"Haru, posso te fazer uma pergunta?"
"O que foi? Você já tá com outra ideia de se meter em encrenca?"

O chiado dos pássaros voando sobre mim atingiu meus ouvidos como lâminas, o sol que tocava o ponto mais alto do céu esquentava meu rosto e a brisa que me refrescava foi cortada pela passagem do velho me acordando aos gritos. Me levantei do chão da varanda lentamente, nunca tive o costume de beber álcool mas estava sentindo algo que relacionei a uma ressaca. O velho me olhava com olhos levemente cerrados como se julgasse meu comportamento, não que eu já não estivesse acostumado com isso.

—Vai passar o dia inteiro aí? Seu vagabundo. Indagou o velho ao qual não me dei ao trabalho de responder. Junto ao cretino estava minha irmã Haruna que trazia consigo pão e água.

—Por que você não fica com a gente na casa? Haruna me perguntou com um certo tom de preocupação.

—Sem chance.

As cartas que recebia constantemente de minha irmã Haruna desde que passei a viver em Kumogakure haviam parado de chegar a alguns dias. Eu sei que há muito não nos víamos mas sempre nos demos muito bem então não conseguia entender o motivo dela ter parado de me escrever. Deixei de lado meus afazeres em Kumo sem pensar para voltar a minha vila natal onde tudo começou, apesar de odiar a ideia de rever aquele lugar.

Encontrei minha irmã de repouso em sua cama, algo que definitivamente não era comum para ela que sempre teve uma saúde de ferro. O médico apontou uma condição permanente que lhe traria fadiga e dores constantes, nada que atrapalhasse completamente sua vida, mas que exigiam cuidados. Haruna é a única pessoa que importa pra mim, então, decidi passar uns dias na vila para monitorar sua situação. Conforme os dias passaram sua saúde foi estabilizando embora soubéssemos que a qualquer momento ela voltaria a colapsar.

—Você deveria deixar de ser tão orgulhoso. A mãe ficaria do seu lado se você voltasse.

Respondi o comentário de minha irmã apenas com um olhar irônico. Foi por causa de meus pais que deixei aquele lugar, a única lembrança que tenho deles é a dos seus olhares de desaprovação e julgamento. Haruna era a única pessoa que me apoiava mesmo quando estava completamente errado.

—Como você está se sentindo hoje, Haru?

—Estou bem, não quero que se preocupe demais comigo.

Sim, de fato eu não precisava me preocupar, seus pais dariam todo o suporte que ela precisasse. Pra mim era hora de partir de volta para Kumogakure já que havia passado tempo demais por ali, mas apesar de todo o clima de ressentimento que aquele lugar me trazia, me entristecia ter que deixar minha irmã para trás. Durante o tempo que passei ali eu desejei largar tudo para cuidar de Haruna, mas eu tenho certeza que ela me mataria se eu fizesse isso.

—Estou voltando para Kumogakure em breve, tenho que retornar aos meus afazeres mas... eu queria que fosse comigo.

Não era a primeira vez que demonstrava minha vontade de tirá-la dali, foi assim quando fugi da primeira vez. Obviamente ela não aceitou meu pedido como na primeira vez, porém, preparou minha viagem de volta a Kumo com alguns suprimentos e então na tarde daquele mesmo dia eu parti.

[...]

A carroça balançava bastante quando as rodas passavam sobre as pedras do caminho, batendo a madeira na minha cabeça tornando impossível tirar um cochilo sequer. O cheiro de frutas frescas junto ao raiar do sol de um novo dia tornavam o clima incrivelmente agradável, porém, quem olhasse para mim veria uma faceta de derrota devido ao acúmulo de lembranças e ressentimentos, preocupação com a saúde de minha irmã e um pouco de culpa por tela deixado para trás, apesar de tudo, isso era a coisa mais humana que havia sentido em muito tempo. O carroceiro que me deu carona deu um longo assobio fino para indicar que estávamos praticamente aos pés dos portões de Kumogakure. Agradeci o homem, que seguiu seu caminho. Voltar ao vilarejo me garantiu uma leve sensação de conforto, embora tivesse deixado minha irmã para trás, sentia no peito um calor de acolhimento e na mente, claro como o dia, a imagem de Haruna sorrindo, que me acompanharia e motivaria a seguir meu caminho.

HP:  200/ 200 • CH:  200/ 200 • ST: 00/02
Palavras: 719

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