A madrugada era sempre agradável para a jovem Genin, mas diferentemente das garotas de sua idade, ela preferia continuar praticando ao invés de permanecer em suas casas, repousando. As ruas durante o período noturno não eram adequadas para uma dama, principalmente quando ainda não eram maduras o suficiente, mas Moon Homura detestava convenções sociais. Ela fazia o que queria, quando queria e no horário que melhor fosse lhe apetecer. Mantinha a sua espada presas às costas, preparada para decapitar quaisquer indivíduos que se atravessem a tentar cometer algum delito. Não era nenhuma garotinha completamente indefesa, ela poderia até cair, mas cairia levando pelo menos um dos braços de seu algoz.

O campo de treinamento estava parcialmente vazio quando chegou, notando apenas a presença de shinobis responsáveis por sua manutenção, provavelmente preparando o terreno para o amanhecer, onde retomaria o pico das atividades ninjas do vilarejo. Moon percebeu estranheza em seus olhares, era incomum encontrar uma jovem Genin, do sexo feminino, empenhada em treinar. Ignorou os estereótipos sociais e focou em seus objetivos particulares. Alongou-se antes de começar, para prevenir imprevistos e lesões musculares durante o seu treinamento.

E então começou. Realizou o selo manual do Carneiro, ativando imediatamente o Shunshin no Jutsu, ampliando as suas capacidades de locomoção. Em seguida, correu, beirando a sua velocidade máxima, um ponto abaixo de seu limite (alcançando 14m/s sem forçar o atributo máximo) para evitar o desgaste desnecessário de sua resistência. O seu objetivo era se aproximar do seu ápice físico, melhorando a sua capacidade de durabilidade em geral ao forçar o corpo a superar as expectativas. Percorreu um total de cem metros auxiliada pela técnica, sentindo aos poucos quantidades massivas de chakra serem esvaziadas quando concluiu seu uso.

Seus passos cessaram apenas porque as suas reservas de chakra haviam alcançado níveis críticos. Respirou fundo, recuperando parte do fôlego, e continuou correndo, mas desta vez sem o auxílio de qualquer jutsu. O suor escorria gélido por sua pele alva, mas tampouco foi um impedimento para a loura, que continuou forçando o corpo até onde conseguia, mantendo sempre uma linha tênue entre o seu cansaço do esforço físico. A pista de corrida era vasta e permitia um longo e árduo avanço da Homura, que começava a ficar ofegante após cinco voltas. Prosseguiu, teimosa, recusando-se a descansar antes de atingir o seu limite. Mas em determinado momento, percebeu que se prosseguisse, iria atingir a exaustão. Ela repousou sentada no chão, regulando os batimentos cardíacos descompassados pelo seu ato simbólico de inspirar e expirar o oxigênio. Não foi por muito tempo. Ergueu o corpo, limpando o suor com as costas da mão, recomeçando da parte em que parou.

Desta vez, ao invés de resumir seu treinamento em uma prática de corrida, realizou diversas flexões, abdominais e polichinelos, efetuando tais exercícios inúmeras vezes, até que pudesse atingir o ápice. Sempre que sentia o processo de cansaço surgir, encerrava abruptamente suas atividades e fazia um intervalo, intercalando os exercícios à prática de corrida, maximizando seu método de treinamento. Num determinado momento, antes do amanhecer, conseguiu atingir os resultados almejados, suspirando aliviada com a sua conquista.

Mas ainda era pouco para o que buscava. Aproveitando do tempo que restava antes da alvorada, começou um treinamento diferente em comparação ao de outrora. Decidiu praticar o seu uso de ninjutsu, mesmo que tenha consumido enormes reservas de seu chakra. Ainda possuía o suficiente para manter a consciência e o fluxo comum de suas ações, embora sentisse uma sensação diferente emanando de seu ser, como se estivesse por um triz. Ignorou o excêntrico sentimento, transformando o que deveria ser uma preocupação no êxtase necessário para a conclusão do seu planejado.

Começou realizando os selos manuais do Carneiro, Cobra e Tigre, moldando assim sendo a conjectura do “Bunshin no Jutsu”, criando três versões ilusórias de si mesma. Após o supracitado, efetuou os selos do Javali, Cachorro e Carneiro, produzindo o “Henge no Jutsu”, formulando com tal jutsu traiçoeiro uma versão masculina de si mesma. As versões femininas e o seu eu farsante masculino ficaram lado a lado quando se aproximou dos conterrâneos que vigiavam o lado de fora do Campo de Treinamento. Manteve a concentração constante para evitar que a transformação fosse encerrada abruptamente, o seu objetivo principal era manter o fluxo de chakra fluindo constantemente e com isso aprimorar a sua capacidade de realizar Ninjutsus.

Os guardas olharam incrédulos, não compreendendo o que estavam vendo. Três versões de si mesma e uma forma masculina estavam saindo do local, e era notório que apenas ela estava na área quando chegou. Ambos estragaram os olhos e tentaram analisar a situação melhor, mas foram incapazes. Embora debilmente e com dificuldades, devido ao fato de não possuir uma boa capacidade de controlar seu chakra, conseguiu manter os jutsus ativos por tempo o suficiente para enganar os indivíduos e forçar um diálogo destes. Falar inicialmente era difícil, portanto não disse nenhuma palavra antes de sentir que, após seu progresso, havia atingido um patamar aceitável o suficiente para realizar uma afirmação:

— Eu sou o homem mais bonito desta cidade! — exclamou, orgulhosa e confiante.

— Deixe de brincadeira, mocinha, sabemos que isso é uma pegadinha de mau gosto — o mais velho disse, entediado.

— Será mesmo? — deu um sorriso sarcástico, que mesclava confiança com ousadia — Observe.

Moon retirou sua camisa, mas durante o procedimento, focou na utilização para ocultar os seios, exibindo um falso corpo escultural masculino, cujo qual pôde surpreender o homem diante de si com sua habilidade. Cada instante que se passava, manter os jutsus era mais difícil,  e os clones, após entrarem em contato consigo acidentalmente, foram desfeitos, pois encostaram em uma superfície sólida. Os olhares dos homens se estreitaram, percebendo que havia algo de errado. Era nítido que havia grandes chances serem clones, mas não constataram imediatamente o fato.

— Se isso é mais um truque, tenho que admitir, você é boa — o homem disse, num tom sincero.

Quase rompeu o fluxo do jutsu, revelando a sua farsa numa situação inoportuna. Apenas focalizou em acenar, afastando-se apressadamente do Campo de Treinamento. Vestiu a camisa novamente, e quase que instantaneamente, atingiu seu limite e o “Henge no Jutsu” foi desfeito. Suspirou, num misto de alívio e satisfação. Havia alcançado um progresso significativo no uso de Ninjutsu, apesar de considerar a si mesma mais eficiente nas artes físicas. Meramente partiu, enquanto observava a alvorada, após mais um dia de treinamento produtivo.