sucessora dos Ogosho, assumindo um legado de deveres e privilégios; a outra seria enviada para um mosteiro, onde adotaria a vida monástica, renunciando a qualquer reivindicação de herança, em favor da paz e do recolhimento espiritual.

Com o passar dos anos, a vida das irmãs Ogosho seguiu seu curso com a serenidade de um riacho que desliza sem pressa por entre as pedras. Elas cresceram sob o mesmo teto, mas em mundos distintos, separadas por um destino ainda não revelado. Naomi emergiu como uma jovem vibrante e diligente, cujo interesse pelas armas e pela arte da guerra superava qualquer inclinação para as trivialidades da infância. Seu espírito indomável encontrava prazer na disciplina do aço e no som dos metais se chocando.

Mei, em contraste, era a personificação da delicadeza, uma flor que mal se sustentava sob o peso de sua própria existência. A fragilidade era sua constante companheira, e seu berço foi mais vezes um leito de enfermidade do que de sono. A luz do sol, que banhava os campos e enchia de vida o mundo lá fora, era para ela uma ameaça cruel, capaz de marcar sua pele com a dor de uma chama invisível. Queimava como brasa, à menor das exposições.

Quando Mei e Naomi foram informadas sobre as possibilidades que o futuro lhes reservava, suas reações refletiram a complexidade de seus caracteres e a profundidade do laço que compartilhavam. Mei, a mais frágil das duas, recebeu a notícia com uma quietude resignada. Ela sempre soubera, de alguma forma, que sua saúde precária a afastaria dos caminhos da liderança e do poder. A perspectiva de uma vida reclusa em um mosteiro não lhe era estranha; de fato, havia uma parte dela que ansiava pela paz e pelo silêncio que tal vida poderia oferecer.

Naomi, por outro lado, com seu espírito indomável e sua paixão pelas artes marciais, encarou a possibilidade de se tornar a herdeira dos Ogosho com uma determinação feroz. Para ela, a ideia de assumir o manto da liderança não era apenas uma honra, mas um destino que ela estava pronta para abraçar com todas as suas forças. No entanto, a ideia de que sua irmã pudesse ser enviada para longe, para nunca mais se verem, pesava em seu coração como uma pedra.

Entre as duas, havia conversas longas e sussurradas na calada da noite, discussões sobre o que o futuro poderia trazer e como poderiam, juntas, enfrentar os desafios impostos pela tradição e pelo decreto de seu pai. Em seus corações, ambas desejavam encontrar uma maneira de permanecer juntas, de redefinir os papéis que lhes foram atribuídos antes mesmo de nascerem. Era um desejo silencioso, mas poderoso, que as unia ainda mais profundamente.

Ao atingir oito anos, a saúde de Mei, já comprometida, deteriorou-se ainda mais. A tosse, antes esporádica, tornou-se um sinal alarmante de uma condição mais grave. Com cada crise, o sangue acompanhava seu arquejo, um indicador vermelho e perturbador de que sua condição era grave e potencialmente fatal.

Foi então que um médico errante, desses que perambulam pelo mundo carregando consigo não apenas remédios, mas também histórias de vidas que tentaram salvar, cruzou o caminho dos Ogosho. Após examinar Mei com um olhar que parecia enxergar além do visível, ele proferiu um diagnóstico sombrio: a menina sofria de uma doença do sangue, uma condição sem cura conhecida, e suas areias do tempo estavam se esgotando rapidamente. Ele estimou que Mei, na melhor das hipóteses, teria não mais que três anos de vida, uma sentença que caiu sobre a família como um manto de desesperança.

Parecia, então, que o destino havia selado seu veredito: Naomi ascenderia como herdeira, e Mei viveria seus últimos dias em serena resignação. Contudo, uma semana antes da cerimônia que definiria o futuro das irmãs, um evento inesperado abalou os alicerces daquela decisão.

Mei, movida por um ímpeto desconhecido, adentrou o dojô e observou Naomi em seu treinamento. Notada pela irmã, que, por mera cortesia, a convidou a se juntar, surpreendeu a todos ao aceitar. O instrutor, temeroso de ferir a frágil filha de seu senhor, ensinou-lhe apenas o básico e a desafiou a atacá-lo. Foi então que os olhos de Mei brilharam com um vermelho intenso, e o instrutor, paralisado pela súbita mudança, foi lançado ao chão pelo ímpeto da menina.

