á estou eu, checando as malas pela centésima vez. Quem diria que Erika Spirit estaria partindo em uma viagem de férias? Eu há uma semana atrás riria de uma sentença como essa. Mas deu no que deu, Erika Spirit está se preparando para uma viagem não muito distante de Kumogakure.

Estou levando cada um de meus pertences, pentes, quatro trocas de roupa, toalhas, cremes para o cabelo e a pele  — esses não podiam faltar — e várias outras coisas que se eu listasse aqui, tomaria uma página inteira.

A bagagem não passava de uma mochila das grandes. É esquisito como tanta coisa pode caber num único lugar. Enfim, com ela nas costas, abri a porta de casa e parti.

Em Kumo estava aquele clima de sempre; um ar meio úmido, mas ensolarado. Ao longo do tempo que vivi aqui eu aprendi a lidar com esse sol, e ele não me incomodava mais, mesmo eu sempre com as minhas roupas longas.

Saí pelo portão da vila sem olhar para ninguém, a última coisa que eu queria era alguém me atrapalhando no meu momento de paz. Se eu encontrasse bandidos, ladrões ou qualquer coisa que olhasse para mim, eu não teria piedade.

Nunca tive, na verdade. Não mudou muita coisa.

Ah, e por toda a trilha eu pensava nas minhas marionetes. Eu tinha tudo preparado, os esquemas, os materiais, só faltava construí-las. Eu mal podia esperar para usá-las em combate. Isso me deixava bastante ansiosa.

E eu nem cheguei a comentar onde estava indo. Ao sul da vila havia uma cachoeira um tanto quanto secreta, que um dia eu e meus falecidos pais acabamos encontrando por acidente. Meio que virou uma tradição de família ir todo ano para visitá-la, e guardamos segredo sobre ela, então ninguém nunca estava lá conosco, apenas nós.

E era uma experiência e tanto, a água sempre fresca e na temperatura perfeita, o lago que se formava ao redor da água que despencava do rochedo… as imagens na minha cabeça já me davam certa paz e tranquilidade.

Não estranhe, pessoas más também precisam de férias.

Mas por que tudo isso? Trocas de roupa, pentes… cremes? Bem, a resposta é simples: eu ia passar um bom tempo por lá, arranjar um bom lugar para dormir e descansar. Me desligar do mundo ninja por poucos dias.

Nunca cheguei a passar a noite por lá enquanto meus pais ainda eram vivos, mas pouco antes de terminar a academia ninja eu passei um certo tempo a mais por lá. E repito: é um baita lugar agradável.

Virei à esquerda, no meio da floresta densa. Ninguém passava por ali, afinal, não era uma trilha, mas árvores e grama. Como eu sabia exatamente onde virar? Bem, talvez eu lembre muito bem da árvore que fica encostada na trilha. É como se nós tivéssemos uma conexão, coisa assim.

Ou talvez eu só tenha uma ótima memória e seja extremamente inteligente. É, é o mais provável.

O caminho por aqui era mais complicado. Ainda bem que eu tinha minha kunai para cortar vinhas, cipós e arbustos que atrapalhavam o caminho. Eu segui por ali por mais duas horas e meia.

Era quatro da tarde, e eu comecei a ouvir o som de água. Um sorriso apareceu no meu rosto, de um canto de uma bochecha à outra.

Cortando o último lance de arbustos, eu vi a cena. Eu estava em cima, bem ao lado do lugar onde a água despencava para a lagoa abaixo. Era lindo e extremamente calmante. O lugar não tinha árvores, era apenas pedras e rochas molhadas por causa da água.

O lugar era tão belo que parecia que uma melodia suave sempre tocava por ele.

Suspirei, olhei ao meu redor. Ninguém, nada, nem animais. Apenas eu, e a cachoeira.

Com minha agilidade de kunoichi, pude descer facilmente para a área mais em baixo. Agora eu estava bem ao lado da lagoa, sobre as pedras que eu podia facilmente deslizar e acabar dando um mergulho por acidente.

Fui me organizar no mesmo lugar de sempre, o grande local que fica bem atrás da queda d’água. Não era uma caverna, longe disso. Era apenas um lugar coberto e relativamente seco. Deixei minha mochila no chão, tirei minhas coisas básicas, o saco de dormir, um lampião, algumas frutas e comidas que guardei justamente para essa ocasião.

E mergulhei. A água estava mais gelada do que eu me lembrava, mas ainda perfeita.

Emergi na água, o cabelo ensopado atrapalhando minha visão. O ajeitei para ver os arredores. Tudo estava no mesmo lugar da última vez que estive aqui, é como se eu estivesse num mundo paralelo onde só existia eu, Erika.

Passei o fim da tarde justamente assim, nadando, boiando tranquilamente. Ao chegar da noite, preparei uma simples fogueira ali e fiquei sentada, lendo alguns livros que eu tinha deixado acumular.

Parando pra pensar agora, eu parecia bem chata. Fui num lugar desses pra ficar lendo? Bem, não é todo dia que se consegue uma oportunidade dessas.

Os outros dias foram idênticos, tirando que no segundo eu assei marshmallows e no terceiro um esquilo invadiu meu terreno, mas eu… o espantei.

Não, não matei o pobre esquilo. Mas tentei. Esses bixos são extremamente ágeis, e não valia a pena o meu precioso tempo.
No quarto dia, eu me despedi da cachoeira. Precisava voltar as minhas atividades de kunoichi, fazer missões para poder finalmente me tornar uma Chunin.

E, eu ainda precisava falar com o Raikage. Ser obrigada a fazer missões Rank D para ser Chunin era horrível. Não queria nenhum registro de missões inúteis no meu histórico ninja.

Enfim, acenei para a linda cachoeira ao sair. Ano que vem eu voltaria, e espero que tudo estaria no mesmo exato lugar. Com meus pertences nas costas novamente, segui o caminho de volta para Kumo.

E, sorte dos outros, ninguém me perturbou no caminho. Foi estranhamente tranquilo, mas eu estava alegre. Não mataria ninguém de um jeito terrível se aparecessem, apenas rápido e eficientemente.

Chegando na vila, eu já me preparei para voltar às minhas responsabilidades como Kunoichi.

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