A loura não era uma ninja exemplar, por mais que se esforçasse. Insatisfeita com sua vida particular, tal como maior parte de suas vivências, era uma adolescente frustrada. Decidiu que não voltaria para sua casa naquela noite, e mudaria sua vida de uma vez por todas.

Passou maior parte de seu período sabático experimentando as melhores praias e resorts do País, abusando do dinheiro enviado por seus pais. A família era pouco interessante, sendo útil somente quando precisava de alguma quantia. Mais um reflexo de sua vida frustrante e deprimente. Após diversos atos monótonos e tentativas frustradas de alcançar seus objetivos, percebeu que não iria para lugar nenhum se continuasse cometendo os mesmos erros.

O verão derretia os seus miolos, e o medo da morte a atormentava mais do que qualquer coisa. Um dia precisaria solver todos os seus problemas, até lá, refletiria. Solitária, como sempre havia sido desde então, não sabia como conjecturar seus planos. Mesmo após salvar o filho do Raikage, nenhum reconhecimento palpável havia sido obtido no ato, sendo considerado uma singela atribuição típica de uma soldada. Não criticava as opiniões populares, pois constatou por conta própria o seu status quo. Mas isso a incomodava. Não gostava de ser vista apenas como uma ferramenta, e desejava somente o melhor para si. Mesmo uma adolescente vazia e sem propósitos desejava para si algo melhor do que o que possuía no presente estado.

Gargalhou continuamente, contemplando a maresia. Percebeu que o mar era mais bonito do que imaginava, e por um instante, uma fagulha de contemplação interrompeu seu surto psicológico. Decidiu mergulhar, esperançosa que seus pecados fossem levados pela correnteza.

(...)

O dinheiro e sua estadia estavam próximas do fim, tal como sua paciência. Os lábios rosados bebericavam a última taça de vinho, saciando o vício que continuamente a perseguia. Talvez devesse se livrar dele, mas não era sua prioridade. Enquanto ainda proporcionasse prazer, iria recorrer às bebidas alcoólicas numa incessante busca por aspirações. Mesmo brandir sua espada havia perdido o sentido, sendo apenas mais uma criatura desprezível em meio ao vazio profundo de seu interior. Nem mesmo os seus hobbies e atributos significavam alguma coisa, após tanto tempo banalizando a própria vida, o momento derradeiro chegou em sua rotina. As frustrações metafísicas.

Era apenas uma etapa, o último vínculo entre ambos os estágios da vida em que transitava. No verão seguinte, seria uma mulher adulta, e isso causava terror. Não seria mais considerada uma delinquente caso fosse presa novamente, mas sim uma criminosa vil e perversa, colocada ao lado de mulheres tão ruins quanto. O terror vivido no estabelecimento a fez perceber sua inferioridade diante do mundo.

— E por ser tão inferior, preciso buscar aqueles que detém o poder. Se estiverem em minhas mãos, então eu mesma terei alguma função nesta merda — murmurou para si mesma, antes de abandonar a casa de praia.

E se fosse para ser uma ferramenta, quando retornasse, faria do jeito correto. Não mais seria apenas uma soldada, ou uma serva. Buscaria algo maior, que fosse grande o suficiente para a sua busca. Até então, foi uma coadjuvante. E enquanto os pulmões ainda tivessem fôlego, e o coração energia para bater, buscaria ser uma protagonista.