Qualquer jovem em sã consciência iria se arrepender de seus crimes, mas Moon Homura, não. Mesmo depois de ter arrancado os braços do rapaz, e cegado ambos olhos, ela não nutria nenhuma dose de remorso. Ela se recusava a dizer as motivações para o crime, tampouco dava indícios de ter sido por mero capricho: ela não era assim. Apesar de não ser uma adolescente convencional, estava ciente da própria índole. Não era de todo inteiramente má, demonstrando isso ao proteger o filho do ex-Raikage, mas sua bondade era mascarada entre interesses objetivos e um senso de humor doentio.

Sua tenra idade não permitiu que fosse levada até uma penitenciária, passando seus dias num reformatório. De todo, não achou a situação ruim. Rodeada de outras garotas delinquente, pôde obter conhecimento de uma infinidade de atrocidades ainda desconhecidas por sua persona, embora todas apontassem para o mesmo caminho irônico. Moon estava longe de ser a pior delas. Diariamente possuía acesso a bebida alcoólica, presente de uma das agentes, que estimava bastante a mesma. Guardou a informação, em sua mente, pois poderia ser útil.

Mas eram todas civis, e por ser uma kunoichi, e com um conhecimento avançado em Taijutsu, dominou sua cela. Os pais desesperados tentavam compreender a filha que apenas dava problemas, enquanto o mais velho da família continuava desaparecido. Era um desastre generalizado, mas as dores de seus genitores era tão insignificante quanto esmagar os insetos asquerosos da área imunda ao seu redor.

Suas colegas de quarto defecavam no chão, e por vezes, espalhavam as fezes no corpo das demais, proporcionando um divertimento peculiar aos seus olhos, embora nojento. Quando a mais corajosa tentou o mesmo na direção da loura, teve a sua cabeça esmagada contra a parede, espalhando miolos por toda a parte. Mais um crime para a sua conta que não parava de aumentar. Após o ocorrido, passou duas semanas na solitária, comendo os restos da refeição de má qualidade oferecida. Perdeu pelo menos dez quilos no período de tempo em que esteve no local, alimentando-se pouco desde que chegou ao recinto, e a situação servindo como agravante.

Após ser liberta de seu penitência, percebeu que precisaria agir. Passou a se comportar melhor, ciente de que não mais precisaria intimidar as outras presas. O silêncio perdurava em sua cela, e nenhuma baderna era admitida em sua presença, censurando as colegas com olhares que pareciam ter voz própria. As ameaças veladas contribuíram para uma nova etapa em seu encarceramento, atraindo as atenções das carcereiras que perceberam a evolução da loura.

A primeira etapa de seu plano havia sido concluída, restava o seu próximo passo. Percebia os olhares de uma das agentes, especificamente para a sua direção, decidindo tirar proveito da circunstância. Quando tinha oportunidade de ter uma conversa privativa com a mulher, que possuía idade para ser sua mãe, trocavam palavras maliciosas e intentava despertar nela algum desejo. Tendo como impedimento o encarceramento para a concretização de seus objetivos, a mulher cedeu, auxiliando em seu plano de “redenção”.

Sua amizade com a diretora do estabelecimento, tal como a evolução nítida da presa, permitiu que após a passagem de algumas estações, Moon fosse cotada para ser liberta. Ciente da notícia, abriu um sorriso largo, extasiada com a possibilidade de se ver livre do tormento. A data marcada coincidiu com o verão, estação de seu aniversário. Detestava imaginar que estava se tornando cada vez mais velha, temendo um dia falecer. A morte sempre aterrorizava a sua mente, motivando todos os seus avanços no que condiz sua melhoria. Caso continuasse no local, temia apodrecer distante da sua liberdade.

O som da cela sendo aberta era como uma canção para os seus ouvidos, caminhando em passos largos rumo ao portão, acompanhada de sua cúmplice. Quando estiveram realmente a sós, no lado de fora. A mão afoita dela tocou-lhe as costas, e pôde ver um sorriso ser projetado nos lábios dela.

— E a sua parte do acordo? O que acha de cumprir agora? — a mão ameaçava descer, mas rapidamente a loura se afastou — O que está acontecendo com você?

— Você não me é útil. Não mais — o tom de voz era explicativo, e as palavras dolorosas como facas — Acha mesmo que eu iria perder meu tempo com você? Não me faça rir, ralé. Só me ajudou por eu ser gostosa, acha que não sei? Ratazana nojenta.

— Mas não era isso que você queria? Eu te dei a liberdade, e agora você poderia me dar... — ela teve as palavras interrompidas pela gargalhada da garota.

— Poupe-me dos detalhes sórdidos, eu sei o que você quer de mim. E a resposta é não.

— Nem um beijinho?

— Absolutamente, não.

— Sua cadela desgraçada, eu não devia ter confiado em você. Larguei meu emprego, minha noiva e meus sonhos por você — ela, aos prantos, começava a chorar. De certo, para assumir um relacionamento com a kunoichi precisaria abrir mão de tudo, dados os precedentes e a repercussão que o relacionamento teria — Sua megera da pior espécie!

— E quem disse que isso é problema meu? — ela inclinou a cabeça, evadindo da investida furiosa que veio em seguida — Deveria ter vergonha em tentar se aproveitar de uma pobre e doce dama inocente.

— De inocente você não tem nada! As coisas que dizia...

— A maior parte, mentiras.

— O que você quer, afinal? Ganha alguma coisa sendo uma piranha desgraçada?

— Umas risadas e algumas vezes, uns trocados.

— Poderíamos construir uma família. Ser felizes juntas.

— Eu já sou muito feliz sozinha. Tenho pavor de família, romance e essas bobagens. Coisa de fracassadas, como você.

Ela caiu de joelhos, e considerou que era a sua oportunidade de recuar. Sentia pena, mas não o suficiente para fazê-la reconsiderar. Possuía pavor de romance, e preferia a casualidade. O que a mulher queria não poderia ser proporcionado em sua plenitude, e mesmo que se divertissem algumas vezes na companhia uma da outra, não seria o tipo de contato que gostaria de levar para a vida.

Ela não gostava de ser substituível. E se a veterana teve coragem de fazer com a parceira anterior, era bem provável que assim o fizesse com a sua própria persona. Gostava de ver suas vítimas rastejando aos seus pés, suplicando por alguma atenção. O romance era apenas um jogo.