A lua brilhava radiante no céu sobre Iwagakure. Silenciosa e solitária, Shinobu, que estava sentada nos galhos de uma grande árvore qualquer, a encarava com encanto no olhar. Olhos, esses, que lacrimejavam levemente devido ao clima seco da estação. Uma brisa gélida batia em seu corpo, movimentando suavemente o sobretudo amarelo e os cabelos avermelhados. Mesmo quando os fios repousavam em uma posição desconfortável em sua face, a jovem não esboçava nenhuma reação. Muito pelo contrário, sua mente estava distante dali. Talvez, nem mesmo ela fosse capaz de explicar em que estava pensando naquele momento. Assim permaneceu por longos minutos.

Tão silenciosamente quanto o ambiente, um shinobi trajado com vestes negras e uma máscara branca com o símbolo que caracterizava o vilarejo na testa, se aproximou, parando ao lado de Kochou. A iwa-nin não se importou com a chega e sequer o cumprimentou.

— Shinobu Kochou, venha comigo. — Assim que teceu suas palavras, ele pulou da árvore e caiu habilmente no chão, esperando pela movimentação da ruiva.

“Algo aconteceu”, suspeitou. Embora não tenha dito nada, a kunoichi desceu da árvore e o seguiu. Os passos do estranho eram lentos, permitindo que a jovem analisasse com frieza o percurso percorrido. “Esse caminho..., se não estou enganada, leva direto ao hospital”, sua expressão vazia mudou: estava preocupada. “Não é possível que conseguiram chegar até meu pai”. As hipóteses eram muitas, porém ela não se deu ao trabalho de questionar o sujeito. Assim continuou até chegar ao hospital.

A dupla adentrou ao prédio através de uma entrada pouco convencional, ao lado esquerdo da entrada principal, e seguiu diretamente a uma ala mais isolada. O ar dentro do local estava pesado e a segurança estava reforçada por dezenas de shinobis vestidos tal qual seu guia. A caminhada seguiu até se depararem com uma porta guardada por dois ninjas armados com katanas. Eles acenaram positivamente com a cabeça para o guia e liberaram a entrada.

A sala estava praticamente vazia. As quatro paredes brancas não contratavam com nenhum outro móvel nem janelas. Havia apenas uma luz no teto e uma mesa de metal sob algo coberto por um lençol branco. O sujeito se aproximou dessa mesa e colocou uma das mãos sobre o pano.  — Sinto muito. — Após lamentar, ele puxou o pano. Sobre a mesa, repousava o corpo de uma mulher de pele clara e cabelos ruivos: aparência idêntica a da jovem.

Ao ver a cena, Shinobu arregalou os olhos e levou as mãos a boca. Trêmula, as lágrimas começaram a escorrer de seus orbes e ela correu para cima da maca, abraçando o corpo gélido que outrora fora sua mãe. O sujeito, em silêncio, deixou-a sozinha e logo depois um homem de cabelos negros, um pouco acima do peso, e vestido com roupas sociais adentrou. Sua reação foi a mesma da garota: desmoronou em lágrimas e abraçou o corpo. Assim eles permaneceram por longas horas. Não, por dias. Sem comer, sem beber e sem falar.  

É impossível descrever o que se passou na cabeça da ruiva durante esses dias; porém, passou. Não havia mais o que chorar, seus olhos estavam secos – e inchados. Então ela se levantou, seguiu até a porta e a abriu lentamente. Um único mascarado fazia a guarda do local e ele a olhou sair. Subitamente, Kochou levou as mãos a bolsa de armas e, ao mesmo tempo que avançou contra o estranho, sacou uma kunai. Colocando-o contra a parede e com a arma em seu pescoço ela despejou sua raiva.

— Onde a encontraram? — Vociferou. — Vamos, me leve até onde vocês a encontraram. — A jovem não mostrava nenhuma hesitação em sua ação e a lâmina estava pronta para cortar o pescoço do mascarado a qualquer momento.

— Shinobu Kochou, calma. Você não quer fazer isso.

— Calma? Como você pode me pedir para ficar calma? Contarei até três. Se nesse intervalo você não me contar, eu atravessarei o seu pescoço. Um..., dois..., t...

— Tudo bem, eu te levo lá. — Interrompeu-a. — Não somos inimigos, então guarde essa kunai. — Satisfeita, a jovem colocou a kunai de volta na bolsa de armas. Entretanto, nesse mesmo instante, o mascarado tocou seu ombro com uma das mãos e ela caiu em sono profundo.


Os dias se passaram e aquele acontecimento trouxe significativas mudanças no comportamento de Shinobu. Ela havia descido ao fundo do poço com a morte da mãe, carregando todo o fardo sozinha. Entretanto, sabia da necessidade de se reerguer e usou o fato como combustível. Nutriu-se com uma afronta ao atual Sistema Ninja, o qual julgou como um dos principais fatores que levaram a perda de sua amada mãe. A dor transformou-se em um desejo: reforma, e a culpa moldou suas atitudes desde então.

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