— Sachiko..., quanto tempo. — Hana correu para dentro do estabelecimento, saltou habilmente por cima do balcão e abraçou fortemente a senhora que cuidava do local.

— Hana..., você por aqui? Não esperava te ver novamente. Sente-se, vou preparar algo para você comer. Ainda gosta de almondegas ao molho? — A jovem acenou positivamente com a cabeça, entusiasmada. — Um macarrão..., talvez? Enquanto eu preparo, conte-me como você está.

— Você sabe como é a vida de um ninja: missões e mais missões. — Ela se levantou e caminhou pelo pequeno salão. — Onde estão os outros? Decim? Nona? Aquele velhote que fedia a pinga..., esqueci o nome dele. Nunca vi esse bar tão vazio, aconteceu algo enquanto eu estive fora?

— Realmente... — O tom de voz da senhora era triste e ela se calou por alguns instantes. — As coisas ficaram estranhas pelo vilarejo nos últimos meses. As pessoas não costumam mais sair de casa por medo, as ruas estão vazias e parece que toda a felicidade do nosso povo foi roubada. Nona têm agido estranho, ela saiu alegando que tinha algo para fazer e não me disse onde iria e quanto a Decim..., suponho que tenha morrido: ele desapareceu e nem vestígios de seu corpo encontraram.

— Como e quando isso foi acontecer? — Questionou, intrigada.

— Bem..., aqui está seu prato. — O aroma que a comida feita por Sachiko exalava era incomparável e hipnotizante. Assim que a velha o colocou sobre o balcão, Hana o atacou como um cão faminto. — É melhor você ir embora depois de comer..., você estará segura em Iwagakure. — A loira diminuiu o ritmo das garfadas e passou a prestar mais atenção aos detalhes.

Sachiko costuma ser uma idosa que exalava vida e felicidade, totalmente diferente da atual cuja expressão era cansada e os olhos sem brilho algum. O pacato bar, conhecido como “O Refúgio Decrépito”, era seu maior tesouro e costumava cuidar do local com o mesmo carinho que dava a seus filhos. No entanto, por algum motivo ela aparentava ter desistido de tudo. As lamparinas estavam velhas e mal iluminavam todo o salão; as paredes, que outrora brilhavam em um belo tom de azul, agora estavam repletas de manchas e rachaduras; as tábuas do chão estavam soltas e cheias de cupim; assim como os pés das mesas e cadeiras, que também apresentavam lascas, dando a impressão de que poderiam desmoronar a qualquer momento. “Tem alguma coisa muito errada com essa vila”, enfim concluiu, voltando seu olhar para a senhora.

Após terminar a refeição, a jovem se levantou e deu um caloroso abraço de despedida na antiga companheira. Enquanto seus corpos estavam colados, Hana abriu os olhos e pode ver a rua através da janela. Três pessoas, vestidas com capa e capuz negros, passaram pela rua depressa e de maneira suspeita. “Só tem um jeito de descobrir”, pensou. Ela então saiu e os olhos das duas se cruzaram uma última vez antes da kunoichi fechar a porta.

“Para onde eles foram?”. Hana olhou para todos os lados em busca de qualquer vestígio, até que notou uma outra pessoa com vestes semelhantes virando em uma esquina. Ela acelerou o passo, porém não foi o suficiente para alcançar o estranho. Espiando pelas janelas das casas ao redor, notou que, apesar da escuridão da noite, todas a luzes estavam apagadas com exceção de um pequeno casebre de madeira um pouco a frente. A genin se aproximou lentamente e se escondeu atrás de uma lixeira próxima de modo que conseguia ouvir e ver com clareza o interior da residência.

Ali, no centro de uma pequena sala em condições deploráveis, encontravam-se cinco pessoas vestidas de preto e com capuz que escondia suas faces. Um desses estranhos estava no meio dos outros quatros e segurava um objeto quebrado em mãos.

— Temos que dar um jeito na velha..., ela irá atrapalhar nossos planos. — Disse um deles, visivelmente irritado.

— Ela não tem culpa, é apenas uma velha. — Respondeu outro, uma voz feminina. — Você consegue consertá-lo, não é..., Decim? — “De-decim?”, Hana conhecia aquele nome e, definitivamente, também reconhecia a voz feminina: era Nona. “O que vocês estão fazendo junto com esses estranhos?”, questionou-se.

— Me parece uma tarefa complicada..., talvez impossível. Não posso garantir.

— Está decidido, vamos dar um fim na velha.

— Se vocês colocarem um dedo em Sachiko, eu e Decim estamos fora.

— Vocês não se atreveriam...

— Faça o teste, geladinho de merda. — “Geladinho de merda? É como Nona chamava as pessoas da minha família..., eles estão mesmo envolvidos nisso?”.

— Cuidado com suas palavras, garota. — Retrucou. — De qualquer forma, colocaremos alguém para ficar de olho na velha.

— Que seja! — A mulher bufou. — O que faremos agora?

— Temos que procurar por outro objeto..., mas ainda não sei como. Aquela maldita cujo nosso sangue corre em suas veias acabou com nosso esquema de contrabando em Iwagakure. — “Se fodeu, idiota”, a exata pessoa a quem o sujeito se referiu, mostrou a língua através da janela. — Talvez seja hora de realizarmos um ataque direto e tomar esses objetos à força. Basta congelarmos aquela maldita vila inteira. — “Eles querem atacar Iwa? Quem diabos são vocês?”.

