O vento soprava forte em meus cabelos, naquela altura eu estava cansada e assustada como nunca antes havia ficado. Incrédula do que me aconteceu há alguns dias atrás, eu caminhava pesadamente pela areia fofa. Meus conhecimentos recém adquiridos traziam consequências em meu psicológico abalado, o custo do saber veio com um preço alto para mim. O céu trazia um sol quente e bastante ardido em minhas costas, por sorte, minhas vestes recobriam minha pele clara, o que impedia de queimar graças ao raios ultravioletas. Era sempre bom andar com uma mochila e melhor ainda é poder usá-la para carregar algumas mudas de roupas para o cotidiano e necessidade.

- Preciso descansar um pouco. – Cerrei os olhos em busca de alguma sombra.

Não encontrei dificuldades para enxergar, sobre as dunas, um amontoado de pedras pontudas e algumas árvores, com certeza era uma fonte de sombra e uma oportunidade para recobrar um pouco as energias. Consegui caminhar com dificuldade até lá, minhas forças estavam quase no fim e eu não conseguiria prosseguir na viagem se não tivesse aquela pausa. Quando cheguei, tive uma grata surpresa, além de sombra e vegetação verdejante, encontrei um pequeno lago e um pouco mais de vida animal do que eu esperava. Estava salva e, por fim poderia cuidar dos meus ferimentos.

Tratei de tirar primeiramente meus calcados, o salto ninja que usava, parecia pesar ainda mais por conta da areia fofa que eu pisava antes. Meus pés ao tocarem o chão pareciam aliar um pouco a tensão imposta sobre minhas costas e eu finalmente pude sentir o gramado acariciar a pele. Ao curvar para frente, peguei meus calcados nas mãos e, por conta da posição, pude olhar meus joelhos esfolados com o ferimento que tive ao cair das escadas naquele estranho templo onde estive. Embora não fosse um machucado perigoso, ainda sim precisava de cuidados, pois não queria que moscas ou qualquer animal pudesse me rastrear pelo sangue exposto sobre a pele lesionada. Tive então a ideia de ir até o lago, buscar sombra e me lavar, eu precisava disso.

- Tomara que não seja lotado de animais carnívoros nesta área, parece perfeito demais para uma vida pacata aqui. – Proferi sozinha. Eu estava triste, pois estava isolada da sociedade há bastante tempo e nunca havia ficado tanto tempo sem interagir.

Desconfiada eu cheguei à beira do lago após observar um pouco, havia uma área onde a sombra era o suficiente, graças a algumas palmeiras ter seus troncos submersos na água, o que para mim era melhor ainda, um pouco de sombra e água fresca. Como não vi nenhum perigo eminente, despi as roupas do meu corpo e as coloquei em cima da mochila, próxima da margem. Entrei na água, estava gelada e bem refrescante para o momento do dia, fiquei com a água até a linha dos ombros enquanto me mantinha apoiada em cima dos joelhos. Minhas mãos passavam por todo meu corpo, na intenção de lavar aquelas marcas de poeira e lavar possíveis ferimentos que se encontravam ali, principalmente nos joelhos.

Era uma sensação muito boa, poder relaxar um pouco sozinha, depois de todo o estresse que eu havia passado, mas ainda assim, não era capaz de esconder as memórias infelizes que eu tive ao olhar meu reflexo na água. O olhar e silhueta demoníaca traziam em minha a miragem de ver Allannia novamente se prostrar atrás de mim. Como um súbito grito desesperado saltei o mais longe que pude em direção às margens, somente o pânico com a imagem fruto do meu delírio, já me fizera cair em estado de choque. Somente a lembrança da mulher já era o suficiente para sentir meu corpo tremer. Fiquei sentada sobre meus trapos, ainda nua e abraça em minhas pernas, a cabeça enfiada entre os joelhos dobrados e o vento secando meu corpo demonstra através da minha postura o quanto eu estava infeliz.

- Se aquele homem realmente for capaz de controlar a forma demoníaca dela, talvez um dia eu possa. – Conversei sozinha novamente.

Meu rosto pálido corou levemente, a lembrança do seu toque em meus cabelos rosados me fizeram lembrar de suas palavras, seria eu uma verdadeira protetora da pedra como ele havia dito? Me questionei sobre isso. O fato que aquele me dera um pouco de reconforto em meio ao caos era, senão tudo, boa parte do que me motivava a chegar naquele oásis ainda com vida. Talvez eu não soubesse, mas aquele gesto havia acendido em mim uma fagulha de esperança.

Eu acabei me secando com o tempo e ajuda da brisa fresca, finalmente estava limpa e mais calma de todo o susto que minha mente havia me proporcionado. Me vesti completamente e cochilei até que o meu corpo se recuperasse um pouco ali mesmo às margens do lago. Quando acordei, tive uma surpresa, notei que ao redor do lago existiam vários animais de todos os tipos, todos se aproximando do outro lado da margem para bebericar um pouco de água fresca. Eu também fiz o mesmo, ao me curvar para as margens e apanhar uma porção de água assim que fiz um pequeno molde de recipiente de cristal com meu shoton. Ao me saciar, meu estômago roncou tão alto que se estivesse com mais alguém, ficaria extremamente constrangida pela situação. Eu não queria, mas tinha que fazer algo a respeito disso. Eu tive que caçar e ceifar a vida de pequenos camundongos do deserto, preparar seus corpos e assá-los, me sentia um monstro por agir assim, mas ao menos sobreviveria para retornar a vila da pedra.

[...]

Alguns dias se passaram, eu recuperei a força, um pouco da resistência física e mental que tanto estava debilitada, eu não tinha noção, mas para mim já havia passado muito tempo desde que tudo havia acontecido naquele templo maldito. Devidamente municiada de mantimentos que recolhi naquele lugar, água fresca e a alimentos cozidos, juntei minhas coisas e parti rumo ao restante do percurso para chegar a Iwagakure novamente. A caminhada foi longa e eu não tive facilidade mesmo me preparando tanto, tempestades de areia, frio assustadores durante a noite, calores desumanos durante o dia, mas finalmente eu consegui chegar em frente aos portões da vila. Quando adentrei, alguns guardas vieram em minha direção, primeiro desconfiados, mas logo me reconheceram por ter me visto ao lado da Tsuchikage, ao que parecia, eles esperavam de mim respostas sobre sua localização e eu, esperava que ela estivesse bem. Concordei em participar de uma espécie de interrogatório, onde eu seria ouvida e explicaria aos membros responsáveis pela segurança da vila, tudo que eu sabia. Eu havia chegado em casa, mas tudo parecia completamente diferente.