Agradáveis eram as flores que desabrocham na primavera. Depois de uma estação de frio intenso, onde as folhagens das árvores se retraem com timidez e deixam seus galhos escuros e secos, um respiro colorido é tudo que um ser humano precisa para se recompor depois do inverno. Não que o gelo desagradasse a agora Chunin, ela gostava de como os pinheiros ficam decorados com as camadas de neve que se acumulam sobre suas plataformas, e o cheiro de uma fogueira queimando também lhe trazia lembranças reconfortantes. Entretanto, apesar do gosto pelo inverno, era a primavera que reinava em seu coração. Nossa Artemis, afinal, havia nascido na estação mencionada, em meio a um festival famoso que ocorria na Névoa na época de sua vinda ao mundo - festival esse que foi extinto, sem ninguém saber o porquê. O começo da sua caminhada através dos desfiladeiros e montanhas que formavam a paisagem do País da Terra foi bastante agradável. As incontáveis formações rochosas se estendiam por quase todo o bioma local, era como se a própria terra houvesse se erguido naquela região e soprado sua magia para esculpir os rochedos magníficos que haviam ali.

Enquanto caminhava de volta para seu lugar de origem, alguns pensamentos dos acontecimentos do Chunin Shiken vagavam pela mente de Artemis. - Bom… Diante de todos os outros competidores que estavam lá, eu claramente demonstrei ser a mais rápida, então velocidade não é meu ponto fraco, pelo menos não ainda. Porém, também preciso levar em consideração que todos que estavam presentes ali eram Genin, iguais a mim, então com certeza as chances deles terem se especializado em uma das artes ninja não é tão alta assim, visto que eu mesma não tive tempo o suficiente para avançar minha maestria… Seus pensamentos estavam voltados em entender o nível de seu desempenho na prova e, principalmente, se ela estava no mesmo nível que seus adversários. - O problema é que não tivemos lutas individuais ou em grupo, o que inviabilizou quase que totalmente as oportunidades que eu teria de ver de perto as habilidades das outras pessoas… É uma pena, teria sido um treino excelente. A Chunin, ainda concentrada em seus pensamentos, continuava sua caminhada através dos horizontes da Terra.


Cansada. A palavra se repetia diversas e diversas vezes na cabeça da nossa Artemis. Antes encantada pelas formações rochosas e esculturas de pedra que pintavam a paisagem do País da Terra, a Hyuga não conseguia mais ver o momento em que pisaria os solos úmidos e gelados de Kirigakure, lugar de onde ela nunca antes havia imaginado que sentiria tanta falta. Não havia nada contra aquele tipo de bioma, muito pelo contrário, achava magnífico e excêntrico, mas excentricidade demais e de forma exagerada acabou cansando a visão da garota, que não via a hora de se ver debaixo das copas de árvores mais uma vez. Houve uma noite em específico em que as coisas tinham sido um pouco mais… Peculiares do que as outras. Temis havia achado um agrupamento de rochas que se casavam de uma forma harmônica, quase como se fosse uma caverna, fazendo com que aquele fosse o local ideal para tirar um bom cochilo. A noite estrelada era ainda mais linda pela ausência da luz da lua, que naquele dia encontrava-se minguante. - Passar tanto tempo perto de vilarejos e pessoas tinha me feito esquecer o quão quieta é a natureza quando deixada sozinha. Temis conseguia escutar cada barulho singular emitido pelos animais ao alcance dos seus ouvidos. Desde o misterioso ruído das corujas até o perigoso chacoalhar da cauda de cobras, havia um ecossistema inteiro presente naquela região. Ver como a quietude do mundo em sua forma mais pura mudou um pouco a mente de Artemis. Talvez o mundo estivesse caótico demais… Guerras, pestilência, fome e disputas de poder irrisórias deixavam como efeito colateral a única coisa que era dona do planeta, a natureza.


Árvores. O brilho no olhar da nossa Chunin era praticamente perceptível a longa distância quando o enxame de folhas verdes começou a aparecer no seu campo de visão. Não que o País da Terra não tivesse suas flores, elas existem, mas não se comparam àquelas que fazem parte da Água. Mas espera, a névoa ainda não estava presente… - Isto não é o País da Água. Artemis, sua tola! Como pude achar que já tinha chegado se sequer peguei um barco para atravessar o oceano? Mas então esse lugar cheio de árvores e florestas… Não sei exatamente onde eu estou, mas tenho quase certeza de que já não caminho mais nas terras do País da Terra. A verdade é que Temis não havia prestado tanta atenção assim nas aulas de geografia. Apesar de ter aprendido o básico sobre os países do mundo, ela iria conseguir identificar a região que transitava por um bom tempo, pelo menos não até perceber a infinidade de florestas que se juntavam para formar um conglomerado quase infindável de árvores.


- Será que eu me perdi? Não, ela não havia se perdido, havia recebido as instruções de como retornar para sua casa antes de sair da vila. - Meus deus, é isso, as instruções!!! Essa quantidade de árvores, essas florestas… Esse é o País do Fogo! Quase chegando nos limites do território entre o Fogo e a Água, a nossa Chunin havia finalmente descoberto por onde ela esteve andando por quase quinze dias.


O barquinho que Temis escolheu para navegar naquele dia era modesto. As melhores embarcações já tinham saído devido ao pico de travessias e a saudade de casa impediu com que esperasse por navegar em situações melhores. Se formos sinceros, o conforto de estar sendo levada ao invés de caminhar com as próprias pernas já era o bastante para confortar o coração da Hyuga, que não sabia o que era descanso havia, literalmente, meses. Com o ritmo desacelerado das remadas, o barco finalmente atracou em um dos portos da Névoa. - Senti sua falta, Kirigakure. Nunca achei que fosse dizer isso, mas senti. Artemis estava, finalmente, em casa.