Hana estava tão concentrada na conversa que não percebeu a aproximação de um outro sujeito, alto e untoso, que a agarrou pelos braços e a arrastou para o interior do casebre.

— Olha quem eu encontrei bisbilhotando do lado de fora. — Alertou a todos, empurrando a loira na direção dos demais. Ela caiu no centro da roda.

— HANA!? — Nona e Decim reagiram imediatamente, surpresos.

— Era sobre você mesmo que estávamos falando, filha.

— Pai?

— Parece que você ouviu toda a conversa, isso me poupa do trabalho de te explicar. Enfim..., de qual lado você pretende ficar?

— Vamos com calma nisso..., não precisa ser assim. O que aconteceu com vocês para estarem com essas ideias na cabeça? Eu posso ajudar de alguma forma, tenho contado direto com Iwagakure. O que vocês realmente querem?

— Poder, reconhecimento, dinheiro..., estamos cansados dessa vida miserável.

— Vocês não precisam virar um bando de criminosos para isso, vão acabar mortos e sem nada.

— Não temos mais nada a perder, Hana. — Nona interviu.

— Mais uma vez, qual será sua escolha? — O homem voltou a perguntar.

— Você não pode estar falando sério. — O homem apenas permaneceu em silêncio, retirou o capuz e a encarou esperando uma resposta. — Meu destino estava decidido desde o momento que recebi esta bandana. — Aquela resposta não significa uma lealdade incondicional para com Iwagakure, apenas sentia que, seja lá qual o for o plano de seu pai, eles não tinham chance contra uma das grandes vilas.

— Pois então você terá que morrer aqui. — A temperatura no local reduziu drasticamente em questão de segundos, ouvia-se até mesmo o som do chão e paredes congelando.

— Você já está perdendo sua sanidade com essa ideia de maluco, Sahei..., é a sua filha. — Nona abaixou o capuz enquanto tentava impedir o homem.  Decim imediatamente realizou o mesmo gesto e se colocou à frente da loira. — Ela fez a escolha dela, apenas a deixe seguir com isso. O futuro responderá se ela fez a escolha certa.

Hana disfarçadamente sacou uma Kemuridama da bolsa de armas e tacou no chão. Aproveitando a cortina de fumaça, avançou em sua máxima velocidade em direção a saída. No entanto, foi impedida pelo corpulento que se colocou no caminho e a derrubou com uma barrigada. A kunoichi tentou sacar uma kunai; todavia, seus pés e um dos braços que ainda estavam em contato com o chão foram congelados.

— Estão vendo? Ela não tem nenhum pingo de compaixão com a família e amigos antigos. — O homem, que aparentava ser o líder de todo o esquema, estava furioso.

— Sahei..., se acalma. — Nona, outra vez, interveio. — Você também, Hana. Está querendo ser morta pelas mãos de seu próprio pai?

— Está bem..., mas ela não seguirá essa escolha como alguém do meu sangue. — Sahei fez um selo com uma única mão e o gelo que prendia Hana começou a subir, cobrindo seu nariz e a boca, não demorou para a visão da jovem ficar turva e ela perder a consciência. — Você não me deixa escolha, tola. Levantem a blusa dela e a coloquem de barriga para baixo. — Ordenou, após libertá-la do gelo.

— O que você irá fazer? — Questionou Nona, enquanto o obedecia.

— Impedir que ela tenha acesso as habilidades de nosso clã e a quaisquer outras lembranças ou informações sobre nós. — Então, ele pegou um pincel e um pote de tinta vermelha e rabiscou alguns kanjis indecifráveis em volta do corpo da jovem, finalizando com um símbolo em forma de “x” deformado sobre a lombar dela. Irritado, Sahei jogou os objetos para o lado e começou a realizar uma série de selos de mãos ao passo que proferia algumas palavras indecifráveis. As marcas sobre o chão reagiram e passaram a caminhar em direção ao alvo sobre a menina. Quando todas elas sumiram, o “x” se fechou em uma espécie de cicatriz.


Enquanto os primeiros raios de sol começavam a iluminar o horizonte, Hana gradualmente foi recuperando a consciência, sentindo uma latejante dor de cabeça. Aos poucos, ela recuperou os sentidos e notou que estava deitada em uma estrada de terra deserta. O ambiente era calmo e sereno, com uma leve brisa que levantava um pouco de poeira e amenizava o calor. A loira tentou se levantar; no entanto, sentiu um intenso desconforto e uma inexplicável fraqueza em suas pernas. Uma nuvem de confusão pairava sobre a mente da jovem, impedindo que ela se recordasse de muita coisa ou como foi para naquele lugar sob aquelas condições.

Olhando ao redor em busca de algum ponto de referência, a kunoichi notou uma silhueta se aproximando rapidamente no horizonte. De repente, um grupo de ninjas com vestes comuns a Iwagakure emergiu na estrada. Essa foi a última e a única lembrança que Hana teria daquele dia: eternamente.

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Considerações: