A manhã era atípica para os padrões de Kiri: clima ameno, relativamente ensolarado, fruto dos resquícios de primavera. Estou armado de meu traje Genin padrão e de uma alta dose de nervosismo. Fui eu quem pediu por isso, eu me obrigo a concordar em pensamento. O único jeito de me fortalecer é desenvolvendo algum tipo de independência: missões solo, trabalho de campo, tomadas de decisão... Já era coisa demais pra eu me preocupar, mas não posso voltar atrás. Chego aos portões do vilarejo mais cedo do que o normal e aguardo o objetivo daquela missão.

O "objetivo" em questão é uma mulher alta na faixa dos trinta anos com uma expressão mal encarada. Ela vem até mim seguida por um Jōnin. Ao chegar, me olha de cima abaixo, mascando um palito, e fica em silêncio por alguns instantes... até tossir em escárnio.

— É essa criança que vai me proteger? — ela resmunga para o Jōnin. — A situação de Kiri tá feia mesmo, hein?

Eu engulo em seco. Não se intimide, me obrigo, você é a autoridade militar aqui. Mas tudo o que faço é uma reverência trêmula e gaguejo:

— O-olá, s-senhora. B-bom dia. Sou Naritoshi H-Hōz...

— Não quero saber de qual clã você é — ela me corta e começa a andar pela estrada principal sem me esperar. — Tenta não morrer ou matar nós dois, se não a culpa vai toda pra sua Kage. Anda logo.

Completamente constrangido, eu só posso acenar para o Jōnin e fazer o que ela pede.

Depois de algumas voltas nas ruas aglomeradas de transeuntes e comerciantes bradando os descontos em seus produtos, a pior coisa que poderia acontecer me atravessa: perdi o diplomata de vista. Como?! O simpático senhor baixinho estava na minha frente há poucos instantes, mas bastou um grupo de pedestres obstruir meu caminho para que ele sumisse.

O desespero me assola enquanto saio aos empurrões pelo distrito, ao som de xingamentos e reclamações, tentando encontrar a única coisa de onde eu não podia ter tirado os olhos naquele dia. Giro os calcanhares numa meia volta, começo a percorrer entre vielas... até que, para meu alívio, encontro-o. Ele, porém, está em um beco deserto a não ser por duas figuras altas que o cercam.

— Ó, poxa vida, Naritoshi, que bom vê-lo — ele diz ao me notar. — Acredito que esses dois simpáticos senhores estão me confundindo com outra pessoa — O comentário sai no seu habitual tom bem-humorado, mas há uma perceptível camada de alerta.

Me posiciono na frente do diplomata e dou uma boa olhada nos homens. Trazem armas consigo, mas não identifico nenhuma bandana. Um deles olha apreensivo para o outro.

— É ele mesmo, né?

— Sim — o outro confirma, depois me olha torto. — Melhor não se meter nisso, garoto.

Minha resposta é me armar de duas senbons do bolso de armas. Assim, o conflito se inicia.

As coisas se desenrolam com certa rapidez. Ao sinal do primeiro movimento do homem da frente, empurro o diplomata para trás e lanço-lhe as agulhas com um disparate de 4m/s. O rapaz urra e cai, mas o outro não aguarda para investir contra mim em seguida — gasto minha reação com um desvio para o lado em 2m/s. Não aguardo para devolver-lhe um contra-ataque canalizando e amassando Chakra no estômago, disparando outra saraivada de agulhas; agora na forma de água com o Tenkyū. As agulhas atingem o alvo em cheio. Não me demoro, seguro o diplomata pelo braço e corremos para longe daquele beco.

O embrólio que se segue envolve a chamada de outras patentes militares para recolherem os malfeitores. Arfo um pouco, tirando o cantil para beber um pouco de água e saciar o vício que me acalenta. Sou embalado pelos comentários do diplomata, que ri e diz: "Isso foi divertido, Naritoshi!" Só posso rir sem graça de volta. Aparentemente, aquilo havia sido mais empolgante do que ele esperava; uma distração bem-recebida depois de uma longa sessão burocrática.

A missão enfim chega à sua conclusão. Sob a promessa de uma visita menos hostil, o simpático senhorzinho promete uma visita formal à mercearia de minha mãe. Agradeço e me despeço com uma reverência longa.

Enfim, minha peregrinação de avanço no meu contador de missões chega ao fim. Marcho em direção à casa, desejando um longo e merecido descanso.