“Se vis pacem, parabellum”
A intemperança da iminente aproximação invernal trazia consigo correntes atmosféricas que serpenteavam de maneira lânguida, assobiando uma melodia soturna, à medida que se avizinhava num cortejo fastidioso pelas montanhas. A kumo-nin seguia de modo taciturno, um passo de cada vez naquela madrugada sem estrelas. Se vinte anos – vinte e um, considerando o vigente – de kunoichi houveram lhe ensinado algo, seria de que o melhor horário para toda e qualquer atividade era pouco antes da alvorada, quando o calor do Sol faria frente a terra congelada e os vapores subiriam à vista. Naquele dia em específico estaria cumprindo uma requisição do Quartel General da Nuvem, um pedido para que a mulher avaliasse a aptidão de um grupo de jovens da aldeia. Normalmente, teria recusado. À bem da verdade, os deuses sabem a opinião de Ogosho em relação a crianças e qualquer coisa menor que 1,65m. Mas alguns nomes daquela lista a fizeram reconsiderar, e no fim acabou aceitando.

A seu pedido o comunicado deveria ter sido entregue para todos os envolvidos através de pergaminhos lacrados pouco antes do Sol se pôr no dia anterior:

Estejam no Campo de Treinamento às 2h. Sem café-da-manhã. Sem roupas de frio (mas não venham nus). Atrasos serão punidos.
Atenciosamente,
Yokai

E sendo assim, ela os estaria esperando no local combinado, perfeitamente agasalhada e bem alimentada. Inclusive, os primeiros que chegassem poderiam notador que ela mantinha um pirulito na boca, saboreando o doce para passar o tempo. Aproveitou também para absorver um pouco de Chakra Natural, só por via das dúvidas, e jogar algumas kunais pelo campo, as espalhando de maneira que a primeira ficasse 45m às suas costas, a segunda 65m para a direita, fincada no galho de uma árvore, e a terceira a 100 metros para a esquerda, perdida entre as moitas.

— Como foi a noite de sono? Conseguiram descansar bem? — Diria assim que todos estivessem ali, de forma alegre, a maldade no sorriso de quem sabia que só iria amanhecer dentro de umas três horas ou mais. — Para os que não me conhecem, meu nome é Ogosho Mei, Jounin de Kumogakure — se apresentou, olhando e gravando bem os rostos de todos os presentes.— Eu estou aqui porque o Quartel General acha que o melhor uso que podemos dar a vocês é fazê-los de escudo de carne para as kunais inimigas — começou a narrativa, em seu tom habitual entre um descontraído e uma nota séria, do tipo que deixava a dúvida se o interlocutor deveria ou não estar sorrindo. — Vocês estão aqui para me provar o contrário... ou não — disse, agora mexendo em sua bolsa de armas. Retirou de lá um único guizo que se agitou à brisa, produzindo o leve som característico. — Meu método é simples: quem estiver segurando este guizo quando o Sol nascer, continua sendo um ninja. O restante poderá seguir a vida como florista ou o que quer que desejem e não exija o mínimo de talento como shinobi. — Ela finalizou e então ficou em silêncio, deixando que as crianças absorvessem o peso de suas palavras. Um meio sorriso ainda brincava no canto de seus lábios, mas o olhar que dedicava a eles dizia, com todas as letras, que não estava brincando. E não estava.

Sem maiores delongas ergueu o guizo à frente do rosto e deixou que tocasse três vezes, então o prendeu ao cinto do lado direito da cintura, próximo a bainha de Nuibari. Às suas costas podia sentir a imensa espada viva se mexendo, quase como se pressentisse o que estaria por vir. Como quem não queria nada, a mulher, em um instante, e a uma distância de 20m deles, realizaria dois selos de mão na tentativa de convocação da técnica Sunarashi no Jutsu, que faria a areia do solo se erguer e começar a rodopiar ao redor das crianças em um raio de 30m como uma verdadeira tempestade que bloquearia a visão deles. Simultaneamente, Mei deixou que a areia escorresse de sua cabaça como uma cachoeira para então a moldar na Sabaku Fuyū, saltando sobre esta com um leve pulo, usando do máximo de sua velocidade. Sentou-se com as pernas cruzadas enquanto a nuvem a levava para fora da tempestade, flutuando a cerca de 1m do chão e parando a 15m do limiar da Sunarashi. Suas principais defesas também deveriam se ativar no primeiro momento, sendo elas a Suna no Yoroi: Gear 2, para revestir todo seu corpo em uma camada (quase) indetectável de proteção, e a Suna no Tate: Gear 3, esta que apenas se manifestaria na iminência de um ataque adversário, respondendo em automático a toda e qualquer ameaça que se aproximasse da jounin. — E então? — Elevou a voz para ser ouvida, sorrindo. — Esqueci de avisar, mas já está valendo.

Apenas para mantê-los entretidos, Mei iria retirar um pincel e um pergaminho da bolsa e então realizar alguns desenhos no papel para dar vida a quatro leões de tinta, um para cada participante, através de seu estilo Chōjū Giga. As feras deveriam pousar suavemente no chão e avançar para dentro da Sunarashi, caso as crianças ainda estejam lá, ou simplesmente persegui-las onde quer que fossem. Seu comando era simples: tentariam saltar contra elas e atacar seus braços e pernas, inutilizando qualquer meio de se moverem ou continuarem na disputa, caso falhem em se defender.
O que fariam eles a seguir? Eram um grupo, mas havia apenas um guizo. Conforme suas regras, apenas um deles poderia sair dali vitorioso, enquanto o restante seria obrigado a desistir da carreira shinobi.

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