Cantos de pássaros eram ouvidos entrando pela janela. O leve brilho do sol, indicando que era manhã cedo, refletia na parede do quarto de Mike que, nesse momento, tinha um pouco de receio em levantar. Seu corpo mexia de um lado para o outro, parecia que algo lhe incomodava no interior, bem que ele queria ficar lá por mais algumas horas, mas ele sabia que se não levantasse ele se atrasaria para a aula. Após algum esforço contra sua procrastinação ele finalmente se coloca de pé. Passos lentos até o banheiro, respiração sem ânimo, lá ele se encarava no espelho. Ele podia ver suas olheiras e sua feição bem desmotivada, um garoto de 12 anos sentir-se assim era um sinal ruim. Era o início de algo que podia lhe destruir daqui há alguns anos. Ele teria que deixar essa dor ali no banheiro, e foi isso que ele fez. Após escovar os dentes e lavar bem o rosto ele sentiu-se mais alerta e pôde finalmente descer para o café da manhã.

Enquanto descia a escada até a sala, ele podia sentir o cheiro de ovo e bacon, seu café da manhã preferido. Já na base da escada ele vai a mesa feita com algumas frutas e seu prato pronto. Correndo o olhar pela sala ele vai seu tio já arrumado com o uniforme de um Tokubetsu Jounin. Ele era um homem alto, tinha um pouco mais de 1,90m. Pele negra mais escura que a de Mike, cabelo baixo com um degradê bem feito. Seu nariz era largo e grosso e seu rosto tinha feições quadradas.

Mike: - Bom dia, Tio Jack... – Sua voz ainda era meio sonolenta.

Tio Jack: - Ah, aí está você, garoto. Percebi que hoje conseguiu levantar mais cedo! Haha... Vamos, coma, não é bom você se atrasar de novo.
Tio Jack demonstrava um ar energético e animado. Parecia que ele estava sempre sob efeito de cafeína, ele dizia que essa era a energia dos Lee, porém Mike não sentia isso, ele se achava a ovelha negra da família.

Pelas ruas ele caminhava de forma calma e sem pressa, não era bom correr após a refeição matinal, aqueles ovos com bacon estavam de fato uma delícia. Mike levava consigo sua mochila, nas costas, e uma garrafa de água em uma mão. Tio Jack costuma dizer que se hidratar é de extrema importância, porém Mike não via muita diferença nisso. De qualquer forma, parece que não adiantou muito ter acordado cedo... Mais uma vez atrasado. Mike estava parado diante da porta vendo a sala cheia e o sensei escrevendo algo no quadro. Toshiro-Sensei olhou em direção a Mike e soltou um suspiro fundo, provavelmente de decepção.

Toshiro-sensei: - Vamos, Mike. Entre.

Pelo visto ele não queria prolongar muito, ja estava acostumado com esses atrasos. O garoto caminhou até o fim da sala, envolto de olhares e risos baixinhos. Em meio à murmurações ele pôde ouvir: Olha lá, o quebrado, hihihihi!

Mike: - Tem coragem de falar na minha cara, seu Zé Ruela?

O silêncio tomou conta da sala naquele instante, todos, incluindo o professor, olharam para o pequeno Lee. Os alunos com uma mistura de espanto, deboche e zombaria. O professor com um olhar de sério e atento. Diante desse momento tenso, Mike simplesmente caminhou até sua carteira, se debruçando na mesa olhando pra janela.

Toshiro-sensei: - Mike... Vem aqui na frente.

O garoto suspirou fundo, após alguns segundos resistindo ele decidiu ir. Enquanto caminhava, Toshiro falava.

Toshiro-sensei: - Estamos aprendendo a técnica de transformação. É uma das técnicas mais básicas da academia, acredito que, sendo eu terceiro ano repetindo, você deve saber como funciona...

Mike: - Sim, sim... Eu sei, Toshiro-sensei – Ele falava com um tom debochado.

Toshiro: - Então nos mostre...

Mike sabia os selos de mão, 3 anos consecutivos fazendo isso lhe obrigou a memoriza-los. A execução foi saudável, porém no momento da performance não aconteceu absolutamente nada. O que levou a turma aos risos, e o professor a um olhar de decepção e desanimo. Enquanto todos riam e lhe zombavam, o pequeno Lee sendo frustrado por seu meio foi tomado pelo instinto de sobrevivência e nos 2 segundos seguintes ele se viu voando correndo pelo corredor da escola, com lágrimas em seus olhos. Sem olhar para trás ele pulou a janela e se manobrou pelo telhado, sem perceber ele pulou contra uma parede, se manobrou até o chão finalizando com um rolamento, correndo pelo pátio até a saída da área de treinamento da academia.

Após algum tempo fugindo, Mike decidiu parar próximo a um lago, onde ele se sentou debaixo de uma árvore abraçando seus joelhos chorando. Em meio aos soluços, uma voz surgiu vindo de sua retaguarda.
Tio Jack: - O que houve, garoto?

Ele já estava ao seu lado, em pé, encostando o ombro na árvore. Olhando pra cima Mike viu seu tio, porém sua presença não lhe confortou, na verdade Mike só queria ficar só, então ele voltou a olhar pro lago.

Tio Jack: - Nós, Lees, somos guerreiros, garoto. Mas isso não significa que não choramos. Só não chore duas vezes pelo mesmo motivo. Você é um garoto forte – Subitamente ele foi interrompido.

Mike: - Forte? FORTE?! OLHA PRA VOCE! É FACIL VOCÊ DIZER ISSO! VOCE É UM JOUNIN, ORGULHO PRA FAMILIA. EU TENHO 12 ANOS, ESTOU NO TERCEIRO ANO TENTANDO ME GRADUAR E SEQUER CONSIGO EXECUTAR UM JUTSU BASICO, TIO! ONDE ESTÁ MINHA FORÇA NISSO?!

Mike se levantou, bufando pelas narinas. Ele começou a andar de um lado para o outro. Ele estava eufórico, sua respiração ficava pesada, era apenas uma criança transpirando indignação. Seu tio apenas lhe observava, silencioso. Vendo que sua frustração não sumia, Mike gritava sem conseguir entender seus próprios sentimentos.

Mike: - AAAAGRH! EU SOU UM FRACASSO!

Tio Jack sabia o que era aquilo. Na verdade todos da família Lee passam por momentos como esses. Momentos de frustração, momentos em que eles descobrem que não são como os outros, que eles são diferentes. O próprio Tio Jack passou por isso, e naquela época tudo que ele queria era entender seus pensamentos e sentimentos, e pra isso ele precisava de tempo. Ele entendia isso, então decidiu deixar o garoto ter seu tempo.

Tio Jack: - Só lhe peço uma coisa, garoto. Não desista! Não dê a eles o gosto de estarem certos sobre você.

Diante dessas palavras Mike aplicou um soco contra a árvore. Foi forte suficiente pra abalar levemente a árvore. Naquele mesmo momento Tio Jack desapareceu com uma explosão de fumaça após usar a técnica Shunshin, deixando Mike a sós.


O fato de se sentir só naquele momento foi reconfortante, lhe deu espaço para pensar sobre tudo e todos. Se passaram algumas horas desde sua conversa com seu tio. Seus hormônios estavam mais controlados, até seus batimentos cardíacos mais calmos. Mike estava na beira do lago, mexendo na água com seu dedo enquanto via seu próprio reflexo. Lentamente ele se levanta e decide voltar pra casa. Enquanto saia do lugar ele passou pela árvore que ele havia socado anteriormente, vendo a marca de seu punho no tronco da mesma. Aquilo lhe deixou impressionado, porém não foi algo que ele marcou na mente, então simplesmente seguiu seu caminho.

O trajeto foi silencioso, ao chegar em casa o local estava vazio. Era esquisito pois já estava anoitecendo e seu tio ainda não havia retornado. Mike ficou meio duvidoso mas sabia que, por ele ser um Tokubetsu, ele talvez estivesse em uma missão, apesar de ainda ser preocupante pois ele sempre avisa antes de sair era notório a preocupação de seu tio com seu sobrinho, porém Mike ainda estava chateado então decidiu jantar sozinho e se trancar em seu quarto.

A noite foi rápida, curiosamente ele conseguiu dormir bastante, até mesmo pra levantar ele não teve tanta dificuldade como nos dias anteriores. Enquanto descia a escada, sentido a sala, algo lhe chamou a atenção. Onde estava o cheiro do ovo com bacon que seu tio sempre fazia pela manhã? Mike andou pela casa em busca de seu tio, ele foi até o quarto do mesmo porém pelo visto Mike dormiu sozinho em sua casa.
Aproximadamente 1 hora se passou, Mike estava sentado no sofá, quando ouviu alguém batendo à porta.

Desconhecido: - Olá... Você é o Mike Lee? Precisamos que você venha conosco, houve um acidente com seu tio e... Bem... Melhor você nos acompanhar.

O tempo pra chegar parecia uma eternidade. Enquanto isso sua mente não parava de pensar em tudo que aconteceu. Será que ele estava morto? Não... Não é bom pensar nisso, morto não. Mike não podia perder sua maior inspiração. Ao chegar no hospital ele correu pelos corredores em busca de seu tio. Alguns enfermeiros tentavam lhe parar, outros saiam do caminho, até que, no fundo do corredor, ele viu a porta aberta e um homem deitado com aparelhos respiratórios em sua via oral e nasal.

Mike: - Tio Jack?!

O garoto correria até seu tio, o abraçando no leito enquanto chorava. Felizmente ele estava vivo porém muitos hematomas cobriam seu rosto e corpo.

Mike: - O que houve?! Quem fez isso com ele?
Desconhecido: - O Jack Lee estava em uma missão ontem. O grupo dele foi emboscado por mercenários e ele decidiu ficar para dar tempo de seus companheiros escaparem, pois eles estavam em desvantagem. Jack lutou contra eles até os reforços chegarem. Ele acabou perdendo uma das pernas. Estará afastado de suas funções. Seu tio é um herói, garoto. Imagino que você tem sorte.

O homem sairia do local, deixando os dois a sós. Mike ficaria ali, abraçando seu tio. Logo ele sentiria o braço dele tocando suas costas respondendo o abraço, e com uma voz fraca e cansada ele dizia.
Tio Jack: - Garoto... Somos guerreiros, garoto... Um Lee... nunca desiste... Então... Não desista.

Mike: - Eu não vou, tio... Eu lhe prometo.

O garoto o apertava como se nunca mais fosse soltar. Aquilo foi, de fato, uma promessa!