A notícia correu pelos corredores como fogo em palha seca, e a cerimônia foi suspensa sine die. Murmurava-se sobre a menina marcada pela morte que teria manifestado, por um segundo, um poder ancestral. Em resposta, a mansão foi tomada por uma legião de médicos, atraídos pela promessa de ouro de Yhwach. Mas o tempo era um inimigo implacável, e a resposta dos curandeiros era unânime em desalento. Para piorar, a rápida manifestação da Kekkei Genkai, embora não viesse a se repetir, parecia apressar o avanço da doença. Dos três anos que lhe restavam, duvidava-se que Mei sobrevivesse ao primeiro.

Numa manhã que parecia como qualquer outra, a casa dos Ogosho foi sacudida por uma reviravolta tão súbita quanto inesperada. A origem da ideia permanecia um mistério; sussurros corriam pelos corredores sobre uma enigmática senhora vestida de vermelho que, diziam, havia cruzado o limiar da residência. Ela teria passado algumas horas em reclusão com o patriarca e, tão silenciosamente quanto chegara, desaparecera, deixando para trás apenas o eco de sua presença.

Com a primeira luz do dia seguinte, uma estratégia foi posta em prática, e um grupo de agentes selecionados partiu em uma missão envolta em segredos. A ausência se estendeu por longos três meses, durante os quais a ansiedade cresceu como uma trepadeira nas paredes do coração da família. Finalmente, o Senhor Ogosho fez seu caminho de volta ao lar, acompanhado por apenas sete dos trinta valentes que haviam partido com ele. Suas vestes estavam desgastadas pelo tempo e pelas batalhas, e seus corpos carregavam as marcas da jornada árdua. No entanto, em seus olhos ardia uma chama de vitória, e em seus passos apressados, lia-se a urgência de quem trazia notícias que não podiam esperar.

A doença que afligia Mei resistia a todas as tentativas de cura; nenhum remédio ou encantamento parecia capaz de aliviar seu sofrimento. Diante desse impasse, a solução emergiu na forma de uma decisão ousada e desesperada: transformar Mei em uma jinchuuriki, um receptáculo humano para uma das poderosas Bestas de Cauda. A esperança era que a força vital do Bijuu pudesse reverter o declínio de sua saúde, dando-lhe a energia necessária para combater a doença de dentro para fora.

Yhwach, movido pelo que, à época, parecia a todos uma mistura de amor paternal e a determinação férrea de um líder, concebeu e executou um plano temerário. Com astúcia e coragem, ele interceptou a urna contendo o Gyuuki, uma das temidas Bestas de Cauda, durante seu transporte para a vila de Kumogakure. Esse ato de audácia não apenas desafiou a segurança de uma das grandes vilas ninja, mas também alterou o destino de sua filha, tecendo um novo futuro para Mei, um onde ela poderia ter a chance de viver não como uma sombra, mas como uma guerreira com o poder de uma Besta de Cauda pulsando em suas veias. Mas viver, acima de tudo. Viver.

O cerimonial de selamento foi conduzido naquela mesma noite. A maestria com que os selos foram aplicados e as energias manipuladas não deixava margem para falhas. E, como se a própria vida estivesse ansiosa por afirmar seu triunfo sobre a morte, os resultados não tardaram a se manifestar. Mei, cuja existência até então fora marcada pela fragilidade e pelo sofrimento, começou a apresentar uma recuperação que surpreendia a todos. Com uma vitalidade recém-descoberta, ela passou a explorar os jardins da mansão com uma energia que parecia inesgotável.

Yhwach, o patriarca, observava a transformação de sua filha com um misto de alívio e satisfação. Em sua mente, o sucesso do ritual era mais do que a salvação de Mei; era a ressurreição do poder que havia feito de seu clã um nome temido e respeitado em eras passadas. O nome Uchiha, ramificado até o nascimento dos Ogosho, ressoava novamente com promessas de grandeza e de um legado que se estenderia por gerações futuras.

A adaptação de Mei à presença do Gyuuki, a Besta de Cauda, foi um processo que exigiu tanto força física quanto resiliência mental. Inicialmente, a energia bruta do Bijuu ameaçava submergir a consciência da menina, como uma tempestade que busca dominar uma embarcação frágil. Mei, contudo, mostrou-se possuidora de uma determinação surpreendente, uma vontade férrea que se recusava a ser dobrada pela força avassaladora que agora compartilhava seu ser.

Nos primeiros dias após o selamento, a ruiva experimentou uma série de mudanças tumultuadas. Seu corpo, antes marcado pela doença e pela debilidade, começou a vibrar com uma nova vitalidade. Era como se cada célula estivesse sendo reescrita, fortalecida pela energia do Oito-Caudas. No entanto, essa transformação não veio sem seus desafios. A criança lutava para manter sua identidade, sua humanidade, diante da fúria e do poder demoníaco da bijuu.

Informações: