Zarpando

A Névoa Oculta estava tranquila aquela manhã. Devido ao céu estar sem nuvens, a temperatura subiu um pouco, o que levou as pessoas a usarem roupas mais confortáveis e saírem mais de suas próprias casas, mas não houve tumulto algum por isso, pelo contrário. A maioria da população decidiu aproveitar o tempo e andar pelas partes mais externas, o que esvaziou o centro comercial, estes que receberam algumas poucas famílias que decidiram visitar as lojas e restaurantes. Em meio à isso, Ryuji carregava seus equipamentos em direção ao campo de treinamento. O genin não cresceu em Kirigakure, fazia poucos anos que tinha se estabelecido na vila, então não criou laços muito fortes com os estudantes do seu tempo da Academia, sendo que a diferença das idades entre ele e os demais também tinha parte nisso. Tirando o homem com quem tinha parentesco, ele não tinha ninguém pra passar momentos como aquele dia e, principalmente nessas situações onde o homem estava fora, ficava sem nada pra fazer.

Porém nada disso era um problema real para o loiro. Apesar dele saber que era importante se relacionar com outras pessoas pra fazer qualquer coisa que seja, o fato de não ter alguém agora não implicaria que não aconteceria eventualmente ou, melhor ainda, atualmente não o atrapalhava para cumprir com seus objetivos como, por exemplo, o que estava indo fazendo agora. O genin estava indo testar algumas hipóteses que o seu guardião havia alertado e que poderia ser crucial para com avanço para o controle da areia.

Ryuji demorou mais que o normal para chegar no lugar, todo aquele momento introspectivo tomou um pouco de seu tempo, mas não tinha se passado tanto tempo assim. Como esperado, não tinha mais ninguém para dividir aquele espaço, então teria a vantagem de ter a liberdade de fazer o que quisesse. Por outro lado, talvez testar suas habilidades em um ser que poderia reagir fosse interessante — Deixa isso pra lá. — bufou para si mesmo, recobrando o próprio foco.

— Se me lembro bem, ele tinha dito que é possível retirar a areia de ferro do solo pra não utilizar a que eu carrego — ele disse, se relembrando do que o homem falara na última vez que o viu — Então vamos começar por aí — o loiro afrouxou a fita de couro que sustenta a cabaça, colocando-a no chão. Ele estendeu a mão, usando sua Kekkei Genkai para extrair material magnético do solo. Aos poucos, minúsculas partículas metálicas se desprenderam do chão e se amontoaram em uma esfera a poucos metros do loiro. "Em lugares pobres de minério é capaz de eu nem conseguir fazer isso" imaginou o que fazia sentido. Manipulou aquele material por um tempo e percebeu que, diferente da areia que estava em contato com seu chakra à mais tempo, aquela não respondia tão precisamente.

Da cabaça, um filete de areia metálica surgiu, seguindo a vontade de Ryuji. Observando como as duas reagiam as influências da força magnética do Jiton, percebeu que conseguia controlar com muito mais finesse a areia que carregava consigo. Essa diferença também se traduziu na velocidade com que conseguia controlar as diferentes areias de diferentes fontes. A obtida de última hora era mais lenta, enquanto a sua própria areia conseguia superar a anterior — Numa luta de verdade é melhor usar a minha própria, então — concluiu depois das observações, se preparando agora para passar a próxima etapa, porém antes que pudesse ouviu uma voz conhecida atrás de si.

— Treinando num dia desse? — o loiro se virou e confirmou o que já tinha certeza: era o seu parente. A surpresa, porém, o irritou. O homem bem sabia que o menino não gostava de ser pego desprevenido daquela maneira — Achei que ia demorar mais, tio — tentou esconder a emoção, sem sucesso — Eu também! Mas quis fazer uma supresinha, que você adora! — o loiro odiava, mas decidiu relevar. Tinha ouvido falar que a missão seria perigosa e estava aliviado que ele retornou. Os dois trocaram um breve abraço e discutiram a descoberta recente de Ryuji enquanto o mesmo recolhia as suas coisas.

Antes de sair, o homem sugeriu uma coisa — Porque não vamos fazer algo diferente, já que estamos na rua — o loiro soltou uma risada sarcástica — E pra onde o senhor quer ir? — provocou, dando ênfase no pronome de tratamento. Em resposta, recebeu um leve cascudo — Não me chama disso, já avisei — um alerta, que talvez os próximos não seriam leves — Vamos comer frutos do mar, óbvio! Tem tempo, né? Vamos, vamos andando antes que peguem todos os lugares. — então o loiro seguiu o homem estranhamente energético, sabendo que não tinha como tirar aquilo da sua cabeça mais.

O restaurante de fato estava cheio, mas o homem conseguiu uma mesa para os dois. Tinha sentimentos complexos com aquele lugar. Ao mesmo tempo que se sentia bem e nostálgico, pois foi o primeiro lugar que comeu assim que foi adotado pelo tio, nunca chegaria a conhecer caso não tivesse fugido de casa. De toda forma, toda vez que visitava aquele lugar de novo aquele sentimento ruim diminuía — Vai querer o de sempre? — a voz do homem quebrou a sua linha de pensamento. O prato a qual se referia era um cozido com diversos frutos do mar, como lagostas, mariscos, camarões e alguns legumes. O loiro concordou — E eu vou querer um chá gelado pra acompanhar — completou o pedido, este que foi anotado pela garçonete e levado à cozinha.

Durante o tempo que ficaram lá, conversaram sobre algumas coisas. O tio do menino disse o que podia sobre a sua missão, que era em sua maior parte confidencial, mas falou sobre como ele e o esquadrão conseguiu subjugar os inimigos. Ryuji disse sobre as missões que realizou e dos últimos treinos, também aproveitou para atualizá-lo sobre alguns suprimentos que estavam chegando ao fim na residência. Enquanto comiam, teceram alguns elogios de praxe sobre a comida e, por fim, depois de pagar a conta, foram até o porto para terminar o passeio.

Haviam se passado alguns minutos do almoço, o sol ainda deixava o clima agradável, mais aquecido que o normal. O homem sugeriu um passeio de barco para ter uma visão além das névoas que cobriam a vila e, receoso, Ryuji aceitou. Geralmente ele evitava esse tipo de atividade, mas decidiu tentar de novo, achando que seria diferente dessa vez. Não foi. Assim que a embarcação zarpou, o seu estômago revirou e ele teve que focar em não vomitar tudo o que tinha almoçado.

Encostado na borda, segurando na barreira de segurança, o loiro permaneceu se sentindo doente enquanto o chão debaixo de seus pés era instável. O homem, enquanto vendo a situação, se aproximou — Não é a primeira vez que você fica assim — preocupado, continuou — Isso pode te prejudicar, sabe. Nem sempre você vai ter um chão fixo pra pisar — ele alertou, mas eram palavras que Ryuji já conhecia. O homem segurou o rapaz e levou até uma parte mais central da embarcação, sem poder reagir muito bem, o loiro deixou ser carregado.

— Aqui é mais estável, mas só um pouco — o tio começou — primeiro evita de ficar olhando muito fixamente pras coisas, elas me movem muito e aumenta a sensação de náusea — o homem guiou a cabeça do mais novo, de forma que mirasse em direção ao horizonte — Por outro lado, se você olhar para um ponto fixo, como o horizonte, seu corpo consegue se equilibrar de novo e a sensação diminuiu — ele tentou explicar da melhor forma que pode, mas o efeito foi quase instantâneo. Mantendo a respiração constante e olhando para o ponto indicado, o enjoo aos poucos melhorou. Alguns minutos se passaram e Ryuji estava bem de novo e, depois de beber um pouco de água, conseguiu se levantar. — Obrigado — o loiro agradeceu a figura a qual chamava de família e, juntos, curtiram os últimos momentos daquele passeio.

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