Bisbilhoteiro: que ou aquele que se intromete com curiosidade, discretamente ou não, para ficar a saber de algo; metediço, enxerido, curioso.

Ethan Kato: Jovem que se deixa levar pela curiosidade. Incapaz de controlar os impulsos, se vê constantemente espiando assuntos alheios.

Ethan nunca parou para refletir sobre seu estranho fascínio com assuntos que não lhe diziam respeito. Ele tratava sua obsessão com algo normal. Também nunca parou para refletir sobre o exato momento em que ganhou tal peculiaridade, inclusive nos motivos. Sendo desse jeito por boa parte da vida, não percebia o quão estranho e inconveniente poderia ser. Esse era Ethan, mesmo sem saber, muito esperto; mas, também sem saber, muito excêntrico. Não sabia dizer ao certo se essas suas duas peculiaridades tinham alguma correlação, contudo, sabia como uma se beneficiava da outra. Graças a sua esperteza, podia ser autentico sem levantar suspeitas.

Dentre todas as dadivas existentes no mundo, as habilidades shinobi eram as únicas que precisava. Esse conjunto de técnicas e métodos abriam sua gama de opções de modo assustador. Não existia lugar que não pudesse alcançar. Também não existia prédio que escapasse da sua astucia. Bastava querer e todos estavam sobre sua ótica, tendo suas vidas dissecadas, analisadas e diagnosticadas pelo genin. Claro, aquele não era o melhor uso que poderia dar as suas habilidades, ninguém discordava disso; porém, era o que precisava. Sua existência clamava por aquilo. “Só um pouco mais”, “Isso não vai machucar ninguém, então tá tudo bem”, “É só uma espiadinha, que mal tem?”, pensamentos como estes davam todo o respaldo moral que precisava. Afinal, se ninguém sabia que estava lá, só restava ele mesmo para julgá-lo.

A forma como o garoto se escondia e observa a vida dos outros dizia muito sobre ele. Ethan se sentia como um expectador na própria vida, incapaz de ter voz ativa. Não era capaz de mudar nada. Além disso, com todas as forças, deseja trocar de lugar com aqueles que espionava. Todos pareciam tão felizes com suas vidas e famílias. Era injusto. A figura do jovem não entendia porque era errado desejar ter só um pouco daquilo. Apenas um abraço quente e aconchegante seria o suficiente, mas nem isso tinha o direito de ter. Estava amaldiçoado por toda eternidade. Condenado por uma entidade que transcendia mundos, criando e moldando seus sentimentos, histórias, relacionamentos, tudo que dizia respeito ao garoto. Cruel, porém, verossímil.




Ambição, uma doença que atinge as pessoas sem mais nem menos. Impossível de ser vista a olho nu, já consumira a alma de muitos homens e mulheres, inclusive a de um jovem genin da folha. Ele não busca bens materiais, prazer, poder e nem nada do gênero. A perdição do Shinobi viria de modo diferente, pela sua sede de consumir novas vidas. Pessoas, para ele, eram como os programas que passavam na TV; suas vidas, shows da vida real. Por isso, cansado dos mesmos programas monótonos e sem graça, resolveria se arriscar. Seus alvos, pessoas de destaque no vilarejo e no submundo de Konoha. A princípio, tentou ter um vislumbre da vida cotidiana de shinobis do vilarejo, no entanto, quase morreu de tédio. Sobreviveu por pouco, decidindo mudar de foco. Em contrapartida, o lado obscuro da vila daria exatamente o que Ethan procurava, um show de tirar o folego. Dentre todos que espionou, uma figura se destacou:

O Velho Naoto

Chefe de uma das grandes famílias criminosas do país do fogo, o velho Nao era um dos figurões que se escondiam atrás dos muros de Konoha. Embora boa parte dos membros da sua “família” estejam fora dos domínios da folha, ele e seu grupo detinham uma relevância considerável no lugar, sendo invejados por alguns e temidos por outros. Todos os arruaceiros já ouviram suas histórias. Em tempos remotos, o velho tinha construído seu império e reputação do zero. Em tempos difíceis como aqueles, foi capaz até mesmo de rivalizar com nomes de peso, desde ninjas até famílias rivais. Agora, caindo aos pedaços, com seus 75 anos de idade, anda pelas ruas mais afastadas do vilarejo batendo sua bengala de madeira no chão. Junto dele, duas figuras igualmente conhecidas, seus filhos. Assim como o pai, desfilavam exibindo os longos cabelos brancos.

A primeira vez que Ethan esbarrou com os três foi quando estava perseguindo um sujeito pra lá de estranho, danava a correr sem motivo aparente. Saltando sobre os topos dos prédios, perseguiu o homem até uma viela escura que ficava a oeste do portão principal da vila. Seguido de um clarão, o velho e seus moleques apareceram. Sem dizer uma palavra sequer, o mais velho sacou sua espada e decepou a perna do pobre coitado. Feito o serviço, deixaram-no em agonia, jorrando litros de sangue. Curioso, Ethan começaria a acompanhar de perto o trio, de forma discreta e sem intervir, não importando o que fizessem.

As atividades criminosas dos três, embora pouco significativas, eram numerosas. Ao que parecia, o velho estava cada vez mais fraco. Para alguém na sua posição, isso queria dizer que sua família estava fragilizada, sem um líder capaz. Para os outros, segundo boatos, Naoto e seus garotos não passavam de homens mortos aproveitando o que sobrou da sua antiga influencia, já que estariam sob a mira de um dos rivais. Ethan, como expectador assíduo, não concordava em nada com o que era dito pelas más línguas. Toda aquela fraqueza não passava de um truque, truque esse que expandiria seu império para um outro patamar, colocando-o entre as pessoas mais influentes do país do fogo. Na primeira fila, Ethan acompanhou todo desenrolar da trama.

Naoto, em todos esses anos, não seria o único a alcançar um novo patamar. Na sua cola, o genin passaria por uma infinidade de desafios. Cada dia era uma peleja. Ser uma sombra, invisível para olhares curiosos, carecia de uma sutileza de instinto que poucos possuem. Seus passos tinham que ser mais silenciosos que o som de uma pena repousando sobre o chão. Sua atenção precisava ser repartida igualmente entre cada detalhe minúsculo à sua volta. A identidade que um dia assumiu teria que desaparecer, Ethan seria quem precisasse ser para desaparecer na multidão.

No fim desses 5 anos, Naoto alcançou o que desejava: Os membros da sua família tinham uma certa liberdade para agirem no território do país do fogo. Nenhum dos rivais iriam se opor, todos estavam mortos. Por sua vez, Ethan estava satisfeito com o que presenciara. Tinha sido um show esplendido, capaz até mesmo de lhe arrancar um suspiro. Chegar até ali, diante de um dos chefões do crime mais notórios da atualidade, não fora fácil. Teve que ver cenas horrendas pelo caminho e, além disso, ainda foi omisso a diversos assassinatos de pessoas inocentes. Contudo, não sentia culpa. Aquela sensação inebriante tomando seu peito, através de palpitações fortes e descompassadas, falava muito mais alto que qualquer dilema moral que viesse a ter.

Por último, quando observou a vida do velho ficar cada vez mais chata, procuraria o seu próximo alvo. Entretanto, se quisesse a voltar a sentir aquela mesma sensação de outrora, o próximo teria que exigir ainda mais das habilidades do garoto de espiar a vida alheia.

Informações: