Allannia se aproximou vagarosamente do famoso recinto recém-inaugurado em seu mandato, mas jamais teria dado a devida atenção ao mesmo. Rauros e Sarah caminhavam ao seu lado, e o silêncio era pertinente ao trio durante todo o trajeto. As decisões da Grey eram minimamente duvidosas na concepção de ambas, principalmente em razão de suas constantes mudanças de temperamento, mas consciente do desagrado de ambos, a prateada não demonstrou importância. Os civis observavam a silhueta da Sandaime, estranhando tanto suas vestes quanto a decisão que estava sendo anunciada em todos os jornais ao redor do mundo. Sua aposentadoria havia marcado milhares, e o seu reinado curto teria acabado por motivos inexplicáveis para o imaginário popular. Alguns tentavam lhe dirigir a palavra, enquanto alguns outros apenas se afastavam, seja por não ser mais necessário fingir interesse quanto pelo seu aspecto incomum. Era uma elfa, afinal. Não importava o quão famosa era, o vislumbre de sua espécime provocava receio até mesmo aos mais devotos shinobi.

— O que pretende fazer a partir de agora? — Sarah enfim rompeu o silêncio, num murmúrio inaudível para os indivíduos no entorno. A fila se estendia diante de seus olhos, mas após algum tempo aguardando, estavam quase em seus respectivos ciclos.

— Irei tomar um banho nas termas, é tudo que importa. Dizem que as daqui são as melhores. Irei lavar meu corpo, e a minha alma. Ser uma Tsuchikage é cansativo, enfim estou livre dessa penitência — divertiu-se consigo mesma, rindo atoa em razão de sua aposentadoria.

— Se queria um banho, poderíamos estar em Cinzamarca agora. Apenas humanos estúpidos iriam ficar em linha reta por tanto tempo por uma simples ducha — Rauros resmungou, atraindo olhares horrorizado daqueles que desconheciam suas capacidades peculiares. O mero vislumbre da leoa era capaz de aterrorizar até mesmo homens adultos, mas ouvi-la falar era mais do que poderiam esperar.

— Você reclama bastante que nunca a tiro das muralhas, e quando o faço, segue a reclamar. Decida-se de uma vez, se quer ou não quer ser livre — Allannia retrucou num tom sereno, quase despreocupado, embora as palavras fossem azedas e incisivas.

— Mais uma vez falando em liberdade. O que deu em você? Somente pensa nisso. — Rauros estremeceu ao ver o olhar que a prateada deu-lhe, num súbito lapso de fúria. A aura carmesim da Grey se manifestou, mas prontamente foi inibida pelo toque suave da loura que percebeu de imediato o que poderia vir a seguir.

— É a única coisa que realmente importa nessa vida — limitou-se a dizer, virando-se abruptamente. Allannia encerrou sua impaciência atravessando os indivíduos remanescentes, levando consigo suas acompanhantes. Nenhum indivíduo se atreveu a questionar sua decisão, afinal, mesmo aposentada, ela ainda possuía sua influência.


Seus passos foram interrompidos somente pela guia, que observou cuidadosamente para a felina antes de negar sua entrada. Ela cruzou os braços e suspirou, ciente de que teria de lidar com o ímpeto da Tsuchikage, infame por suas decisões arbitrárias e temperamento arrogante quando questionada.

— Lamento, Tsuchikage-sama. Não posso permitir que a leoa entre. Regras são regras.

— Eu quem financiei essa merda.

— Eu quem projetei essa merda! — Sarah pôs-se diante de si, assumindo suas dores como se fossem suas.

— Sim, eu sei disso. Mas infelizmente, essas mesmas regras foram auditadas por ambas. Esqueceram-se? — ela inclinou a cabeça, com um sorriso. Era a verdade. Allannia e Sarah eram duas egoístas em agir daquela forma, mas não se importavam de agir de tal modo. Regras só eram interessantes quando afetavam os outros, jamais quando caíam em suas cabeças.

— Eu posso escolher quando elas valem ou deixam de valer. Eu sou... Era a Tsuchikage — corrigiu-se, ciente dos novos tempos que viriam.

— Sim, a senhora foi a Tsuchikage. Hoje não é mais. E mesmo que fosse, os anciãos não iriam gostar de saber que está rompendo as filas de maneira desonesta e agindo dessa forma. Repense suas atitudes, por favor — a mulher sorriu, olhando de cima pra baixo para a Grey.

— Certo. Faremos do jeito que você quer — Allannia se voltou para Rauros, lamentando. — Você terá de esperar do lado de fora. Sinto muito.

— Felizmente. Não terei de entrar na água, e muito menos aturar você jogando ela na minha cara, como fazia quando era criança.

— Eu não sou mais crianças!

