Quando o jovem abriu a porta da casa viu logo a mãe sentada à mesa de jantar, bebericando chá com uma expressão abatida. Seu rosto ficou tímido, abaixado, temeroso em como ela reagiria à nova aparência. A única coisa que ele ouviu sair da boca dela em seguida foi uma pergunta simples: — É você, meu filho? — e ele levantou o rosto, assentindo, com lágrimas nos olhos. A mulher saltou da cadeira, derrubando-a no chão, e jogou-se nos braços do menino que agora era um homem formado. Abraçou-o forte e depressa, como se tivesse passado sete anos para ela também.

— Você está crescido — disse se afastando, as mãos passando nos braços até ambos os ombros e então, ainda pasma, colocou os dedos sobre o rosto do filho, notando a falta da queimadura. — Como isso é possível? — questionou maravilhada com o resultado dos poderes curativos de Angell. Ele tomou a mão dela, ameaçando um sorriso amarelo.

— Estou de volta, mãe.
— Seja bem-vindo, filho.


Acordou na manhã seguinte ouvindo a mãe discutindo com alguém. Ainda em seus pijamas por um descanso merecido ele saiu do quarto sentindo uma coisa estranha dentro dele. Encontrou-a xingando um enviado do escritório da Tsuchikage, desacreditando que já iam colocá-lo em missão após ter retornado há pouco tempo. Batsuki chegou mais perto e pôs a mão no ombro dela. Não era mais a criança que ficava atrás dela.

— Mangetsu Batsuki, você é requisitado no Quartel General.
— Vou me trocar antes — disse e olhou a mãe com um sorriso. — Preciso fazer todos os relatórios conforme manda o sistema, mãe. Volto em seguida. Allannia-san deve estar querendo mais detalhes do combate final — a explicação foi branda, fechando a porta no processo.
— Mas você acabou de voltar e está todo diferente e… o que aconteceu lá?
— Eu não sei o quanto posso te contar, mãe, mas prometo que irei explicar assim que tiver permissão. Saiba que conheci pessoas incríveis e uma delas arrancou aquela marca maldita de mim. Sobre meu corpo, foi o preço pequeno em troca de quem eu amo. Está tudo bem, tá? — deu um beijo na testa dela e foi para o quarto onde colocou o uniforme ninja e partiu.

Quando entrou no Quartel General, cercado de ninjas que sabia serem de milícia, escutou aplausos que não sabia determinar se tinham sinceridade. Já havia notado pessoas falando seu nome antes ao entrar na vila, mas agora era diferente. Eles olhavam-no como se fosse uma pessoa relevante.

— Parabéns, Batsuki-kun — disse uma voz familiar. Das sombras, o antigo diretor da academia ninja surgiu em trajes típicos shinobi. — Você foi promovido e sem causar destruições dessa vez. Ordens de cima, você é oficialmente a elite da vila — sua voz tinha um cinismo marcado.
— Isso é uma piada?
— Gostaria muito que fosse — o velho de cabelos espetados parou na frente dele com os olhos afiados. — Mas são ordens de cima, não posso fingir não vê-las. Entende, não é? — a piscadinha que veio depois o encheu de raiva e aquele sentimento aflorou uma energia adormecida dentro dele.

O homem deu um passo para trás ao encará-lo nos olhos e ver uma faísca vermelha. Batsuki nunca havia sentido aquilo antes, nem quando era impulsivo. A energia percorrendo suas veias era apenas seu sangue quente fervendo; desta vez, não, parecia o mesmo chakra colocado nele por Hattori Shion, mas ele não fazia a menor ideia do significado daquilo. — Estou dispensado? — perguntou, acalmando-se, e o homem assentiu ainda com uma expressão assustada.

Batsuki saiu do QG e respirou fundo o ar do vilarejo. Sete anos haviam se passado dentro dele em poucos dias, mas a vila continuava a mesma. Soltou o ar devagar relaxando os ombros. Duas crianças passaram brincando e uma falou seu nome.


Batsuki gotejava suor no campo de treinamento da vila. A parte de cima da roupa jazia caída no chão, o corpo adulto dele exibia músculos definidos. Seus cabelos não eram mais uma massa confusa sobre a cabeça, voltando ao corte baixo lateral que fazia o rosto destacar. Voltou aos movimentos físicos, acertando o nada conforme sentia os músculos fatigarem. Havia passado os últimos meses treinando, não recebendo nenhuma nova missão. Muito provavelmente os milicianos da vila não confiavam suficiente em enviá-lo em missões de alto grau de complexidade, pois, todas as que esteve presente buscou atrapalhá-los de algum modo; e continuaria assim.

Outro soco no ar e um chute em seguida. Desde então vinha buscando aprimorar mais sua vitalidade e energia. Não havia voltado a sentir aquela influência sombria, mas também não sentira raiva como no dia seguinte ao seu retorno. Parecia que havia mistérios dentro dele e nem mesmo o seu padrinho e mentor poderia solucioná-los. Começava a achar que precisaria investir de outras formas, mas, até lá, precisava desenvolver mais suas reservas. Treinando o físico, fazendo meditação, passando diversas horas em treinamentos árduos que forçavam um corpo mais resistente que antes. Mais adulto. Mais forte.

Seu pai estaria satisfeito em vê-lo assim, embora não orgulhoso. Nunca estaria orgulhoso. Estranhamente, não vinha pensando mais tanto nele. Talvez por estar ocupado demais treinando ou limpando a mente com meditação, talvez porque não enxergava a marca dele em seu rosto todos os dias ao acordar. Angell havia curado mais do que seu rosto naquele dia, assim como Shion havia feito mais do que apenas inspirá-lo a ser um ninja melhor. Batsuki havia sido salvo por eles, de várias formas.

Cada novo soco era para ficar mais forte em prol da vila. Cada novo chute era uma forma de afastar os medos de ser incapaz de proteger quem amava. Ele não era uma lenda ou um herói. Era apenas um garoto egoísta que precisava salvar todos. Apenas um garoto cansado de carregar tanto sangue em suas mãos. Um ninja que não seria mera ferramenta de destruição, mas de paz e amor.

Mesmo se para isso ele precisasse destruir as coisas.

Considerações:

Particularidades Shinobi:

Bolsa de Armas (56/60):

Jutsu Sempre Ativo: