Allannia Grey estava exausta após a Expedição em Eichenwalde, mas satisfeita. Projetava um sorriso confiante nos lábios quando vislumbrou os guardas nos portões do vilarejo a qual pertencia. Trajava o mesmo vestido elegante utilizado em seu último dia na cidade iluminada, algo completamente atípico para o que a Tsuchikage costumava utilizar, embora alguns de seus outros vestidos fossem tão ajustado ao corpo quanto o atual. O vestido de seda era azul-turquesa sem alças, destacando um decote frontal em formato de V que embora não fosse tão profundo, seguindo até o epigástrio como outros exemplares.

Como de praxe, não adotou nenhuma vestimenta por baixo dos Trajes finos. As costas permaneciam nuas até a lombar, onde os cabelos prateados seguem presos num coque sofisticado. O tecido podia ser vislumbrado até a linha dos joelhos, possuindo os moldes de cauda longa, embora fendido em sua perna direita de maneira provocante. O bracelete, composto pelo mesmo tecido requintado, recordava em sua aparência penas recortadas, sendo este ausente em seu braço esquerdo.

O visual era complementado pelos seus acessórios nobres e valiosos. A coroa cravejada de safiras cintilava ao ser iluminada pelo sol daquela tarde de inverno, e a tiara dourada que sempre é posta sobre a primeira para garantir o conforto e a segurança do visual caso precise se mover. O coque auxiliava em manter o balanço da situação, servindo como uma boa opção para evitar empecilhos. O pingente azulado, alocado em seu pescoço, favorecia e exaltava as safiras da coroa, sendo uma combinação sempre agradável aos seus gostos particulares. O anel de Hikariton era posto em seu indicador da mão direita.

A neve havia salpicado o entorno quando chegou, e embora o clima invernal de Iwagakure não seja severo, continuava sendo úmido e frio. Notou que a temperatura não estava baixa, podendo deduzir estar por volta de seus 19 ou 21 graus, mas ainda sentia os arrepios quando o vento frio passava por seu corpo.

Era a estação de seu aniversário, e sempre que ela chegava, não estava nada satisfeita com isso. Detestava se sentir mais velha e próxima da morte.

— Allannia, do Clã Grey, Sandaime Tsuchikage. — anunciou a identidade aos homens, mantendo a postura ereta e o tom de voz firme. Os olhos azulados cintilavam numa confiança incomum. Allannia estava mudada, e embora constantemente estivesse batalhando contra sua timidez, não estava fraca o bastante para ceder. — Retornando de Eichenwalde, a Terra do Sol Nascente.

— Soubemos dos seus feitos, Allannia-sama. Você apareceu no jornal, todos estão orgulhosos. Uma kunoichi exemplar. — o chefe da guarda respondeu-lhe, abrindo os portões e liberando a passagem.

— Sim. Fico feliz que eu esteja inspirando o povo, Ryouma-san. — as palavras eram tão irônicas e envenenadas que achou ser capaz de sentir o sabor amargo da mentira em seus lábios. — Pode me responder uma pergunta? Estive reflexiva após a longa viagem, e não tive ninguém para dialogar desde então. — mordeu o lábio inferior suavemente, disfarçando a timidez ao impôr uma ligeira dor na região, um comum ritual para disfarçar sua timidez. Encurtando a distância, ela permaneceu praticamente colada ao homem, provocando uma reação involuntária de retração neste. — Qual o significado de ser um shinobi? Você consegue me responder? O que seria um ninja exemplar? — inclinou a cabeça suavemente, esboçando um sorriso de sua boca rosada.

— N-não sei, Allannia-sama. Por quê? — o veterano questionou, evitando deixar os olhares caírem de maneira indevida. Allannia era uma mulher de média estatura, e ele, um homem considerado alto. — Não foi minha intenção ofendê-la se foi esse o problema. Aconteceu algo? — ele engoliu em seco, observando a feição peculiar no semblante da elfa.

— Não me ocorre nada, Ryouma-san. Para falar a verdade, eu me sinto melhor do que nunca. — ela olhou de soslaio para o restante da guarnição que observava a circunstância de longe, alguns cochichando coisas que sequer possuía ideia do que fosse enquanto observavam sua silhueta. — E vocês? Conseguem responder? — ergueu a voz para os demais, mas todos se atrapalharam no ato de sanar sua dúvida. — Compreendo. Eu também não sei a resposta. Mas um dia, encontraremos. Quando esse dia chegar, talvez o mundo seja um lugar melhor. — piscou para eles, seguindo com seu rumo em passos lentos e compassados. Sentiu um calafrio percorrer sua espinha quanto mais uma corrente de vento passou pela região — Está frio hoje. Caso comece uma nevasca, lembrem de se agasalhar. E tenham um bom trabalho.

— A senhora também, Allannia-sama. — Ryouma acenou com um sorriso em seus lábios.

— Não sou nenhuma senhora. — retrucou em tom ríspido, e enfim, saiu.

Sentiu os olhares atrás de si, sejam por suas atitudes ou qualquer coisa que fossem. Os cochichos seriam inevitáveis. Mas ela não se importava. Allannia não era melhor do que ninguém no vilarejo, e tampouco queria ser. Esse era o maior de seus problemas.