— O seu rosto algumas vezes diz o contrário, e a suas atitudes também — a felina era justa, excessivamente, e reconhecia o fato de que se humanos fizeram regulamentos, eles deveriam ser respeitados. Ela era uma devota, e embora não fosse obedecer aos comandos dos civis ou ninjas, ela jamais romperia seus regulamentos.

(...)

As duas adentraram os estabelecimento e foram imediatamente até as termas. Requisitaram que seus trajes fossem removidos, mas Allannia pestanejou. Disse-lhes que preferia trajes apropriados de banho, preferencialmente avermelhados. Seu pedido foi acatado a contragosto pelos atendentes, e ela se dirigiu ao vestiário para fazer a substituição de roupas. Quando chegou ao local demarcado, a loura já estava desfrutando da água, e teria preferido ir da forma como veio ao mundo. Pôs um pé de cada vez antes de mergulhar na água morna, que envolvia o seu corpo como se fosse o útero de sua mãe.

A lembrança a fez questionar por um instante, e naquele ponto soube o que faria a partir dalí. Onde haveria de estar a sua mãe?





























Rauros, a Leoa

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CH: 1000/1000
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A Grey meditou por pouco tempo, pois além de não possuir trânsito indeterminado pela localidade, ela não estava interessada em remanescer nas águas mornas como se quisesse ser cozinhada. Ergueu-se vagarosamente, avançando em direção ao vestuário. Recolocou os trajes de outrora e evitou cerimônias desnecessárias, volvendo o corpo em direção à saída. Estava ansiosa para aproveitar o seu período de descanso após abdicar do cargo de Tsuchikage, havia muito que não se sentia tão livre quanto naquele momento.

— Quer jantar em casa hoje? Tenho uma champanhe guardada, poderíamos fazer um brinde e emendar uma festinha do pijama — Sarah sugeriu, sorridente.

— Não tenho outras amigas para convidar, e não acho que seria uma festa se fôssemos apenas nós duas.

— Claro que seria. Para mim, a única pessoa que importa é você! — Sarah corou, revirando o olhar. A prateada se sentiu constrangida, considerando o tom das colocações.

— Irei considerar o convite, obrigada. Darei uma resposta em breve — evadiu do diálogo, permitindo que o silêncio fosse predominante pelo restante do trajeto.

Rauros aguardava na entrada, adormecida. O anoitecer teria caído naquele ponto, e o breu estava mais profundo do que esperava. Allannia assobiou, chamando a atenção da felina. A albina estava num estado grogue, mas seguiu ao lado da dupla. Quanto antes ela chegasse no Palácio, melhor seria para o seu sono. A própria Allannia estava exausta naquele ponto, e era provável que preferisse sua cama do que às festividades da amiga. Bocejou, espreguiçando os braços. Os olhos azuis, outrora fechados e parcialmente marejados de sono, deslumbraram a silhueta do trio ANBU mais presente em sua rotina como Kage. A Jōnin franziu o cenho, estranhando a presença desnecessária dos indivíduos.

— Caso não tenham recebido essa informação ainda, eu não sou mais a Kage. Se possuem algum problema, peço que passem para o... — ela teria começado, antes de ser interrompida.

— Não viemos falar sobre afazeres profissionais, Senhorita Allannia. Não deveríamos estar fazendo isso, mas achamos que seria injusto esconder algo tão grave — o indivíduo central, sempre jovial e envergonhado, tomou a dianteira — A sua residência foi confiscada pelo banco. Após descobrirem que abdicou do seu cargo, eles removeram todas as tolerâncias burocráticas e decidiram aplicar seus direitos como prestadores de serviço. O Palácio será leiloado, e o valor arrecado será utilizado para cobrir as suas pendências com a receita. Eu sinto muito.

As palavras do shinobi causaram um choque severo para a Grey. Por gerações, Cinzamarca foi o reduto principal dos seus. Era o símbolo máximo de sua família, e todo o prestígio que lhes era atribuído. A Grey cerrou os punhos, enfurecida, mas nada disse de imediato. Os informantes se retiraram tão subitamente quanto surgiram, de modo que evitassem suspeitas dos assuntos tratados naquele reencontro inesperado. Sentiu o toque suave de Sarah, acalentando seu coração, mesmo que superficialmente. Contraiu os ombros, afastando sua mão, e avançou, seguindo em frente de maneira abrupta.

— O convite ainda está de pé — a loura recordou, e não obteve nenhuma resposta da kunoichi frustrada.

— Allannia não se importa de ter um lugar pra dormir; ela quer o que é dela por direito. E eu garanto, duvido que ela vá desistir — Rauros recordou, acompanhando a sua suserana piamente.

— Pois deveria. O banco sempre tem o que quer, seja ouro, seja sangue — a Ito sussurrou, e abandonada, seguiu seu caminho.





























Rauros, a Leoa

HP: 1000/1000
CH: 1000/1000
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