— Imagem: Kumogakure. —

Kumogakure, 11:00.

Estava caindo o mundo.

Não era comum dias chuvosos em Kumo. Muito menos comum dias em que as nuvens estavam tão pretas que parecia noite, mesmo sendo o fim da manhã. A chuva estrondava fortemente contra as janelas do meu apartamento.

Eu juro que se tiver alguma infiltração, goteira ou vazamento…

Mas não tinha. Recém comprei esta casa. Se tivesse algo do tipo, eu ia correndo reclamar com a imobiliária. Como vocês me alugam um lugar patético desses e não me avisam?!

Ah, eu sabia que eu era extremamente desagradável. Era uma das minhas maiores qualidades. Mantinha tudo e todos longe de mim, bem do jeito que eu prefiro. Nada e ninguém para me encher o saco.

Eu sou assim desde que me conheço por pessoa. Antes mesmo de meu pai matar minha mãe e então eu matá-lo. Ah, aquele foi um grande dia. O dia em que eu finalmente me tornei a Erika Spirit que conheço hoje em dia.

Nunca me arrependo de matar meu pai. Nem de matar ninguém, na verdade. Não que eu tivesse tirado a vida de alguém importante, só alguns bandidos e um cara que construía marionetes. Ninguém que realmente merecesse algum reconhecimento.

Ah, mas um dia eu com certeza iria. Tantas possibilidades. O Hokage. O Kazekage. O Mizukage. A Tsuchikage. O Raikage.

Ia ser fenomenal cinco marionetes com seus nomes e habilidades.

Mas acho que eu estava pensando demais. Eram fortes, claro, impossível de matá-los como estou agora. Mas eu só tenho quinze anos. Ainda ia viver muito e ficar muito mais habilidosa, construindo marionetes nunca antes vistas.

Resumindo, eu tinha uma bela de uma longa jornada pela frente.

Afundei o rosto no travesseiro. Estava deitada de bruços na minha cama. Parece que com essa chuva também veio a preguiça. Me espreguicei.

A vida em Kumo não era tão má, eu tinha tudo que eu precisava bem aqui. Minha oficina, um local onde eu poderia criar minhas composições venenosas para matar inimigos lentamente, e também tinha esse pequeno apartamento.

O problema é que aqui eu não podia ser quem eu queria ser.

Eu pretendia ter uma coleção de marionetes humanas, então eu precisava de um lugar onde fazer experimentos em humanos ou usar corpos de aliados com Kekkei Genkai interessantes não fosse crime.

Esse momento um dia iria chegar, eu sabia disso. Então, enquanto a vila fosse útil, eu não seria uma Nukenin. Ah, essa realmente etuma palavra interessante. Não há muitos nukenins por aí, e se eu deserdasse Kumo, meu nome estaria pela boca de inúmeras pessoas.

E quem sabe um dia… eu criasse uma organização criminosa. Heh, a ideia era um tanto excitante.

Levantei da cama e fui até a janela. A chuva caía com força, não dando nem um único sinal de trégua. As gotas batiam e deslizavam sobre a janela. As ruas estavam vazias, como se a aldeia estivesse morta. Todos estavam enxutados dentro de duas casas.

Eventualmente um ou outro Shinobi passavam andando. Coitados, pegaram vigia bem num dia nada amigável como esse.

Me afastei da janela e fui em passos rasos até a cozinha. Estava me dando fome, e eu tinha um resto de geleia e pão na geladeira.

Eu devia começar a pensar na minha próxima marionete, ah, e com pensar, digo pensar de verdade. Eu sempre estava pensando. Mecanismos, aparências, estratégias, mas não aplicava ou sequer anotava. Eu não precisava, minha memória era ótima.

Eu tinha ideias muito boas pairando pela minha cabeça, que iam desde marionetes de captura até marionetes kamikazes. Uma marionete que se destruía para causar enormes danos era algo extremamente atrativo para mim. Parecia hilária a ideia de matar alguém dessa forma.

Uma pena que uma vez destruída, os materiais eram inúteis. E de certo modo, difíceis de se adquirir. Quando eu tivesse acesso a um modo mais fácil de adquirir materiais, eu aperfeicoaria essa ideia com muito prazer.

Terminei de fazer o lanchinho. Geleia de morango era minha predileta. Coloquei num prato e levei comigo até o quarto.

Eu nunca tinha visitado nenhum outro vilarejo. Nasci em Kumo e o máximo que fiz foi andar pelos arredores da vila. Claro, eu tinha vontade de ver como era os outros lugares, saber as diferenças culturais, estruturais e essas coisas. Não devia ser muito diferente, mas algumas poucas coisas ali seriam interessantes.

A comida não me atraía. Eu não ligava muito para os pratos ou iguarias de cada lugar, por mais que eu já tenha ouvido muitas vezes que Konoha tem um ótimo macarrão, nunca me senti inclinada a considerar isso um motivo para visitá-la.

Eu gostava de ver as casas, prédios, estruturas no geral. Eu era uma marionetista, acho que é muito natural eu me interessar por coisas desse tipo.

Mas, dentre todas as vilas, acho que a que eu mais desejava visitar era Suna. Li livros contando sobre a cultura de marionetes, sei que ela se originou lá, e que é uma arte muito respeitada. Seria muito interessante invadir sua biblioteca e extrair qualquer conhecimento que tenha a ver com marionetes.

Terminei de comer o lanche. Estava gostoso, mas não tão gostoso quanto poderia estar. A geleia já estava velha, como sou só eu aqui em casa, as coisas duram.

Voltei a olhar para a janela. Realmente, não havia nenhum sinal nem previsão de quando essa tempestade ia acabar. Aposto que algumas ruas já estavam alagadas e alguns shinobis deviam estar trabalhando nisso. Tomara que não venha nenhum à minha casa me dizendo que tenho a tarefa de ajudar eles.

Hoje era um fim de semana tranquilo, sem preocupações. Se algo viesse arruína-lo eu ficaria realmente furiosa.

Respirei fundo e me espreguicei. A preguiça não iria embora enquanto a chuva caísse. E, bem, ainda tinha um pouco de geleia na geladeira, então segui até ela para preparar um segundo lanche.

Era comum eu ficar imersa nesses pensamentos. Às vezes parecia que o tempo parava quando eu pensava. Acho que não passou nem cinco minutos desde o meu primeiro pensamento até o último.