Sua vida inteira deu-se de maneira bastante egocêntrica. Não atrelado necessariamente a uma questão negativa, mas sim a procura de sua própria visão de mundo, vivendo independente dos assuntos da sua linhagem sanguínea ou de onde foi concebido. Seu amor sempre foi fervoroso para odisseias que se deleitava ao ler na sua cama a noite, passando do horário de dormir. E quando não estava ligada a grandes heróis ninjas completando atos heroicos, seus instintos o levavam diretamente para a eletricidade. Não apenas o elemento em si, mas ao próprio conceito e sua vontade incessante de tornar aquilo seu. Ao ponto de dominar essa faísca completamente. Sua entrada ao mundo ninja permaneceu dessa forma, fez as coisas do seu jeito e as suas vontades. Tudo que estudou, tudo que se esforçou, todo ímpeto que botou, foram canalizados apenas nos seus próprios desejos. Desde criança rotulado como um Senju, aceitou, mas nunca utilizou isso para beneficio próprio. Nunca se interessou em saber mais de suas raízes, da história do seu Clã, mesmo entendendo que havia certo prestigio envolvendo as pessoas nomeadas como tal. Em sua própria aldeia, havia um grande exemplo disso. Hokage havia o mesmo nome atrelado ao seu. “E daí¿“ Se indagava constantemente quando as pessoas apontavam sua origem ou a sua linhagem. Sempre se colocou acima disso, sempre se colocou como Kashimo, não como Senju. Só que a questão era muito mais do que não ser atrelado a isso, o seu sentimento não era de medo de ter a si reduzido a apenas sangue, era mais uma questão desprendimento as amarras sociais. Era estar tão focado no que lhe interessa, que questões como essa para ele eram totalmente triviais. Para Kashimo, as pessoas colocavam peso demais em questões irracionais. Sentia que sua nascença não interferia em nada na sua vida, talvez tenha nascido mais saudável ou vigoroso por isso, quem sabe até aclamado monetariamente, só que o resto, não era nada. Era só um nome.

Contudo, essa concepção se alterou, mas não por conta do Senju. Talvez tenha sido causado pelo poder que lhe foi entregue por aquele homem misterioso, ou apenas é uma questão rara de uma passagem de puberdade tardia. Sua cabeça doía, incessantemente. Parecia que centopeias rastejavam dentro do seu cérebro. Pulsavam, mordiam, arranhavam, uma dor incontrolável, que sentia na necessidade ungir por completo o seu corpo para escapar do sofrimento. Ainda assim, mesmo com a dor excruciante, o jovem era bastante reservado, fugia dos seus pais, gritava em seu travesseiro, tentava contornar a dor de sua própria maneira e evitar causar preocupação. O que diria se estivesse relacionado com os eventos do homem que lhe deixou marcado¿ Não queria admitir sua experiência de quase morte, sua mãe era muito protetiva, o véu que protegia sua jornada ninja, era o seu pai. Até que a situação que já era desesperado virou crítica. A dor que antes tinha limitação na região superior de sua cabeça começou a lentamente a espalhar-se para a sua visão. Seus globos oculares começaram a pulsar, as veias se dilatavam e voltavam ao seu normal junto. O medo de torna-se cego começou a afligir o garoto. Não seria capaz de batalhar, não seria capaz de cumprir as expectativas impostas por ele mesmo. As suas dores de cabeça tinha completo uma semana, ele aguentou a tortura durante esse tempo, mas no momento que afetou seus olhos, no mesmo dia ele se dirigiu aos seus pais.

Os seus progenitores se assustaram, era a primeira vez que viam seu filho debilitado desse jeito. Tão frágil. Kashimo realmente estava desesperado, não queria perder a visão, essa foi a primeira vez que chorava de maneira mais sentimentalista. Nunca foi de expressar seus sentimentos, suas vontades. Não que fosse frio, contudo, sua euforia pelo mundo shinobi normalmente consumia demais a sua personalidade, preenchia muitas lacunas, que apesar de ter uma boa relação parental, existiam. Não que seja um erro de criação, ele era apenas determinado demais para criar um desenvolvimento em outros aspectos da vida.

De todo jeito, o desespero do seu filho, causou um alerta nos seus pais, que imediatamente levaram para um ninja médico mais confiável da família. O médico observou o desespero do garoto, pensou o pior. Então iniciou uma série de exames, que não detectaram nada de anormal. Em sua vasta experiência com medicina e estudos, não conseguia conceber algo do tipo acontecendo. Levou até em consideração ser algo psicológico, algo estava afligindo o menino, o que resultou nessas dores. O estado não era nada bom, além das dores, sua febre estava alta, suava constantemente, estava completamente debilitado. O que não descarta a possibilidade de ser algo totalmente psicológico. Ainda assim o médico tentou tratamentos para amenizar isso, remédios com dipirona, jutsus médicos e até mesmo placebos foram tentados, mas nada parecia surtir efeito e a situação do paciente a cada minuto parecia piorar.

Sua mãe já estava aos prantos, enquanto seu pai tentava acalma-la. A anomalia acontecendo diante deles parecia sem volta. O sentimento de abatimento já preenchia o ambiente, onde ninguém parecia ser capaz de fazer nada, nem mesmo para aliviar o sofrimento do pobre garoto.

Até que, os gemidos de dor pararam. Kashimo antes ofegante parecia imóvel. Mas antes que qualquer um dos parentes tomassem pensamentos precipitados, o médico analisou o garoto dizendo que ele ainda estava vivo. Sua dor parecia ter cessado e que ele só teria ficado desacordado diante de tanta exaustão. Ainda não sabia se os sintomas persistiriam ao despertar do seu paciente, na verdade, não sabia nem o que estava acontecendo no momento, nem o que esperar. Ainda assim, tentou acalmar os pais do garoto, buscando com palavras bonitas, mesmo que vazias, um relaxamento de ambos.

Um dia inteiro havia se passado, sua mãe, como toda mãe coruja, não havia, nem por um momento saído do lado do seu filho. Segurava em sua mão, com lagrimas nos olhos, desejando que seu filho acordasse logo desse pesadelo e que pudesse sorrir novamente para ela. Seu pai, diferentemente, era calejado como shinobi, sempre se esforçando para suprimir seus sentimentos, então continuava com suas obrigações diárias normalmente, mesmo sempre buscando alguma oportunidade de voltar para casa e receber atualizações da situação que se encontravam.

No início do segundo dia, um alivio finalmente tornou-se a família, Kashimo teve um pequeno espasmo. Sua mãe que ainda segurava sua mão, levou um susto:

- F-filho...?- Gaguejava enquanto apertava a mão do garoto com sua força.

Aos poucos, o jovem dava sinal que estava despertando, inicialmente, levemente apertava de volta a mão de sua progenitora. Seguidamente começou a se ajeitar na cama, enquanto soltava leves gemidos de esforço. Sua mãe o ajudava a se posicionar na cama.

- Mãe... A senhora está apertando demais a minha mão. – Parecia ainda tão exausto, que quase sussurrava as palavras, mesmo tendo o esforço para falar em bom tom.

A mulher se desculpava e afrouxava a pegada. Ele então botava a mão contra a sua cabeça, como se ainda sentisse dor, só que parecia advinda mais necessariamente do cansaço, do que pelo mesmo motivo de antes. Até que finalmente abriu seus olhos para observar seu redor e quando fez isso, sua mãe parecia abrir a boca de surpresa.

- O que foi, mae? O que aconteceu? - Kashimo questionava com medo, ainda que conseguisse enxergar.

Seus olhos estavam brancos, tal qual, sua mãe. Seu pai era Senju, sua mãe Hyuuga. Sempre foi atrelado ao sobrenome do seu pai, por que acreditavam que tinha uma grande vitalidade e não tinha nascido com olhos tão bonitos de sua progenitora.
Seu progenitor abre a porta e observa sua mulher chorando, abraçando o seu filho.  O Kashimo nota a presença do seu pai, se virando para ele e acenando, fazendo-o então perceber sua pupila branca. “Desgraçada sortuda“ pensa o Senju, que abre um sorriso genuíno no rosto.

Posteriormente, o médico novamente avalia a situação e teoriza que talvez o conflito forte entre os genes de ambos os clãs acabou por anular o outro durante os anos, gerando então um despertar tardio das características únicas. Ainda assim, continuava sendo relativamente vago, mas era a única conclusão lógica que podia chegar o que gerou até certo interesse do doutor.

O antigo Senju, agora adotando o Hyuuga em seu nome, se questionou e divagou nos dias seguintes. Diferentemente de antes, agora possuía uma característica que influenciava diretamente em suas escolhas e em conceitos de combate. O sofrimento passado acabou por gerar interesse na sua nova linhagem, na sua nova conduta. Isso chegou até mesmo a afetar sua mãe, que antes tinha certo receio em ser permissiva na vida de shinobi do seu filho, tornando-a mais ativa, mais interessada em ensina-lo a arte ninja, sobre o Byakugan, sobre a ramificação da família Sōke a qual eles pertenciam e sobre a superação de preconceitos com a linhagem Bunke, o contando sobre a união de ambas e como ela ficava feliz do equilíbrio entre as duas.  

Sabia que sua ambição não havia mudado, seus objetivos permaneciam os mesmos. Ainda assim, sentia que uma parte de si mudou, se tornou mais apegada a sua linhagem. Sentia um orgulho velado, que parecia crescer cada vez que desenvolvia suas habilidades ligadas ao clã Hyuuga. Sua jornada continuava, inerentemente a sua mudança, mas agora se sentia mais pertencente a algo e isso parece ter criado um vinculo que lhe faltava.

HP: 925/925
CH: 625/625
ST: 00/05

Considerações: