Seguir o caminho dos samurais em Sunagakure era um desafio e tanto para Kohei. Podia pedir ajuda apenas a Jisai, que estava ficando cada vez mais velho e pouco a pouco incapaz de acompanhar o espadachim em seus treinos; ninjas seriam incapazes de compreender seu treinamento, o caminho da espada ia além de meramente empunhá-la e praticar novos movimentos. Existia uma filosofia de honra, dever e, no caso de Kohei, uma tentativa desesperada de manter as tradições de sua família, coisa que um shinobi, muito preocupado com seu estilo de luta baseado na insegurança, seria incapaz de compreender ou ajudá-lo.

Num dia ensolarado, como todos os outros na Areia, decidiu aproveitar o espaço da forja de Jisai para praticar. O velho estava ficando doente com muita frequência ultimamente, o que era preocupante, pois além de tudo isso poderia significar que Kohei, muito em breve, teria de se entregar com mais afinco aos deveres na vila. Claro, sem considerar sua morte iminente. Tanto Kohei quanto Jisai reconheciam isso, o velho estava sem forças e incapaz de produzir suas forjas com a mesma qualidade, os clientes o pagavam por dó, reconhecendo a situação de um homem moribundo.

Para o Tsujikaze, essa era uma morte que ele seria incapaz de impedir, o que de certa forma oferecia um pouco de conforto. Não seria sua culpa, não seria um novo fardo para ser adicionado em seus ombros.

Afastou todo o material de forja, apagou o fogo e deixou as janelas abertas para a luz natural entrar. Sem tanta coisa ocupando espaço, o interior da forja de Jisai era um espaço considerável, muito maior que muitos dos domos de treinamento no País do Ferro. Depois que pode divisar todo o espaço, Kohei voltou alguns objetos para o lugar, que serviriam como obstáculos. Correu rente às paredes por alguns minutos para aquecer, ainda sem a necessidade de desviar dos obstáculos, apenas tentando estabelecer o ritmo do seu treinamento. Ao longe, escutou Jisai gemer de dor e foi levar um copo de água.

Retomando o treinamento, repetiu o treino inicial, mas agora correu por entre os obstáculos, desacelerando, desviando e então acelerando até atingir novamente sua velocidade máxima. O piso feito de areia endurecida o ajudava, seria desnecessário se preocupar com quedas ou escorregões. Jisai pareceu cair no sono, roncando sonoramente. Kohei aproveitou para aumentar o ritmo até o limite — tinha, inconscientemente, mantido um ritmo brando, para que o som de suas passadas não fossem altos demais ao ponto de não poder escutar o velho o chamando, caso fosse preciso. Quase esbarrou nos obstáculos por mais uma vez, sendo salvo apenas pelo reflexo de seu corpo bem treinado, mesmo assim continuou aumentando o ritmo ao máximo que pôde. A luz natural que vinha de fora aos poucos se esvaiu, até que o interior da loja se afundou no breu novamente.

Nas ruas havia pouco movimento. Mesmo no interior de Sunagakure, muitos ficavam céticos quanto a segurança do lugar, era mais superstição do que medo motivado por problemas recentes. Agora, Kohei tinha um circuito um pouco maior para correr. Antes de sair, pegou uma mochila e a colocou sobre as costas, enchendo com vários objetos que achou pela casa, para adicionar peso. Testou correr alguns metros com a mochila nas costas, sentindo o repuxo violento a cada parada — o problema não era imprimir o ritmo dessa vez, mas a falta de força. Arriscou uma corrida mais longe pela via principal da vila, em linha reta, sem muitos obstáculos, a mochila o lembrando de seu peso a cada passada com baques sonoros do que estava lá dentro tuh tuh tuh tuh.

Parou depois de alguns quilômetros de corrida, as pernas doendo, o peito arfando volumosamente enquanto tentava repor o fôlego. Decidiu encerrar o dia.

Na manhã seguinte o movimento tinha voltado à Sunagakure, porém pessoas não poderiam ser consideradas bons obstáculos, havia acima de tudo a possibilidade de causar uma confusão e trazer atenção para si, o que menos desejava naquele momento. Como Jisai seguia doente, aproveitou o dia para treinar no interior da forja, mas dessa vez praticamente devolvendo toda a mobília e ferramenta ao seus devidos lugares, diminuindo ao máximo seu espaço de treino, para que pudesse focar na velocidade em pequenas explosões, ao invés das longas corridas praticadas antes. Sentiu todos os músculos abaixo do joelho reclamarem do esforço, mas seguiu praticamente, dessa vez carregando a mochila com peso mesmo nos pequenos espaços, acostumado ao peso, sem renegá-lo, mas tentando compensá-lo a cada reflexo, cada vez que precisava se esquivar de um obstáculo no caminho sem perder o equilíbrio.

O dia novamente ficou para trás em meio a suas práticas. Kohei estava acostumado ao ritmo intenso de práticas como aquela, embora ultimamente apenas se dedicasse a treinar com a espada nos fundos da loja ou a reler obras literárias deixadas como herança de família. Sabia que estava longe de ser um combatente inteligente, como haviam sido o pai e o tio, que podiam desarmar, prever golpes e agir inteiramente no contra-ataque; Kohei precisava de velocidade e explosão, precisava sobrepujar seu adversário com suas capacidades físicas e não tinha vergonha de admitir isso. Pelo contrário, sabia que seu mérito sempre seria maior ao de qualquer ninja que podia recorrer a suas artes covardes durante um embate.

Com a rua novamente vazia, voltou a treinar por ela, ainda usando a linha reta sem obstáculos da via principal, mas aumentando o peso na mochila, lutando também para manter uma boa postura enquanto corria, acelerando gradativamente conforme avançada pelo percurso, o suor pingando da testa, as bochechas vermelhas e o cabelo grudando no rosto. O peito subindo, descendo, a mochila contra as costas, a imagem da última casa, a que mirava como término do percurso, assomando sobre ele, crescendo até que terminou.

Suspirou longamente, arfou, arfou, semicurvado sobre os joelhos, apoiado neles com as palmas das mãos, agora era fazer o caminho de volta e encerrar o dia.

Vida: 200 -- Chakra: 200 -- Estamina: 0/2 turnos.

Informações: